sábado, 11 de fevereiro de 2012

Ialmar Pio Schneider (E Há Poetas que São Artistas)

Pedro Geraldo Escoteguy

Ocorre-me escrever a respeito de um poeta-artista que conheci na praia do Pinhal em fevereiro de 1984, quando veraneávamos por lá, no Hotel Cassino que havia sido inaugurado naquele ano. Quero falar da mostra Pedro Geraldo Escosteguy – Poéticas Visuais, no MARGS, entre 15 de julho e 14 de setembro de 2003, sendo a primeira retrospectiva e uma homenagem a um dos maiores artistas plásticos do Rio Grande do Sul.

Estava sentado no alpendre do citado hotel do Balneário Pinhal e acabava de compor o seguinte soneto:

À Beira-Mar

As árvores se agitam levemente…
(como são verdes estas casuarinas !) -
dir-se-ia que respiram como a gente
sob os raios solares e neblinas…

Às suas sombras passam as meninas
que vão à praia, nesta tarde quente,
refrescar-se nas águas cristalinas
e deitar-se na areia reluzente.

Passam as horas, vai-se enfim o dia,
a noite chega, aos poucos, de mansinho…
e as moças voltam lânguidas, inquietas,

enchendo todo o ambiente de poesia;
depois andando ao longo do caminho
vão pedalando em suas bicicletas.

(Praia do Pinhal, 14-2-84).


Depois de entabularmos conversa, o Dr. Pedro Geraldo Escosteguy, disse-me que era médico e poeta e que participara como mentor do Grupo Quixote, do qual foi ativista cultural responsável por muitos eventos acontecidos em Porto Alegre e no Estado nos anos 1950. Depois já de volta a Canoas, escrevi um soneto que lhe dediquei e enviei e que diz assim:

Soneto Quixotesco

É preciso escrever, eu quero um mote;
pois assim desenvolvo meu talento
e a investir contra os moinhos de vento
serei o personagem Dom Quixote.

No Rocinante vou seguindo a trote
e o Sancho Pança me acompanha lento,
porém p’ra terminar o meu tormento
desejo Dulcinéia com seu dote.

Minha luta começa todo o dia
e por sempre manter a fidalguia
jamais irei parar à meia viagem.

P’ra tanto tenho força de vontade
e embora encontre tanta adversidade,
não me faltam bravura nem coragem.”

– Canoas, 22.2.84.


Não demorou muito recebi a resposta de minha carta e vinha como só acontece a poetas, de sua autoria:

Soneto Seguinte

– Não te faltam bravura nem coragem,
nem Dulcinéas para o teu tormento,
mas o verso, - levado pelo vento,
perdeu alento para tanta imagem.

Talvez o Rocinante, nesse evento
sofreu o mesmo trauma da miragem,
confundindo a leveza da bagagem
ante a adversidade do momento.

Fora disso, fundiu-se metro e mote,
rendendo o investimento no Quixote
versos de relevante fidalguia.

Essa que louvo e que lembrar prometo
se, - como o faz - , elaborar um dia
no rastro bilaqueano do soneto.


—Pedro Geraldo Escosteguy.- P.Alegre, 9 de março de 1984.

Respondo-lhe então, com estas palavras a sua gentil missiva, em 13 de março de 1984: Chega-me às mãos sua carta de 9 do corrente, e acompanhando-a o volante Quixote 1 – 1960 e a folha Adágio com a linda poesia Visita de Juana de América, pelo que sensibilizado lhe agradeço, justamente quando leio (e em parte releio) nosso imortal Castro Alves, cujo nascimento se comemora no dia 14 deste mês(…). Lendo-lhe os versos não resisto à tentação de “fazer outra barbaridade”, ou seja, aventurar-me, por assim dizer, a dirigir-lhe um dos meus inglórios sonetos, que transcrevo:

Soneto a Castro Alves

Lírico das “Espumas Flutuantes”,
tribuno de “Os Escravos”; defensor
da liberdade, em ímpetos gigantes
alçaste as asas qual feroz condor !…

Na “A Cachoeira de Paulo Afonso”, estuantes
as águas rolam: “brado atroador”…
Também de Eugênia Câmara, inconstantes
ouviste as juras de violento amor…

À tua voz há de ficar clamando
por justiça no mundo e lealdade,
num tom impávido ou suspiro brando…

Passam os anos mas é sempre novo
o teu legado p’ra posteridade,
dizendo: “A praça ! A praça é do povo…”.


Fonte:
Texto enviado pelo autor

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