quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Geraldo Majela Bernardino Silva (Funções da Mensagem Literária) Parte 2


LINGUAGEM CONOTATIVA

- A linguagem serve para exteriorizar sentimentos e idéias, é uma expressão carregada de afetividade.

- Na obra literária tem, além de sua significação e valor lingüísticos, um significado e valor acrescidos: o literário, para o qual as formas lingüísticas servem somente de veículo de objetivação, e só alcançam seu pleno significado na relação com o conjunto total da obra. Esta linguagem expressiva depende profundamente da emoção pessoal e das circunstâncias. Com isso as construções gramaticais se alteram ou experimentam uma troca acidental de significação.

- Polissemia = plurissignificação.

CONOTAÇÃO: - Possibilidade de um signo, dependendo do contexto, apresentar mais de um significado,  propiciar  várias  interpretações.  Implica  uma abertura, um leque de                                significados a partir de um mesmo significante.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM

A linguagem é um veículo de comunicação empregado como um recurso mnemônico (de desenvolvimento da memória) para a representação de idéias, de suas relações e de seus significados. Algumas dessas idéias são representativas de objetos físicos: procuram designar e descrever coisas e objetos. Mas o “significado” é um atributo da mente humana e não dos objetos que eles representam. Existe, portanto, uma relação íntima entre percepção, significado, idéia, juízo e emoção.

Todos os atos conscientes de comunicação implicam em certos suportes básicos que consistem num determinado complexo simbólico físico que elicia (afasta) o significado. Portanto, a linguagem existe como simbolização física de idéias. Os atos de comunicação se realizam com o propósito de compartilhar idéias específicas e significados em emissor e receptor.

O significado existe pois:

a)- como uma associação de idéias, quer dizer, como uma função da mente humana.

b)- tem seu referente em objetos físicos ou eventos.

A linguagem é, portanto, expressão da vida e o mais autêntico produto do intelecto: verdades científicas são comprovadas, juízos e raciocínios são depurados e intelecutalizados mediante um grande esforço do pensamento.

Mas nem sempre os pensamentos são de ordem essencialmente intelectiva. São muitas vezes, impulsos acompanhados de emoções que conduzem os homens a ações ou que os refreiam. São expressões ou repressões de desejos, de volições, de impulsos vitais.

O psicólogo alemão Bühler distingue três funções básicas para as palavras: “representação”, “exteriorização” e “apelo”:

São as seguintes as principais funções atribuídas às relações entre linguagem e seus objetivos. 

FUNÇÃO CENTRAL:

1- FUNÇÃO DE COMUNICAÇÃO : DENOTATIVA - REFERENCIAL - COGNITIVA OU
                                                            INFORMATIVA.

A palavra como “representação”: Muitas vezes, o propósito do emissor é revelar o que “conhece” a respeito de um fato, de um assunto, de uma realidade. Segundo Bühler, as palavras serão utilizadas, nesse caso, como “representação”dos conhecimentos do emissor sobre aquela realidade.

É a utilização de um código para a transmissão de uma mensagem a fim de permitir aos homens seu inter-relacionamento. A linguagem é utilizada como instrumento de comunicação. Está centrada no conteúdo da mensagem.

Na obra literária, ela envia a um contexto, quer dizer, não no mundo percebido e imaginado pelos elementos da comunicação (emissor e receptor) mas, somente ao criado pelo discurso em si. Não é a realidade designada que interessa, mas seu modo de apresentação no discurso. Por analogia ao mundo real, conhecido, constrói-se o universo imaginário como ele é, assim, o leitor concorda com as colocações do autor (critério de verossimilhança). No dizer de Jean Dubois, a referência  não  é  feita  com  o  objeto  real,  mas  com  um  objeto  do  pensamento.

Imagine uma situação do cotidiano: você e alguns amigos resolvem passar o fim de semana em contato com a natureza. Decidem que o melhor programa seria um acampamento. Mas ainda têm dúvida quanto ao local a ser escolhido. Você resolve opinar (usando, é claro, a língua oral):

“Acho que acampar perto de um rio é uma boa. Lá a gente pode pescar e nadar. 

Nesta época, costuma dar muito peixe e a água fica limpinha.”

Você usou as palavras para representar o que sabe a respeito do local que sugeriu, revelando conhecer certas vantagens que favorecem o tipo de programa que escolheram.

Essa função da linguagem, que os lingüistas denominam “informativa” (ou referencial), está centrada no referente, ou seja, no conteúdo transmitido ou mensagem.

A função informativa se observa, não apenas em situações de comunicação em língua oral, mas também na língua escrita, principalmente em textos técnicos e jornalísticos.
Veja alguns exemplos:

“O sexo do filho é determinado pelo pai. Os espermatozóides pertencem a duas categorias: os Ginospermas, dotados de um cromossomo chamado X, que darão origem a uma menina, e os Androspermas, com um cromossomo denominado Y, e que darão origem a um menino. Mas apenas o acaso (conforme o que a ciência conseguiu demonstrar até hoje) é responsável pela fecundação do óvulo feminino por parte de um espermatozóide portador de um cromossomo X ou de um cromossomo Y.”            (BELOTTI, Elena Gianini - O Descondicionamento da Mulher - Rio, Vozes, 1975 -p.13). 

Outro exemplo de função informativa:

“Os números do desastre educacional brasileiro começam a ser revelados. Temos ainda 40% de analfabetos ou semianalfabetos, segundo cálculos otimistas. E a evasão dos alunos, no fim do curso primário, chega a 80%.”
(ISTO É, no 123, p. 47)

A função informativa pode ainda aparecer em textos literários, em prosa ou em verso:

“Aqui faz muito calor.
 No Nordeste faz calor também.”
(BANDEIRA,Manuel. “Brisa”)

Outro exemplo literário:

“Meu avô era um homem que sabia explicar tudo com clareza, sem ralhar e sem tirar a razão da gente.” (VEIGA, J.J. “Os Cavalinhos de Platiplanto”).

Observando certos recursos lingüísticos utilizados pelo emissor, podemos, como recebedores, determinar a função informativa na mensagem enunciada. Esses recursos são:

- na língua oral: o tom de neutralidade, de isenção emocional, na enunciação da mensagem;

- na língua escrita:  a pontuação;
                                 - a elaboração sintática visando à maior objetividade e precisão na maneira 
                                    de transmitir a informação.
Das considerações feitas e da observação dos exemplos, podemos concluir que:

a função da linguagem será INFORMATIVA, quando as palavras forem empregadas como representação de conhecimentos do emissor a respeito de um assunto, de uma pessoa, de uma realidade.

Continua...

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