Espetáculo concebido a partir da pesquisa pessoal de Antonio Nóbrega, estruturado sobre a recriação de narrativas do romanceiro popular nordestino, tendo como personagem condutora da ação o brincante Tonheta, um herói picaresco do Brasil.
O termo brincante designa, no Nordeste, os artistas populares dedicados aos folguedos tradicionais; onde podem cantar, dançar, tocar instrumentos, etc. Após a idealização de Tonheta, Antônio Nóbrega o explora em alguns espetáculos, mostrando toda sua versatilidade como artista multifacetado.
A realização de Brincante é de 1992, após Figural e O Reino do Meio Dia, espetáculos solos que catapultam o intérprete no Brasil e no exterior. Nele, Nóbrega e sua mulher Rosane Almeida interpretam dois atores ambulantes. Em meio às histórias nas quais se enreda a extrovertida personagem, o casal encontra tempo e espaço para cenas de idílio, briga, desafio, podendo explorar longamente o canto, as habilidades com diversos instrumentos, as danças, a comicidade peculiar das ruas e praças.
A direção de Romero de Andrade Lima é fiel à poética "armorial" de Ariano Suassuna, seu tio, mantendo o ritmo inquieto e pulsante da realização. A cenografia é concebida a partir de uma carroça, coberta de panos, objetos, fotografias, adereços múltiplos, possibilitando a criação dos diversos ambientes exigidos pela fábula. O texto de Bráulio Tavares, juntando histórias e propiciando entreatos variados, ajusta-se como uma luva à expressividade dos artistas.
Nos comentários do jornalista Álvaro Machado, "a carreira de Antônio Nóbrega como continuador de uma expressão teatral autenticamente brasileira toma contornos exemplares com Brincante, seu último espetáculo. [...] Agora empresta a mesma importância à parte plástica do espetáculo, com cenários e figurinos do artista Romero de Andrade Lima, 'cria', como Nóbrega, do Movimento Armorial de Ariano Suassuna. A beleza e informação contidas em objetos iconográficos como a carroça de andarilho do anti-herói Tonheta são um dos trunfos da montagem. [...] Tonheta, personagem picaresco que alcança a indagação metafísica, emociona ainda por recuperar para a cena paulista uma tradição de teatro de alma brasileira quase sepultada depois da década de 70".[1]
O espetáculo, ao longo de sua temporada paulista, abre as portas de um importante espaço teatral paulistano, o Teatro Brincante, lugar e ambiente de criação e apresentações da família Nóbrega, como também escola para formadores - brincantes, e centro cultural promotor de Encontros e Mostras voltados para a difusão e fomento da cultura brasileira.
Notas
[1] MACHADO, Álvaro. Brincante retoma alma do teatro brasileiro. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 ago. 1992. Ilustrada, p. 5-4.
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