Período disponível: 1912 a 1919
Local: Rio de Janeiro, RJ
Denunciando os hábitos "puramente provincianos" da imprensa brasileira, o matutino A Época apresentou-se, no editorial do primeiro número, como jornal crítico e de oposição ao governo do marechal Hermes da Fonseca e ao Partido Republicano Conservador (PRC), do qual o presidente da República era um dos principais nomes. Lançado no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1912, o periódico pertencia à Sociedade Anônima A Época, e tinha como diretores, no período inicial, Vicente de Toledo de Ouro Preto, Vicente Ferreira da Costa Piragibe e J. B. Câmara Canto. Circulava diariamente, em formato standard e oito páginas, com redação e administração situadas no nº 151 da avenida Rio Branco.
Ainda no editorial da edição de lançamento, A Época discorria sobre os vícios e desqualificações de jornalistas e da imprensa brasileira em geral, a qual tachava de "ridícula" por valorizar noticiários policiais, notas sobre órgãos públicos e a bajulação a figuras da alta sociedade. Cabe ressaltar, no entanto, que o matutino não rompeu necessariamente com alguns desses vícios. Outro editorial da mesma edição inicial, assinado pelos três diretores da folha, "sinceramente catholicos", qualificava o periódico como apartidário e defensor de "um Exercito e uma Marinha efficientes, isto é disciplinados".
Apesar de apresentar refinados artigos e ensaios de cultura e moda galante,assinados por gente como Sílvio Romero, Coelho Neto e Augusto dos Anjos, A Época também tinha também uma linha popular, voltada para questões sociais e trabalhistas. Abordando lutas e manifestações gerais do operariado, a "Columna Operaria" noticiava greves, reivindicações proletárias, novidades sobre clubes e associações sindicais, incluindo mesmo atividades dançantes, esportivas e carnavalescas. O diário ainda tratava de assuntos ligados ao cotidiano e às condições de vida da população suburbana carioca na seção "Nos Suburbios!". Em novembro de 1912, noticiou e discutiu amplamente o projeto de construção de vilas operárias pelo governo.
Curiosamente, muito pela preferência política de Vicente de Ouro Preto, o diário se mostrava por vezes simpático ao monarquismo. A possível contradição entre o monarquismo de Ouro Preto e a atenção às causas operárias fica exposta, por exemplo, no nº 706. Após destacar a figura de Ouro Preto, que acabara de falecer, o jornal publicava, em outra página, o texto "Algumas palavras sobre o movimento revolucionario contemporaneo" (p.3), do jovem anarquista Astrojildo Pereira, que mais tarde se tornaria líder comunista e prestigiado crítico literário de orientação marxista.
Em seus primeiros momentos, A Época publicava a coluna "Política Exterior", assinada por "G. Ruch"; a seção de humor político intitulada "Fora do Sério", assinada por "Ridente"; entrevistas e textos opinativos sobre política nacional; notícias sobre Portugal, na seção "Cousas Portuguezas", de Alberto Estanislau; folhetins de autores diversos; notas sobre movimentações militares, sobretudo na seção "Forças Armadas", assinada por Vedeta; notícias gerais de utilidade pública no Rio de Janeiro e em outras cidades, como transportes, obras públicas, legislação e assuntos jurídicos etc.; o cotidiano carioca; a coluna "Echos Sociaes"; artigos sobre saúde; notícias e variedades relativas ao Congresso Nacional; notas sobre política e administração pública na seção "Periódicas", assinada por "Xosciuszko"; notícias enviadas por telegramas do estrangeiro e de várias cidades brasileiras; cotidiano policial; a coluna "Commercio, Lavoura e Industria", com cotações de produtos e variedades sobre economia e mercado; a "Chronica Esotérica", assinada pelo barão Ergonte, depois substituída pela seção de ocultismo e estudos espíritas "Os mysterios do Além...", então dirigida pelo médium Fernando Lacerda; anúncios de peças de teatro e crônica teatral, em "Coisas do Theatro" ou em especiais dominicais; artigos e ensaios sobre mestres da literatura; uma seção esportiva; a "Secção Livre"; sonetos, contos e crônicas de autores variados, sendo alguns traduzidos; despachos de órgãos públicos; viagens e curiosidades sobre diversas cidades e paisagens; ciências; moda; resultados do Jogo do Bicho; anúncios publicitários, entre outras coisas, incluindo fotografias.
De início, as assinaturas semestrais e anuais custavam, respectivamente, 18$000 e 30$000. As edições dominicais eram mais robustas, com cerca de 12 páginas e matérias especiais de capa, em geral ilustradas. Os temas de destaque dos três primeiros domingos do periódico foram, no dia 4 de agosto de 1912, "O repatriamente dos restos mortaes de Suas Magestades D. Pedro 2º e D. Thereza e a revogação do banimento da Familia Imperial".
As convicções políticas de A Época, como era de se esperar, renderam ao jornal inúmeras polêmicas e embates. Em novembro de 1913, por exemplo, o jornal desfechou uma onda feroz de ataques ao PRC e a seus políticos. Em meio a isso, noticiou, na edição do dia 25, o falecimento de seu diretor Vicente de Ouro Preto (dois dias depois, o jornal se mostraria solidário à revista Careta diante dos ataques do filho de Hermes da Fonseca, por exageros humorísticos contra seu pai). Em 1914, já sob o governo de Wenceslau Brás, A Época aplaudia a atuação de Rui Barbosa como senador.
Após desdicar atenção inicial ao conflito armado na Europa, o jornal voltaria a lançar ataques ao governo, evocando ainda a anistia aos envolvidos na Revolta da Chibata – ver, na edição nº 856, de 28 de dezembro de 1914, a matéria "A amnistia aos revoltosos de 1910". Ainda em 1914, conforme aparece a partir da edição de 3 de outubro, a redação, a administração e as oficinas do jornal se mudaram da avenida Rio Branco para o nº 139 da rua do Rosário.
Por volta de outubro de 1916, deu destaque à Guerra do Contestado e à questão fronteiriça envolvendo os estados do Paraná e de Santa Catarina. Rui Barbosa continuava uma figura benquista nas páginas do jornal, assim como o chanceler Lauro Muller, mas críticas gerais ao governo federal cessaram. A edição de nº 1.588, de 15 de novembro daquele ano, trazia uma mudança de opinião do diário em relação a Wenceslau Brás; avaliando positivamente os dois anos de seu governo. No entanto, mesmo parecendo favorável ao governo federal, A Época sofrerá com a censura. Na edição de nº 1.998, de 31 de dezembro de 1917, ao relatar a prisão de Dormund Martins, diretor de A Lanterna, a entrevista com o mesmo teve dois trechos cortados.
Até o nº 2.114, ano 7, de 27 de abril de 1918, a publicação foi dirigida por Vicente Piragibe. Na edição do dia seguinte, o diário subtraiu seu nome do cabeçalho e passou a ser identificado como "Propriedade de P. D'Almeida Godinho". Na edição de nº 2.130, de 13 de maio de 1918, reforma editorial e gráfica modernizou-o consideravelmente. Logo na primeira página publicou editorial que destaca o novo padrão gráfico e os novos colaboradores. A partir deste momento, o alto da capa de cada edição passou a sair com a frase "Tudo pelo Brazil". Nessa nova fase, o jornal aparentava neutralidade política, pelo menos até o fim do governo de Wenceslau Braz. No governo de Delfim Moreira, que assumira a presidência com a convalescença de Rodrigues Alves, a publicação voltou a mostrar esporádicas reportagens e textos críticos ao governo.
A partir da edição nº 2.591, de 21 de agosto de 1919, passou a estampar em cabeçalho o nome do novo dono e diretor: Jeronymo Teixeira de Alencar Lima, fundador do jornal baiano A Tarde. Iniciando sua terceira fase, passou a publicar a série de artigos "O governo e os problemas nacionaes", intitulada posteriormente apenas "Grandes problemas nacionaes". Internamente, as edições do jornal passavam a se organizar em páginas intituladas "Congresso e Governo", "Correio dos Estados" (onde saía a clássica coluna sobre o subúrbio carioca), "Vida Internacional", "Justiça – Religião – Sciencia", "Educação e Trabalho" (onde eram publicados a "Columna Operaria" e a "Resenha Commercial"), "Notas Desportivas e Sociaes" e "Letras, Artes e Diversões".
A última edição do jornal foi, até onde se pôde apurar, de número nº 2.690, ano 8, de 28 de novembro de 1919. Além dos nomes já citados (sendo vários pseudônimos), ao longo de sua edição A Época teve o trabalho ou colaboração de nomes como Affonso Celso, Múcio Teixeira, Maurício de Medeiros, Hermes Fontes, Maria da Cunha, Angelina Vidal, Juvenal Sampaio, Teophilo Guimarães, Augusto dos Anjos, José Félix, Fialho D'Almeida, Campos de Medeiros, Alberto de Carvalho, Eduardo e Benjamin Magalhães (aparentemente os responsáveis pela coluna "Nos Subúrbios", por volta de 1917), Orestes Barbosa, Afonso Lopes D'Almeida, entre outros, assim como os caricaturistas e ilustradores Fritz, Kalixto e Edmir, de grande destaque na imprensa humorística da época.
Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/época
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