Pois é, voltei. Acho que morri por uns tempos, me despi de toda roupagem de autor e desisti, resistindo aos primeiros impulsos de respirar novamente a escrita, esmoreci a vontade de voltar, até sentir que tinha me libertado da liberdade de escrever. Cheguei a virar a página, a apagar a luz, a esquecer como é a sensação de ordenar aos dedos que dedilhassem meus pensamentos em algo que se pudesse ler...
Escrever é como nadar contra a correnteza, sem qualquer certeza de onde se quer chegar. O que eu fiz foi apenas parar de dar braçadas nas águas dos acontecimentos, me deixei afundar, sem qualquer resistência ou insistência. Por isso que digo que morri, me afoguei nas profundezas do esquecimento, e a cada dia ia ficando mais fácil, mais cômodo, mais tranqüilo, mais... Etc. A cada dia mais eu via menos de mim mesmo como escritor.
Outro dia, logo após publicar meu primeiro texto de retorno “A CANDIDATA E O BDSM”, recebi algumas mensagens de boas-vindas, entre elas a de um amigo que ainda não conheço pessoalmente, mas com quem já tive a oportunidade de conversar algumas vezes por telefone, e-mails e redes sociais, o jornalista e também escritor Aparecido Raimundo de Souza (a quem estou devendo já há um bom tempo a criação de um vídeo com seus textos para ser lançado no Youtube). Da troca de mensagens com o Aparecido veio o embrião da ideia deste novo texto.
Descobri que parar de escrever até que não é tão difícil. Basta por na balança o alto custo de algo tão precioso quanto o tempo gasto em algo como a escrita. Quando se pesa o custo e o beneficio de escrever, percebemos que se dedicar à escrita é um péssimo negócio.
Escrever, assim como viver, dá trabalho, cansa, esgota as energias. Aborrece às vezes. Fazendo-nos querer ser nada, sombras livres para vagar sem chamar a atenção para si. Deixar de ser vidraça, deixar de levar pedradas, deixar de juntar os cacos sempre que refletimos o brilho de nossas idéias na cara dos outros, isso muitas vezes irrita-os, tirando-lhes da comodidade de suas concepções prontas, e despertando a selvageria latente naqueles que são forçados a ter que pensar, mesmo que através da leitura de bobagens sem muito sentido.
Mas o que é o sentido? Quando vemos uma seta apontando em uma direção, achamos que aquilo faz sentido, que ela aponta para algo à frente, mas e se ela estiver apontando para o mais à frente, ou para o mais à frente ainda, vamos seguindo sua direção e encontrando tantas coisas, até chegar a um ponto em que ela vai apontar para o nada e nos perderemos em seu rumo, sem rumo.
O engraçado é que após minha volta, muitos já me perguntaram porque parei, mas ninguém perguntou porque voltei, ninguém mesmo, nem eu, pois confesso que ainda não saberia responder a essa pergunta...
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