Ilustração: Cristina Malaquias
(da Seleção de Contos Infantis)
Era uma vez uma velha ferradura.
Um senhor encontrou-a, levantou-a do chão e meteu-a no bolso do sobretudo.
– É para dar sorte – disse o senhor de si para si, muito convencido do que dizia.
Quando chegou a casa e a mulher foi pendurar o sobretudo no cabide é que foram elas.
– Tens o sobretudo tão pesado, homem - intrigou-se ela.
O senhor explicou o porquê:
– É para dar sorte.
– Se dá sorte, não sei – repontou a ela. – O que sei é que o peso da ferradura rompeu o bolso do sobretudo. Tirá-la de dentro do forro vai ser o cabo dos trabalhos.
O senhor, pacientemente, recuperou a ferradura do sobretudo, que foi para coser, e pendurou-a num prego atrás da porta.
– É para dar sorte.
No dia seguinte, ia ele a entrar em casa com a mulher, e a porta não se abriu. Porque seria, porque não seria…
Tiveram de entrar em casa, a muito custo, por uma janela.
A ferradura tinha caído e entalara-se em cunha na porta, impedindo-a de abrir-se.
– Estou a ver que a ferradura só dá trabalhos – comentou a mulher.
O senhor não ligou e foi meter a ferradura numa gaveta:
– É para dar sorte.
Passado tempo, a mulher veio mostrar-lhe umas camisas todas manchadas:
– Puseste a maldita da ferradura na gaveta, encheu-se de ferrugem e deu cabo destas camisas. As melhores que tinhas…
Então o senhor aborreceu-se. Estava desiludido com a ferradura que só o metera em trabalhos.
– Vou desfazer-me do raio da ferradura. Para dar sorte… – e atirou-a pela janela.
Por pouca sorte, a ferradura foi bater no capot de um automóvel que ia a passar. Pior seria se tivesse acertado em alguma cabeça. Mesmo assim amolgou o automóvel. Veio o automobilista pedir explicações:
– Quem é a besta que anda a atirar os sapatos para o meio da rua?
O senhor, que achara a ferradura, teve de pedir muitas desculpas e pagar uma indemnização, para que o caso ficasse por ali. E para que a história acabasse aqui.
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