O espetáculo, de linguagem cômica e despretensiosa, inicia com sucesso a moda do chamado besteirol, tendência teatral carioca própria dos anos 80.
Escrito, dirigido e interpretado por Pedro Cardoso e Felipe Pinheiro, o texto usa como ponto de partida, para as cenas independentes que encadeia, o ambiente de um botequim onde os músicos, os atores e até o iluminador bebem e contam as piadas que os dois atores interpretam. Esse mote libera o espetáculo de qualquer preocupação com a relação entre os quadros. Quando as portas do teatro se abrem, o grupo já está em cena, esperando o público no bar, onde há vinho branco e vodka. E eles explicam de saída: "É um espetáculo que só se agüenta de cara cheia". A partir daí, nada escapa da gozação.
Há o striptease de um bêbado, a aparição de uma cantora anã, o quadro de um tiete inveterado, uma furtiva interrupção do humor para um tímido que tenta se aproximar de uma moça. A cena mais antológica do espetáculo apresenta Felipe Pinheiro pedindo um suco num balcão para um hipotético vendedor que atende uma hipotética aglomeração de fregueses. O texto é uma única frase - "moço, me dá um suco" - que passa pelas mais variadas intenções, acompanhando a persistente tentativa do jovem.
O espetáculo começa a temporada ocupando o horário de meia-noite, às sextas e aos sábados. O público, que começa muito reduzido, se amplia e o grupo termina fazendo cinco sessões semanais. O espetáculo vira moda. Pedro Cardoso recebe o Prêmio Mambembe de ator revelação. Segundo o crítico Flávio Marinho, Felipe Pinheiro e ele são os grandes responsáveis pelo sucesso do espetáculo. "O primeiro, transpirando malícia, é capaz de arrancar uma gargalhada com um monossílabo ou um olhar. O segundo, uma grata revelação de ator, tem recursos vocais e corporais que compõem um leque multicolorido de possibilidades. Olho nele: ainda vai dar o que falar".[1]
Os jovens atores contam ao crítico Yan Michalski que a idéia do espetáculo surge quando eles se apresentam com o Pessoal do Cabaré em São Paulo: "Só tínhamos trabalho à noite, e como ao lado da casa onde morávamos havia uma obra barulhenta, acordávamos cedo, com um longo dia pela frente sem nenhum compromisso. Para matar o tempo, procurávamos divertir um ao outro contando piadas. Contando e representando. Aos poucos, começamos a pensar como essas piadas ficariam no palco".[2]
Notas
1. MARINHO, Flávio. Acertos em cena. Visão, Rio de Janeiro, n. 28, p. 50, 12 jul. 1982.
2. PESSOAL do Cabaré. Citado por MICHALSKI, Yan. Quatro festas para o enterro de um bar. Jornal do Brasil, 1 maio 1983.
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