sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Guerra Junqueiro (A Igreja do Rei)


Era uma vez um rei que quis edificar uma igreja magnífica em honra da Virgem, decretando que ninguém nos seus estados pudesse contribuir para a obra, ainda mesmo com a mais pequena quantia. Quando o edifício se concluiu, enorme, soberbo, grandioso, mandou o rei gravar numa pedra de mármore uma inscrição em letras de ouro, que dizia que só ele, e mais ninguém, tinha levado a cabo aquela obra monumental. Mas na noite seguinte o Dome do rei foi apagado da inscrição, substituído pelo de uma pobre mulherzinha do povo. O rei ao outro dia tornou a mandar gravar o seu nome na inscrição, b de novo foi substituído pelo da pobre mulher; à terceira vez sucedeu o mesmo. O rei, cheio de cólera, ordenou então que lhe levassem a mulher à sua presença.

– Proibi a todos os meus vassalos, disse ele, que contribuíssem fosse com o que fosse para a edificação desta igreja; vejo que não cumpriste as minhas ordens.

– Senhor, respondeu a velhinha toda trêmula, eu respeitei as vossas ordens, apesar da mágoa que sentia por não poder oferecer o meu pequenino óbolo em honra da Virgem, mas julguei não desobedecer a vossa majestade, deixando por vezes de jantar para comprar um pouco de feno, que eu levava às escondidas aos bois que conduziam as pedras destinadas à construção da igreja.

– O teu nome é mais digno do que o meu de figurar em letras de ouro na inscrição do monumento, disse-lhe o rei.

Mas na noite seguinte uma invisível mão restabeleceu na lápide da igreja o nome do rei, que desde então lá se conserva ainda.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

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