Iam um dia três pequenos para a escola, e disseram uns aos outros que não havia nada no mundo mais aborrecido que estudar: «Vamos para o bosque que encontraremos lá toda a espécie de lindos animais, que não fazem outra coisa senão brincar, e nós brincaremos com eles».
Foram logo, e passaram sem fazer caso ao pé da ativa formiga, e da abelha diligente. Mas o besoiro, que eles convidaram a vir patuscar, disse-lhes:
– Brincar? Preciso construir com estas ervas uma ponte nova, porque a outra já não está segura.
– Eu, disse o rato, tenho que fazer as minhas provisões para o Inverno.
– Eu, disse dali a pomba, tenho muitas coisas que levar para o meu ninho.
– Eu, disse a lebre, gostava bem de me ir divertir com vocês, mas ainda hoje não lavei o meu focinho. Antes de fazer qualquer outra coisa tenho de tratar da minha toilette.
– E tu, lindo regato, disseram os pequenos desertores, que passas o tempo a saltar e a tagarelar, também não brincas conosco?
Estes pequenos são tolos, disse o regato. Ora essa! Vocês então imaginam que eu não tenho nada que fazer? De noite ou de dia, não descanso nem um momento. Tenho que dar de beber aos homens e aos animais, às colinas, aos vaies, aos campos e aos jardins. Tenho que apagar os incêndios, tenho que fazer mover as forjas, os moinhos, as serralharias, etc. Nem hoje acabaria, se lhes quisesse contar o que tenho que fazer. Não posso perder um instante. Adeus, adeus. Estou com muita pressa.
Os pequenos, desconcertados, puseram-se a olhar para o ar, e viram um pintassilgo em cima de um ramo.
– Olha! tu, que não tens nada que fazer, anda daí brincar conosco?
– Nada que fazer? vocês estão a mangar comigo, disse o pintassilgo. Todo o dia tenho que apanhar moscas para comer. Tenho, além disso, que tomar parte no concerto dos passarinhos, tenho que alegrar o operário com o meu chilreio, e tenho que adormecer as crianças com uma outra cantiga, que à noite e de madrugada celebra a bondade do Criador. Ide-vos, preguiçosos, ide cumprir o vosso dever, e não voltem a incomodar os habitantes das florestas, que cada um tem a sua tarefa a desempenhar.
Os pequenos aproveitaram a lição e compreenderam que o prazer e o descanso são a recompensa do trabalho.
Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.
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