domingo, 29 de janeiro de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 7


Duvidar de quem se adora
não é decerto viver,
vida assim tão desgraçada
é pior do que morrer.
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Se eu soubesse com certeza
que tu me querias bem,
eu te faria um carinho
que nunca te fez ninguém.
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As ondas brincam de amores,
correm à terra beijar...
Sê tu a terra, querida,
e deixa qu'eu seja o mar.
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Lá dentro desse teu peito
eu desejava morar,
não estorvando a quem mora,
dizei-me se tem lugar.
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Oh bela, porque me matas,
mas a vida me estás dando ?
Se tens de ser meu amor,
não andes vira-virando.
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Eu desejava saber
qual é a tua intenção,
com que fim, com que sentido,
pediste meu coração...
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Manjericão rajadinho,
rajadinho pelo pé,
o meu coração é teu,
0 seu não sei de quem é.
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Você diz que me quer bem,
eu também quero a você,
onde há fogo há fumaça,
quem quer bem logo se vê.
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Dizes que bem me queres,
que meu é teu coração;
Malmequeres que desfolho
dizem-me todos que não…
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Você diz que me quer bem,
que me traz dentro do peito,
Isso não, não acredito,
quem quer bem tem outro jeito.
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Estrela do céu brilhante,
raio de sol encarnado,
se tens amores com outro,
não me tragas enganado.
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Marília, se não me amas,
não me digas a verdade,
finge amor, tem compaixão,
mente, ingrata, por piedade.
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Se queres de mim que te ame,
como sempre já te amei,
bota fora do sentido
certa gentinha que eu sei…
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Papagaio come milho,
periquito leva a fama...
Vai fazer teu fingimento
com aquele que te ama.
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0 meu amor mais o teu
pesei na mesma balança,
o meu pesou direitinho,
só no teu achei mudança.
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A pitanga é fruta doce,
mais doce é jaboticaba;
Quem toma amores contigo,
começa, mas não acaba.
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Coração vai visitar
o mimo da formosura,
pergunta, quero saber,
se nosso amor ainda dura.
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0 marmelo é boa fruta,
enquanto não apodrece;
Assim são amores novos
enquanto não se aborrece.
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Fui à fonte ver Maria,
encontrei com Isabel.
Isto mesmo é qu'eu queria,
caiu-me a sopa no mel.
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0 vento que veio hoje
levou palha e deixou trigo.
Eu quero-te perguntar
se essa carranca é comigo.
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Menina, você que tem
que comigo se enfadou,
será porque seu escravo
a seus pés não se curvou?
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Abram-se as portas do céu,
quero ir ver meu benzinho
qu'ele  fugiu-me dos braços,
foi-se valer dos anjinhos.
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Não sei se vá ou se fique,
não sei se fique ou se vá,
quem ama não se decide
nem por aqui nem por lá.
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Eu era o que te dizia,
tu eras que duvidavas,
que no fim do nosso amor
tu eras, que me deixavas.
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Maria, não me desprezes
por eu ser pobre e não ter;
Pode o rico desprezar-te,
e o pobre te bem querer.

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919. 
Disponível no Portal de Domínio Público

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