sábado, 15 de junho de 2019

Antonio Brás Constante (Escravizadas, ou pior... casadas)


Quando o assunto é algo tão profundo quanto o casamento, devemos sempre analisar os dois lados da questão. Resolvi escrever este novo texto sobre os casamentos, agora tentando apresentá-lo sob uma visão mais feminina. Pois, neste momento estou sendo motivado pela imagem de minha doce e adorável esposa, que se encontra ao meu lado enquanto escrevo. Seus lindos olhos atentos a cada linha digitada. Uma de suas carinhosas mãos segurando com firmeza um rolo de macarrão e a outra amassando uma das cópias do primeiro texto intitulado: “Aprisionados, ou melhor... casados”. (Engana-se quem pensa que a força da mulher está em seu coração. Muitas vezes esta força se concentra no braço.)

Brincadeiras à parte (não temos rolo de macarrão aqui em casa... Ainda). Mas, para grande parte das mulheres, casar é o mesmo que arrumar o pior emprego que alguém poderia imaginar. Primeiramente têm que demonstrar ao empregador que são “prendadas”, cultas, carinhosas, lindas e inteligentes. De todos esses quesitos, o tal empregador acaba só considerando o atributo: “lindas” (leia-se “gostosas” na mente dele). Isto antes de casar, porque depois de algum tempo casados, o que vale mesmo para eles são seus dotes de “mulher prendada”, que saiba lavar, passar, cozinhar, etc.

Muitos homens tratam suas esposas como verdadeiras escravas do lar. Querem roupas limpas, sexo, comida boa, sexo, casa arrumada e sexo. Mas não fazem absolutamente nada para auxiliar ou mesmo agradar suas parceiras. Preferem jogar futebol com os amigos a ter que levar sua esposa a um cinema. Gastam com cerveja e TV a cabo para assistirem ao futebol, mas esquecem de presenteá-las com um agradável perfume ou uma bela camisola, por exemplo, que poderiam deixá-las ainda mais atraentes para eles mesmos.

Se antes do casamento eles enchiam suas amadas com flores e mimos, depois de casar, o máximo que lembram de trazer para elas é um ramalhete de couve-flor ou um repolho, para que as mesmas preparem o jantar. Suas bocas deixam de elogiá-las e passam a emitir arrotos, entre outras flatulências desagradáveis. Com o passar dos anos, as mulheres descobrem que, se para transformar um sapo em príncipe elas teriam de beijá-lo; para transformar o tal príncipe em sapo bastou casarem-se com ele.

Na ótica machista e insensível, as mulheres casadas sofrem de algum tipo de distúrbio do sono, deixando-as sonolentas e com dor de cabeça quando porventura o marido está animado e com vontade de fazer algo que julga prazeroso na cama (nos próximos cinco minutos) e que não seja dormir, comer ou assistir televisão, para depois poder se virar de lado e começar a roncar. Para eles, esse distúrbio também faz com que elas fiquem completamente acordadas, mal-humoradas e dispostas, nas raras ocasiões em que por infelicidade eles passem da hora do “toque de recolher”, chegando um pouco mais tarde em casa, rezando para que elas já estejam dormindo.

Enfim, o casamento assim como qualquer outro tema pode ser retratado, escrito, vivido, pintado, etc. sob diversos ângulos diferentes, de forma séria ou bem-humorada. O que realmente importa na união entre duas pessoas é um ingrediente que alguns julgam ser mágico, denominado AMOR. Somente o amor tem o poder de transformar sapos em príncipes, prisões em castelos encantados, dragões ferozes em coelhinhos felpudos e dois mundos distintos em um único universo, também conhecido como FELICIDADE.

Fonte:
Antonio Brás Constante. Hoje é seu aniversário! “prepare-se!” e outras histórias. Porto Alegre/RS: AGE, 2009.

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