quinta-feira, 6 de junho de 2019

Luiz Poeta (Portugal Pequeno– Vila Sapopemba – Marechal Hermes)




Não é à toa que Portugal me atrai. Para começo de conversa, meu avô paterno chamava-se Áureo Monteiro de Barros. O que guardo dele, além do jeito autenticamente Lusitano de falar, são dois olhos muito azuis, os cabelos muito brancos e um nariz que certamente deixou para mim. Alguns diziam que ele tomava banho de chuveiro com o cigarro aceso e o nariz era tão grande, que o cigarro não apagava. Claro que nunca fiz esta experiência, porque não gosto de cigarros e nem de charutos, mas meu nariz?- apesar de menor um pouquinho que o dele - não nega as raízes. O DNA é inequívoco.

Um cirurgião do Hospital Carlos Chagas - onde trabalhei durante algum tempo como Técnico de Enfermagem - Dr. Flávio Bahia, todas as vezes que me via, provocava-me:

- Vamos operar este narizinho?

Qual nada, meu nariz nunca atrapalhou minha vida. Pelo contrário: quando minha mulher me viu, quem chegou primeiro foi o nariz, que até hoje me dá um certo ar de fidalguia e, porque não dizer, sensualidade.

Quando minha filha Michelle nasceu, o nariz português também estava lá e ela reclamava que gostaria de ter puxado o narizinho da mãe. Há pouco tempo fez uma cirurgia e ficou mais linda ainda, mas, na minha opinião, acho que traiu a nossa lusomorfia.

Por parte de mãe, está o meu avo Alcino Lobo de Souza... esse era baixinho e gordinho, de rosto redondo; minha avó é a Adelina Ventura de Sousa (com V) preciso falar mais ?

Claro que temos também italianos na família: além dos portugueses, somos fruto dos Zaniboni (e obviamente nos orgulhamos muito disso).

Mas Portugal...

Em 1960 mudei-me de Bangu para Marechal Hermes, bairro onde resido, Quando comecei estudar a história do lugar, descobri que o nome original era "Portugal Pequeno" - "Vila Sapopemba" - Que bênção! Como veem, Portugal me atrai ou sou atraído por Portugal. Minha rua, a General Cláudio, é repleta de portugueses e de vez em quando sou convidado para um Casalinho, um Porto ou um Periquita e aceito de bom gosto, embora não despreze ou rejeite uma bela cerveja bem gelada – com colarinho - de preferência. Afinal, o Brasil é um país tropical e moro no Rio de Janeiro: 40 graus. Aqui, as lareiras perdem inevitavelmente para os condicionadores de ar.

Mas, voltando ao Portugal Pequeno - segundo historiadores, o nome se deve um expressivo grupo de portugueses que aqui se instalaram, produzindo e administrando os nossos primeiros estabelecimentos comerciais como padarias, açougues, quitandas e afins. Neste lugar, as famílias portuguesas criaram seus filhos, netos, bisnetos, tetranetos, enfim completaram uma árvore genealógica imensa cujos filhos ainda residem por cá.

Como Marechal Hermes era primitivamente uma vila operária, os primeiros moradores que o construíram, foram também os primeiros clientes dos primeiros comerciantes, a maioria advinda de Portugal.

Vale lembrar que a capital do Brasil - hoje Brasília - era o Rio de Janeiro e nosso bairro, fundado em 1913, deve seu nome a um dos nossos mais ilustres presidentes: Hermes da Fonseca, o homem que autorizou a obra.

Trata-se de um local de tradição musical e o chorinho, um dos nossos estilos musicais mais importantes, ainda é ouvido em diversos estabelecimentos como tabernas, bares e afins. Luperce Miranda, considerado um dos maiores instrumentistas do mundo, morava em Marechal Hermes. O bandolim brasileiro lembra muito a gultarra portuguesa e ouvi-lo é unir dois sons instrumentalmente parecidíssimos: o do fado e o do choro. Pura lusofonia... musical.

Fonte:
Livro enviado pelo autor:
Luiz Gilberto de Barros (Luiz Poeta). Canção de Ninar Estátuas. 1.ed. Ilhéus/BA: Mondrongo, 2014.

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