A mãe-d'água presidia
o júri do sapo-boi;
o doutor, à revelia,
coaxava: "Se foi, não foi!"
Amigo, aguça o sentido,
preste, pois, sua atenção:
Parede, que tinha ouvido,
hoje tem até visão!
Aquele curvo nariz
é coisa descomunal;
escorre qual chafariz
e, ao assoar, é um temporal.
Benedito era de "partes"
e ao bairro deixava aflito...
Dizia-se às suas "artes":
- Mas será o Benedito?!
Dançar com a Mariquita,
oh, que exercício fatal!
- É judô do siri-chita,
grudado ao siri-coral.
E o polaco erguendo a voz:
- "Se nóís aqui perde pr'eles,
então, eles: Ó... ni nóís!
Se nóis ganhá: Nóis… Ó... neles
Era, pois, ciúme tão grande
que o obsessivo do Xavier
tinha ciúme apavorante
de si mesmo co'a mulher.
Faleceu o Pantaleão.
Há, na sala, falatório...
Rosna o morto no caixão:
"Mais silêncio em meu velório!..
- Minha cara, dá-me a mão!
É por ti que vivo e morro!
Dá-me afeto, sim, do cão,
não, porém, de um cão cachorro!
Morre de velho o "seguro",
mesmo assim ele morreu;
"desconfiado" é osso duro
que está bem vivo como eu.
No Terceiro Mundo existe
mentira e desolação;
lê-se até num lema triste:
"Tudo pela corrupção!"
O apego pelo sertão,
da gente lá do Nordeste,
é verdadeira paixão,
pois cria "cabra da peste".
O cão tamanduá-bandeira,
braços abertos para o ar,
em pé na trilha ligeira,
queria o amigo abraçar
O "Santo Antônio moderno"
é a internet das "uniões";
"amores" - paixões do inferno -
causam mil separações.
O vadio quer bem viver
e de ninguém ser submisso;
bom emprego ele quer ter,
mas jamais algum serviço.
Para o torcedor fanático,
jogador profissional
é um exemplo claro e prático
de mercenário ideal.
Pergunta-se, volta e meia,
para quem pouco estudou:
- Quem deixou a Lua cheia?
- Foi o Sol que a engravidou!
Quão exímia pensadora
é a coruja que se cala;
é tão nobre esta doutora
que besteira nunca fala.
Quem tem dinheiro demais,
mas, sendo unhaca, é um mico.
Dirão, zombando, os anais:
"Viveu pobre... e morreu rico.”
Sexta-feira, lua cheia,
há lobisomem tinhoso,
que é bem visto, volta e meia,
por um grande mentiroso.
Veja: "A muda muda a muda"
e muda sem se mudar;
a muda, que a muda muda,
não quer mais muda mudar.
Fonte:
Livro enviado pelo autor.
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.
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