domingo, 2 de junho de 2019

Ryoki Inoue (O que é um best-seller) Características de um livro de sucesso parte 2


Bom título

Um romance que fale de um reencontro de dois amantes após vinte anos de separação e que não fale de tambores ou de cornetas pode muito bem se chamar Nem cornetas, nem tambores. Contudo, mostra uma extrema falta de imaginação do autor e, partindo-se do pressuposto que não houve criatividade para dar o título, podemos pensar com piedade sobre a criação do texto...

O título deve ter pelo menos alguma relação com a trama, com o desenrolar da história. E deve ser impactante, sem ser chocante.

Um romance que fale sobre traição de amantes, crime passional e fortíssimas emoções pode ser chamado Sangue sob os lençóis, Amor, paixão e morte ou, simplesmente, Por quê, Soraya?! Muito provavelmente, o último título terá maior sucesso, uma vez que já, de per si, deixa margem e campo aberto à curiosidade do leitor. Já outros, como A traição de Soraya ou Paixão assassina, certamente não seriam bons porque já contam parte da trama.

Além disso, é preciso lembrar que um título não deve ter mais do que 16 caracteres, porque a mente humana é capaz de ver, interpretar, absorver e memorizar — sem ler — no máximo 16 caracteres. Estudos feitos com base nos ideogramas japoneses e chineses comprovam essa teoria. E deve-se ter em mente que é preciso registrar não apenas o título do livro, mas também o nome do autor, associando uma imagem à outra.

Podemos notar que a tendência atual é a de ver títulos curtos ou, no mínimo, razoavelmente curtos, em romances que fizeram muito sucesso. Assim, por exemplo, O advogado, de John Grisham; Labirinto, de Kate Mosse; Ponto de impacto, de Dan Brown.
Temática de interesse do público leitor 

Na escolha da temática, o autor deve ter em mente que está escrevendo para vender, e não apenas por uma questão de realização ou de vaidade pessoal. O objetivo de quem se propõe a escrever um best-seller é — como já está explícito, expresso e pleonasticamente claro no próprio termo best-seller — vender. E só se consegue vender aquilo que alguém quer comprar.

Assim, a pesquisa de mercado é importante para que o autor saiba que tipo de temática interessa ao público que pretende atingir. Nos dias de hoje, o tema abordado por Francisco de Barros Júnior em Caçando e pescando por todo o Brasil, que na década de 1950 foi um sucesso absoluto, hoje seria condenado por todos como ecologicamente errado. Da mesma maneira, um romance que fale sobre o mensalão estaria condenado às prateleiras de encalhe, já que o público está mais do que farto de ouvir e ler sobre corrupção, política malfeita e etc. Em contrapartida, temáticas que abordam o lado espiritualista da vida têm muito mais possibilidade de sucesso, pois o ser humano, nos dias de hoje, começa a se convencer de que a vida não é apenas a matéria.

Trama envolvente


O leitor precisa se envolver completamente com o contexto do romance. Isso só é possível se houver identificação do leitor com pelo menos um protagonista ou, no mínimo, com um local da obra.

Quando tratarmos de conflito dramático, abordaremos com mais detalhes os três pilares de uma boa trama: motivação, correspondência é ponto de identificação.

Boa estruturação

Um bom romance — e com possibilidades fortes de se tornar um best-seller — precisa ser estruturado de tal forma que impeça o leitor de parar de ler. Isso significa manter um clima de suspense durante todo o texto, com enganchamentos bem caracterizados entre os capítulos e subcapítulos. Também quer dizer que o autor não deve entregar o ouro logo nas primeiras páginas.

Porém, ele deve dar uma pequena e rápida imagem de onde está esse ouro. Mas, para poder fazer isso, precisa saber exatamente o que pretende com sua história, em que ponto está em cada momento da elaboração do texto e, principalmente, onde quer chegar.
 
E é por isso, pela necessidade de saber onde chegar, que eu sempre aconselho a começar a escrever um romance pelo fim. O que, é óbvio, não significa que o formato final do livro venha a ser esse, ou seja, o fim será o começo e o começo será o fim. Escrevê-la do fim para o início torna-se mais fácil para o autor e, provavelmente, faz que sejam evitadas muitas dores de cabeça... Sem contar que o texto pode ficar mais rico e mais atraente.

Nos dias de hoje, em que a média da população leitora tornou-se mais exigente no que concerne à organização de seu cotidiano (tendo em vista o acúmulo de tarefas diárias e a popularização da informática, que por si só já leva a uma maior racionalização de atitudes no que diz respeito a trabalho), a boa estruturação de qualquer coisa que se faça é condição sine qua non para o sucesso.

Boa linguagem

É obrigação de todo autor — em especial, dos romancistas — escrever de uma maneira que qualquer um possa entendê-lo. Usar termos rebuscados, entrar nos preciosismos literários, lançar mão de compridas e complicadas filosofias para explicar um fato que seria corriqueiro pode ser muito bonito num ensaio. Num best-seller, é absolutamente condenável.

É mais do que evidente que, neste item, também devemos levar em consideração o público-alvo. Um romance destinado a leitores de Françoise Sagan obrigatoriamente terá uma linguagem diferente e muito mais elaborada do que um outro cujo público-alvo seja o de leitores de Harold Robbins.

Atualmente, a tendência à simplificação, presente em quase todas as atividades humanas, praticamente exige que a linguagem utilizada num romance destinado a uma grande massa de leitores seja enxuta, simples, concisa e precisa.

Boa distribuição

Falar sobre distribuição de livros pode parecer até mesmo intempestivo, impertinente e extravagante a um escritor. Contudo, não o é.

O autor, como verdadeiro fornecedor de matéria-prima para um produto — o livro não deixa de ser um produto de mercado, uma mercadoria, realmente, por mais chocante que isso possa parecer precisa se preocupar com a forma como seu produto final será comercializado.

Assim, é importante que ele saiba de que forma a distribuição será feita.

Basicamente, há seis formas de vender livros: nos lançamentos, nas livrarias, nas bancas, nos pontos de venda mais heterodoxos, por mala direta e de porta em porta.

continua…

Fonte:
Ryoki Inoue. Vencendo o Desafio de Escrever um Romance. Summus, 2009.

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