ABRIGO
Sem trilhas a seguir
busco, cambaleante,
um porto seguro
onde possa me abrigar.
Caminhos desconexos
confundem minhas escolhas
e me deixam perdida
no meio da estrada.
Persistente,
recomeço
e insisto na tentativa
de encontrar minha morada.
AFLIÇÃO
Deparo-me com a página em branco
à minha frente,
pedindo para ser utilizada
e receber a escrita.
Entretanto, as palavras
presas à minha mente
perdem-se num emaranhado
de caminhos confusos
e não conseguem
adquirir vida.
DORES
Uma dor que fica lá dentro
da qual não se pode falar
mas que finca, com agudeza,
incurável,
sem desvio nem esperança.
Sem revelar o motivo
e a vida vai me levando
e a dor comigo persiste,
por dentro me lacerando.
MENTIRAS
Mentindo
descaradamente,
segue o Homem,
segue o Mundo
sem distinguir a verdade
de tão assumidamente,
viver na mentira,
cotidianamente.
MIGRAÇÕES
Fugindo à morte
seguem homens, mulheres e crianças.
Velhos trôpegos também insistem
em continuar vivendo.
Prosseguem todos em indistinta caminhada.
Para onde vão
carregados de passado
e desejosos de futuro?
Pergunta sem resposta.
As fronteiras se fecham
e rejeitados pelo mundo
não encontram morada.
Com fome e frio
continuam na busca,
em solidão conjunta.
PROCURA
A noite se alonga
formando círculos viciosos
de enigmas.
Meus olhos buscam
deslindar fios
que se avolumam.
No seu emaranhado
a minha visão
se esvai.
TRAVESSIAS
Transformei-me em barco
e atravessei oceanos
perdendo os rastros
das maldades humanas.
Encerrei-me em versos
e habitei passarinhos
que cantaram em mim
momentos crepusculares.
Fonte:
Livro enviado pela poetisa.
Cecy Barbosa Campos. Versos Perplexos. Juiz de Fora: Editar, 2019.
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