segunda-feira, 3 de junho de 2019

Goulart Gomes (Poetrix) II


A LINHA E O NÓ

novelo de linhas temperadas
ato lonjuras com nós de saudades
alço voo nas cores do silêncio

APRENDIZ DE FEITICEIRO

demorou, mas aprendi:
o meio do mundo
não é o meio de mim

ATAVISMO BÍBLICO

primeva
seria Lilith
ou seria Eva?

BIO

de tanto comer livros
o menino inchou
vomitou alguns

CIGARRAS

um amor que se desgarra
como uma cigarra
implodida

CONFUSO

não sou o tao
o mundo out
me deixa yin

DIVID-IR

de mim, resta-me pouco:
aos seus olhos, este
em seus braços, outro

GENÉRICOS

quanto mais desconheço
os gerentes
mais amo as serventes

(G)ESTAÇÕES

juras de amor eterno
nas folhas caídas do outono
não chegaram ao inverno

MINHA MÁXIMA

a cada nova manhã
ressuscito com a certeza
da minha culpa cristã

NAVEGAR É PRECISO II

folha caída
navegando na sarjeta
barco de formigas

OFERENDA

Meu Senhor do Bonfim,
Ganesh, Trismegisto, Exu,
Abram as portas pra mim!

PAISAGEM

no leito azul do céu
uma nuvem branca
desnuda a sua anca

PULSAR

em meu corpo vibram
cósmicas supernovas
esperando teus beijos

ROSA-DOS-VENTOS

olhos de Capitu
desgovernando-me a bússola
sem noite, sem céu, sem sul

TRANSITRIX
ou
POETRIXTA NO TRÂNSITO
ou
UM POETA GUIA SEU VEÍCULO NO TRÂNSITO DE SALVADOR LEMBRANDO QUINTANA

esses ônibus que aí estão, atravancando meu
caminho
eles, lotação; eu, unozinho

Fonte:
Livro enviado pelo autor:
Goulart Gomes. Minimal. Salvador/BA: Copigraf, 2011

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