ROSA
Rosa colhida, sozinha,
Lindas rosas no jardim
E nas faces também tinha
Duas rosas de carmim.
Cheguei-lhe e disse-lhe:
-Rosa, qual destas rosas me dás;
As de face primorosa
Ou essas que unindo estás?
Ela fitou-me, sorrindo,
Inda mais enrubesceu
Depois, ligeira,fugindo,
De longe me respondeu:
-Não dou as rosas das faces
Nem as que tenho nas mãos;
Daria se me estimasses,
As rosas do coração!
ANJO ENFERMO
Geme no berço, enferma, a criancinha,
Que não fala, não anda e já padece...
Penas assim cruéis por que as merece
Quem mal entrando na existência vinha?!
Ó melindroso ser, ó filha minha!
Se os céus ouvissem a paterna prece
E a mim o teu sofrer passar pudesse,
- Gozo me fora a dor que te espezinha.
Como te aperta a angústia o frágil peito!
E Deus, que tudo vê, não ta extermina,
Deus que é bom, Deus que é pai, Deus que é perfeito.
Sim, é pai mas – a crença no-lo ensina:
- Se viu morrer Jesus, quando homem feito,
Nunca teve uma filha pequenina!...
NA FAZENDA
Dorme a fazenda. Uniformes,
Com seu inclinado teto,
Têm as senzalas o aspecto
De um bando d´aves enormes.
Os cães, no pátio encoberto,
Repousam de orelha erguida;
São como oásis de vida
Da escuridão no deserto.
De vagos tons uma enfiada
Com o torpor luta e vence-o;
É no burel do silêncio
Franja sonora bordada.
Às vezes, da porta estreita
Sai um chorar de criança,
Chamando a mãe que descansa
Morta do afã da colheita.
Talvez no infantil assombro
Já se lhe antolhe mais tarde:
— O eito enquanto o sol arde,
E o peso da enxada ao ombro.
Os cães levantam-se a meio,
Geme a criança um momento
E, a pouco e pouco, em lamento
Sucumbe o isolado anseio.
Longe, na sombra perdido,
Há no perfil de um oiteiro
Algo de estranho guerreiro
Da cota de armas vestido.
Ao lado reluz a linha
De extensa e alvacenta estrada,
Como a lâmina da espada
Que lhe saltou da bainha.
E o disco da lua nova
No lar azul das esferas,
De nuvens que lembram feras,
Como um réptil sai da cova.
Ondula no espaço o fumo
De algum incêndio invisível;
Chora a criança, impassível
Prossegue a noite em seu rumo.
CCXIII
Nunca o teu corpo acostumes
Ao que de necessidade
Lhe ser estrita não vês.
Os vícios não lhe avolumes,
Porque é grave enfermidade
Cada vício que lhe dês.
CCXIV
Eu dizia não ter senso
Quem no amor inda confia;
E acabei afeto imenso
Dando a quem não merecia
CCXV
Não zombes da covardia
Deste peito a ti voltado
Que tanto mais te aprecia
Quanto mais menosprezado.
CCXVI
Não me creias fugidio
Que sempre te hei de buscar,
Como a água busca o rio,
Como o rio busca o mar.
CCXVII
Meu coração imprudente,
Quem é que tinha razão?
Eu te dizendo: "ela mente! "
Ou tu contestando: "não! "
CCXVIII
Do amor na escola inda aprendo,
Sou principiante;
Lições estou recebendo
Da minha amante.
Mas o aluno é tão ladino,
Tanto se adestra,
Que já não aceita ensino,
Fornece à mestra.
CCXIX
Faceira, entre as mais faceiras,
Toma sentido,
As horas correm ligeiras;
Talvez te seja impedido
Recuperar, quando queiras,
Tamanho tempo perdido.
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