segunda-feira, 10 de junho de 2019

Geraldo Magela (Poemas Avulsos)


URUBUSERVANDO

Sou seu urubu rei
Ave de rapina em franca extinção
Atrás de banquete sempre irei
Do lixo luxo e as doenças evito a disseminação
Não trago augúrio e tampouco desgraça
Em terra santa ou beira de rio
Meu almoço é a sua nobre carcaça
Vivo em bandos a revoar
Sentinela urubuservadora da carniça
Minha asa se abre a frufrulejar
Em cima da tripa ou o podre da linguiça
Vivo sem rumo no rumor da morte
Nas garras levo seu fígado, o duodeno e o baço
Minha asa é um véu negro
Vivo da putrefação e do martírio
No meio ambiente eu sou íntegro
O gosto e o desgosto são meu delírio
Enfim o funeral e os olhos pressagos
Dum corpo vivo agora extinto
De ossadas em ossadas entre lagos
O fedor e a náusea é meu instinto.

O PLEITO

Em época de eleição
todo candidato é bom
para tudo tem solução.
O povo só tem direito
todo eleitor tem razão
os candidatos só dizem sim
nunca dizem não.

Depois que passa a eleição
tudo vira contradição
se dizemos sim
eles dizem não
até o beija— flor
se transforma em gavião.

Os da direita atropelam
os que estavam na contra mão.
Jogados para escanteios
ficam os que pegam
o boi bravio do sertão.
Ai, meu Deus.
Quanta decepção!

IMPORTÂNCIA

Do filho do patrão
nossa! quanta!?!?

Do filho do empregado
nenhuma.

Todos são iguais
por conveniência
imputam lhes diferenças.

Idolatram condutas
antes subestimadas.

São caminhos
que nunca bifurcam.

MUNDO DOS SEM FUNDOS

Senhor Clarimundo,
pergunta pro senhor Reimundo
para onde vai este mundo
infestado de vagabundos?

Para o mundo dos sem fundos.
Responde o senhor Reimundo.

POETA

Poeta sem fama
Não tem cama.
Na grama
Ao relento

Suavizado pelo vento.
Dorme e chama
Por alguém que
Não o ama.

Dele se conhece bem pouco
Seu poema e
Seus versos
São verdades
Sem credibilidade
Num mundo oco.

Nenhum comentário: