domingo, 30 de junho de 2019

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 3


A Justiça é muito lenta 
e de Jó tira a paciência;
ninguém mesmo se contenta 
com tamanha sonolência.

Analisem-se de novo,
perguntem aos coliseus:
“Quando será que este povo
terá mesmo a voz de Deus?”

As horas todas do mundo
pertencem ao João-preguiça,
dá vida em ser vagabundo
– nem por viver tem cobiça.

Burlesco é todo ciumento
que está sempre alucinado;
destrói o seu casamento,
mas se diz apaixonado.

Caindo na poça d’água,
à imagem que ali flutua,
o bêbado diz sem mágoa:
“Caramba!… Eu estou na Lua?!”

Cheque é bom, coisa valiosa,
quando vem de lá pra cá;
mas é coisa dolorosa
quando vai daqui pra lá.

Corri… e “dobrei a esquina”,
entrei na boca da noite…
No chão, vi a “estrela alpina”
bem antes do meu pernoite.

Dinheiro gordo e franqueado
chama a atenção de repente:
Deixa doce, bem melado,
falsos amigos da gente.

Distraído na olaria,
receita o médico ao doente:
“Tome um tijolo por dia
com mingau de telha, quente”.

Do jeito que vai o clima,
(nossa!) é desespero só!
Tudo seco. E o que anima 
é a esperança da “água em pó”…

É festa com pão e queijo
nos porões da Petrobrás;
E o dom ratão, com gracejo,
só queijo come voraz.

Ele fez rico chalé,
pro seu bem nele morar,
mas, num rancho de sapé,
foi ter sarna pra coçar.

Era garbosa gazela
toda sensual lá na praça;
como não teve cautela,
virou galinha sem raça.

Minha terra tem saci,
mas, um saci aleijado:
Tem “duas pernas”, eu vi,
pulando desengonçado.

Mulher jovem e bonita,
mansão e carro importado,
conta bancária infinita…
– eis um sonho afortunado!

O Nico é um “puxa” demente,
vê a que ponto ele vai:
Quando o patrão fica doente,
é o Nico que geme “ai, ai”!

Perde-se, às vezes, na escola,
a educação do bom lar;
o aluno prega, com cola,
que a escola é para educar.

Puxa-saco era o sujeito
que à pergunta “que horas são?”
respondeu com seu trejeito:
– As que quiser o patrão!

Quem tem a feia mulher
nada tem em sua mão:
De dia é um canhão qualquer
e à noite, uma assombração.

Torna-se escravo o avarento
do brilho vil do dinheiro;
escravo assim é tormento
e pesadelo ao herdeiro.

Vive o invejoso feliz
com toda alheia desgraça;
fingindo, é o que sempre diz:
– Coitado, ele é boa praça!

Fonte:
Livro enviado pelo autor.
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.

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