quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Heloísa Crespo (Folia de Reis)

No Palácio da Cultura
assisti uma folia.
Não me lembrava como era
e nem como se vestia.
Revivi no meu passado
um medo que eu trazia.

Não era bem mais um medo,
era lembrança ruim.
Eu nunca me animava
nem nunca estava a fim
de ver nenhuma folia
ou cantoria assim.

Descobri que associando
a figura do palhaço
ao compasso de um bumbo,
ritmando todo o passo .
Pra criança apavorada
era mesmo que estilhaço.

Na minha mente infantil
aquela alegoria
era tão horripilante
que um monstro mais parecia.
Guardei a impressão errada
do artista e da magia.

Foi tão gostoso ouvir
agora o bumbo bater,
anunciando a chegada,
cumprindo o seu dever,
o grupo de foliões
representando o que crê.

O apito diz avisando:
Olha a Folia de Reis.
Formada por personagem
com farda nada burguês,
simples em azul e branco,
dançando com altivez.

Os homens enfileirados
tocando acordeão,
tambor, viola, pandeiro,
o bumbo e violão.
Também andando e dançando,
cantando uma canção.

Na frente uma bandeira
abrindo o lindo cortejo,
trazendo no interior
os magos, reis do festejo.
Vendo seu Rei pequenino
realizando um desejo.

A linda luz da bandeira
iluminando o Cristo,
Maria e o bom José
e tudo o mais sendo visto,
as flores tão coloridas
e a Ceia de Jesus Cristo.

O palhaço Ventania
de cabelo colorido,
na mão levava uma cobra
com seu jeito divertido.
Um monstro mais parecia.
Monstro nada, bem sabido!

Escondido atrás da mascara
um homem letrado é,
fazendo, dizendo versos,
um brasileiro de fé,
criticando a política,
cheia de Nando e Mané.

- Toca a sanfona, ah, ah!
Grita para o sanfoneiro,
após dizer a quadrinhas
em tom meio zombeteiro,
as trovinhas de cordel,
parece um benzedeiro.

Benze tudo que encontra,
critica o que puder.
Pede  arrecada dinheiro,
a quantia que se der.
De maneira irrequieta
canta, dança o que vir.

Se a folia acontecesse
na casa de um morador
seria bem mais completa
um verdadeiro esplendor,
ocupando a casa toda
e benzendo o morador;

os quartos, sala, cozinha,
banheiro e corredor,
seguindo um ritual
com respeito e calor
ao entrar e ao sair,
licença pede com amor.

Pede a Deus, Nosso Senhor,
pelos donos da tal casa
e por todos os presentes
e com oração arrasa.
Dali só parte pra outra
onde já foi convidada.

Essa folia tão rara
que no Café Literário,
a convite do poeta,
com seu rico vestuário
e os seus vinte componentes,
todos eles necessários.

Vieram de São Fidélis,
um município vizinho,
onde nasceu os Antônios
Roberto e Agostinho.
Roberto o nosso poeta,
o folião, Agostinho,

que com essa turma toda,
é único na cidade
com a folia brincar,
Estrela Belém do Norte,
que nunca deve acabar
e tem que ficar mais forte.

Parabéns e obrigado
a todos os foliões
que levam muito a sério,
passando de gerações
essa Folia de Reis,
mantendo as tradições.

Fontes:
A Autora
Imagem = http://www.robertomoraes.com.br

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