Estive uma noite destas em casa de Oswaldo e Eva, e depois que eles me mostraram sua bela residência, por dentro, levaram-me também ao quintal.
Fiquei encantada! A grama verdinha, as lajes simetricamente dispostas, tudo tão bonito!
Mas aquela velha mangueira, carinhosamente preservada e toda cercada de flores… que coisa linda! Voltei para casa c fui dormir sem poder tirá-la da imaginação. É que me lembrei de uma coisa remota, dos meus tempos de menina de dez ou onze anos de idade.
Era o natalício de Seu Belizário (o querido e popular Coronel Belí, tio-avô de meu marido), e havia um churrasco em comemoração à data.
Bem ali onde está a casa do Oswaldo, havia um pomar de mangueiras copadas que forneciam uma sombra formidável, e esse foi o local escolhido para a churrascada.
Ai, aquelas festas de antigamente! Como eram gostosas! E que animadas! E como a gente se divertia! Sem falar no churrasco delicioso, de carne de primeira, quentinho, fumegando, sangrando…
Todo mundo estava lá; os grandes e nós, as crianças, que corríamos soltas, brincando de pegador ou de esconde-esconde, por detrás dos grossos troncos das enormes mangueiras.
Detalhe curioso: damas e cavalheiros vestiam-se com esmero. Naquele tempo ia-se a churrascos com roupa de domingo. Os homens de terno, chapéu e gravata, e as senhoras com lindos vestidos de seda e sapatos de salto alto. Raros eram os descontraídos que apareciam em mangas de camisa, uma ou outra mulher de lenço na cabeça, roupas mais simples e sapatos de salto baixo.
Eu mesma, apesar de pequena, usava meu querido vestido de sélis cor-de-vinho com entrelaçadinhos de veludo negro nas mangas e no cinto, um amor de modelo, criação de Dona Maria José, a modista preferida de mamãe. Os sapatinhos eram vermelhos, com flores perfuradas no couro da gáspea. Ainda conservo um retratinho de estúdio, tirado com esse traje. No meio de toda aquela correria, lembro-me do cuidado que eu tinha para não rustir os sapatos, nem manchar de gordura o lindo vestidinho.
Uma velha foto registra o acontecimento daquele dia, e ali estão, abrigando o pessoal com a sombra deliciosa, as belas mangueiras em todo o seu esplendor. E é justamente uma delas que reencontro agora no quintal do Oswaldo.
Que saudade! Quanta lembrança e quanto tempo! Muitas daquelas pessoas, como o próprio aniversariante, já não existem mais. Outras vivem - ou sobrevivem — revelando hoje nos traços os quarenta e tantos anos que as separam daquela festa. Como eu, que felizmente não apareço na fotografia, e assim ninguém irá poder prestar atenção à diferença...
(Tribuna de Itararé— 28/08/84)
Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Instantâneos. São Paulo: Dialeto, 2012.
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