sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ialmar Pio Schneider ( Homenagem ao poeta Nelson Nilo da Lenita Fachinelli em 9 de Novembro de 1935)

O FUNDADOR DE CASAS DO POETA

In Memoriam a Nelson da Lenita Fachinelli


Foi lá pelos idos de 1982 que conheci o poeta e literato, Nelson da Lenita Fachinelli, o vulgo “operário das letras”, que por muitos anos preside e carrega em seus ombros o encargo de manter viva e atuante a Casa do Poeta-Rio-Grandense, cuja fundação nos remete ao longínquo 24 de julho de 1964. Residia por aquela época, o nobre companheiro, no Bairro Cristal, na rua Dr. Campos Velho, a “faixa preta”, ainda tão citada hoje em dia. Lembro-me que fui de táxi e ele me disse depois que não precisava fazê-lo por este meio de transporte, porque passavam por ali lotações e ônibus. Em todo caso não havia me dado conta disto e agradeci-lhe a informação. Bem que eu poderia ter economizado uns cobres.

Naquele distante ano participei pela primeira vez de uma antologia organizada por ele, Trovadores do Rio Grande do Sul, de que participavam também outros nove consagrados poetas e que lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre, em 13 de novembro de 1982. Foram dezesseis trovas, sendo a primeira:

A trova é o verso que nasce
de um coração sonhador;
fica estampada na face
de quem vive um grande amor !

E a última, ou seja a décima sexta, diz:

O vento leva o meu verso,
- afinal nada o detém -
pelos confins do Universo
e pra quem me queira bem.

O que me leva a prestar esta homenagem é o sonetista que ele também demonstrou ser, notadamente pelos dois sonetos a seguir:

“UM ROSTO DE MULHER--Nelson Fachinelli

Hoje estive relendo comovido,
as cartas que você mandou-me outrora
quando ainda sentia-me iludido
por quimeras que o tempo jogou fora.

É mesmo assim a vida... o tempo ido
não há aquele ser que não o chora,
embora o coração, nele ferido
tenha sofrido mágoas, hora a hora.

Nosso romance que durou tão pouco,
mas quase fez de mim um triste louco
teve bem um desfecho inacabado.

Por isso, que prossigo procurando
achar nas que, por mim, vivem passando,
um rosto de mulher, do meu passado !”

E este outro, místico e em que lembra as reuniões do Cafezinho Poético, no Restaurante Dona Maria, na José Montauri, de tão saudosa memória:

“QUANDO A MORTE CHEGAR...Nelson Fachinelli-

Quando a morte chegar em meu árduo caminho,
que venha sem alarde, sorrateiramente:
de olhos abertos vou aguardá-la, com carinho
como aquele que espera a amada, longamente…

Quando a morte surgir... hei de ir tão sozinho
tal como vim ao mundo - voluntariamente.
Vou partir sem lamúria, bem devagarinho
como quem sabe que vai voltar novamente…

Quando eu me for... não quero, por favor, tristeza.
Eu auguro uma longa ronda de beleza,
de quentes cafezinhos, poemas e canções.

Aos que eu feri, perdão, rogo por meus pecados,
aos que meu mal quiseram, estão perdoados,
pois só deve reinar Amor nos corações !”

Mas esta é uma minúscula faceta do dinâmico poeta e trovador que tem se esmerado na fundação de diversas Casas de Poetas no Estado, inclusive há pouco tempo em nossa cidade de Canoas, juntamente com a presidente Maria Santos Rigo, batalhadora incansável na divulgação da cultura. Uma de suas trovas do livro Cantigas de Amor e Paz, diz o seguinte:

“Sou herdeiro de Esperança
num mundo que não é meu:
- a minha única herança
é a vida que Deus me deu !”

Ele assim se considera...

Sua figura característica, percorrendo as ruas a carregar uma pasta e uma sacola de livros e convites e avisos, lembra um Dom Quixote enfrentando os moinhos de vento, a passear seu ideal aventureiro. Dir-se-ia um Cavaleiro Andante.

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