BODEGA
Às vezes, no rústico balcão
de velha tábua enegrecida
o tempo parava...
Às vezes, o vento passava
e o papel de embrulho acenava
convidando o cliente
a absorver o aroma
pungente de couro curtido
que se irradiava no ar...
Só a velha balança parada
com os pratos vazios
ponderava o que havia
de sabor no denso langor
de algo invisível a indicar
que a tarde se dissipava
pesarosa a chorar...
E quando vinha freguês
antonio, maria ou joão
de caderneta na mão
fiava o açúcar, a farinha,
num embrulho feito com arte
com dedos magros da mão
de um bodegueiro artesão!
PORTEIRA
O aboio de meus ancestrais
é o que escuto ao longe
quando o olho se depara
no langor da velha porteira...
Ouço o som puxado
do canto de meu bisavô
tangendo uma boiada,
depois outro, entoando...
é meu avô gravando no ar
o seu ecoar de saudade.
E na cancela, ruína
empenada, corroída
pela angústia de seu fim,
algo cordial ainda pulsa
como álbum de fotografia
e me dá a impressão que
os mesmos paus corredios
se abrem... se fecham...
sozinhos! logo ao ouvir
um pungente mugido ou
o grito de aboio de meu avô.
FASTIO
Ultimamente,
tenho carregado demasiado peso:
ausências indefinidas,
presenças indesejadas
e saudade de um doce sal
que jamais provei!
A vontade de conter o mundo
me franze as sobrancelhas
neste nevoeiro denso
a me reter num abraço.
Necessito verter um vômito
inorgânico que se acumulou
em minhas prateleiras:
aclamações induzidas,
anulações forçadas
e as crenças ilusórias
que retraíram meu ser!
ABUTRES
Então patrulham
o indelével rastro
das visagens que
se diluem aos abutres!
Então farejam
o odor mórbido
do último suspiro que
se avigora aos abutres!
Então grasnam
transcendentes
ao pendor fúnebre que
se oferta aos abutres!
TEOREMA PRA NOS TANGER
Há um pequeno porém
ao ultrapassar travessias;
o trabalho é na espora,
todavia, o lume da carga
nem pende, nem pesa,
parece flutuar nos arreios.
Só o bornal descontente
sem empenho transporta
uma época de intenções
e travessuras pelas veredas
penosas, longas e sinuosas,
como obrigação imposta
até a armadura do gibão
treme por conta do som
estridente da ave de rapina
e do chicotear do couro cru
que lembra como é a morte
cruel no lamber das esporas.
LEMBRANÇA VIVA
A uma distante deusa.
Um dia, meu sangue
e minha alma ferviam
em tuas vulcânicas mãos,
entorpecido ao teu aroma
e ao teu volúvel poder
azedo, amargo, doce
que agora me dói
na tua longa ausência ...
E hoje, como vulto, apareces
surpreendente, diante de mim?
Um dia, toda amargura
dissipada no forno do tempo
voltou a existir, apagando
a ilusão de te esquecer
e em repentino instante
condensou-se a esperança
que agora falta em mim
por tua longa ausência...
E hoje, como vulto, apareces
soberana, diante de mim?
Um dia, ao teu lado
mil delirantes vidas; vivi,
com destemor e sem perceber
que de repente ia perder
na névoa branca e crua
a tua sublime presença,
que agora me tolhe a alma
na tua longa ausência...
E hoje, como vulto, desapareces
inumana, diante de mim!
Às vezes, no rústico balcão
de velha tábua enegrecida
o tempo parava...
Às vezes, o vento passava
e o papel de embrulho acenava
convidando o cliente
a absorver o aroma
pungente de couro curtido
que se irradiava no ar...
Só a velha balança parada
com os pratos vazios
ponderava o que havia
de sabor no denso langor
de algo invisível a indicar
que a tarde se dissipava
pesarosa a chorar...
E quando vinha freguês
antonio, maria ou joão
de caderneta na mão
fiava o açúcar, a farinha,
num embrulho feito com arte
com dedos magros da mão
de um bodegueiro artesão!
PORTEIRA
O aboio de meus ancestrais
é o que escuto ao longe
quando o olho se depara
no langor da velha porteira...
Ouço o som puxado
do canto de meu bisavô
tangendo uma boiada,
depois outro, entoando...
é meu avô gravando no ar
o seu ecoar de saudade.
E na cancela, ruína
empenada, corroída
pela angústia de seu fim,
algo cordial ainda pulsa
como álbum de fotografia
e me dá a impressão que
os mesmos paus corredios
se abrem... se fecham...
sozinhos! logo ao ouvir
um pungente mugido ou
o grito de aboio de meu avô.
FASTIO
Ultimamente,
tenho carregado demasiado peso:
ausências indefinidas,
presenças indesejadas
e saudade de um doce sal
que jamais provei!
A vontade de conter o mundo
me franze as sobrancelhas
neste nevoeiro denso
a me reter num abraço.
Necessito verter um vômito
inorgânico que se acumulou
em minhas prateleiras:
aclamações induzidas,
anulações forçadas
e as crenças ilusórias
que retraíram meu ser!
ABUTRES
Então patrulham
o indelével rastro
das visagens que
se diluem aos abutres!
Então farejam
o odor mórbido
do último suspiro que
se avigora aos abutres!
Então grasnam
transcendentes
ao pendor fúnebre que
se oferta aos abutres!
TEOREMA PRA NOS TANGER
Há um pequeno porém
ao ultrapassar travessias;
o trabalho é na espora,
todavia, o lume da carga
nem pende, nem pesa,
parece flutuar nos arreios.
Só o bornal descontente
sem empenho transporta
uma época de intenções
e travessuras pelas veredas
penosas, longas e sinuosas,
como obrigação imposta
até a armadura do gibão
treme por conta do som
estridente da ave de rapina
e do chicotear do couro cru
que lembra como é a morte
cruel no lamber das esporas.
LEMBRANÇA VIVA
A uma distante deusa.
Um dia, meu sangue
e minha alma ferviam
em tuas vulcânicas mãos,
entorpecido ao teu aroma
e ao teu volúvel poder
azedo, amargo, doce
que agora me dói
na tua longa ausência ...
E hoje, como vulto, apareces
surpreendente, diante de mim?
Um dia, toda amargura
dissipada no forno do tempo
voltou a existir, apagando
a ilusão de te esquecer
e em repentino instante
condensou-se a esperança
que agora falta em mim
por tua longa ausência...
E hoje, como vulto, apareces
soberana, diante de mim?
Um dia, ao teu lado
mil delirantes vidas; vivi,
com destemor e sem perceber
que de repente ia perder
na névoa branca e crua
a tua sublime presença,
que agora me tolhe a alma
na tua longa ausência...
E hoje, como vulto, desapareces
inumana, diante de mim!
Fontes:
Antonio Miranda
Araçatuba e Região
Nenhum comentário:
Postar um comentário