domingo, 1 de dezembro de 2013

Prof. Garcia (Outros Versos)

SETILHAS

Distante de minha terra
só sinto tristeza e dor,
ao lembrar de minha infância
simples com tanto esplendor;
podia me faltar tudo
mas era rica de amor.
* * *
Enfrentei ventos fracos e refregas,
calmarias e fortes vendavais,
a procura da musa que me inspira
nos refrões dos antigos madrigais;
mas a sorte, madrasta dos meus planos,
só me deu versos soltos e profanos
e os gemidos sofridos dos meus ais!
* * *
Foi assim que eu pensei e sempre quis
e este meu pensamento eu não desfaço,
acredito na força do destino
confiando no verso que inda faço;
pois da fonte da santa inspiração,
eu bebi gotas d'água de ilusão
afastando as loucuras do fracasso.
* * *
Sempre tive a maior veneração,
por Deus Pai, nosso eterno criador,
que me quis pequenino deste jeito
e me fez seu eterno sonhador;
como quem diz abrace o que te dei,
e a poesia, feliz eu abracei,
me tornando poeta e Trovador.
* * *
Podem ver que os colibris
são amantes sonhadores,
que apesar de pequeninos
são felizes sedutores,
vivem beijando, e beijando,
de manhã cedo roubando
a virgindade das flores!
* * *
Sempre vi na grandeza do Senhor,
esta mão benfeitora e artesã:
no trinado das aves seresteiras,
despertando a floresta, o morro e a chã,
num concriz quando canta uma toada,
que enfeitiça o romper da madrugada
nos primeiros gorjeios da manhã!
* * *
Esqueci das barreiras que transpus
percorrendo as vertentes da poesia,
sempre em busca da forma mais completa
das origens dos versos que eu fazia;
só depois que bebi desta vertente,
Deus me fez tangerino do repente
e tropeiro do verso que me guia!

SEXTILHAS

É um eterno labutar
essa luta sempre a sós;
um no Sul, outro no Norte,
e o verso frio, sem voz,
quebrando o silêncio mudo
desta distância, entre nós.
* * *
A inspiração de meus versos
vem do infinito, do além;
dos arpejos dos suspiros
que as cordas da lira tem,
e do sorriso da noite,
de todo canto ela vem!
* * *
A saudade é um grande bem
na vida de um sonhador;
pois se não fosse a saudade
que provoca pranto e dor,
não havia entre os amantes
os lindos sonhos de amor!
* * *
Nossos versos não merecem
tratamentos desiguais;
são os fiéis guardiãs
que amamos  cada vez mais,
e a mais feliz harmonia
das liras celestiais!
* * *
Se o destino na verdade
aponta o nosso caminho,
que me dê a inspiração
de um poeta passarinho,
que canta versos ao vento
e faz serestas no ninho!
* * *
Penso na vida que passa
ligeira como quem voa,
no amor que se faz presente
no lar de cada pessoa,
e em tudo quanto se alcança
na graça de quem perdoa!
* * *
Eu vivo sempre a rezar
neste mundo em desatino,
peregrinando no tempo
igualmente a um beduino,
que leva o terço na mão
e a fé na luz do destino!
* * *
É na força da oração,
que a inspiração nos convém.
Quando dobramos o orgulho
erguemos um grande bem,
vão-se as tristezas da vida
e os desenganos também!
* * *
No mar onde a poesia,
beijando as ondas passeia;
meu barco cheio de encanto
por todo canto vagueia,
buscando as ondas dos versos
para adormecer na areia!
* * *
Que bom na vida seria
um sono à luz do luar,
onde um poeta cantasse
linda canção de ninar,
e a lua beijasse os lábios
dos versos que vem do mar!
* * *
Fontes:
Prof. Garcia, Zé Lucas e Ademar Macedo. Debate em Setilha Agalopada. RN, 2012.
Zé Lucas, Gislaine Canales, Ademar Macedo, A. A. de Assis, Delcy Canalles e Prof. Garcia. Sexteto em sextilhas: debate pela internet.

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