domingo, 28 de setembro de 2008

Nilto Maciel (Paisagem Celeste)

Pé ante pé, mão a roçar a parede, Luís deixou o quarto, passou pelo corredor e alcançou a ante-sala. Em cada mão um sapato. Parou, conteve a respiração, desceu o primeiro degrau e o segundo. Olhou para trás. Tudo calmo. Levou a mão à porta. Nada de barulho ao retirar a trave. Se Maria ou os filhos acordassem, inventaria alguma desculpa: esquecera de trancar a porta. E voltaria à rede. Sondou de novo a retaguarda: a parca luz da lamparina se infiltrava pela brecha da porta e alumiava uma nesga de chão do corredor. Ninguém tossia nem roncava. Dormiam sonos profundos, talvez. Retirou, com cautela, a trave e a pôs no chão, em posição vertical. Se tombasse, todos acordariam. Deu uma volta à chave, mais uma, retirou-a da fechadura e a colocou num bolso. Abaixou-se para levantar o ferrolho, voltou à posição normal, puxou com leveza a tábua da porta, olhou para os dois lados da rua, fez o movimento contrário na madeira e desceu o degrau para a calçada. Meteu no bolso a mão, à cata de cigarros. Não, a fumaça inundaria a casa, pelas brechas da porta. Caminhou a passos largos no rumo da igreja matriz.

Necessitava caminhar muito, cansar, sentir vontade de dormir. Não suportava mais tantas noites sem sono, a se revirar na rede. Quando a claridade da aurora se anunciava no telhado, mal agüentava espiar os punhos da rede, a cabeça a lhe doer, o corpo quente, febril. Embora assim, carecia se banhar, tomar café, caminhar até a mercearia e passar mais um dia sem ânimo, nem para as conversas sem fim com os amigos de sempre. Ao chegar à pracinha, sentou-se num banco. As luzes dos postes lhe faziam mal. Tossiram numa das casas. Tratou de deixar o banco e se pôs a caminhar entre as árvores, pelas calçadas internas do logradouro. Viu-se diante do coreto. Há quanto tempo não o via! Talvez nunca tivesse passado ao seu interior. Um cachorro dormia debaixo de um banco e se assustou ao ver aquele guarda-noturno estranho. Fez menção de se erguer e correr. Luís o tranqüilizou. Ficasse ali mesmo, não lhe ia fazer mal. O cão mirou os olhos do homem, que deu meia-volta e se retirou. Nada de confusões, fosse com bichos, fosse com gente. Precisava de solidão, paz e silêncio. Para onde iria? Talvez para a mercearia. Não, aquilo não. Os vizinhos acordariam e suspeitariam de arrombamento. Além do mais, já passava os dias enfurnado entre sacos de arroz e fardos de algodão. Tomou o rumo da rua paralela àquela pela qual ia e vinha duas vezes por dia. Na calçada outro cachorro deitado junto à parede. Passou para o meio da rua. Avistou, ao longe, as torres da matriz. O relógio indicava 12 horas e 45 minutos. Se encontrasse a porta entreaberta, ajoelharia diante do altar e rezaria. Talvez não. Há anos não assistia à missa. Até já o chamavam de ateu. E por que não subir a serra? Apressou o passo. Sim, rumar pela estradinha escura e depois se meter no mato, procurar algum riacho, alguma cachoeira. A Lua apareceu atrás do Pico Alto. Pôde ver com clareza o chão coberto de folhas secas e gravetos. Ia necessitar de muito fôlego para subir a ladeira. Daquele jeito, fumando muito, bebendo genebra todo dia, não chegaria longe. Mas precisava daquilo, os negócios iam mal, os filhos mais velhos só lhe davam desgostos, Maria não lhe apetecia mais. Há quanto tempo não se encostavam um no outro? Ela num quarto, ele noutro. Conversavam apenas o necessário, quando muito. Discutiam por qualquer ninharia. Não se miravam nunca. Dormir como qualquer outro – impossível. Estacou diante de uma vereda. Examinou a ribanceira. Chiado de água a escorrer. Apalpou o chão com os pés e se pôs a descer. Rastejariam serpentes por ali? Armou-se de um pedaço de pau. Serviria de cajado. Maria teria despertado? E os filhos pequenos? Quando acordassem e o não vissem... Não, nunca o viam ao amanhecer. Ainda dormiam quando saía para trabalhar. Mesmo assim, prometia voltar antes de o sol raiar.

Sentou-se ao pé de uma rocha. Açoitou o chão com o galho seco. Nada de bichos por perto. Olhou para o alto. A Lua vagava entre nuvens. Acendeu um cigarro. Bater de asas ao seu derredor. Pios de protesto. Jogou fora a ponta acesa e a esmagou com o pé. Deitou-se e se pôs a admirar a Lua, como há muito não fazia. São Jorge num cavalo enfrentava um dragão. Nuvem enorme encobriu soldado e animais. Luís fechou os olhos. Aquela peleja não acabava nunca. Ou não passava de pintura, paisagem celeste? Rodavam no espaço desde o início. E rodariam até o fim.Quando abriu os olhos, uma nesga de sol se filtrava entre as telhas do quarto. Estremeceu na rede e viu Maria a fugir feito fantasma, de volta ao outro quarto. Já voltei da serra?
(Agosto/ 2003)

Fonte:
Nilto Maciel. A Leste da Morte. Porto Alegre, RS: Ed. Bestiário, 2006.

Nilto Maciel (Livro Infinito: Mensagem)

Como costumava fazer durante as manhãs de sábado, Antônio Sollos, em pé, folheava livros desde cedo, numa livraria. Nada de praias, bares, visitas a parentes. Buscava novidades e antigüidades. O novo contista, o romancista esquecido, o escritor de sua predileção. Agarrou com unhas e dentes um volume de contos de Kafka. Queria conhecer “Durante a Construção da Grande Muralha da China”. Cheirou o livro, como se fosse um charuto, admirou a capa e se pôs a ler um trecho: “O imperador – assim consta – enviou-te, a ti, a ti que estás só, tu, o súdito lastimável, a minúscula sombra refugiada na mais remota distância diante do sol imperial, exatamente a ti o imperador enviou do leito de morte uma mensagem.” Desde a chegada, não via freguês. Apenas vendedores. Alguma novidade? Muitas, muitas, Seu Sollos. Ouviu vozes de quem entrava na loja. Voltou ao livro: “Aqui ninguém penetra; muito menos com a mensagem de um morto”. As vozes e o arrastar de pés calçados o fizeram levantar a vista. Não conseguiu distinguir de quem eram. Vozes de mulher e homem. Um casal, certamente. Gostou da voz dela. Até lhe lembrava uma voz doce de uns tempos passados. O som dos passos se aproximaram dele. Sondou os arredores. O casal só podia estar do outro lado da estante. Ergueu-se nas pontas dos pés. Viu uma testa robusta, corada, de homem, e uns fios de cabelos quase louros, lindos. Abaixou-se e, pela brecha da prateleira, viu uns lábios rubros que parecia sorrirem para ele. Descontrolado, largou o livro e se pôs a caminhar lentamente pelo estreito corredor. Ao fim dele, virou para a esquerda e parou. A dois ou três metros, avistou o homem de lado, mãos erguidas na direção da prateleira. Só podia ser o marido de Ana. A mulher ao lado dele seria, então, Ana. Não queria revê-la. E se voltou, para atravessar a sala pelo corredor perpendicular àquele em que o casal se achava. Saiu apressado, disposto a fugir. No entanto, antes de alcançar a porta, se viu frente a frente com Ana. Quis sorrir, olhou para os lados, cumprimentou-a com duas palavras, contemplou os olhos dela e saiu da loja.

Fonte:
Nilto Maciel. A Leste da Morte. Porto Alegre, RS: Ed. Bestiário, 2006.

Feira de Livros em Maringá



De 29 de setembro a 03 de outubro (segunda à sexta), acontecerá a Feira de Livros, promovida pelo SESC, com apoio da Academia de Letras de Maringá.

PROGRAMAÇÃO:

29 DE SETEMBRO – Segunda-feira
- 9 e 10 horas – Apresentação/contação de histórias
Cia. Fanto Kid's: Na mala há histórias. Contadores: Danilo Furlan e Ro Fagundes.

- 12 horas – Performance literária: Dom Casmurro e o Cortiço
Cia. Célula Adiposa. Produtora: Ligia Souza.

- 13h30 às 17h30 – Oficina de Haicai com a escritora Neide Rocha Portugal, Membro Correspondente da ALM.

- 20 horas – Palestra interativa. Mediadora: Lucia Bittencourt – RJ. Local: SESC-Maringá.

30 DE SETEMBRO – Terça-feira

- 10 e 15 horas – Espetáculo de bonecos: Montando Lobato.
Bonequeiro: Elcio Di Trento – Curitiba – PR

- 20 horas – Seminário de literatura. Tema: Os vários olhares da Literatura.

- 20 horas – Workshop e bate-papo com educadores: Da Narrativa ao Livro – A Arte de Contar Histórias

Mesa redonda 01: Mídia, Literatura e Violência.
.
- Tema: Indústria Cultural como Mensagem à Violência.
Mediador: Professor Dr. Luiz Hermenegildo Fabiano, Doutor em Educação – UEM.

- Tema: Violência Étnica.
Mediadora: Aracy Adorno Reis, Especialista em Cultura Africana e Relações Inter-Étnicas.

- Tema: Um Olhar sobre Produção de Telas.
Mediador: Professor Dr. Raimundo Lima, Doutor em Educação – UEM.

1º. DE OUTUBRO – Quarta-feira

- 9, 10, 14 e 15 horas – Apresentação/contação de histórias: Donas Palavrinhas e Suas Conversinhas – poesia para crianças e o show Contarolando.
Contador: Guga Cidral, artista educador – Curitiba – PR

Mesa redonda 02: Mídia, Turismo e Literatura.
.
- Tema: Santiago de Compostela.
Mediador: Professor Dr. Luiz Giani, Doutor em Educação – UEM.

- Tema: Turismo Cultural.
Mediador: Professor Ms. João Santos, Mestre em Educação, História e filosofia da Educação – UEM.

- Tema: Literatura Indígena.
Mediadora: Professora Ms. Sheilla Dias de Souza, Mestre em Artes Visuais.

02 DE OUTUBRO – Quinta-feira

- 9, 10, 14 e 15 horas – Espetáculo de contação de histórias: Fantasia e Histórias que a Vovó Contava
Cia. Pedras. Contadores: Iara Ribeiro e Adriano Braga – Maringá – PR

Mesa redonda 03: Mídia, Literatura e Ideologia.
.
- Tema: Olhar sobre a Cegueira (José Saramago).
Mediador: Professor Dr. Walter Lúcio de Alencar Praxedes, Doutor em Educação – UEM.

- Tema: Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus).
Mediador: Professor Dr. Fábio Viana Ribeiro, Doutor em Sociologia – UEM.

- Tema: Poesia e MPB.
Mediador. Professor Dr. Marciano Lopes e Silva, Doutor em Letras – UEM.

03 DE OUTUBRO – Sexta-feira.

- 9 horas e 14 horas – Espetáculo de contação de histórias: Chuva de Cores (Espaço Sou Arte).
Contadora: Raquel Cruz – Campo Mourão – PR

Mesa redonda 04: Mídia, Misticismo e Literatura.

- Tema: Literatura e Mídia.
Mediadora: Professora Dra. Mirian Zappone, Doutora em Literatura.

- Tema: Mídia.
Mediadora: Professora Dra. Fátima Maria Neves, Doutora em Educação.

- Tema: Teatro como formação da consciência.
Mediador: Professor Ms. Jorge Henrique Lopes, Mestre em educação para a Ciência.

PARTICIPAÇÃO GRATUITA. INFORMAÇÕES: (44) 3262-3232

Fonte:
E-mail enviado por Olga Agulhon, membro da Academia de Letras de Maringá

sábado, 27 de setembro de 2008

Silmar Bohrer (Trovas)

A vida anda tão restrita,
tão restrita anda a vida
e eu ainda busco guarida
nesta senhora mal-dita.

Escreveu o romancista,
"o homem, poliedro imenso",
milhares de faces a vista
que não chegam ao consenso.

Fazemos versos "a revirias"
eu e o escriba bissexto,
versejando todos os dias
até praticamos incesto.

Ando à procura no mundo
do veio dos ventos uivantes,
aqueles mesmo, ventantes,
os tais ventos giramundo.

Estou com os livros - meu mundo,
embrenhado na biblioteca,
onde o silêncio é profundo
e o grito é baixinho - heureca !

Mesmo atrelado aos tais
ditames da pura Razão
não renunciarei jamais
às doçuras do coração.

Caneta, a pecinha realeza
que pereniza meus versos,
captando comigo a sutileza
na lonjura dos universos.

Tenho tido gostado de ser
assim como tenho sido,
um ser que se passa esquecido
desde a manhã ao anoitecer.

Haverá melhor gostosura
nestes tempos setembrinos
do que os ares assobiolinos
que deixaram a clausura ?

A nuvenzinha no céu
parece não ter intentos
vai graciosa pra dedéu
invadindo os pensamentos

Sendo louco pela vida
minhas idéias se consomem
quando vejo tanta ferida
exposta pelo bicho-homem
-

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ialmar Pio Schneider (Trovas)

Trova vencedora do Concurso de Trovas
Centenário de José Barros Vasconcellos
União Brasileira de Trovadores – UBT Porto Alegre – RS
Âmbito Estadual – Tema TERNURA

Neste mundo de tormentos,
Apesar da vida dura,
Nunca faltem os momentos
Para o culto da ternura !...
Ialmar Pio Schneider (Porto Alegre – RS)

Troféu João-de-Barro, no Piquete da Cavalhada no Acampamento Farroupilha.

Mistura de mágoa e tédio,
Esta carência de amor:
E se tomo algum remédio
Mais aumenta minha dor...
=====================
Poeta, advogado, cronista e bancário aposemntado, nasceu no município de Sertão, RS, em 26/8/1942. Residiu por mais de 20 anos em Canoas, e atualmente reside em Porto Alegre. Entidades a que pertence: Casa do Poeta Rio-Grandense, União Brasileira de Trovadores - Sede de Porto Alegre, Grêmio Literário Castro Alves, Agei - Associação Gaúcha dos Escritores Independentes, Casa do Poeta de Canoas, entre outras.


Ialmar Pio Schneider (Sonetos Avulsos)

Nosso Caminho

Envio-lhe estes versos com saudade
dos momentos felizes
de serenidade
ou deslizes...
Tudo é possível quando nos visita
uma paixão avassaladora,
inaudita
e sedutora...
Um sonho se descortina
em nosso caminho
e nos fascina
pelo carinho...
Quando estivermos juntos e unidos
vamos sempre lembrar
que fomos concebidos
para viver e amar...
=================
Soneto a uma Musa

Simplesmente me olhaste com meiguice
e me disseste: - Como vais, poeta !
Eu respondi com minha voz discresta:
- Vou indo mais ou menos... Assim disse...

Depois te foste como quem partisse
quase infeliz, oh musa predileta,
és tu que minha vida desinquieta
nas horas de incerteza e de crendice.

Hás de viver comigo e nos meus sonhos
serás a inspiração que me seduz
nos momentos amargos ou risonhos.

Vou te guardar pra sempre inalterada
porque quando te vejo surge a luz
que vem clarear a escuridão da estrada.
=======================
Soneto da Angústia

Acendo bruscamente o meu cigarro
e penso no futuro que me esperas...
Oh! sem querer numa ilusão esbarro
e tropeço num mundo de quimeras !

Por que, mísero ser, feito de barro,
hei de sonhar eternas primaveras,
e na vida sem léu a que me agarro,
pensar que tu serias o que não eras ?!

E viverás sorrindo ao gosto amargo
do sonho que me mata noite e dia
e faz-me mal viver neste letargo,

nesta angústia que a alma me excrucia.
Enquanto esta fumaça aos ares largo
te lembro bela, cálida e sadia.
=======================
Soneto

Enquanto a gente cai e se levanta
não há motivo de parar na viagem,
mas quando já nos falta até coragem
para seguir em frente, não adianta.

Feliz daquele que sofrendo canta
e traz ao mundo varonil mensagem,
pois leva sobre todos a vantagem
de amar a mesma mágoa que acalanta.

Jamais encontraremos solução
às coisas desastrosas desta terra,
porque é um combate inglório, louco e vão,

repleto de terror que nos aterra,
de ver o irmão matar ao próprio irmão
numa hecatombe irracional da guerra.
=====================
Soneto Antigo

Cinza a fumaça rolará nos ares
e irá perder-se inutilmente louca
como as notas fatais dos meus cantares,
deixando um amargume em minha boca.

Tento esquecer teus lânguidos olhares
e a tua imagem com calor evoca
paisagens longas de distantes mares
pra onde a sereia meu ardor desloca.

Não é possível te olvidar, querida,
nem tenho culpa de te amar assim
com toda a força do meu triste peito...

Dá-me a alegria de levar a vida
por entre as flores de um taful jardim
e seguirei contente e satisfeito...
====================
Soneto a uma Fada

Fazes de conta que jamais me viste
e eu também finjo que não te conheço;
nossa união terminou sem ter começo
e eu continuo, como sempre, triste.

O que tu prometias não cumpriste;
mas esquece-me, então, pois eu te esqueço;
isto conosco foi mais um tropeço;
vamos saber qual de nós dois desiste.

Quero descrer de ti, não mais te amar;
porém, tudo me leva à tua presença
e por nada te posso condenar.

Foste uma Fada que surgiu voando
e não trouxeste, enfim, a recompensa
ao poeta que vive te adorando...
====================

História do Soneto

Sonetos no mundo

Ao que tudo indica, o soneto - do italiano sonetto, pequena canção ou, literalmente, pequeno som - foi criado no começo do século XIII, na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II da mesma forma que as tradicionais baladas provençais. Alguns atribuem a Jacopo (Giacomo) Notaro, um poeta siciliano e imperial de Frederico, a invenção do soneto, que surgiu como uma espécie de canção ou de letra escrita para música, possuindo uma oitava e dois tercetos, com melodias diferentes.

O número de linhas e a disposição das rimas permaneceu variável até que um poeta de Santa Firmina, Guittone D'Arezzo, tornou-se o primeiro a adotar e aderir definitivamente àquilo que seria reconhecido como a melhor forma de expressão de uma emoção isolada, pensamento ou idéia: o soneto. Durante o século XIII, Fra Guittone, como era conhecido, criou o soneto guitoniano, padronizado, cujo estilo foi empregado por Petrarca e Dante Aligheri, com pequenas variações. Tais sonetos são obras marcantes, se considerarmos as circunstâncias em que eles surgiram.

O nome mais associado aos primeiros desenvolvimentos da forma do soneto na Itália, é claro, é Francesco Petrarca (1304-1374). Em 1326, após a morte de se pai, ele se mudou de Arezzo na Toscana para Avignon. Ali começou o seu singelo amor por uma mulher conhecida como Laura, a quem ele endereçou seus poemas. Ele é lembrado como o fundador do movimento humanista, acreditando na continuidade entre a cultura clássica e a mensagem de Cristo. Em 1337 ele deixou Avignon por Vaucluse, um lugar de retiro, onde ele produziu muito de seus maiores trabalhos. Em setembro de 1340 ele recebeu convites tanto de Paris quanto de Roma para ser coroado como poeta; ele escolheu Roma. (...) A ele é creditada a primeira forma conhecida do soneto: As catorze linhas divididas em duas estrofes, uma oitava com o posicionamento das rimas abbaabba e um sexteto com o posicionamento variável – cdecde, ou cdcdcd, ou cdcdce, ou qualquer outro arranjo, que nunca termina num par de versos. A oitava apresenta o tema ou problema do poema e o sexteto apresenta uma mudança no pensamento ou a resolução do problema. Seu Canzoniere contém 317 sonetos, coletânea de poesia que exerceu inflência sobre toda a literatura ocidental. As melhores poesias desse livro são dedicadas a Laura de Novaes, por quem possuía um amor platônico. Destacam-se os recursos metafóricos e o lirismo erótico dos sonetos.

Quando estes sonetos foram trazidos para a Inglaterra, junto a outras formas italianas de versos, por Sir Thomas Wyatt (1503-1542) e Henry Howard, conde de Surrey (1517-1547) no século XVI, eles foram modificados para o que hoje é conhecido como a forma Shakesperiana: esta possui três quartetos, cada um com um posicionamento de rimas independente, e termina com um par de versos rimado (abab;cdcd;efef;gg). Mais uma vez, os sonetos geralmente formavam uma uma seqüência de conjuntos independentes mas relacionados de poemas de amor. Um antigo exemplo é a obra Astrophel e Stella (1591) de Sir Philip Sidney. Os próprios 154 sonetos de Shakespeare foram publicados em 1609, embora suas datas de composição sejam desconhecidas.

A outra forma inglesa do soneto é chamada a forma Spenseriana, por causa de Edmund Spenser (1552-1599). Sua obra de mestre foi The Faire Queen, cuja primeira edição foi publicada em 1609. Ele publicou versões inglesas de poemas do poeta francês do século XVI Joachim du Bellay, e de uma versão francesa de um poema de Petrarca em 1569, quando ele entrou no Pembroke Hall da Universidade de Cambridge. (...) Em 1595 ele publicou Amoretti, uma seqüência de sonetos. A forma Spenseriana tem três quartetos e um par rimado ao final, mas o posicionamento das rimas é intercalado: abab;bcbc;cdcd;ee.

A forma Petrarquiana do soneto continuou a ser usada por poetas ingleses; ela também foi revivida em meados do século XIX, por exemplo por Elizabeth Barrett Browning em Sonnets from the Portuguese (1850) (Isto não significa que os 44 poemas são traduções dos originais em português – "The Portuguese" foi o apelido que Robert Browning deu a ela!). William Wordsworth também empregou esta forma, por exemplo em The World is Too Much with Us, como fez John Keats. (...) John Berryman achou esta uma forma tentadora para escrever os seus 115 sonetos eróticos.

A forma do soneto também penetrou em outros idiomas – francês, onde o verso decassílabo foi substituído por uma linha dodecassílaba, porque ela se encaixava melhor com a linguagem; alemão, polonês e outros idiomas eslavos.

Uma das mais modernas seqüências de sonetos é Die Sonnette an Orpheus (Sonetos a Orfeu) escrita por Rainer Maria Rilke (1875-1926). Este ciclo de 55 poemas foi publicado em 1923. A forma que ele usa é de certa forma diferente. As linhas são decassílabas, mas os poemas consistem de quatro estrofes: dois quartetos e dois tercetos, e o posicionamento das rimas varia: abab;cdcd;eff;gge, ou abba;cddc;efg;gfe, ou abba;cddc;efe;gfg, ou abab;cdcd;eef;ggf. Existem outras variações, porém isto depende do tipo de licença poética que o poeta se permite, sem perder a estrutura disciplinada da forma.

Dante Alighieri, o autor da consagrada "A Divina Comédia", e também um seguidor de Guittone, em sua infância já compunha sonetos amorosos. Seu amor impossível por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari) foi imortalizado em vários sonetos em "Vita Nuova", seu primeiro trabalho literário de grande importância.

Anos se passaram até que dois ícones da literatura mundial, um inglês e um português, deram ao soneto, cada um ao seu modo, o toque de mestre: William Shakespeare e Luis de Camões.

Camões freqüentou a nobreza em Portugal, mas foi exilado por suas posições políticas. Passou alguns anos na prisão, de onde saiu com "Os Lusíadas", uma obra que o colocou entre os maiores poetas de todos os tempos. Apesar disso, morreu pobre. Escreveu diversos sonetos, tendo o amor como tema principal.

Luis de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Shakespeare, além de teatrólogo, desenvolveu uma habilidade única na poesia. O seu soneto, o soneto inglês, é composto por três quartetos e um dístico, diferente da composição original de Petrarca. O mais célebre dos escritores ingleses escreveu diversos poemas, alguns deles recheados de metáforas. Curiosamente, sua obra Romeu e Julieta destaca um soneto, bem no início do diálogo entre os seus protagonistas...

William Shakespeare

NUM SALÃO DA CASA DOS CAPULETOS

ROMEU (a Julieta)
Se minha mão profana o relicário
em remissão aceito a penitência:
meu lábio, peregrino solitário,
demonstrará, com sobra, reverência.

JULIETA
Ofendeis vossa mão, bom peregrino,
que se mostrou devota e reverente.
Nas mãos dos santos pega o paladino.
Esse é o beijo mais santo e conveniente.

ROMEU
Os santos e os devotos não têm boca?

JULIETA
Sim, peregrino, só para orações.

ROMEU
Deixai, então, ó santa! que esta boca
mostre o caminho certo aos corações.

JULIETA
Sem se mexer, o santo exalta o voto.

ROMEU
Então fica quietinha: eis o devoto.

Desde então, o soneto adquiriu importância ao redor do mundo, tornando-se a melhor representação da poesia lírica. Alguns casos são notáveis: o poeta russo Aleksandr Pushkin compôs Eugene Onegin, um poema repleto de sonetos adotado por Tchaikovsky para compor uma de suas óperas; o francês Charles Baudelaire ajudou a divulgar os versos alexandrinos em Les Fleurs du Mal. Até Vivaldi usou-se de sonetos.

Charles Baudelaire

Teu olhar me diz, claro como cristal:
“Bizarro amante, o que há em mim que mais te excita?”
- Sê bela e cala! O meu coração, que se irrita,
Por tudo, exceto a antiga candura animal,
.
Não te quer revelar seu segredo infernal,
Embalo cuja mão a um longo sono incita,
Nem a sua negra lenda a ferro e fogo escrita.
Abomino a paixão e a alma me faz mal!
.
Amemo-nos em paz. Amor, numa guarida,
Tenebroso, emboscado, entesa o arco fatal.
Conheço-lhe os engenhos do velho arsenal:
.
Crime, horror e loucura! - Ó branca margarida!
Não serás tu, como eu, triste sol outonal,
Ó minha branca, ó minha branca Margarida?

E por falar em versos alexandrinos, utilizados por muitos sonetistas, eles remontam - segundo alguns dicionários da língua portuguesa - a uma obra francesa do século XII chamada Le Roman d'Alexandre, e significam versos de doze sílabas poéticas. Porém, os dicionários da língua espanhola - apesar de apontarem para a mesma origem - insistem em afirmar que os versos alexandrinos são aqueles que contêm catorze sílabas gramaticais.

Finalmente, após aderir ao humanismo e ao estilo barroco, o poema dos catorze versos acabou sendo desprezado pelos iluministas. No século XIX, ele voltou a ser cultivado, com mais fervor, por românticos, parnasianos e simbolistas, sobrevivendo ao verso livre do modernismo - que viria em seguida - até os dias atuais.

Sonetos no Brasil

Gregório de Mattos foi um dos primeiros sonetistas em terras brasileiras. Nascido na Bahia, revoltou-se contra o governo e a Igreja e passou a escrever obras satíricas, algumas de caráter pornográfico. Era conhecido como "Boca do Inferno" por seus versos e chegou a ser denunciado à Inquisição. Sua obra "Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado" é uma das que mais aparecem nas provas de vestibular.

A uma dama dormindo junto a uma fonte

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia,

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.


Quando o arcadismo apareceu no Brasil, quase ao mesmo tempo que em Portugal, um de seus representantes foi o mineiro Cláudio Manuel da Costa, que em Vila Rica (Ouro Preto) juntou-se a Tomás Antônio Gonzaga. Gonzaga foi outro sonetista de grande importância e autor da obra que o tornou o mais famoso dos árcades brasileiros: "Marília de Dirceu". Ambos foram presos acusados de terem participado da Conjuração Mineira.

Cláudio Manuel da Costa

V

Se sou pobre pastor, se não governo
Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes;
Se em frio, calma, e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;

Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, coas enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.

Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês, e o ano;

Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que da torpe lisonja o infame ruído.


Tomaz Antônio Gonzaga

Marília de Dirceu
Soneto 5

Ao templo do Destino fui levado:
Sobre o altar num cofre se firmava,
Em cujo seio cada qual buscava,
Tremendo, anúncio do futuro estado.

Tiro um papel e lio - céu sagrado,
Com quanta causa o coração pulsava!
Este duro decreto escrito estava
Com negra tinta pela mão do fado:

"Adore Polidoro a bela Ormia,
sem dela conseguir a recompensa,
nem quebrar-lhe os grilhões a tirania."

Dar mãos Amor mo arranca, e sem detença,
Três vezes o levando à boca impia,
Jurou cumprir à risca a tal sentença.

O romantismo em seguida viria a conhecer diversos imortais da poesia. Compuseram sonetos Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Augusto dos Anjos, Castro Alves entre outros. Suas obras ilustram as três fases da era romântica, período cuja importância literária promoveu uma verdadeira revolução na cultura brasileira.

Gonçalves Dias

Pensas tu, bela Anarda, que os poetas
Vivem d'ar, de perfumes, d'ambrosia?
Que vagando por mares d'harmonia
São melhores que as próprias borboletas?

Não creias que eles sejam tão patetas.
Isso é bom, muito bom mas em poesia,
São contos com que a velha o sono cria
No menino que engorda a comer petas!

Talvez mesmo que algum desses brejeiros
Te diga que assim é, que os dessa gente
Não são lá dos heróis mais verdadeiros.

Eu que sou pecador, - que indiferente
Não me julgo ao que toca aos meus parceiros,
Julgo um beijo sem fim cousa excelente.

Álvares de Azevedo

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Fagundes Varela

Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Augusto dos Anjos

A Árvore da Serra

- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

Castro Alves
.
Aqui, onde o talento verdadeiro
Não nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no público respeito
Se conquista o brasão mais lisonjeiro.

Aqui onde o gênio sobranceiro
E, de torpes calúnias, ao efeito,
Jesuína, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!

Repara como o povo te festeja...
Vê como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mão, que, oculta, te apedreja!

Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif'rente ao regougar da inveja,
"Das almas grandes a nobreza é esta."

Olavo Bilac introduziu o parnasianismo em seus sonetos grandiosos pela devoção ao culto da palavra e ao estudo da língua portuguesa. É o autor do "Hino à Bandeira". Juntos a ele escreveram sonetos Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraes, esse último representante do simbolismo e um dos autores que apresentaram maior misticismo em nossa literatura.

Olavo Bilac

I
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.

E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de súplicas, feria...

Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Ilusões! sonhos meus! íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.

E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...

Cruz e Souza

Sonho Branco

De linho e rosas brancas vais vestido,
Sonho virgem que cantas no meu peito!...
És do Luar o claro deus eleito,
Das estrelas puríssimas nascido.

Por caminho aromal, enflorescido,
Alvo, sereno, límpido, direito,
Segues radiante, no esplendor perfeito,
No perfeito esplendor indefinido...

As aves sonorizam-te o caminho...
E as vestes frescas, do mais puro linho
E as rosas brancas dão-te um ar nevado...

No entanto, Ó Sonho branco de quermesse!
Nessa alegria em que tu vais, parece
Que vais infantilmente amortalhado!

Alphonsus de Guimaraes

II
Celeste... É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste...
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste... E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.

Do pré-modernismo e do modernismo, estilo que perdura até hoje, surgiram escritores célebres. Alguns exemplos de sonetistas são Machado de Assis (com sua maravilhosa obra "A Carolina"):

Machado de Assis

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Fernando Pessoa

Há um poeta em mim que Deus me disse...

Há um poeta em mim que Deus me disse...
A Primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efêmera e espectral ledice...

Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos...
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse...

Florir do dia a capitéis de Luz...
Violinos do silêncio enternecidos...
Tédio onde o só ter tédio nos seduz...

Minha alma beija o quadro que pintou...
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo o seu perfil de inércia e vôo...

Carlos Drummond de Andrade

Legado

Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.

Manuel Bandeira

Sonho Branco

Não pairas mais aqui. Sei que distante
Estás de mim, no grêmio de Maria
Desfrutando a inefável alegria
Da alta contemplação edificante.

Mas foi aqui que ao sol do eterno dia
Tua alma, entre assustada e confiante,
Viu descender à paz purificante
Teu corpo, ainda cansado da agonia.

Senti-te as asas de anjo em mesto arranco
Voejar aqui, retidas pelo aceno
Do irmão, saudoso de teu riso franco.

Quarenta anos lá vão. De teu moreno
Encanto hoje resta? O eco pequeno,
Pequeno de teu sonho - um sonho branco!

Vinícius de Moraes

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Os sonetos atravessaram a história, vencendo prisões e guerras, cantando o amor e a arte. Tornaram-se o vício de uma geração. Rimando ou não, tocaram (e tocam) corações por todas as culturas e países, principalmente o Brasil. Ao mesmo tempo curtos e elaborados, eles são sem dúvida a expressão maior da dedicação de escrever versos. Tal dedicação cantou Olavo Bilac em sua obra "Profissão de fé":

"Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que êle, em ouro, o alto-relêvo
Faz de uma flor..."


Fontes:
Bernardo Trancoso. In http://www.sonetos.com.br/
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/
Desenho http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Braz Chediak (Trovas de A a Z)

Atirei um céu aberto
na janela de meu bem:
Quando as mulheres não amam,
que sono as mulheres têm!
(Manuel Bandeira)

Bicho que anda de noite,
de dia o rasto consome:
Nunca vi rasto de alma
Nem coro de lobisomem.
(Minas Gerais)

Com pena peguei na pena
com pena de escrever;
a pena caiu no chão
com pena de não te ver.
(Piauí)

De manhã encilho o pingo,
Solto o poncho estrada fora;
canta o galo, chora a china
que o gaúcho vai-se embora.
(Rio Grande do Sul)

Entre os suspiros do vento,
da noite ao mole frescor,
quero viver um momento,
morrer contigo de amor!
(Álvares de Azevedo)

Farinha com rapadura
Nagua fria faz geleia;
tomo a bença, chamo a tia
quando vejo muié véia.
(Minas Gerais)

Garrafão tem fundo largo,
botija não tem pescoço,
pedaço de telha é caco,
banana não tem caroço.
(Minas Gerais)

Há duas coisas na vida
que não há cristão que agüente:
tomar vento pelas costas,
tendo a sogra pela frente!
(Antonio Cardoso Filho)

Inhame verde é veneno.
É veneno de matar:
Moreninha eu vou morrer,
Somente pra não casar.
(Minas Gerais)

Já sou velho e tive gosto,
morro quando Deus quiser;
duas coisas me acompanham:
Cavalo bom e mulher.
(Paraíba)

Kágado é bicho perrengue,
Mas ateima até chegar:
O meu amor é constante
- Inda vem a te alcançar.
(Minas Gerais)

Lua – fonte de saudade,
quando a fitar-te me ponho,
visto de raios dourados
a saudade de meu sonho
(Dulce de Mello Monte-Mór)

Minha Maria é morena
como as tardes de verão;
tem as tranças da palmeira
quando sopra a viração.
(Castro Alves)

Nasci pobre, este delito
seguiu-me toda a existência...
Sob o teto de uma choça,
de que serve a inteligência?
(Fagundes Varela)

Ocultas no aspecto langue
amortecido vulcão;
há batuques no teu sangue,
é um samba teu coração.
(Gilka Machado)

Pulseira de besta é peia,
lençol de burro é cangáia,
mulher de padre é visage,
cabra safado é canáia.
(Ceará)

Quem tiver o seu segredo
não conte a mulher casada,
que a mulher conta ao marido
e o marido à camarada.
(Minas)

Rosinha de saia curta,
barra de salta-riacho,
trepa aqui neste coqueiro,
bota estes cocos abaixo.
(Rio de Janeiro)

Subi nas pontas das nuvens,
no estouro do trovão;
desci nas cordas da chuva
com dez coriscos na mão
(Piauí)

Tudo se gasta e se afeia,
tudo desmaia e se apaga,
como um nome sobre a areia,
quando cresce e corre a vaga.
(Cassimiro de Abreu)

Um pé de limão mais doce,
outro de limão azedo;
amor de mulher casada
é coisa que tenho medo.
(Minas Gerais)

Vais onde te leva a sorte,
eu, onde me leva Deus.
Buscas a vida – eu, a morte;
buscas a terra – eu, os céus!
(Gonçalves Dias)

Xarope que queima a goela
É bom pra limpar o peito;
A tua zanga, menina,
é que vai me dar um jeito.
(Sebastião M. Guimarães)

Yayá, você quer morrer?
Si morrer, morramos juntos:
Eu quero ver como cabem
numa cova dois defuntos.
(sem indicação)

Zombando peguei te amar,
zombando amor te tomei,
zombando tu me mataste,
zombando morto fiquei.
(Piauí)
Fonte:
http://www.violacaipira.com.br/

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Academia Sorocabana de Letras

Fundada em 26 de maio de 1979 e instalada em 2 de julho do mesmo ano, a Academia Sorocabana de Letras (ASL) é associação civil sem finalidade econômica, com personalidade jurídica distinta dos seus membros, composta de sócios efetivos, honorários, eméritos, correspondentes e benfeitores, sem distinção de credo religioso ou político, cor e sexo, que tem por finalidade a cultura da língua e da literatura nacional.

É governada pela Assembléia Geral dos membros efetivos, uma Diretoria e um Conselho Fiscal, ambos com mandato bienal, cujos integrantes, a exemplo dos demais associados de todas as categorias, nada recebem pelo desempenho de suas funções. Acha-se inscrita no CNPJ/MF sob o N.º 50.817.139/0001-09 e é considerada de Utilidade Pública pela Lei Municipal N.º 2.243, de 30 de novembro de 1983.

Realiza reuniões mensais, para apresentação de trabalhos sobre artes, letras e ciências humanas, por parte de seus associados, convidados e visitantes; assessora voluntariamente o poder público municipal mediante participação de seus membros em órgãos colegiados de natureza cultural, nas Comissões Julgadoras do Prêmio Anual Sorocaba de Literatura e do Concurso Jornalístico e Publicitário e, quando solicitada, na organização de cursos e seminários ligados à Semana do Tropeiro.

A Academia tem atuado como um ativo centro de pesquisa e produção editorial, publicando livros e plaquetas de interesse para a cultura regional, distribuídos gratuitamente às bibliotecas de universidades e instituições isoladas de ensino superior do Brasil, academias de letras, institutos históricos, e associações de imprensa, bibliotecas públicas regionais, nacionais e à representação da Biblioteca do Congresso norte-americano no Brasil e desenvolve através de um de seus organismos auxiliares – o Centro de Estudos Regionais de Sorocaba – o projeto Bibliografia Sorocabana, com o objetivo de levantar a produção de autores sorocabanos e de escritores que escreveram obras literárias ou científicas sobre Sorocaba. Mantém este Portal e uma revista, em fase de reorganização.

ACADÊMICOS / PATRONOS

ADALBERTO NASCIMENTO – Cadeira 01, Patrono: Euclides da Cunha
ADILSON CEZAR – Cadeira 04, Patrono: Francisco Adolfo de Varnhagen
ADOLFO FRIOLI – Cadeira 08, Patrono: Antônio Francisco Gaspar
ANA MARIA DE SOUZA MENDES – Cadeira 24, Patrono: Lima Barreto
BENEDITO WALTER MARINHO MARTINS – Cadeira 13, Patrono: Machado de Assis
BERNARDINO ANTONIO FRANCISCO – Cadeira 06, Patrono: Castro Alves
CLEIDE RIVA CAMPELO – Cadeira 21, Patrono: Mário de Andrade
ELOISA GONÇALVES LOPES – Cadeira 11, Patrono: Érico Veríssimo
EURIDES BERTONI JÚNIOR – Cadeira 23, Patrono: Vinícius de Moraes
GERALDO BONADIO – Cadeira 09, Patrono: Paulo Setúbal
IRANI ALVES DE GENARO – Cadeira 28, Patrono: José Lins do Rego
JAIRO VALIO – Cadeira 14, Patrono: Ascenso Ferreira
JOÃO ALVARENGA – Cadeira 29, Patrono: José de Alencar
JOÃO DIAS DE SOUZA FILHO – Cadeira 05, Patrono: Rui Barbosa
JOSÉ MONTEIRO SALAZAR – Cadeira 18, Patrono: Aluísio Azevedo
JOSÉ RUBENS INCAO – Cadeira 40, Patrono: Cecília Meireles
JULIANA SIMONETTI – Cadeira 25, Patrono: Clarice Lispector
LOURIVAL MAFFEI – Cadeira 16, Patrono: Oduvaldo Viana Filho
MARIA VIRGÍLIA FROTA GUARIGLIA – Cadeira 26, Patrono: Joaquim Nabuco
MÁRIO BARBOZA DE MATOS – Cadeira 27, Patrono: Simões Lopes Neto
MÁRIO CÂNDIDO OLIVEIRA GOMES – Cadeira 07, Patrono: Martins Fontes
MILTON MARINHO MARTINS - Cadeira 35, Patrono: Renato Sêneca de Sá Fleury
MÍRIAM CRIS CARLOS – Cadeira 38, Patrono: Oswald de Andrade
MYRNA ELY ATALLA SENISE DA SILVA – Cadeira 03, Patrono: João Guimarães Rosa
NANCY RIDEL KAPLAN – Cadeira 10, Patrono: Graciliano Ramos
NEIDE BADDINI MANTOVANI – Cadeira 15, Patrono: Barão de Ramalho
OTTO WEY NETTO – Cadeira 37, Patrono: Luiz Gonzaga de Camargo Fleury
SÉRGIO COELHO DE OLIVEIRA – Cadeira 17, Patrono: Gonçalves Dias
SHEILA KATZER BOVO – Cadeira 32, Patrono: Fernando de Azevedo
SÔNIA APARECIDA OLIVEIRA CANO – Cadeira 02, Patrono: Olavo Bilac
VERA RAVAGNANI JOB – Cadeira 33, Patrono: Aluísio de Almeida
ZEILA FÁTIMA PEREIRA GIANGIÁCOMO – Cadeira 31, Patrono: Nelson Rodrigues

A insígnia da Academia Sorocabana de Letras

O emblema ou insígnia da Academia Sorocabana de Letras, assim se lê: escudo redondo em campo de blau, tendo, armada no abismo, uma águia de ouro, bicada e lampassada, ostentando, de prata, na garra sinistra, uma pena e, na dextra, um livro com os dizeres - OS LUSÍADAS.

Bordadura de goles com a divisa MEDICINA ANIMI, e a legenda ACADEMIA SOROCABANA DE LETRAS, em sable.

Explicação: a forma redonda do escudo é a preferida na heráldica corporativa. O campo em azul (blau) — simbolizando harmonia, serenidade casa-se bem com o idealismo dos associados, que na Academia, se reúnem para haurir, cada vez mais, dilatados conhecimentos.

A águia — de vida centenária — quando perpassa as regiões alcandoradas de infinito azulado, nos impõe mais uma razão para que lhe demos o título de rainha das aves; serena no seu vôo é símbolo perfeito de realeza.

Os romanos adotaram-na como insígnia militar, desde o Imperador Mário, no ano 650.

Nos funerais dos Imperadores romanos estava sempre presente, presa a uma corda, junto da fogueira, quando se lhes cremava o cadáver. Finda a cerimônia, queimava-se a corda e a águia alçava vôo, grimpando as alturas, levando consigo a alma do Imperador para junto de Júpiter.A cor azul simboliza realeza, majestade, formo­sura, serenidade.

Nas armarias reais essa cor é chamada de Júpiter. É representada por Vênus, Touro, Libra, Violeta, Zéfiro e Pavão Real.

Ela é símbolo dos poetas gregos e latinos; das Artes e do Gênio.

A águia heráldica apresenta grandes garras e cauda estilizada, posta de frente e com a cabeça voltada para a dextra.

A do emblema da Academia está de asas abertas (se não o fora devera constar da descrição); está armada e membrada ou bicada, isto é de membros e bico diferentes do esmalte do corpo: no caso, o vermelho.

Sua figura lembra a ousadia, o arrojo ao cometimento de grandes empresas.

Heraldicamente representa o poder, o espírito de luta, a vitória, o gênio.

O seu uso nos brasões vem desde o século XI. Suas garras lembram a coragem e o sangue frio.

Representada pelo primeiro dos metais heráldicos — o ouro — no caso, lembra, também, uma das cores do brasão municipal de Sorocaba. O ouro representa para a Academia o valor dos altos estudos a que ela se dedica.

Trazendo nas garras a pena de prata, mostra que os associados a usarão para expressar a pureza da língua, de que Os Lusíadas — seguro pela outra garra — são a mais alta expressão, e por ser também, o livro nacional dos portugueses e luso-descendentes.

A bordadura em vermelho (goles) ainda é homenagem ao brasão da cidade.

A divisa ou mote — Medicina Animi — ou seja, o pão do espírito, traduz Está em latim como homenagem à universalidade e à perenidade da língua mater; dá mais peso e severidade à frase.

Era a descrição que se lia na entrada da biblioteca do rei egípcio Osmândia ou Oximândias, segundo narra Diodoro Sículo (I-49,39).

Corresponde ao Nutrimentum Spiritus, que Frederico, o Grande mandou gravar no frontispício da Biblioteca Real de Berlim, em 1780.

Está em prata que significa eloqüência, verdade, integridade, humildade, inocência, felicidade, pureza, etc. etc.

Chama-se Marte, no escudo dos Príncipes.

A bordadura é símbolo de favor e proteção. Representava, outrora, a cota d'armas, sendo concedida tal peça de honra aos esforçados guerreiros que saiam dos combates com a roupa ou cota manchada do sangue inimigo.

No que se refere aos atributos morais, o ouro — o mais nobre metal — significa riqueza, força, fé, pureza, constância, benignidade, clemência, justiça.

Simboliza o Sol, o Leão, o Topázio, o Fogo, o Domingo, o Cipreste, o Galo, o Girassol, o Delfim.

Já a prata significa Símbolo de amizade e eqüidade é representada pela Pérola, Lua, Pomba, Palma, Água, tendo por signo Câncer.

Quanto às cores, a vermelha da bordadura indica nobreza conspícua, audácia, honra, domínio, galhar¬dia, valor, etc. A cor azul simboliza realeza, majestade, formo¬sura, serenidade.

Nas armarias reais essa cor é chamada de Júpiter.

É representada por Vênus, Touro, Libra, Violeta, Zéfiro e Pavão Real.

O emblema da Academia Sorocabana de Letras foi criado pelo seu primeiro Presidente, escritor José Aleixo Irmão, e aprovado pela primeira Diretoria. Aleixo Irmão é também o redator do texto acima, que explica sua significação, publicado no nº 1 da Revista da Academia Sorocabana de Letras, 1979, p. 8 a 11.

Fonte:
http://www.academiasorocabana.com.br/

1ª Jornada de Estudos Machadianos

A Academia Sorocabana de Letras promoverá, em sua sede, um encontro com Machado de Assis, no dia 29 de setembro, das 15 às 19h. Machado de Assis, jornalista, contista e romancista, será o caminho de estudo da tarde. Cem anos de sua morte no dia 29. Observador da vida, da sociedade, de si mesmo, criou personagens magníficas e firmou as letras brasileiras no panorama da literatura mundial. Excelente escritor e primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras. Soube amar e foi amado por Carolina. As falas serão poucas e, as conversas, como em serões antigos, acreditamos que fluirão. Machado é mágico, sua fala instiga. Há muito a se busca e entender na obra machadiana. Os estudos não param. As pesquisas persistem e ampliam-se. Grande em sua época, esplêndido hoje, inesquecível sempre. Estaremos conversando sobre as obras de um dos maiores escritores do mundo. Machado, sem medo de cometer exageros, é um fenômeno das letras mundiais. Brasileiro.

Tema:
Do Jornalismo ao Romance. A trajetória de Machado de Assis
Promoção:
Academia Sorocabana de Letras
Núcleo de Letras Artes e Ciências Humanas
Laboratório de Pesquisa Literária Avançada

Data e Local:
Sorocaba, 29 de setembro de 2008
Academia Sorocabana de Letras
Rua Comendador Oeterer 737
De 15 às 19 horas

Programa

15 h
Instalação dos trabalhos

15h15
Esse Machado de Assis...
Acadêmico Benedito Walter Marinho Martins

16h
O texto jornalístico de Machado de Assis. Leitura e apreciação
Acadêmico Geraldo Bonadio

16h45
Café

17 h
Aprendizagem, maturidade e apogeu no romance de Machado de Assis
Acadêmica Myrna Ely Atalla Senise da Silva

17h45
O mapeamento da alma humana nos contos de Machado de Assis.
Acadêmico José Rubens Incao

18h30
Encerramento. Chá com biscoitos

Fontes:
Academia Sorocabana de Letras.
http://www.academiasorocabana.com.br/
Douglas Lara. In
http://www.sorocaba.com.br/acontece