quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amália Max (Baú de Trovas)


A ermida à beira da estrada
plange seu sino de um jeito,
que eu sinto a corda amarrada
na saudade do meu peito...

A esperança em nossa vida,
pelo valor que ela ostenta,
pode até ser resumida
como o pão que nos sustenta.

A fonte, singelo fio,
contorcendo em cansaços,
encontra por fim um rio
e então se atira em seus braços.

A gota d'água nascida
de veio farto e profundo,
é a fonte da nossa vida
e a própria vida do mundo.

Ao cortar a trança loura,
minha infância em despedida,
deixou na fria tesoura
saudosos fios de vida.

A sombra que, meio arcada,
te segue pelos caminhos,
é minha alma ajoelhada
a beijar os teus pezinhos.

A sorte tem seus encantos,
seus agrados, seus engodos;
às vezes agrada a tantos,
mas jamais agrada a todos!

A vida anda tão tristonha:
pobreza... fome... agonia...
que chego a sentir vergonha
de às vezes ter alegria.

A vida deu-me esta dor;
e hoje entre a dor e a lembrança,
sou um cheque ao portador,
sem fundo para cobrança.

Com mil retalhos tristonhos,
que rasguei do coração,
fiz uma colcha de sonhos
e agasalhei a ilusão.

Da lembrança doce e calma,
quando a tarde se inicia,
tua imagem em minha alma
é saudade todo dia.

Depois do enxerto a coitada,
que quis o rosto alisar,
agora vive assustada...
Seu rosto só quer sentar!

Depois que, um dia, partiste,
nesta rua só choveu.
Será que esta rua é triste
ou triste nela sou eu?

Disfarçando... Disfarçando...
o sol, malandro das horas,
vai aos poucos levantando
a saia azul das auroras.

Em pedaços fui rasgando
tua foto pela praça.
Hoje os procuro chorando,
pedindo ajuda a quem passa.

Esta chuvinha pingando
do telhado sobre o chão,
vai aos poucos empoçando
saudade em meu coração.

Galanteios, que em verdade,
quis dizer-te ou ter escrito,
hoje, finda a mocidade,
sinto dor por não ter dito.

Laranjais de minha infância,
frutos que alegre colhi,
hoje olho para a distância
e choro porque cresci!

Levo na face enrugada
e na fronte embranquecida
a passagem, comprovada,
de que viajei pela vida.

Maria partiu... Maria
que nunca disse a verdade
mas era, quando mentia,
bem melhor que esta saudade.

Meus olhos azuis se embaçam,
acabando por chorar,
quando meus braços se abraçam
por não ter quem abraçar.

Muitos recebem de graça
o bom vinho da alegria;
eu pago mas minha taça
a vida deixa vazia.

Não vens há meses inteiros;
e enquanto conto as auroras
a tesoura dos ponteiros
lentamente corta as horas.

Não faça da despedida
um momento de revoltas;
o amor tem portas na vida
com chave de várias voltas.

Não fale, não diga nada,
aperte mais minha mão,
faça a promessa auebrada
não precisar de perdão.

Não vens... e, em tuas demoras,
na angústia das madrugadas,
o relógio bate as horas
e as horas dão gargalhadas.

Nas noites de paz eterna,
vigiando a escuridão,
toda estrela é uma lanterna
que um anjo leva na mão!

Na velha praça, embalado
por lindo sonho vadio,
apalpo o banco a meu lado
mas meu lado está vazio.

Na vizinha, a linda casa,
nem a vassoura descansa;
se acaso o marido atrasa,
a vassoura canta e dança!

No entardecer quem me dera,
ver teu vulto, ouvir teu passo,
e por magia ou quimera
ter teus braços num abraço!

No instante em que nossa prece
sobe a escada do infinito,
pela mesma escada desce
a paz que acalma o conflito.

Nos dedos eu conto as horas,
não sei contar diferente,
mas, hoje, sei que demoras
bem mais do que antigamente.

No sertão a chuva mansa
que torna a manhã cinzenta,
é mais que chuva e esperança,
é Deus regando água-benta.

Numa ternura infinita
a lua, com mãos de prata
vem prender laços de fita
nas tranças verdes da mata.

O arco-íris tão bonito
e de tão finos arranjos
é só o varal do infinito
secando a roupa dos anjos!

Oh! lembrança, vem com jeito,
não se perca em sonhos tardos,
porque este meu velho peito
já não aguenta tais fardos.

O tempo em sua investida,
como sentença, suponho,
rouba-me um pouco da vida
e muito de cada sonho.

Partindo da meninice
é que o trem do tempo avança
e na estação da velhice
deixa saltar a esperança.

Para os que seguem sozinhos,
descalços e combalidos,
que importa ter mil caminhos
se todos são proibidos?

Partiste... já não te importas
que em nossa casa singela
a ventura feche as portas
e a saudade abra a janela.

Pergunto frequentemente:
felicidade, onde estás?
Será que corres na frente
ou ficaste para trás?

Pobre titia, ao comprar
uma vassoura, é indagada:
será preciso embrulhar
ou já vai nela montada?

Poeira de estrelas cadentes
que à noite caem nos campos
são com certeza as sementes
que germinam pirilampos.

Quando o passado é turista
no trem do meu coração,
a saudade é maquinista
e o meu peito uma estação.

Quando nos chegam tardias,
esperanças sempre são
aquelas parcas fatias
de miolo velho…de pão!

Quanta ternura em agosto:
o vento que beija o ipê
vem também beijar meu rosto
depois de beijar você.

Ralhando com seus porquinhos
a porca, mãe exemplar,
vendo-os, assim, bem limpinhos...
- já pro barro se sujar !!!

Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar...
Eu quero ser enganado
quando a velhice chegar!

Sabiá põe em seu canto
tal ternura que ao cantar,
mais parece um acalanto
para a alma cochilar.

Saudade... insônia que aspira
ouvir na calçada passos,
mesmo sendo outra mentira
a vir dormir nos meus braços.

Se é por um amor que choras
enxuga os olhos... Repara:
se o relógio pára as horas,
nem por isso a vida pára.

Se me deixas por vontade...
se vais para não voltar...
O que é que eu digo à saudade
amanhã, quando acordar?

Sem mesmo ter ido ao céu
já caminhei sobre a lua!
Foi um dia andando ao léu
pisando as poças da rua.

Sem ter com quem conversar,
o velhinho solitário,
usa as mãos para rezar
conversando com o rosário.

Sentindo a luta perdida,
nos fracassos e derrotas,
abraço o circo da vida
para as minhas cambalhotas.

Solidão é chuva fina
que encharca o chão sem correr;
e às vezes faz que termina
mas... recomeça a chover.

Solidão é vento frio,
vento calmo mas gelado
deixa o meu peito vazio
e ainda dorme ao meu lado.

Sonhos meus... jóias de outrora
qual ouro sem um quilate,
enferrujam na penhora
sem ter mais quem os remate.

Vejo ternuras pagãs
quando o sol, por entre os galhos,
cobre a nudez das manhãs
com seu lençol de retalhos.

Velhice... circo que a vida
armou no fim da ladeira,
de onde a solidão convida
para a sessão derradeira.

Voltaste... voltaste, eu sei,
mas o encanto foi desfeito;
agora já repintei
as paredes do meu peito.

Amália Max



Amália Max nasceu em Ponta Grossa, Paraná, no dia 13 de julho, filha de João Max e Maria Suckstorf Max.

Em 1981 lança seu livro de trovas "Escaninho" e daí em diante passou a concorrer em Jogos Florais e concursos e participar de antologias e coletâneas.

Em 1986 recebeu a homenagem máxima de sua vida quando o Colégio Estadual 31 de Março, ensino de 1º e 2º graus imortalizou-a dando seu nome para a sua biblioteca: "Biblioteca Poetisa Amália Max".

Tem seu nome, como trovadora, trabalhos inseriidos em inúmeras antologias e coletâneas. Figura em Enciclopédias, em livros e Jornais de todo o Brasil.

Professora de pintura, arte que domina com segurança.

Pertence a:
– Centro Cultural Euclides da Cunha, de Ponta Grossa, PR,
– Casa Juvenal Galeno – Ala Feminina, Fortaleza, CE,
– Academia de Letras José de Alencar, Curitiba, PR,
– Centro de Letras do Paraná, Curitiba, PR,
– Academia de Letras dos Campos Gerais, Ponta Grossa, PR, fundadora da cadeira nº 13.
– Já foi Presidente Municipal e Estadual da UBT durante 30 anos.
– Desde 2003, por convite do Cap. Alípio B. Rosenthal é assessora cultural da Associação dos Militares da Reserva.

Fontes:
- Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky. Antologia de Trovadores do Paraná.
- Antologia dos Acadêmicos - edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar.
- UBT Nacional.

Literatura Brasileira (Parte 9 = O Simbolismo)


É comum, entre críticos e historiadores, afirmar-se que o Brasil não teve momento típico para o Simbolismo, sendo essa escola literária a mais européia, dentre as que contaram com seguidores nacionais, no confronto com as demais. Por isso, foi chamada de "produto de importação". O Simbolismo no Brasil começa em 1893 com a publicação de dois livros: "Missal" (prosa) e "Broquéis" (poesia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna.

O início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da escola anterior, o Realismo, pois no final do século XIX e início do século XX tem-se três tendências que caminham paralelas: Realismo, Simbolismo e pré-Modernismo, com o aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira, entre eles Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Foi a Semana de Arte Moderna que pôs fim a todas as estéticas anteriores e traçou, de forma definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil.

Transição - O Simbolismo, em termos genéricos, reflete um momento histórico extremamente complexo, que marcaria a transição para o século XX e a definição de um novo mundo, consolidado a partir da segunda década deste século. As últimas manifestações simbolistas e as primeiras produções modernistas são contemporâneas da primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa.

Neste contexto de conflitos e insatisfações mundiais (que motivou o surgimento do Simbolismo), era natural que se imaginasse a falta de motivos para o Brasil desenvolver uma escola de época como essa. Mas é interessante notar que as origens do Simbolismo brasileiro se deram em uma região marginalizada pela elite cultural e política: o Sul - a que mais sofreu com a oposição à recém-nascida República, ainda impregnada de conceitos, teorias e práticas militares. A República de então não era a que se desejava. E o Rio Grande do Sul, onde a insatisfação foi mais intensa, transformou-se em palco de lutas sangrentas iniciadas em 1893, o mesmo ano do início do Simbolismo.

A Revolução Federalista (1893 a 1895), que começou como uma disputa regional, ganhou dimensão nacional ao se opor ao governo de Floriano Peixoto, gerando cenas de extrema violência e crueldade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além disso, surgiu a Revolta da Armada, movimento rebelde que exigiu a renúncia de Floriano, combatendo, sobretudo, a Marinha brasileira. Ao conseguir esmagar os revoltosos, o presidente consegue consolidar a República.

Esse ambiente provavelmente representou a origem do Simbolismo, marcado por frustrações, angústias, falta de perspectivas, rejeitando o fato e privilegiando o sujeito. E isto é relevante pois a principal característica desse estilo de época foi justa-mente a negação do Realismo e suas manifestações. A nova estética nega o cientificismo, o materialismo e o racionalismo. E valoriza as manifestações metafísicas e espirituais, ou seja, o extremo oposto do Naturalismo e do Parnasianismo.

"Dante Negro" - Impossível referir-se ao Simbolismo sem reverenciar seus dois grandes expoentes: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães. Aliás, não seria exagero afirmar que ambos foram o próprio Simbolismo. Especialmente o primeiro, chamado, então, de "cisne negro" ou "Dante negro". Figura mais importante do Simbolismo brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa estética no Brasil. Como poeta, teve apenas um volume publicado em vida: "Broquéis" (os dois outros volumes de poesia são póstumos). Teve uma carreira muito rápida, apesar de ser considerado um dos maiores nomes do Simbolismo universal. Sua obra apresenta uma evolução importante: na medida em que abandona o subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais universalizastes - sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do homem negro (observações pessoais, pois era filho de escravos), mas evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano.

Já Alphonsus de Guimarães preferiu manter-se fiel a um "triângulo" que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o mais místico poeta de nossa literatura. O amor pela noiva, morta às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção por Nossa Senhora geraram, e não poderia ser diferente, um misticismo que beirava o exagero. Um exemplo é o "Setenário das dores de Nossa Senhora", em que ele atesta sua devoção pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um único meio de atingir a sublimação e se aproximar de Constança - a noiva morta - e da Virgem. Daí o amor aparecer sempre espiritualizado. A própria decisão de se isolar na cidade mineira de Mariana, que ele próprio considerou sua "torre de marfim", é uma postura simbolista.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

terça-feira, 29 de junho de 2010

Vãnia Maria Souza Ennes (Paraná em Trovas)

artigo por José Feldman

Em 19 de junho de 2010, em um jantar integrante das festividades dos Jogos Florais de Curitiba, a presidente da União Brasileira dos Trovadores do Paraná, Vãnia Maria Souza Ennes realizou uma noite de autógrafos, ao lançar o seu livro Paraná em trovas, em sua 3a. edição, ocasião esta que tive a honra de conhecer pessoalmente esta trovadora, plagiando a definição do irmão trovador maringaense Assis, "encantadora".

Encantada olho os pinheiros,
Formosos! Iguais? não há.
Dos poetas são os parceiros
que versam o Paraná.
(VÃNIA M. S. ENNES)

Vânia Ennes, filha do Paraná, como uma regente que comanda a sua orquestra, sob o movimento de sua batuta faz com que nos embriaguemos em instantes de pura emoção. Através das trovas contidas no livro vivemos os acordes dos noturnos de Chopin, a Pastoral de Beethoven, a Cavalgada das Valquírias de Wagner, a Marcha Triunfal, da Aída, de Verdi. Sejam nas trovas, ou mesmo em textos de sua lavratura, podemos sentir a beleza que há no mundo que nos rodeia. Sempre otimista, essas trovas são o nascer do sol em toda a sua magnitude, o cantar dos passarinhos ao despontar da aurora, é o dia morno a nos aquecer o coração, é o final da tarde quando muitos de nós após um dia intenso de trabalho nos sentamos na varanda a saborear um tererê ou chimarrão. É a noite, não a escuridão, não a tristeza que muitos buscam nela, mas uma noite onde ela descortina uma lua brilhante envolvida por um véu de estrelas.

Quando sopra o vento sul,
a trova viaja e vai fundo.
Seu caminho é o céu azul…
Espalha-se pelo mundo!
(VÂNIA M. S. ENNES)

Paraná em trovas é um livro, onde esta fantástica trovadora reune trovadores paranaenses que deixam a sua marca no livro da história de nossa literatura tão vasta. Por seu intermédio mostra que neste estado verdejante, de terra vermelha, existe um povo que sabe cantar os seus momentos de emoção, com todo sentimento que pode ser contido em uma trovinha de quatro versos setessilábica.

Vem trovador, vem correndo,
ao meu Paraná, porque
O Pinheiro está morrendo…
De saudades de você…
NEIDE ROCHA PORTUGAL (Bandeirantes)

Ao Paraná, imagino,
dentro da graça altaneira,
o pinheiro é como o Hino
ou como a própria Bandeira.
FERNANDO VASCONCELLOS (Ponta Grossa)

Mas, Vânia não pára por aí. Seu livro é uma Arca de Noé que carrega todos que estão em seu caminho, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. e mesmo outros países como Estados Unidos, Portugal, Panamá, México, e outros, famosos e nem tão famosos.

Como já dizia a poetisa norte-americana Emily Dickinson (1830-1886) “Não há melhor fragata que um livro para nos levar a terras distantes”, e Vânia comanda esta fragata por este Brasil imenso levando os trovadores nesta viagem e trazendo até nós toda esta paisagem exuberante, vencendo fronteiras nacionais e internacionais, carregando a bandeira desfraldada da Trova “por mares nunca dantes navegados”.

O livro possui em seu bojo cerca de 400 trovas. Trovadores do Paraná, de outros Estados do Brasil, de outros Países e de trovadores já falecidos que imortalizam as suas trovas nesta obra. Nomes do quilate de, além da autora, Antonio Augusto de Assis, Amália Max, Dinair Leite, Gerson Cesar Souza, José Westphalen Corrêa, Lairton Trovão de Andrade, Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Mario Quintana, José Ouverney, Glédis Tissot, entre tantos outros.

Como ela mesma diz “saber viver é saber quebrar as durezas normais da existência, ao conseguir enxergá-las com os olhos da alma e da serenidade de espírito.” É assim que é Vânia, tranquila cativando com seu sorriso a todos que estão em seu caminho. É a voz de nosso querido Paraná, é a voz do Brasil.

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A seguir algumas das trovas de seu livro

Que a amizade não se meça
por sorrisos e elogios,
mas por ser, sem que se peça,
o sol em dias sombrios.
DOMINGOS FREIRE CARDOSO – Portugal

O poeta é um fingidor.
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente.
FERNANDO PESSOA – Portugal

Linda musa brasileña
llena de amor y bondad
eres princesa risueña
que me da felicidad.
JOSELITO FERNÁNDEZ TAPIA – Perú

Este é o exemplo que damos
aos jovens recém-casados:
que é melhor se brigar juntos
do que chorar separados!
LUPICÍNIO RODRIGUES – Porto Alegre/RS

Tudo muda, tudo passa,
Neste mundo de ilusão:
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
GUILHERME DE ALMEIDA – Campinas/SP

Diz uma lenda tingui
que Tupã, Deus dos guerreiros,
enterrando a lança aqui
fez nascer muitos pinheiros…
HARLEY CLÓVIS STOCCHERO – Curitiba/PR

Pescador, pensa, avalia…
e diga se ainda crê
na graça da pescaria,
se o peixe fosse você…
HERIBALDO BARROSO – Acari/RN
___________
Fonte:
– ENNES, Vânia Maria Souza (organizadora). Paraná em Trovas: Seleção de Trovas. 3a. Edição revisada e ampliada. Curitiba: ABRALI, 2009.
– Comentário: José Feldman

Josias Alcântara (Como a Poesia Pode Revolucionar a Educação)

pintura à óleo de Diva do Val Golfieri
Educar é relativizar o eu humano; é um processo de abertura para o outro.
(Jean Jacques Rousseau)

Martins D’ Alvarez (Eu Sei Ler)

Eu sei ler corretamente,
faço contas de somar,
sou batuta em dividir,
gosto de multiplicar.

Quando a professora escreve
no quadro-negro da escola,
leio até de olhos fechados:
“Paulo corre atrás da bola.”

Pra somar uma banana
com mais duas e mais três,
vou comendo e vou somando
1 mais 2 mais 3 são 6.

Pra dividir três pães
comigo e com meu irmão?
Eu sou o maior, ganho dois.
Para ele basta um pão.

Se mamãe me dá um doce
na hora de merendar,
acabo comendo três.
Como eu sei multiplicar!

Os professores encontram sérias dificuldades na escolha sobre a melhor estratégia para inserir a poesia em suas aulas. Por que existe essa dificuldade? A resposta é muito simples. Desde a época da ditadura, a poesia e a filosofia, foram quase abolidas das salas de aulas, porque os praticantes se tornavam mais críticos em razão do aumento de conhecimento paralelo que adquiriam. A lacuna de quase cinqüenta anos, fez com que pelo menos duas gerações de educadores não tivessem acesso a essas matérias tão importantes na vida de muitos. Os cientistas descobrem o ápice da tecnologia presente, mas somente os poetas as tornam belas e únicas em seu devido tempo.

Não é a poesia jogada ao léu que mudará a estrutura pedagógica e sim o compromisso de cada profissional com os valores que dão sustentabilidade para a formação humana. *Viver é o que desejo ensinar-lhe. Quando sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será antes de tudo, um homem.*. (Jean Jacques Rousseau). A poesia é, em primeira instância, o ato de viver com alegria e solidariedade existencial.

Se a base estudantil for alimentada por meio de estímulos eficientes e interativos, teremos, com certeza no futuro, um aumento significativo de novos leitores, principalmente para aqueles que entenderam as dádivas que um livro proporciona. Torna-se importante a adesão da família e educadores, fortalecendo sobretudo o ato do pensar com prazer e evoluir conscientemente

Sugestões práticas para trabalhar com a poesia em sala:

1- Oficinas de poesias e literatura visando aguçar a criatividade e a imaginação de novos pensadores. *Um país se constrói com homens e livros* (Monteiro Lobato)

As escolas que beberam desta idéia tiveram incríveis resultados, não somente no crescimento intelectual, como também na disciplina de várias matérias, tais como, português, literatura, história, filosofia e artes.

2- Estimular a contação de histórias, realização de recitais, encenação de peças de teatro, utilizando temas construídos pelos próprios alunos. Os professores notarão a expressiva melhoria de repertório vocabular, no diálogo e na oralidade livre e descompromissada.
3- Incentivar e promover concursos internos e externos de eventos coletivos e competições esportivas.

Esse intercâmbio cultural os fará, com certeza, mais próximos e prósperos, todas as vezes que trabalharem em equipe, inserindo sobretudo, a honra, a verdade, a solidariedade e o amor ao próximo.

4- Desenvolver oficinas que agreguem valores, tais como: desenhos artísticos, canto, dança, jornais interno, oficinas manuais e jogos lúdicos. Havendo disposição para essa prática e exercício contribui-se para uma nova safra de preciosos cidadãos.

5- Motivar a participação dos pais, para que eles sintam mais interesse pela escola e pelos filhos. Se a arte for inserida desta forma, nos corações dos jovens, teremos não somente o resgate da poesia inserida como base, mas uma revolução educacional, propriamente dita...

6- Exemplo: Na escola municipal de Curitiba, Papa João XXIII, alguns professores conseguiram experimentar algumas das propostas citadas. Em razão do exercício prático e contínuo, de tais estímulos artísticos com seus educandos, conseguiram a classificação de melhor escola pública em todo estado do Paraná, e a quarta melhor do Brasil. Esta experiência validou-se, depois de cinco anos de muito interesse e dedicação de todos os envolvidos.

7- Para isso é necessário analisar todas as etapas experimentadas. Uma base de ensino bem fortalecida de valores e unidade, será a promessa de um futuro mais justo e humano.

Edifica-se, portanto, o homem, ou desmorona-se o ser.

Sem poesia, seremos viajantes desatentos, sem percebermos a beleza que nos rodeia.

Fontes:
Josias Alcântara. http://www.unicape.com.br/page7.php
Poema Eu Sei Ler = http://peregrinacultural.wordpress.com/

Literatura Brasileira (Parte 8 = O Parnasianismo)



A poesia parnasiana preocupa-se com a forma e a objetividade, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a trindade parnasiana O Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, dizem alguns estudiosos da literatura brasileira, embora ideologicamente não mantenha todos os pontos de contato com os romancistas realistas e naturalistas. Seus poetas estavam à margem das grandes transformações do final do século XIX e início do século XX.

Culto à forma - A nova estética se manifesta a partir do final da década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna. Em alguns casos chegou a ultrapassar o ano de 1922 (não considerando, é claro, o neoparnasianismo). Objetividade temática e culto da forma: eis a receita. A forma fixa representada pelos sonetos; a métrica dos versos alexandrinos perfeitos; a rima rica, rara e perfeita. Isto tudo como negação da poesia romântica dos versos livres e brancos. Em suma, é o endeusamento da forma.
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Anteriores
Parte I - Origens = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-1-origens.html
Parte II - Quinhentismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-2-o.html
Parte III - Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte IV - Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html
Parte V - Romantismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-5-o.html
Parte VI - Realismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-6-realismo.html
Parte VII - Naturalismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-7.html

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Trova 158 - Fiore Carlos (Limeira/SP)

Montagem sobre imagens obtidas em http://crisousil.blogspot.com e www.plinn.com.br/datas/junina/08/sinha/01.htm (fogueira)

Vanda Fagundes Queiroz (1938)

Curitiba (por Jean Baptiste Debret - 1827)
Nasceu em 20 de novembro de 1938, na vila de Santo Antonio da Boa Vista, município de São João da Ponte, norte de Minas Gerais.

Viveu parte de sua infância na Fazenda Tipis, segundo ela, “um paraíso, o melhor lugar do mundo”.

Filha de Aristides Fagundes de Souza (falecido em 1945) e Maria de Deus Ferreira (falecida em 1999).

Vanda, conforme narra em seu livro “UMA LUZ NO CAMINHO”, com sete anos de idade iniciou o curso primário na cidade de Ibiracatu, naquela época uma pequena vila. Logo de inicio, aflorou a tendência para a arte de ler e escrever, e a menina estudiosa e declamadora tornou-se poetisa, ainda adolescente.

Sua vida de infância, até a conclusão do curso primário, foi retratada com emoção no seu livro “UMA CANDEIA NA JANELA”, narração romanceada de seu contexto familiar, baseada em lembranças da infância, mas que indiretamente se faz registro de uma cultura regional, com seu linguajar próprio, culinária, costumes, tipos humanos, traços vivos de um determinado tempo e um determinado espaço restritos a uma rústica região do sertão mineiro.

Continuou os estudos no Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros, progressista cidade do norte de Minas Gerais, e ali fez o curso ginasial e depois se formou normalista (Curso Normal de Formação de Professores Primários).

Casou-se em 1958 e foi residir em Curitiba, Paraná.

Por concurso público, ingressou no então DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), hoje ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Ainda em Curitiba, fez o curso de Letras (Português e Francês) na Universidade Católica do Paraná (PUC), enquanto escrevia crônicas, poemas, trovas e sonetos.

Depois de 16 anos de trabalhos e estudos em Curitiba, em razão da transferência de seu marido para a Base Aérea de São Paulo, Cumbica – Guarulhos, a família mudou-se para Guarulhos, onde Vanda continuou trabalhando nos Correios, escrevendo e participando de concursos de Trovas e Poesia em todo o país.

Licenciada em Letras, tornou-se professora da rede escolar paulista, lecionando, inclusive Francês. Pouco depois, concursada, deixou a ECT e efetivou-se como professora na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Professor Fábio Fanucchi”, em Guarulhos-SP.

Em 1984 recebeu medalha de “Professor do Ano”, uma promoção da Prefeitura Municipal.

Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Guarulhense de Letras (AGL). Ainda em Guarulhos, fez o Curso de Pedagogia Plena, nas Faculdades Farias Brito.

Contando com trabalhos ainda inéditos, publicou até agora cinco títulos:
“TRAJETÓRIA” (Poesia), Editora do Escritor, São Paulo, 1981;
“DESCORTINANDO” (Poesia), J. Scortecci Editora, São Paulo, 1990;
“CONVERSA CALADA” (Sonetos), Editora Lítero-Técnica, Curitiba, PR, 1990;
“UMA CANDEIA NA JANELA” (Prosa), Torre de Papel Editora Gráfica, Curitiba, PR, 1997 e
“UMA LUZ NO CAMINHO” (Autobiografia), Editora Torre de Papel, Curitiba, PR, 2004.

Premiadíssima nos concursos de poesias e trovas por todo o Brasil e às vezes em Portugal, a poesia versátil de Vanda é repleta de ternura, sensibilidade, profundidade de sentimento, com domínio perfeito da língua portuguesa, mas sem rebuscamento. Emociona quem lê, porque escreve com o coração.

No livro CONVERSA CALADA, são sessenta (60) sonetos (incluindo uma versão para o Francês), versando sobre desencontro, esperança, tristeza, alegria, família, criança, flor, fantasia, filosofia, amor, saudade, vida, etc.

Assim, em seus versos encontramos a jovem apaixonada:

“Quando eu te conheci,
plasmou-se a infinitude
das coisas eternas.
Algum liame perene
para além firmou-se,
muito além das coisas menores.
Estrelas trocaram sorrisos,
anjos tocaram guizos.
Nasceu o inexplicável,
o essencial,
o verdadeiro”.

A mulher casada e mãe, embevecida com suas crianças, como escreveu no soneto A Meu Filho:

“Vejo a criança de ontem em você,
que embalei nos meus braços ternamente.
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente”.

Ou ainda, a avó saudando o primeiro neto:

“A notícia é como afago,
traz-me ternura e carinho:
Que bênção! Chegou Tiago,
o meu primeiro netinho”.

Lendo a poesia espontânea, vibrante e suave de Vanda Queiroz é impossível não nos lembrarmos da grande poetisa de Goiás, Cora Coralina, com suas “Estórias da Casa Velha da Ponte”.

Retornando a família em 1985 para Curitiba, Vanda aposentou-se do magistério e passou a ocupar-se com trabalhos de revisão de texto, além de desempenhar serviço voluntário na igreja.

Ocupa, hoje, a cadeira nº 12 da Academia Paranaense de Poesia.

Pela sua obra literária, foi agraciada em 2008 com a Medalha de Mérito “Fernando Amaro”, promoção da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Só no âmbito da trova, conta com mais de trezentas premiações. Eis uma pequena amostra:

Em Niterói, RJ:

“Sombra e luz fazem nuança
no largo painel da vida.
Luz é o raio de esperança,
e sombra, a ilusão perdida”.

Pouso Alegre, MG:

“Olhando o velho retrato
da praça, eu ouço à distância
acordes que são, de fato,
cirandas da minha infância”.

Bandeirantes, PR:

“A mais sublime lição
de grandeza, amor e fé,
foi ver um homem sem mão
pintando flores com o pé”.

Campinas, SP:

“Por mais que o progresso iluda,
deturpe e inverta valor,
o que Deus fez ninguém muda:
o amor será sempre amor!”

Sua preocupação social é patente no poema “Menino da feira”, 1º lugar no Concurso Rosacruz, em Guarulhos, SP:

“Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.
Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?
Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…
(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome...)
Menino
sem direitos…
só deveres.
Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.”

Segundo Adélia Victória Ferreira, “Vanda não precisa de apresentações ou apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”.

Bem definiu a professora Elisa Campos de Quadros, Mestre em Letras e Professora Adjunta de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Paraná, quando disse: “A alma doce e introvertida da autora demonstra, nesse impulso para o retraimento, que a poesia coabita mais com a solidão do que com o barulho, viceja mais no silêncio do que no burburinho”. E acrescenta que: “Conversa Calada é uma obra que traz canto, encanto e encantamento”.

Está presente no “Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, organizado pelo saudoso poeta Aparício Fernandes, Rio de Janeiro, RJ, páginas 447/452 com dez sonetos primorosos. Figura também no “Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras (página 10) e em ESCRÍNIO, Seleção Anual de Trovas (página 14) ambos de 1981, organizados pelo saudoso trovador Fernandes Vianna, Recife – Pernambuco.

Assim, a mineira de nascimento e paranaense de coração, ou por adoção, vai construindo sua obra literária sem alarde, mas forte, vigorosa e contínua, sem abdicar, contudo, da ternura e da simplicidade, garantindo um lugar de destaque no Panorama da Literatura Brasileira.

Fonte:
Artigo de Filemon F. Martins para a Usina das Letras.

Silviah Carvalho (Sacrifício)



Altar! Onde deixo meus mais puros sentimentos,
Lugar de descanso e quietudes, de onde verte águas
Que purificam meus pensamentos, um caminho a seguir,
Uma busca exaustiva por um único momento.

Levo-te ao cume da montanha para que saiba que existe um abismo,
Que faz separação entre pureza e impureza, santo e profano,
Que nos leva a conhecer todos os nossos limites e percebemos
Que o bem que pensamos ter não é nosso... Somos humanos.

Não há conquista onde não há coragem!
Para que ir ao templo se tudo já é puro?
Nossas vontades tomam o espaço de nossas necessidades
Incoerentes decisões nos leva ao final do túnel.

“A lágrima é o direito da dor”, ao menos se tem esse direito!
Pois na solidão forma-se um talento, a índole na convivência,
Para que compreenda o meu amor por você, na sua essência,
Olhe para baixo de onde estamos deste cume tão alto...

Veja se pode ousar ver a terra, se pode ao menos sentir seu cheiro,
Saiba se estivesse lá em baixo, onde estou neste momento,
E se pedisse “se joga em meus braços”, eu me lançaria por inteira.
E voaria rumo a este profundo abismo... Seu sentimento!

Levaria comigo meu templo, e no altar te purificaria a consciência,
Mesmo sabendo que tudo isso pode nunca ser verdadeiro,
Mesmo sabendo que perderia o direito e a inocência.

Deste cume e deste chão me rendo aos seus encantos,
Fecho ante a mim a porta do meu templo e no meu recôndito a selo,
Pela tua liberdade, fecho-me à vida e aprisiono meu canto.

Prostro-me, para confessar que te amo tanto e sem razão,
Incapaz... Num altar de dor que passa a ser só meu. Procuro absorver
Num sacrifício infindo este resto de vida que agora é seu.

Fonte:
Colaboração da Autora

Literatura Brasileira (Parte 7 = Naturalismo)


O romance naturalista, por sua vez, foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro. Aqui, Raul Pompéia também pode ser incluído, mas seu caso é muito particular, pois seu romance "O Ateneu" ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social, a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. Os títulos das obras naturalistas apresentam quase sempre a mesma preocupação: "O mulato", "O cortiço", "Casa de pensão", "O Ateneu".

O Naturalismo apresenta romances experimentais. A influência de Charles Darwin se faz sentir na máxima segundo a qual o homem é um animal; portanto antes de usar a razão deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto do Naturalismo. Em conseqüência, esses romances são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos como o homossexualismo - tanto o masculino ("O Ateneu"), quanto o feminino ("O cortiço").
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