sexta-feira, 6 de abril de 2012

Celso Sisto (As Voltas que uma História Dá)


Braguinha (João de Barro). Festa no céu.
Ilustrações de Tatiana Paiva.
Rio de Janeiro, Rocco Pequenos Leitores, 2010.
32p.

Quem conta um conto aumenta um ponto, já diz o ditado popular. E um conto muito contado, em suas andanças pelo mundo, vai recebendo coisas de cada lugar por onde passa e vai perdendo outras tantas. É a dinâmica das histórias que estão vivas!

Essa festa no céu é assim: o mestre sapo ensinava tabuada aos sapinhos da lagoa, quando a Araponga anuncia o convite de São Pedro para a festa no céu, na noite de São João. A festa era só para bicho que voa. A Saracura fica de gozação e Mestre Sapo promete ir de qualquer jeito. Ouve o Doutor Urubu cantando e decide ir dentro do violão do pássaro. Na manhã da festa ele se esconde e vai. No meio do caminho o Urubu o descobre, mas leva-o ainda assim. Na festa nenhum pássaro quer dançar com o Mestre Sapo. Ele adormece num balanço do jardim e na hora de ir embora, como o Urubu já tinha saído, enfia-se no trombone do Macuco. Daí pra frente, a graça toda está em descobrir como essa história vai terminar.

A história é muito conhecida, e tem raízes nas fábulas do século V antes de Cristo. O mérito de Braguinha, autor dessa versão, é misturar no corpo da história composições suas e cantigas populares. Abrasileirar a história, situando-a no sertão e ampliar o universo dos seres alados para incorporar mosquitos, besouros, borboletas, aproveitando, inclusive o clima das festas juninas, com canjica e quentão.
O texto é todo rimado, a maior parte em estrofes de quatro versos. Tem proximidade com o repente, o cordel, a poesia popular típica de feira nordestina, principalmente.
As inovações são saborosas: o sapo é descoberto na ida e não na volta; não volta na viola do Urubu, mas no trombone do Macuco; é descoberto quando os músicos da orquestra resolvem tocar um dobrado em pleno caminho de volta; é cuspido longe e não jogado por maldade ou vingança.

Não há interferência divina e o conto serve para explicar porque ainda hoje o sapo é achatado, feio, meio disforme, com olhos esbugalhados e boca grande. E a história termina com a lição para o leitor, o que é praxe nesse tipo de história.
As ilustrações do livro são uma maravilha. A ilustradora faz uso de recortes, colagens, tecidos, papéis com texturas, amassados, fios, pontos, bordados, rendas. Um desfile de cores que enchem os olhos. Uma criação cheia de ângulos e movimentos.
Talvez os “politicamente-corretos” reclamem de discriminação, já que os pássaros não quiseram dançar com o sapo. Ou da relatividade do conceito de beleza, quando o narrador afirma que o sapo ficou feio e disforme. Mas o autor conta assim e assim será, tá? O autor é soberano!

Braguinha, velho conhecido dos adultos, gravou primeiro essa história na coleção Disquinho, da gravadora Continental, nos anos 60, antes dela virar livro. E foi sempre um compositor festejado, famoso principalmente por suas marchas de carnaval.

Pois esse carnaval, em forma de livro também é pra deixar qualquer leitor contente! Pule e brinque! É festa na literatura!

Fonte:
Artistas Gauchos
http://www.artistasgauchos.com.br/

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