segunda-feira, 2 de abril de 2012

Trova Ecológica 78 - Nemésio Prata Crisóstomo (CE)


Clarisse Barata Sanches (Quero Apertar-te a Mão – Um Soneto para Machado de Assis)


Oh! Flor do Céu! Oh! Flor cândida e pura!
Agora, ao ver -te linda no Senhor,
Tal como estejas viva, meu Amor,
Não sei por quê, mas sinto-te a ternura!

Fecho os meus olhos para ver-te a cor
Da tua face rosa que perdura
Dentro da minha alma, em amargura,
Que não crê que me deixes nesta dor!

Quero apertar-te a mão para aquecê-la,
A minha sei que Deus te deixa vê-la,
Mesmo que esteja erguida uma muralha…

Se a Fé move montanhas, quero crer
Que no País da luz te vou rever:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
----------------------
Machado de Assis escreveu o primeiro e último verso.
Soneto inserido no livro “Um Soneto para Machado de Assis, em sua Homenagem. Editado no Brasil em 2008. Concorreram 924 autores e foram recebidos 1.388 sonetos. O livro contém 110 sonetos, estando este no nº 21.

Clarisse Barata Sanches – Góis - Portugal

Fonte:
Soneto enviado pela poetisa

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 1. Prefácio ; 2. A Cartilha

1. PREFÁCIO

JG de Araujo Jorge, assina este texto no prefácio da 2a edição - 1968 em edição aumentada com poemetos e trovas.

"Cantiga do Só é uma coletânea. Alguns dos seus poemas são anteriores a "A Sós..." e "Espera...", e deixaram de ser incluídos em "Harpa Submersa" porque necessitavam de pequenos retoques que só foram feitos posteriormente.

Há  neste livro um soneto de mais de vinte anos: "Gula". Escrevi-o sob encomenda, pare a revista "O Malho", já desaparecida, que o publicou numa série de sonetos sobre os pecados capitais.

Encontrei-o agora, na velha publicação, já meio amarelada, e resolvi aproveitá-lo.

Muitos dos poemas, dos escritos recentemente, tem merecido por parte dos ouvintes do meu programa literário, na Rádio Tupi, aos sábados, às 18,30 horas, reiterados pedidos de leitura e cópias.

" Mulher Grávida ", " Vermelho e Branco ", " Carta ao Futuro de Meu Filho ",  são,  por  exemplo,  alguns  dos trabalhos que mais me pedem pare apresentar no programas.

Agora, uma noticia final:

Quando me dispus a " limpar as gavetas " para  preparar  os   originais  deste " Cantiga do Só ", encontrei tanto material, que resolvi enfeixá-lo noutro volume. Deste modo, depois de sua publicação,  espero   lançar  uma  nova coletânea de versos líricos, cujo titulo será: "Quatro Damas ".

Os leitores já terão compreendido que há de encontrar em s uas  páginas, - pelo menos mais nitidamente, - quatro perfis de mulher... de diferentes épocas da minha vide...

Talvez o melhor titulo fosse: "Quatro Damas... e um Curinga... “

2. A CARTILHA
- "OVO, AVE, UVA, AVÔ."

E eu que tantas palavras procuro e carrego
me lembro destas primeiras que encontrei...
E da mão de minha mãe me levando
- como guia de cego -
sobre o velho caderno onde estudei...

(E ao lado delas
também ficaram
na minha lembrança,
aqueles rabiscos que fazia
brincando,
aquelas
garatujas que eram
como passos de criança
engatinhando... )

- "OVO, AVE, UVA, AVÔ."


( Ovo gorado, eis a vida!
Ave, - esperança perdida,
uva, um desejo constante,
- avô, minha infância distante ! )

Ficaram na minha memória
as primeiras palavras sem história
como uma tênue e apagada trilha...

E, de repente... Eis que a vida da sentido
aquelas primeiras palavras
que aprendi na velha cartilha…

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 518)

Uma Trova de Ademar 

Em tudo Deus se apresenta:
no sofrimento e na dor,
na música que acalenta
e até no cheiro da flor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional 


Por excesso de vaidade,
de soberba, de altivez,
valores, como a igualdade
estão, hoje, em escassez.
–LISETE JOHNSON/RS–

Uma Trova Potiguar 


Sob os pingos do sereno
que banham meus pés, na estrada...
Cada gota é um triste aceno,
dando adeus à madrugada!
–EVA YANNI GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 


A fonte da minha vida
- o meu sonhar de criança -
não ficou toda perdida…
Vive um pouco na Esperança..
–ZALKIND PIATIGORSKY/RJ–

Uma Trova Premiada 


2011  -  Niterói/RJ
Tema  -  MEMÓRIA  -  Venc.


Quero apagar nossa história
mas não te esqueço um momento.
Como tirar da memória
quem não sai do pensamento?
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Simplesmente Poesia 


No Tempo que eu Fumava
–DAMIÃO METAMORFOSE/RN–


Não sei como eu resistia
quando eu era fumante.
O meu hálito fedia,
meu cheiro era irritante.

Não tinha desodorante,
e nenhum creme dental.
Balinha ou refrigerante...
Só piorava o meu mal!

Hoje eu posso respirar,
sentindo o cheiro do ar
que o meu cheiro não deixava.

Tenho mais felicidade...
E já não sinto nem saudade
do tempo que eu fumava!

Estrofe do Dia 

Eu nunca me desengano,
Pois, viver é dom divino;
Cumpre sempre o seu destino,
Todo e qualquer ser humano,
ninguém foge deste plano,
seja de azar ou de sorte
companheiro seja forte,
nesta meta a ser cumprida
pois quem vem para esta vida
Nasce grávido da morte.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Soneto do Dia 

Nossa Senhora da Saudade.
–NEWTON VIEIRA/MG–


Maria, a mente humana, nem de leve,
consegue imaginar a vossa dor,
nas horas infernais da Parasceve,
quando vistes, exangue, o Redentor...

E percebestes que Ele iria, em breve,
depois de tanto irradiar o Amor,
ser castigado como quem se atreve
a cometer um crime aterrador.

Naquele instante, ó Virgem doce e pura,
sofrestes, nos refolhos, a tortura
do gládio pelo Oráculo predito.

Sem vosso Cristo, fostes, em verdade,
também pregada à Cruz: a da Saudade,
cujo tamanho excede o do Infinito!...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 517)

Uma Trova de Ademar 
Quando se está bem pertinho,
seja o momento qual for,
ternura, afeto e carinho
cabem bem demais no amor.
ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional 


Cuidado com a falsa imagem.
Beleza é vago argumento:
plantas de linda folhagem
na raiz têm seu sustento!
–Eliana Palma/PR–
 
Uma Trova Potiguar   
Contrastando a humanidade
nos seus gestos conjugais,
os pombos com lealdade
dormem juntos nos pombais.
–SEBASTIÃO SOARES/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 

Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi ... E, no entanto,
tu corres nas minhas veias ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Uma Trova Premiada 

2012  -  Concepción/CHILE
Tema  -  IDENTIDADE  -  M/E

Eu, tal qual num dossiê,
confesso e juro...É verdade:
de tanto eu “viver você,”
perdi minha identidade...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia 

M O T E :
ELEN DE NOVAIS/RJ

Em meu rosto, de mansinho,
a mão da terceira idade,
traça o mapa de um caminho
onde trafega a saudade.

G L O S A :

FRANCISCO MACEDO/RN

Em meu rosto, de mansinho,
os sulcos vão se espraiando,
e vejo neste caminho
minha velhice chegando.
Faz caricias no meu rosto
a mão da terceira idade,
amenizando o desgosto,
próprio da senilidade!
A mão, com luva de espinho
do timoneiro da vida,
traça o mapa de um caminho
feito de curva e descida!
Mapas de versos eu fiz
pra dirigibilidade...
- Vou caminhando, feliz,
onde trafega a saudade.

Estrofe do Dia 
Escritor, trovador e sonetista,
literato, professor, menestrel,
também douto em conceitos de Cordel.
No mundo dos poetas, um classista
querendo que um poeta fosse artista.
Para mim, Chico foi sempre exemplar;
mais um amigo que a morte quis levar,
mas não leva da gente o seu legado
que o fez um poeta graduado
bem ao nível de seu mano Ademar.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

Soneto do Dia 

Revendo o Mito
–JAIME PINA DA SILVEIRA/SP–


A tradição nos diz que um fruto foi culpado
(e é o que nos dizem as Sagradas Escrituras)
de o velho Adão (com Eva) o Éden ter deixado,
incentivado por grotescas criaturas...

Não! não seria a maçã! (o pomo dourado!)
Nem conteria propriedades tão obscuras
que o primogênito guiassem ao pecado
ou permitissem que Eva ousasse tais loucuras!

Esse "pecado" foi por Baco sugerido...
que Eva levasse ao seu amor, lá no seu ninho,
um bago de uva nas salivas espremido...

Foi porque Adão, ao degustar esse "carinho"
e o doce néctar desse suco ter sorvido,
se vangloriasse de ter inventado o vinho!...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 516)

Uma Trova de Ademar

A morte nos põe à prova
e nos faz um sofredor..
Não dá pra dizer em trova
o tamanho dessa dor!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

Namorando a natureza,
como quando era menino,
sigo a trilha na certeza
de encontrar novo destino.
–AGOSTINHO RODRIGUES/RJ–

Uma Trova Potiguar

Meus olhos choram, por fim,
no instante, em que a dor, me invade,
encravando, dentro em mim,
o suplício da saudade !
–FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ante a inclemência dos fados
da vida em cada revés...
Consolo dos desgraçados!
- Esperança é o que tu és!...
–HONÓRIO SANTANA/BA–

Uma Trova Premiada

2009 : Cantagalo/RJ
Tema : SERTÃO : 14º Lugar

No sertão, sol causticante,
meu pai, de enxada nas mãos,
foi morrendo a cada instante
por mim e por meus irmãos!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia

Adeus Francisco Macedo
–LUIZ DUTRA/RN–

Morremos como nascemos
partimos como chegamos
pra vida nada trazemos
da vida nada levamos!!!
Mais um poeta a vida encerra
recebeu da morte o véu
por perder chorou a terra
por ganhar sorriu o céu!!!
Mais tarde melhor seria
mas ele partiu mais cedo,
mais triste fica a poesia
sem as rimas de Macedo!!!
Para o coração do irmão
porém o certo seria:
não parasse o coração
de quem fizesse poesia!!!
Pra família de Francisco
para o poeta Ademar;
ficaram dor e saudade
e pranto pra derramar;
perde Ademar o irmão seu
e muito, muito perdeu
nossa lira potiguar!!!
Adeus Francisco, adeus,
adeus, até qualquer dia;
nos caminhos da poesia
ou nas estradas de Deus;
mando um abraço para os seus;
pra nós ficou a saudade,
que é dor que dói de verdade;
ficou a esperança que,
vamos encontrar você
nos saraus da eternidade!!!

Estrofe do Dia

Nas Trovas de Ademar,
nos Sonetos de Francisco
mergulho sem correr risco
sem medo de me afogar;
todo dia neste mar
de poesias ecléticas,
tomando um banho de éticas
simplesmente na autoria
de quem manda poesia
para as Mensagens Poéticas.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

Quanto Tempo nos Resta?
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG–

Nossa vida é uma história mal contada,
Uma vaga novela incompreendida...
Para alguns é um feliz conto de fada,
Para outros uma lenda indefinida...

Vivemos, de alvorada em alvorada,
(Que tempo ainda nos resta nessa vida?)
A dar sorrisos largos na chegada
E a lamentar a perda na partida.

Que bom matar o tempo numa rede,
Se ele nos desse a viva eternidade
De um quadro pendurado na parede...

E, enquanto a vida passa e o tempo avança,
Quanta tristeza vai numa saudade,
Quanta alegria vem numa esperança!

domingo, 1 de abril de 2012

Hermoclydes S. Franco (Abril - Flores de Maringá em Trovas)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 515)

Uma Trova de Ademar

Uma Trova Nacional

Caminho com galhardia
rumo a um futuro risonho
amparado na poesia
que vai dourando meu sonho.
–ADAMO PASQUARELLI/SP–

Uma Trova Potiguar


Se foi feitiço ou segredo,
pra mim não adianta, é tarde!
Quando alguém ama com medo,
esculpe um amor covarde!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na vida, a única certeza,
é a morte com seus critérios...
A enfrentarei com grandeza,
mergulhando em seus mistérios.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada


2010 : Ribeirão Preto/SP
Tema : VERDE : 1º Lugar


Muda o mundo... tudo muda!
Mas no campo do saber,
há quem todo o tempo estuda,
mas é “verde”- de morrer!
–NILTON MANOEL/SP–

Simplesmente Poesia

Diálogo
–JEANETTE MONTEIRO DE CNOP/RJ–


Num banco de Jardim,
em meio a crianças que brincam
e sonhos que nascem,
silenciosamente conversam
nossas mãos.
Por testemunha,
uma inconstante estrelinha,
perdida lá longe,
brilhando por detrás
de duas folhas entrelaçadas
de coqueiros próximos
(também de mãos dadas)
numa tarde calma...

Estrofe do Dia

O Deus que tudo faz e que jamais erra,
que fez a terra, o mar, e que fez a luz,
e os meus pais com a aquiescência de Jesus
fizeram Chico Macedo aqui na terra;
um amante da paz que é contrário a guerra
símbolo vivo do amor e do perdão
que já nasceu sem um pingo de ambição,
um pecador, que pra mim não tem pecado;
Muito obrigado senhor, muito obrigado...
Por ter-me dado Macedo como irmão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Tributo a Ademar...
–FRANCISCO MACEDO/RN–


A vida de Ademar é um sarau,
sem nenhuma poesia repetida,
razão desta homenagem merecida
desde o primeiro ao último degrau

Suas duas muletas são a nau
pelos mares revoltos desta vida,
para vencer qualquer uma corrida
sempre ao lado do bem, vencendo o mau.

Mesmo útero materno concebeu,
já nascemos, poetas, ele e eu.
Vigésimo e vigésimo primeiro.

Nas três vezes venceu a própria morte,
obrigado, meu Deus, por ter a sorte,
der tê-lo como irmão e companheiro!

Isabel Furini (Conselhos para Jovens Escritores)


Escritores iniciantes são como sementes jogadas em um jardim. Quais crescerão? Isso ninguém sabe. Quem será o autor iniciante hoje, mas reconhecido em 2030 ou 2045?

O caminho do escritor é, como dizia, Hemingway, um caminho solitário. O escritor é individualista, precisa de introspecção para encontrar sua própria voz, mas também precisa ser curioso, pesquisar, percorrer rotas externas.

Solicitei a escritores, editores e poetas, conselhos para os iniciantes. Claudio Daniel, poeta, jornalista e doutorando em Literatura Portuguesa pela USP, só disse o seguinte: "meu conselho é leitura, leitura, leitura, leitura e leitura".

Uma visão semelhante é a do escritor e também professor universitário Miguel Sanches Neto: "Que nunca deixem de ler muita literatura, pois não há outro caminho para a construção de um estilo, de uma voz, de uma visão do mundo, do que lendo a literatura que nos antecedeu. Escrever deve ser sempre um subproduto da leitura, uma forma de unir nosso nome a uma tradição, nem que seja negando-a".

Plínio Martins, escritor e diretor da Edusp, disse: "Leia. Leia muito. Quanto mais uma pessoa lê, melhor ela domina sua linguagem e torna-se capaz de transmitir melhor suas próprias ideias. É importante também ter cuidado ao analisar sua própria produção criticamente. Vale a pena pedir opinião de terceiros ou até mesmo um parecer de outros autores que já tenham publicado obras similares".

Paulo Tadeu, jornalista, dono da editora Matrix e escritor de livros infantis: "Meu conselho é escrever sobre o que se gosta, e ler muito. Esse amor pela palavra escrita vai gerar frutos uma hora ou outra".

Patrícia Vence Castilla, dona a editora Ruínas Circulares, de Buenos Aires deu algumas sugestões: "Leitura, muitíssima leitura contemporânea de autores consagrados de cada país. Capacitação. Aproximar-se das oficinas literárias que contam com bons coordenadores, de preferência escritores, porque penso que nenhum artista ― escultor, artista plástico, ator etc. ― jamais duvidaria em procurar um mestre para ser orientado no ofício escolhido. Então, para escrever bem, a primeira coisa a fazer, segundo o meu critério, seria capacitar-se".

Para o escritor e jornalista José Castello "Toda grande ficção precisa despertar, antes de tudo, um sentimento de estranheza. Aquela sensação que nos leva a dizer: 'Nunca li uma coisa assim!', ou 'De onde esse autor tirou isso?'. A literatura é o terreno do singular. Sempre que alguma coisa se repete, nos decepcionamos um pouco. Portanto, não dá para dizer que isso, ou aquilo, me impressiona mais. Eu me impressiono mais com o susto, o espanto de encontrar uma coisa que eu não pensava que pudesse existir".

Outros profissionais da área do livro assinalaram caminhos diferentes. Isso me fez lembrar das palavras de Borges, que falou que sempre havia lido, nunca existiu uma época em que ele não lesse. E não falava só de livros, logicamente, mas de realizar uma leitura do mundo. O bebê lê alegria ou a tristeza no rosto materno. Crianças aprendem a ler a linguagem dos olhares e dos gestos. Escutei dizer que o jovem fala o que vive e os velhos vivem do que falam, fabulam, renovam biografias, enfim, reestruturam o passado para manter uma autoimagem positiva.

Alguns entrevistados falaram um pouco desse caminho de descobertas. Perguntei ao jornalista e escritor, autor de Meu nome não é Johnny, Guilherme Fiúza, quais conselhos poderia dar para os novos escritores que desejam escrever biografias. Ele respondeu: "Acho que não tenho autoridade para tal. De qualquer forma, arriscaria dizer a eles que tão importante quanto a vida do biografado é o olhar do autor sobre ela".

Já Wanderlino Teixeira, escritor e poeta, membro da Academia Niteroiense de Letras, aconselhou: "estar atentos ao que os rodeia, não se fiem apenas na inspiração. Escrever é trabalho de carpintaria".

Roberto Araújo, do Conselho editorial da Editora Europa, deu sua visão: "Livros não surgem por mágica. O conteúdo, que é sempre o que efetivamente interessa, tem que ser trabalhado cuidadosamente na cabeça do autor. O conselho mais prático que posso dar é que um livro é sempre fruto de um trabalho disciplinado. Algumas horas por dia devem ser separadas exclusivamente para este trabalho. E repetidos todos os dias. A verdade é que a concentração sempre demora. Para ela chegar ao ponto é necessário reler os capítulos anteriores, refletir sobre a nova cena, elaborá-la na cabeça e então partir para a escrita. Não há regras rígidas, já que este é um trabalho artístico, mas eu tenho a forte convicção que sem disciplina não é possível escolher com sabedoria as milhares de palavras que compõem um livro. Também acho inútil o uso de álcool ou qualquer tipo de droga. Com a consciência alterada, as palavras parecem ter uma força que não será compreendido por mais ninguém a não ser o autor. Se a intenção for publicar, o trabalho fica todo perdido. O certo é que é preciso garra e determinação. Nada está acima em termos de realização intelectual do que escrever e publicar um livro. É um esforço que vale a pena".

Depois escutamos os conselhos de Reinaldo Polito, autor de livros de oratória que já venderam mais de 1.000.000 de exemplares: "Minha sugestão, portanto, aos jovens escritores é que estudem muito bem essa arte. Aprendam os pilares básicos de como escrever livros. Comecem publicando textos menores em blogs e sites. Abram suas obras para a crítica de amigos, conhecidos e até desconhecidos. Aprendam que é melhor receber críticas antes de publicar definitivamente seus livros. Saibam que depois de publicados os livros não lhe pertencerão mais. Serão de propriedade dos leitores. Conheço pessoas que escreveram sem se preocupar com pesquisas, sem se aprofundar nos temas que abordaram, sem analisar as características de suas personagens. Foram tão criticadas que se sentiram desestimuladas a continuar. Escrever é uma arte que se aprende fazendo. Quanto mais a pessoa escrever mais competente se tornará. Tem de saber também que depois que o livro estiver pronto não será fácil publicar, que depois de publicado também não será fácil vender. Entretanto, o prazer de escrever irá compensar todos esses desafios. Vale a pena".

Quando a jornalista Luana Gabriela me pediu "dicas" para os novos escritores eu fiquei pensando que é muito mais fácil perguntar do que responder, mas falei:

Escrever um livro é uma tarefa empolgante. Se for de ficção, o autor deve desenvolver o enredo passo a passo, alguns mestres do oriente falam que qualquer arte deve ser iniciada com cuidado, com leveza, como quem caminha pisando sobre papel de arroz. Acontece que o caminho do escritor é longo ― e não é tão charmoso como as pessoas pensam. Escrever é um trabalho solitário. Então, a primeira dica é ter disciplina, escrever diariamente, ainda que seja uma página. E no mínimo uma vez na semana reler as páginas escritas procurando aprimorar o texto. Outra "dica" é estar sempre atento aos detalhes, caminhar pela rua, ouvir as pessoas. Observar gestos, atitudes, comportamentos e tomar notas daquilo que foi mais interessante. E depois, ao escrever um conto, um romance, analisar se algumas dessas notas podem servir para completar a construção de nossos personagens ou do cenário. Escrever é também aprimorar a leitura do mundo.

Isabel Furini
São Paulo, 31/3/2011

Fonte:
Digestivo Cultural

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 514)


Uma Trova de Ademar

Da Bebida fiquei farto,
bebendo, perdi quem amo;
hoje bebo no meu quarto
as lágrimas que eu derramo.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Amigo é aquele artesão
que, sem receios, lapida
com o cinzel do perdão
as pedras brutas... da vida!
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova Potiguar


Linda criança se expande,
nos aconchegos do lar;
só faz pena é ficar grande
para sofrer e pecar.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Se o meu tempo está marcado
e da saudade eu disponho,
invento alguém ao meu lado,
cerro meus olhos e sonho…
–MILTON NUNES LOUREIRO/RJ–

Uma Trova Premiada


2011 : UBT-Natal/RN
Tema : SORTE : M/H


Teu futuro não desvende
num trevo de quatro folhas,
pois a sorte só depende
de tuas próprias escolhas!..
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP–

Simplesmente Poesia

Canção
–CECÍLIA MEIRELLES/RJ–


Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só que aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também...

Estrofe do Dia

Para o físico, o arco íris
nasce do sol, com certeza;
para o poeta, entretanto
ele nasce é da beleza
de um poema cor de luz,
desenhado por Jesus
na tela da natureza.
LUIZ DUTRA/RN–

Soneto do Dia

Último Fantasma.
–CASTRO ALVES/BA–


Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso ...

Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! ...

Onde nos vimos nós? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?

Quem és tu? Quem és tu? - És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!