domingo, 16 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 3


Affonso Montenegro Louzada
(Rio de Janeiro/GB, 1904 – ?)

" DE ARVERS "

Guardo na alma um recôndito segredo:
este amor que surgiu tão de repente -
como um sonho sonhado quase a medo
e quem o despertou nem o pressente.

Ao vê-la, no silencio imenso e tredo,
eu sinto que ela me olha indiferente
e, assim irei para o último degredo -
sem que ela o saiba, amando-a loucamente.

Essa que é o próprio amor que tudo vence,
vai pela vida tão serena e pura -
meus gemidos talvez nunca ouvirá.

E fiel ao seu amor que a outro pertence,
ainda lendo os meus versos, porventura,
dirá consigo mesma: - Quem será?

" FATALIDADE "

Sonhei, amei, pela existência afora,
na dourada ilusão da primavera
e muito mais sonhara, se pudera
e mais amara, permitido fora.

Sonhei, amei, cantei, sabendo embora
que pelo mundo imenso da quimera
a treva do horizonte se apodera
e o perfume das flores se evapora.

Afinal, pelo abismo em que resvalo,
talvez o desengano foi meu prêmio
e quem fora capaz de desejá-lo?!

No desengano imenso que me inquieta,
eu vou vivendo ao léu, como um boêmio
e vou sonhando sempre, como um poeta.

" MAL DE AMOR "

Ha tanto amor que é falso, que é perjuro,
que mente e engana traiçoeiramente -
que, sempre cauteloso, enfim procuro
fugir do mal que sofre toda gente.

Mas, pobre coração que se faz duro!
Só para não sentir a dor pungente
de uma desilusão, mais me torturo
evitando esse amor que ilude e mente.

Antes sofrer, portanto, o mal que, eterno,
mata depois de todas as torturas
onde a traição tão facilmente medra.

Embora queime tanto ou mais que o inferno -
antes a dor de todas as criaturas,
que ter no peito um coração de pedra.
================

Agrippino Grieco  
(Paraíba do Sul/RJ, 15 de outubro de 1888 – Rio de Janeiro/RJ, 25 de agosto de 1973 )

" COPO DE CRISTAL "

Naquele quarto estreito e abandonado,
onde passo estirado na rede,
horas de tédio, enquanto o sol despede
as setas de ouro sobre o campo ao lado,

esquecido num canto, e, da parede
junto, entre flores, vasos, e um bordado,
há um velho copo de cristal lavrado,
em que, às vezes, aplaco a dor da sede.

Contam-me que esse copo pertencera
outrora a uma esquisita e romanesca
jovem, que nele muita vez bebera.

E ainda hoje a extravagar – cabeça louca ! -
se ao lábio o levo, sinto na água fresca
o perfume e o sabor daquela boca...
===============

Alberto de Magalhães Hecksher                      
(Rio de Janeiro/GB, 1916 – Rio de Janeiro/RJ, 6 de fevereiro de 1950)

" Mais Tarde... "

Eu penso às vezes que algum dia, certo,
quando mais tarde andarmos pela vida,
com passo incerto e tendo a voz sumida,
um do outro havemos de passar bem perto !...

E há de pousar a tua vista erguida
em meu olhar parado... E se ora acerto
nosso passado há de ficar desperto
mesmo que passes despercebida !...

E hão de se ver nos últimos arrancos
nossas ruínas cada qual maior,
todas floridas de cabelos brancos !...

E tal se dando embora não mereças,
- que eu não te veja então será melhor...
E é bem melhor que não me reconheças !…

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

Carlos Lúcio Gontijo (Caminhada)


Carlos Lúcio Gontijo (Meus Amigos do Lado Esquerdo do Peito)


O dom da palavra escrita me empurrou desde cedo para pessoas de mais idade, que se me apresentavam mais dispostas (e capazes) de me dar ouvidos. Dessa forma, praticamente não tenho amigos de infância, mas conhecidos de infância ? era um preço a pagar e eu paguei! 

Parte considerável de meus amigos do lado esquerdo do peito já não se fazem presentes no mundo material; são lembranças vivas em minha memória. Eles estão comigo a cada vez que parto à procura de algum patrocínio, ainda que mínimo, para alcançar a edição de um livro, quando a grande maioria das portas se fecha ou me dá as desculpas mais esfarrapadas, para se eximir de me auxiliar na produção de um projeto cultural gráfico. As negativas são tão comuns que não me incomodam mais, pois afinal se tratam apenas de portas que não desejam se abrir, segundo a vontade desprovida de horizontes daqueles a que abrigam!

Confesso que meus amigos de cabelos encanecidos me fazem muita falta, até mesmo na hora de tomar uma cervejinha gelada, cujo tira-gosto principal é o bate-papo construtivo, real e às vezes até metafórico, quando a conversa mergulha no invisível ou na imaterialidade, que anda longe da disputa pelos produtos expostos sob as vitrines iluminadas do capitalismo, onde é preciso ter para se apropriar do sentimento de existir. 

Todo fim de ano, ponho-me a lembrar dos tempos felizes que passei ao lado de meus velhos amigos. Vem-me à mente a figura de Elias Maboub, que era meu substituto de absoluta confiança na época em que supervisionava turno de Revisão dos jornais ?Diário da Tarde/Estado de Minas?. Grande conhecedor de gramática, mas acima de tudo uma das pessoas mais honestas que conheci em minha vida, nasceu na cidade de Damur, no Líbano, veio para o Brasil aos dois anos e não havia (nem há) neste mundo alguém mais brasileiro que ele.

Que saudades, guardo no coração do amigo José Cândido Ferreira, que foi ao meu encontro por causa de meus artigos no ?Diário da Tarde?! Ele era meu leitor assíduo e certa feita, num fim de tarde, subiu as escadas até a redação do jornal com a finalidade de me conhecer pessoalmente. José Cândido tinha naquela ocasião 88 anos e, em seguida, lançou um livro com dedicatória para mim, premiando-me inclusive com citação de frase extraída de um de meus artigos. ?Eu, candeeiro de boi? (nome por mim sugerido) é livro que de vez em quando folheio, numa espécie de homenagem ao inesquecível José Cândido Ferreira, que faleceu aos 100 anos.

Outro amigo inarredável de minha memória é Mário Clark Bacellar, arquiteto e também jornalista da extinta e conceituada revista ?Manchete?, que lhe deu a oportunidade de conhecer 65 países. Na sala de minha casa, conservo uma mesa que ele me deu de presente, além de um quadro na parede. Mário Bacellar era admirador declarado e constante incentivador de meu trabalho literário. Foi através dele que conheci Graça Paiva em Contagem, que conseguiu reunir um grupo de empresárias contagenses para patrocinar a edição do livro ?Pelas Partes Femininas?.

E tem ainda o jornalista Pedro Rabelo Mesquita, que enquanto teve saúde esteve presente em todos os lançamentos de meus livros em Belo Horizonte, chegando mesmo a conseguir patrocinador para coquetel em concorrida noite de autógrafo, com a presença de mais de 300 pessoas, na Associação Mineira de Imprensa (AMI), da qual ele foi membro de diretoria por muitos anos. Hoje, com grave perda de memória, o querido amigo Pedrinho se encontra internado em clínica na cidade de Divinópolis, sob a mais completa solidão de amigos.

No mais, que me desculpem meus casuais leitores pela exposição de lembranças pessoais, mas talvez assim eu esteja passando-lhes, de alguma maneira, a noção de que devemos honrar os amigos, festejá-los para além e acima das comemorações natalinas e de fim de ano, pois a verdadeira amizade é coisa de toda dia, devendo ser protegida e aquecida na humildade e no calor da aura da manjedoura de nossa alma, como se fossem estrelas-guia em nossas vidas. 

Fonte:
O Autor

Ialmar Pio Schneider (O Jogador de Bocha)


Poesia premiada em 2º Lugar pela Estância da Poesia Crioula 
3º Concurso Literário de Poesia Exaltando o Rio Grande - 2012

Cancha do jogo de bocha
transformada em tradição,
onde encontro a diversão
para as horas de lazer,
eu não posso te esquecer
e te trago na lembrança
desde quando fui criança
e começava a entender.

Pois até sinto saudade
das façanhas que eu fazia,
quando no braço soerguia
uma bocha e arremessava
num estilo de tuxava
que desfere com certeza,
a boleadeira na presa
e uma clavada na tava.

E mesmo jogando a ponto
sempre fazia por mim,
pois colava no bolim
uma riga ou uma lisa
e como quem não precisa
de seguir por mão alheia,
não provocava peleia:
que briga não dá camisa.

Por estes pagos então,
neste jogo de campanha,
dono de muita façanha,
era muito respeitado,
porque dentro do tablado
que neste verso retrato
jogava até por barato,
nunca apostava fiado.

Outro princípio que trago
desde os tempos de piazote:
quem se atira de garrote
contra touro colmilhudo
e de chifre pontiagudo,
nunca consegue vantagem,
mesmo que tenha coragem
acaba perdendo tudo.

Mas até por passatempo
a bocha tem muita graça,
por um copo de cachaça
ou um maço de cigarro,
que o guasca feito de barro
nesta terra se apresilha
ao moirão de coronilha
do velho pago bizarro.

Hoje os recuerdos me trazem
grandes partidas de bocha
e como uma acesa tocha
certa doença me invade,
queimando barbaridade
no peito meu coração,
quero voltar ao rincão
onde me leva a saudade!

E numa sombra campeira
reviver meu jogo antigo;
e se outra coisa não digo
neste sentimento adverso,
para encerrar o meu verso
minh’alma xucra se plancha
junto ao mistério da cancha
que envolve todo o Universo!...

Fonte:
O Autor

Raquel Ordones / MG (Ser Forte)

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Francisco Marques “Chico dos Bonecos” (Folhas Secas)


Eu estava dando uma aula de Matemática e todos os alunos acompanhavam atentamente. 

Todos?

Quase: Carolina equilibrava o apontador na ponta da régua, Lucas recolhia as borrachas dos vizinhos e construía um prédio, Renata conferia as canetas e os lápis do seu estojo vermelhíssimo e Hélder olhava para o pátio. 

O pátio? O que acontecia no pátio?

Após o recreio, dona Natália varria calmamente as folhas secas e amontoava e guardava tudo dentro de um enorme saco plástico azul. Terminando o varre-varre, dona Natália amarrou a boca do saco plástico e estacionou aquele bafuá de folhas secas perto do portão. Hélder observava atentamente. E eu observava a observação de Hélder – sem descuidar da minha aula de Matemática. De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa. 

Qual o motivo do espanto? 

Hélder percebeu alguma coisa no meio das folhas movendo-se desesperadamente, com aflição, sufoco, falta de ar. Hélder buscava interpretações para a cena, analisava possibilidades, mas o perfil do passarinho já se delineava na transparência azul do plástico. 

Um pássaro novo tinha caído do ninho e, confundido-se com as folhas secas, foi varrido e agora lutava pela liberdade.

– Ele tá preso!

O grito de Hélder interrompeu o final da multiplicação de 15 por 127. 

Todos os alunos olhavam para o pátio. E todos nós concordamos, sem palavras: o bico do passarinho tentava romper aquela estranha pele azul. Hélder saiu da sala e nós fomos atrás. 

E antes que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra “calma”, o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas voaram e as crianças pularam de alegria.

Alguns alunos dizem que havia dois passarinhos presos. Outros viram três passarinhos voando felizes e agradecidos. Lucas diz que era um beija-flor. Renata insiste que era uma cigarra. Eu, sinceramente, só vi folhas secas voando.

E, para concluir esta inesquecível aula de Matemática, pegamos vassouras, pás e sacos plásticos e fomos varrer novamente o pátio. 

Fonte:
Revista Nova Escola

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 758)



Uma Trova de Ademar  

Posso jurar (não é finta):
eu não temo pesadelos,
pois fiz da saudade a tinta
para pintar meus cabelos... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

No embalo da serenata,
quisera ser como a lua
vestindo com tons de prata
os homens tristes da rua!
–Selma Patti Spinelli/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A nossa vida é tão curta, 
para tantas diretrizes, 
e o tempo ainda nos furta 
muitos momentos felizes! 
–José Lucas de Barros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2010   -   Falando de Trova/SP 
Tema   -   SAUDADE-Oculta   -   M/H 

Que nome você daria 
à imagem da mãe que chora 
ao pé da cama vazia 
de um filho que foi embora?... 
–Renato Alves/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Ante as sandálias furadas
que entre cascalhos gastei,
não culpo o chão das estradas,
culpo os maus passos que dei. 
–José Maria M. de Araújo/RJ– 

U m a P o e s i a  

Eu não sei se o passado hoje se importa
que o presente me faça tão feliz,
todos erros que na vida eu já fiz
no meu livro da vida é folha morta;
porque Deus para mim abriu a porta
da poesia, da verdade e do amor,
e mostrando que a vida tem valor,
deu-me o dom mais divino da poesia
pra eu poder fabricar no dia a dia
um remédio eficaz pra minha dor!... 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

DEUS HOMO
–Pe. Antônio Tomás/CE– 

Amo-Te, oh Cristo, dessa cruz pendente, 
varado o coração de acerbas dores, 
do teu suplício os bárbaros rigores 
sofrendo humilde e resignadamente. 

Porque assim te revelas claramente 
deus dos filhos de Eva sofredores, 
apto ouvir os brados e os clamores 
da miseranda e triste humana gente. 

Folgo em saber, nas horas de amargura, 
que um Deus de natureza igual à minha 
sofresse a mesma dor que me tortura. 

Não quadra um Deus feliz ao desgraçado; 
por isso mesmo aos homens não convinha 
senão somente um Deus crucificado.

Mário de Carvalho (Carolina)


Foi mantida a grafia original

Pareceu-me um fulano complicado, miudinho de carácter, basto obsessivo, explorador de pequenas vantagens até à náusea. No caso, ele era senhor duma embarcação e eu não conseguia transporte para a Ilha de Grimush. Não o larguei toda a manhã. Desconversava, dava evasivas, trejeitos, silêncios, voltava-me as costas para se ocupar em tarefas pífias, de linha e rede. Fazia-se caro e importantíssimo. Apetecia-me bater-lhe. Ser ele proprietário duma draga disforme, ferrugenta, empastada de limos e sujidade não lhe dava o direito de me tratar de alto. Se eu o esmurrasse talvez ele descesse a ser mais equitativo no trato, mas isso não me garantia o transporte.

Na véspera eu desesperava, desenganado de arranjar barco que me levasse. O velho ferry boat estava encostado há que meses, os pescadores que procurei, no cais, nas tabernas, riam-se de mim. «Para Grimush? Ora bem...!» Tinham medo de se fazer ao mar. Finalmente, um veio atrás de mim, não sei se condoído do meu desalento se disposto a desfrutá-lo melhor. Ao dobrar duma esquina que fedia a molusco apodrecido, segredou-me: «Procure o Guedes, o patrão da draga! A draga passa...»

Nunca na vida tinha eu posto os pés numa draga. Vistas de longe pareciam-me sempre um amontoado de sucata, ineptas para o movimento, aparentadas aos velhos guindastes abandonados nos molhes, que apodrecem sobre calhas oxidadas. Mas parecia não ter alternativa. As esfinges revoltaram-se no Museu de Grimush, competia-me apaziguá-las e não era coisa que se resolvesse pelo telefone. Aí estava eu, humilhado, a suplicar ao da draga e ele a trocar-me as voltas. «Ná, não me calha! »

Foi já muito pela noite, ao balcão dum bar equívoco, enfeitado com redes de linho, teias de aranha e bolas de vidro coloridas, que o tal Guedes, exploradas todas as possibilidades de me enfadar e desiludir, concedeu:

«Acha que aguenta a viagem?»

«Mestre, estou por tudo, desde que me leve a Grimush.»

Madrugada, antes do sol, lá estava eu, na gordurosa plataforma, guardada por um tipo esquivo de brinco de latão em forma de oito numa orelha. Da cabina, o patrão não se dignou cumprimentar-me. Retirada a prancha, a draga foi deslizando, vagarosa, com um ruído atroador. Acomodei-me num recosto de chapas menos encardidas e adormeci, indiferente aos salpicos de mar.

O mestre acordou-me, já longe de terra:

«Não convém dormir agora. Olhe!»

Apontava-me uma direcção. O tisnado tripulante tropeçou entre nós, a soluçar, num lanço desandado, e escondeu-se sob um cabrestante. O Guedes sorriu e encolheu os ombros. Lá longe, um rochedo escuro, tortuoso e esguio, lançava-se do mar, até grande altura. Gaivotas planavam em círculo branco, circunscrevendo o afiado píncaro.

Perto, quase à altura do rochedo, emergia das águas o corpo de uma mulher gorda, que segurava uma canastra à cabeça com ambas as grossas mãos, cada qual capaz de envolver a draga em que viajávamos. Tinha feições ao mesmo tempo serenas e grosseiras e o cabelo negro apanhado atrás, num rolo. Rumávamos a cerca de três milhas de distância. Ainda assim, notávamos o arfar lento, da respiração tranquila, logo acima do ponto em que o mar em flor rebentava, ao rés da cintura dela.

«É a Carolina! », disse o mestre.

A draga ia palmilhando, lenta, num penoso entrechocalho de ferros e rodopio de espumas. A mulher, lá ao longe, respirava, suave, mas não se movia do mesmo lugar, nem parecia prestar-nos qualquer atenção. O patrão Guedes dava-lhe agora para conversar. Falava baixinho e não desfitava o enorme busto que assombrava as ondas.

Tinha acontecido meses atrás, talvez por Janeiro, ou Fevereiro, não se lembrava bem. Um pescador dera a notícia, à noite. Arribara com o motor avariado, vinha de olhos arremelgados e só à custa de muita aguardente pelas goelas abaixo conseguira falar. Ainda assim, ficou-lhe a voz para sempre entaramelada. Quase abalroara a mulher que lhe surgira pela vante, dominando as alturas da noite, olhando-o muito séria e fixa, lá de cima. Ninguém acreditou até ao dia seguinte, quando todos puderam distinguir aquela figura imóvel, mas viva, a respiração a condensar-se, em nuvens espairadas, no frio da manhã. Não houve quem ousasse aproximar-se. Mas todos os motores avariaram e aos barcos sem motor apodreceram-lhes as tábuas. Os homens ficaram transidos de medo. E todos os dias perguntavam ao mestre Guedes se a mulher ainda lá estava. O motor da draga, teco-teco, sempre na mesma, rabugento, desafinado, mas sem novidade. No porto, tinham chamado à aparição Carolina, em lembrança duma embarcação com o mesmo nome que naufragara num baixio e ficara anos a sobressair do mar, de proa a pique.

Carolina tinha poupado o patrão Guedes, mestre da draga. Volta e meia, ele fazia aquele percurso só para a ver. Certas vezes, em torno dela, ao arrepio das ondas, firmava-se, fluida, uma tonalidade rubra ao rés do mar, como se vogassem à tona colónias e colónias de algas vermelhas. Nessas alturas, o grasnido das aves era mais baixo e lamentoso. Depois, passava. E ao dizer-me isto, enrolava um cigarro, compenetrado.

«Estará ela apaixonada por si?», sugeri, meio a brincar. «Acho que é mais estima», respondeu-me muito a sério. «Mas, repare...»

Daí a poucas braças teríamos passado o rochedo e perdido de vista a mulher. Foi então que ela pestanejou longamente e os lábios polpudos se franziram num sorriso fugaz. «Viu? Viu?» O mestre agitava-se de contente. O ajudante esgueirou-se do esconderijo e daí a poucas horas aportávamos a Grimush.

Através do diálogo, convenci rapidamente as esfinges do museu ao acatamento da lei. Regressei satisfeito à draga que me esperava no cais deserto e logo abalámos. Mas quando tomámos vista do rochedo, Carolina já lá não estava. E não foram as circum-navegações ansiosas da draga em volta do rochedo que a fizeram reaparecer. Triste, triste, vi eu o mestre. Afundou a cabeça nos braços e assim ficou. Não mais me dirigiu palavra. Senti-me culpado, sem ter porquê.

Quando acostámos, o cais estava coberto de gente que se apinhava pelo molhe e pelos contentores e se pendurava das gruas. Silêncio total da multidão imóvel. Fizeram alas para que eu passasse. De costas voltadas para mim.

Não regressarei a Grimush.

Fonte:
Mário de Carvalho. Contos Vagabundos. Lisboa: Editorial Caminho, 2000.

Silviah Carvalho (A Súplica do Beija-Flor)


...Quanto a mim, da solidão me vesti,
Vi sangrar o meu coração sem paz,
A segredar à noite tudo que vivi,
Reluto sozinha, não volto atrás.

O sossego das noites não refrigera meus dias,
Poeta beija-flor... Perdi essa identidade!
Exilada morro aos poucos e comigo a poesia,
Tantos “não” que do “sim”, sinto saudades.

Quisera ressuscitar-me, não mais amar...
Já não percebo do amor o fulgor,
Só o silencio que sua ausência deixou.

Eu preciso me redescobrir no teu olhar,
Voar na essência e sabor do seu vasto jardim,
Alimenta esse beija-flor, traga néctar pra mim…

Fonte:
http://umcoracaoqueama.blogspot.com.br/

Teatro de Ontem e de Hoje (Chiquinha Gonzaga, Ó Abre Alas)


O espetáculo homenageia Chiquinha Gonzaga, numa biografia musical da compositora e abolicionista carioca. A peça, escrita por encomenda do Teatro Popular do Sesi a Maria Adelaide Amaral, tem sua primeira montagem em São Paulo, sob a direção de Osmar Rodrigues Cruz, em 1983. Quinze anos depois, comemorando os 150 anos de aniversário do nascimento da artista, o Rio de Janeiro apresenta uma remontagem modernizada, numa grande produção encabeçada pelo diretor Charles Möeller e o diretor musical Claudio Botelho. 

A peça de Maria Adelaide Amaral fala da vida pública da compositora que, em meados do século XIX, disse não aos papéis tradicionais da mulher, tornando-se profissional da música e envolvendo-se em todas as grandes causas sociais e políticas do seu tempo. A sua primeira montagem é de 1983 e tem direção de Osmar Rodrigues Cruz, cenografia de Flávio Império, protagonizada por Regina Braga, à frente de grande elenco, numa superprodução do Teatro Popular do Sesi, TPS. O texto apresenta 140 personagens, que a direção distribui entre os 32 atores do elenco, cada um se desdobrando em até seis papéis, numa chave cênica similar ao sistema coringa, de Augusto Boal. 

O cenógrafo Flávio Império fragmenta a cena ao máximo, empurrando-a para fora de seus limites em direção ao público, criando também diversos planos para atender as exigências do texto. Os figurinos, adereços, perucas e chapéus, compostos por mais de seiscentas peças, são divididos em cores: para as mulheres, os tons da primavera e para os homens predominam o branco e o preto. O espetáculo arrebata vários prêmios, dentre eles, Instituto Nacional de Artes Cênicas, Inacen de um dos cinco melhores espetáculos do ano, Molière de melhor autor para Maria Adelaide Amaral, melhor atriz para Regina Braga, Associação Paulista de Críticos de Artes, APCA de melhor cenografia e figurinos para Flávio Império, melhor direção musical para Oswaldo Sperandio, e APCA grande prêmio da crítica para Osmar Rodrigues Cruz, pelos 20 anos de trabalho à frente do TPS. Em mais de um ano e meio em cartaz, a montagem foi vista por cerca de 300 mil espectadores.

A montagem carioca ocorre quinze anos depois, passando por algumas modernizações, sob o título de O Abre Alas, com encenação de Charles Möeller e direção musical de Claudio Botelho. Nessa versão, encabeçada por Rosamaria Murtinho, Chiquinha Gonzaga, a militante da causa abolicionista, da campanha republicana e da luta pelo reconhecimento do direito autoral, é também destacada por seus feitos artísticos e sua participação política. 

Enquanto as cenas de diálogo apresentam o contexto histórico, as cenas musicais mostram a compositora. Nos diálogos, a atriz lança mão de uma interpretação levemente distanciada, que valoriza a clareza da argumentação. Nos números musicais, surge uma igualmente suave estilização, que investe na graciosidade dos movimentos.

O espetáculo recebe um tratamento de grande musical, com cantores, coro e linguagem grandiloqüente. As músicas de Chiquinha Gonzaga são misturadas a canções do diretor musical e de outros compositores da época. A crítica Barbara Heliodora, considerando que o trabalho de Rosamaria Murtinho é responsável pela única e "verdadeira tentativa de chegar perto da homenageada", condena quase integralmente o resultado final, principalmente sua grandiosidade: "Na verdade, as pequenas incursões de Rosamaria pelo canto são muito melhores (porque agradáveis) do que as dos supostos cantores".1 A crítica Mariângela Alves de Lima, que observa que a peça não permite ver a opressão feminina sofrida por Chiquinha, vê qualidades no texto e na montagem: "Mas há, na estrutura da peça, um lugar reservado para o exercício da fantasia, da imaginação e dos outros atributos humanos que, na verdade, alimentam o impulso para a participação na vida coletiva. A artista, poética e sonhadora, se expressa por números musicais. Dividindo com nitidez um plano dramático da militância, configurado nos diálogos, e o da criação, concentrado nos números musicais, o roteiro propõe uma complementaridade quase ideal para o gênero musical. (...) Espetáculo com muitas formas e com algumas formas nada discretas, deleitando-se com a engenhosidade da cenotécnica e da iluminotécnica, com a habilidade vocal dos seus cantores e músicos, funciona também como a celebração de um gênero teatral que deixamos de cultivar".2

Notas
1. HELIODORA, Barbara. Uma grandiosidade que não alcança Chiquinha Gonzaga. O Globo, Rio de Janeiro, 6 set. 1998.

2. LIMA, Mariângela Alves de. 'O Abre Alas' celebra a emancipação da mulher. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 mar. 1999.

Fonte:

Olivaldo Junior (Para Nós)


Tentei falar o que não posso. Tentei poder o que não falo. Tentei falar. Não consegui. Jamais adiantaria.

Para nós, nenhum pára-raios
daria um jeito no curto-circuito.

Somos fogo, mas se apaga
nossa história.

Sei que me apego,
mas não te pego.

Só me afogo, pois quem paga
toda a conta
sou eu.

Eu, que me meto a cantar,
que te canto adoidado,
mas não sei onde eu ando.

Ando sempre ao lado
de onde você não me nota,
de onde você faz de conta
que eu não sou amado.

Para nós, nenhum parabéns
faria efeito no longo descuido
que bem tivemos conosco.

Moji Guaçu, SP, dez de dezembro de 2012.

Fonte:
O Autor

Machado de Assis (Idéias sobre o Teatro– Parte 2) O Conservatório Dramático


A literatura dramática tem, como todo o povo constituído, um corpo policial, que lhe serve de censura e pena: é o conservatório. Dois são, ou devem ser, os fins desta instituição: o moral e o intelectual. Preenche o primeiro na correção das feições menos decentes das concepções dramáticas; atinge ao segundo analisando e decidindo sobre o mérito literário — dessas mesmas concepções. Com esses alvos um conservatório dramático é mais que útil, é necessário. A crítica oficial, tribunal sem apelação, garantido pelo governo, sustentado pela opinião pública, é a mais fecunda das críticas, quando pautada pela razão, e despida das estratégias surdas.

Todas as tentativas, pois, toda a idéia para nulificar uma instituição como esta, é nulificar o teatro, e tirar-lhe a feição civilizadora que porventura lhe assiste. Corresponderá à definição que aqui damos desse tribunal de censura, a instituição que temos aí chamada — Conservatório Dramático? Se não corresponde, onde está a causa desse divórcio entre a idéia e o corpo?

Dando a primeira pergunta uma negativa, vejamos onde existe essa causa. É evidente que na base, na constituição interna, na lei de organização. As atribuições do Conservatório limitam-se a apontar os pontos descarnados do corpo que a decência manda cobrir: nunca as ofensas feitas às leis do país, e à religião ... do Estado; mais nada. Assim procede o primeiro fim a que se propõe uma corporação dessa ordem; mas o segundo? nem uma concessão, nem um direito. Organizado desta maneira era inútil reunir os homens da literatura nesse tribunal; um grupo de vestais bastava.

Não sei que razão se pode alegar em defesa da organização atual do nosso Conservatório, não sei. Viciado na primitiva, não tem ainda hoje uma fórmula e um fim mais razoável com as aspirações do teatro e com o senso comum. Preenchendo o primeiro dos dois alvos a que deve atender, o Conservatório em vez de se constituir um corpo deliberativo, torna-se uma simples máquina, instrumento comum, não sem ação que traça os seus juízos sobre as linhas implacáveis de um estatuto que lhe serve de norma. 

Julgar de uma composição pelo que toca às ofensas feitas à moral, às leis e à religião, não é discutir-lhe o mérito puramente literário, no pensamento criador, na construção cênica, no desenho dos caracteres, na disposição das figuras no jogo da língua.

Na segunda hipótese há mister de conhecimentos mais amplos, e conhecimentos tais que possam legitimar uma magistratura intelectual. Na primeira, como disse, basta apenas meia dúzia de vestais e duas ou três daquelas fidalgas devotas do rei de Mafra. Estava preenchido o fim. Julgar do valor literário de uma composição, é exercer uma função civilizadora, ao mesmo tempo que praticar um
direito do espírito: e tomar um caráter menos vassalo, e de mais iniciativa e deliberação. Contudo, por vezes as inteligências do nosso Conservatório como que sacodem esse freio que lhe serve de lei, e entram no exercício desse direito que se lhe nega; não deliberam, é verdade, mas protestam. A estátua lá vai tomar vida nas mãos de Prometeu, mas a inferioridade do mármore fica assinalada com a autópsia do escopro [1].

Mas ganha a literatura, ganha a arte com essas análises da sombra? Ganha, quando muito, o arquivo. A análise das concepções, o estudo das prosódias, vão morrer, ou pelo menos dormir no pó das estantes. Não é esta a missão de um Conservatório dramático. Antes negar a inteligência que limitá-la ao estudo enfadonho das indecências, e marcar-lhe as inspirações pelos artigos de uma lei viciosa. E — note-se bem! — é esta uma questão de grande alcance. Qual é a influência de um Conservatório organizado desta forma? E que respeito pode inspirar assim ao teatro?

Trocam-se os papéis. A instituição perde o direito de juiz e desce na razão da ascendência do teatro. Façam ampliar as atribuições desse corpo; procurem dar-lhe outro caráter mais sério, outros direitos mais iniciadores; façam dessa sacristia de igreja um Tribunal de censura.

Completem, porém, toda essa mudança de forma. Qual é o resultado do anônimo? Se o Conservatório é um júri deliberativo, deve ser inteligente; e por que não há de a inteligência minguar os seus juízos? Em matéria de arte eu não conheço susceptibilidades nem interesses. Emancipem o espirito, hão de respeitar-lhe as decisões.

Será fácil uma emancipação do espírito neste caso? — É. Basta que os governos compreendam um dia esta verdade de que o teatro não é uma simples instituição de recreio, mas um corpo de iniciativa nacional e humana.

Ora, os governos que têm descido o olhar e a mão a tanta coisa fútil, não repararam ainda nesta nesga de força social, apeada de sua ação, arredada de seu caminho por caprichos mal-entendidos, que a fortuna colocou por fatalidade à sombra da lei. Criaram um Conservatório Dramático por instinto de imitação criaram uma coisa a que tiveram a delicadeza ou mau gosto de chamar teatro normal, e dormiram descansados, como se tivessem levantado uma pirâmide no Egito. Ora, todos nós sabemos o que é esse Conservatório e este teatro normal; todos nós temos assistido às a o agonias de um e aos desvario do outro; todos temos visto como essas duas instituições destinadas caminharem de acordo na rota da arte, divorciaram-se de alvo e de estrada. O Conservatório comprometeu a dignidade do seu papel, o antes o obrigaram a isso, e o teatro, acordando um dia com instinto de César, tentou conquistar todo o mundo da arte, e entreviu também que lhe cumpria começar a empresa por um tribunal de censura.

Com esta guerra civil no mundo dramático, limitadas as decisões de censura, está claro, e claro a olhos nus que a arte sofria e cor ela a massa popular, as platéias. A censura estava obrigada a suicidar-se de um direito e subscrever as frioleiras [2] mais insensatas que o teatro entendesse qualificar de composição dramática. Este estado de coisas que eu percebo, inteligência mínima como sou, será percebido também pelos governos? Não é fácil de aceitar a hipótese negativa, porquanto evidentemente não os posso considerar abaixo de mim na ótica do espírito. Concordo pois, que os governo não têm sido estranhos nesta anarquia da arte, e então uma negligência assim, depõe muito contra a consciência do poder.

Não há fugir daqui. Onde está esse projeto sobre a literatura dramática apresentado há tempos na câmara temporária? Era matéria de contrabando, e as aspirações políticas estavam ocupadas em negócios que visavam outros alvos mais sólidos ou pelo menos mais reais. Esse projeto, dando um caráter mais sério ao teatro, abria as suas portas às inteligências dramáticas por meio de um incentivo honroso. Trazia em si um princípio de vida: lá foi para o barbante do esquecimento!

É simples, e não carece de larga observação: os governos em matéria de arte e literatura olham muito de alto; não tomam o trabalho de descer à análise para dar a mão ao que o merece. Entretanto o que se pede não é uma vigilância exclusiva; ninguém pretende do poder emprego absoluto dos seus sentidos e faculdades. Nesta questão sobretudo é fácil o remédio; basta uma reforma pronta, inteiriça, radical, e o Conservatório Dramático entrará na esfera dos deveres e direitos que fazem completar o pensamento de sua criação.

Com o direito de reprovar e proibir por incapacidade intelectual, com a viseira levantada ao espírito da abolição do anônimo, o Conservatório, como disse acima, deixa de ser uma sacristia de igreja para ser um tribunal de censura. E sabem o que seria então esse tribunal? uma muralha de inteligência às irrupções intempestivas que o capricho quisesse fazer no mundo da arte, às bacanais indecentes e parvas que ofendessem a dignidade do tablado, porque infelizmente é fato líquido, há lá também uma dignidade.

O Conservatório seria isso e estaria nas linhas do seu dever e de seu direito. Mas no meio destes reparos, resta ainda um fato importante — a literatura dramática. Com uma reforma no Conservatório, parece-me claro que ganhava também a arte escrita. Não temos (ninguém será tão ingênuo que confesse esse absurdo) não temos literatura dramática, na extensão da frase; algumas estrelas não fazem uma constelação: são lembranças deixadas no tablado por distração, palavras soltas, aromas queimados, despidos de todo o caráter sacerdotal. Não podia o Conservatório tomar um encargo no sentido de fazer desenvolver o elemento dramático na literatura? As vantagens são evidentes — além de emancipar o teatro, não expunha as platéias aos barbarismos das traduções de fancaria[3] que compõem uma larga parte dos nossos repertórios.

Mas, entendam bem! inculco esse encargo ao Conservatório, mas a um Conservatório que eu imagino, que além de possuir os direitos conferidos por uma reforma, deve possuir esses direitos de capacidade conferidos pela inteligência e pelos conhecimentos. Não é ofender com isto as inteligências legítimas do atual Conservatório. Eu não nego o sol; o que nego, ou pelo menos o que condeno em consciência são as sombras que não dão luz e que mareiam a luz.

Um Conservatório ilustrado em absoluto é uma garantia para o teatro, para a platéia e para a literatura. Para fazê-lo assim basta que o poder faça descer essa reforma tão desejada.
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Nota:
[1] Escopro
Instrumento de ferro e aço com que se lavram madeiras, pedras, etc.; cinzel. 
[2] Frioleira
Tolice, parvoíce.
[3] Fancaria
Trabalho grosseiro, mal acabado; pacotilha.

Fonte:
Machado de Assis. Crítica Literária. Pará de  Minas/ MG: Virtualbooks, 2003.

Vivaldo Terres (Poemas de Amor e Dor)


FIM DE UM ROMANCE

O fim de um romance é de tristeza e dor, 
Eu conheço bem isto, porque já perdi, 
Na vida um amor. 

Como a gente sofre, como a gente luta, 
Para esquecer o amor perdido, que infelizmente, 
Já partiu pra longe, mas que sempre, 
Fica no peito escondido. 

Este amor que amei e que pelo qual, 
Ainda sofro, me traz o conforto, 
Por tê-la amado tanto, quantas, e quantas vezes, 
Eu também chorando, enxugava beijando, 
Dos seus olhos o pranto. 

APAIXONADOS 

Já faz um ano e meio que nós nos amamos, 
Com um amor sincero e verdadeiro, 
Bem sei que o nosso amor nasceu de um beijo, 
Beijo este quente e demorado... 
Que nos deixou tremendamente apaixonados. 

Nosso amor na verdade é maravilhoso, 
Quem não nos conhece sentem admiração, 
Por não compreender as nossas vidas, 
E por não poderem trazer a mesma alegria, 
Que nós temos no coração. 

Sempre, sempre, vamos nos amarmos, 
Com muito carinho e bastante fé, 
Temos certeza que tudo dará certo, 
E vamos ser sempre felizes se Deus quiser. 

TEUS OLHOS VERDES 

Teus olhos verdes, cor de esmeralda... 
Teus lábios vermelhos, cor de carmim, 
Inspiram-me desejos dos mais tentadores, 
Eu sei que não queres que seja, 
Mas eu vejo assim. 

És toda perfeita, de corpo atraente, 
Tua pele clara te faz linda demais, 
Faz que morra de amores por ti, 
Pois nunca tinha visto alguém igual. 

Tua simplicidade teu jeito de ser, 
Faz-te não querer ser notada ou amada, 
Mas quero que saibas que mesmo não tendo. 
Este direito eu tive a felicidade de entrares, 
No meu peito e fazeres morada. 

AMOR PURO 

Meu amor, tu pensas e até às vezes me dizes, 
Que o amor, não sendo puro, em si, não cria raízes. 
Foi pensando nestas frases, no teu modo de expressar, 
Que acabei acreditando que o amor, não sendo puro, 
Não chega a germinar. 

Mas o nosso amor querida, tu sabes o quanto é seguro, 
Nosso amor é o mais belo, 
E o maior amor do mundo.

Graças a Deus te encontrei, 
Quando mais eu precisava, 
Tu vieste em meu socorro, 
Quando tudo em mim faltava, 
A mim deste carinho, ternura e compreensão, 
Falando coisas tão lindas que alegrou-me o coração.

A TARDE ERA BELA 

A tarde era bela, o sol radiante. 
Tu estavas exultante de felicidade. 
O vento soprava teus belos cabelos. 
Mas tu não aceitavas tal leviandade. 

E o vento atrevido brincando contigo. 
Acariciava teu rosto com satisfação! 
Embora sabendo que não aceitavas, 
Mas ele não via outra predileção 

Até porque solitário e sem saber a aonde ir. 
Encontrou-te naquela tarde... 
E apaixonou-se por ti... 

Afagando teu rosto e os teus cabelos dourados. 
Partiu para muito longe solitário! 
E apaixonado... 

Fonte:
O Autor

Jornais e Revistas do Brasil (Correio de São Paulo: diário noticioso e informativo)


Período disponível: 1932 a 1937 
Local: São Paulo, SP 
  
Em outubro de 1930, Getúlio Vargas, à frente de uma coligação de forças oligárquicas do Rio Grande do Sul, seu estado, Minas Gerais e Paraíba, depõe o presidente Washington Luís, político fluminense, porém ligado à oligarquia paulista. O episódio ficou conhecido como Revolução de 30 e marcava o fim da chamada política do café-com-leite, por meio da qual as oligarquias paulista e mineira vinham se revezando no poder, e início de não poucas e profundas mudanças na política e economia do país. Essas mudanças se iniciaram já governo provisório presidido por Vargas, que alijou a maioria da oligarquia paulista do poder, assim como retardava a convocação de uma assembléia constituinte destinada a reordenar o país em bases liberais e democráticas.

 Estes últimos fatos, sobretudo, motivaram a reação armada dos paulistas, a chamada Revolução Constitucionalista. Homens, mulheres, estudantes, políticos, industriais e operários se uniram às forças militares (Exército e Força Pública) do estado contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas, o que resultou num dos maiores conflitos armados da história nacional, marco, até hoje celebrado, da história de São Paulo. Sem poder contar com a adesão prometida de setores dissidentes das oligarquias mineira e gaúcha e enfrentando as tropas maiores e mais bem equipadas do Governo Federal, os paulistas foram derrotados. Mas não saíram de mãos vazias: ainda que Vargas continuasse no poder, em 1933 seria eleita a Assembleia Constituinte, que promulgaria no ano seguinte a nova Constituição do Brasil

 Foi nesse contexto que surgiu, no dia 16 de junho, o Correio de São Paulo, diário com notícias corriqueiras, mas também com forte apelo político liberal e regionalista. Como praticamente toda a imprensa paulista, o jornal assumiu os ideais constitucionalistas das oligarquias, empresários e classe média paulistas.

 Escrevia o jornal no dia 6 de agosto de 1932, quase um mês depois de eclodir a “Revolução”:“As senhoras paulistas [que?] bordaram a bandeira nacional, ofertada ao grande encouraçado ‘S.Paulo’, símbolo augusto da força, patriotismo e unidade da extremecida Pátria, conclamam a brava oficialidade e valentes marujos desse invicto vaso de guerra para que comunguem conosco na campanha dos sacros ideais de liberdade e justiça contra a nefasta, ditadura que enluta, desgoverna e divide a nação. Concitando-os a se baterem pela causa que, neste momento épico da nacionalidade, empolga a alma de S. Paulo, Mato Grosso e das populações livres dos outros Estados, só pensamos em Deus e na Pátria em cujo altar imolamos nossa oferendas e orações, porque a nossa luta e os nossos sacrifícios são pelo Brasil e para o Brasil”.

 Nesse mesmo número, havia a gravura de um homem que apresentava estampado em sua camisa as iniciais M.M.D.C, de Martins, Miragaia, Drausio e Camargo. O acrônimo homenageava os mortos pelas tropas federais em maio daquele ano. Lia-se também na gravura: “Você tem um dever a cumprir consulte a sua consciência!”, mais um apelo à mobilização contra as forças federais.

 Com a derrota dos paulistas, a rotina de notícias foi voltando ao normal. Seção esportiva, filmes e peças em exibição e até seção de quiromancia por correspondência compunham as páginas do jornal. Inicialmente era publicado em quatro páginas, aumentou para seis e, por fim, oito páginas.

 O Correio de São Paulo circulou de 1932 a 1937 e teve como diretores Rubens do Amaral, Lelis Vieria, Riba Marinho e Pedro Ferraz do Amaral. De início propriedade da Empresa de Correio de São Paulo Ltda, tempos depois passou à Empresa Paulista Jornalística Ltda.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-de-são-paulo-diário-noticioso-e-informativo

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 28 de abril: Noite de Abril


Que linda noite, meu Deus!

Fazia um luar magnífico. As estrelas brilhavam no azul do céu. As brisas apenas murmurejavam entre as sombras das árvores.

Era uma noite de abril, uma dessas belas noites da nossa terra, noites de poesia e de romance.

Estávamos no Passeio Público. Éramos dois, e conversávamos sobre tanta coisa, fazíamos tantos sonhos acordados, tantos poemas de imaginação, que nem sei dizer.

Há muita gente que prefere o dia à noite. Eu, ao contrário, sou da seita dos peripatéticos, e sigo neste ponto a opinião de Meri.

Não há coisa mais bela e mais poética neste mundo do que sejam as estrelas. O sol é um astro egoísta, incômodo, e que demais a mais faz-se de espião e quer intrometer-se em tudo. 

O sol causa dores de cabeça, queima as faces as mais mimosas, estraga as mais belas cores, obriga a gente a não sair de casa, rouba-nos o prazer de passar no campo, e gera um aluvião de insetos e mosquitos capaz de morder a todo gênero humano.

Decididamente prefiro a noite com as suas estrelas, com o silêncio de suas horas mortas, e as suas sombras pálidas e melancólicas.

É sempre de noite que temos as nossas melhores idéias; e quando se trata de tomar uma resolução importante, ninguém deixa de dormir sobre o caso.

Quanto à poesia, nem falemos. Se quereis sentir, se desejais ter inspirações, passeai de noite ao relento, conversando com as estrelas. Ficareis poeta por força.

O mesmo me aconteceu nessa noite de que vos falei. Conversávamos sobre música, sobre a representação dos Puritanos, sobre o teatro, e de repente senti em mim umas faíscas do fogo sagrado.

Lembrava-me da Charton, e parecia-me ouvir dessas belas volatas que brincam nos seus lábios, que se elevam gradualmente até confundir-se em ondas de harmonias, que morrem a pouco e pouco, e vão perder-se num sorriso ou num tênue suspiro que lhe parte o seio.

Muitas vezes faltavam-nos as imagens. Seria necessário recorrer a todas as artes, materializar o som, colorir a voz, dar corpo à música, para descrever todas as belezas desse canto inspirado.

Assim há umas notas que chamejam, irradiam como chispas brilhantes lançadas no ar; há outras que caem docemente como gota de orvalho da manhã. Umas são brilhantes que desferem raios de luz; outras são flores que exalam perfumes à noite.

Muitas sorriem, brincam com os lábios, aninham-se nas covinhas da boca, fazem mil travessuras, furtam um beijo – e fogem. Algumas suspiram, tremem, vacilam como  a lágrima que se desfia pelas faces, palpitam como um seio oprimido, e por fim vem expirar suavemente dentro d’alma.

Às vezes dir-se-ia que o beija-flor se aninha no cálice de uma rosa; outras que bate as suas asas douradas e se lança no espaço, colorindo-se aos raios do sol.

E todos esses arabescos e fantasias brilhantes que vos traça a imaginação, todas essas flores mimosas, esses raios de luz e esses lindos coloridos, não valem o drama cheio de emoções que se passa em vossa alma aos sons daquela voz harmoniosa.

Há muito tempo não tem o nosso teatro uma noite como a dos Puritanos; a representação correu  perfeitamente, e todos os papéis foram mais ou menos bem desempenhados.

Dufrene, o novo tenor, apesar da pouca extensão de sua voz, agradou. É um excelente artista, e canta com muito estilo e muita expressão. Estou certo que, quando estivermos habituados como seu canto, o ouviremos com muito mais prazer do que nas primeiras noites.

Bouché foi perfeitamente no seu pequeno papel. A sua bela voz produziu o melhor efeito no magnífico dueto do segundo ato.

A Charton excedeu-se. Graciosa nas expansões infantis de um amor feliz, sublime no desespero, natural nos desvarios da paixão, foi artista desde o começo ao fim. Havia naquele dia o quer que seja que a animava, que a excitava a obscurecer os seus triunfos passados.

No dia antecedente já tínhamos ouvido a Charton; mas despida de todo este prestigio do teatro, de toda esta fascinação das luzes e da cena. Nem por isso a achamos menos brilhante.

Foi isto domingo na festa de São Francisco. A igreja estava armada com toda a simplicidade. Apenas algumas grinaldas de rosas se destacavam pelas alvas paredes e caiam do teto em festões.

Uma meia obscuridade, empalidecida pelos raios dos círios, realçava o aspecto grave e simples do templo, e dava-lhe uma expressão de recolhimento e de santidade, que não têm ordinariamente as nossas igrejas em dias de festa.

As litanias sagradas e os sons do órgão se confundiam um momento; depois o silêncio se restabelecia, e uma voz harmoniosa erguia ao céu uma prece traduzida nalguma bela melodia que se casava perfeitamente com as palavras do ritual.

Cantou a Casaloni, o Bouché, o Gentil, o Arnaud, e finalmente a Charton.

Receávamos uma desilusão; pensávamos que, fora do teatro, o seu canto não tivesse o mesmo poder. Mas o verdadeiro artista tem n’alma o fogo sagrado, a centelha divina, que, no instante em que se anima, dá brilho aos seus olhos e expressão aos seus gestos.

Um concurso numeroso enchia a igreja e assistia com satisfação a esta solenidade religiosa de uma das ordens mais importantes desta corte.

Este ano muitos melhoramentos se introduziram, devidos ao zelo de um dos definidores, o Sr. Miranda. Além da simplicidade com que ele fez ornar a igreja, admitiu o costume europeu, e mandou colocar na capela-mor elegantes assentos para as senhoras.

Tudo preparado com muita singeleza e bom gosto, de maneira que as senhoras podem assistir às solenidades, sem estarem expostas aos empurrões da multidão que às vezes se apinha na igreja.

O hospital da ordem teve também um grande melhoramento com o serviço da iluminação a gás que já se acha estabelecido, graças à  generosidade de um dos definidores, o Dr. Isidro Borges Monteiro.

Estava em prática que o definidor incumbido do hospital carregava com a despesa da exposição anual que era costume fazer-se. Entendeu o Dr. Isidro que devia acabar com este precedente, que, além de não trazer utilidade alguma para a ordem, era excessivamente incômodo aos doentes. Nesta idéia dotou o hospital com a iluminação a gás, que monta a perto de dois contos de réis, e acabou com as exposições anuais.

Não foi, portanto, unicamente uma generosidade, mas um benefício real e muito proveitoso que o Dr. Isidro fez à ordem. O hospital pode ser visitado em qualquer dia pelas pessoas que solicitarem este favor; e estas poderão bem julgar do estado vantajoso em que se acha este estabelecimento.

Foi ainda por esforços destes dois membros da ordem que se acabou com o uso das mesas lautas e dos banquetes que se costumavam oferecer aos convidados depois da festa, fazendo assim da casa de Deus uma espécie de café ou de restaurante.

Neste ponto do meu artigo vi-me obrigado, pela primeira vez, a passar uma repreensão muito séria à minha pena, que desejava escrever uma dissertação sobre o culto da igreja.

Não houve remédio senão lembrar-lhe os desvios em que muitas vezes caem certas penas que escrevem sobre coisas de que não têm perfeito conhecimento.

Assim há nesta corte um periódico, de que nem sei o nome que se julgou habilitado a dirigir uma insinuação pérfida a um dos nossos mais distintos diplomatas, o Sr. Dr. José Maria do Amaral.

Responderíamos a este artigo, se não estivéssemos convencidos que o único nome do Sr. Amaral contém a maior defesa e o maior elogio que se possa fazer do seu caráter honesto a toda prova. Além de que, pessoa mais habilitada já mostrou todas as falsidades em que caiu o autor daquele escrito, o qual nem tem a coragem de sua opinião.

Batido com as suas próprias palavras, carregando com a responsabilidade de uma acusação grave feita contra um alto funcionário público, devia ou aceitar a discussão que lhe ofereciam, ou distratar-se do que havia dito. Não o fazendo, classificou muito claramente a natureza dessa insinuação.

Depois de lembrar este exemplo à minha pena, lembrei-lhe o que já lhe tinha acontecido a respeito do tudo e nada.

Lembrei-lhe que numa das revistas passadas tinha-me comprometido horrivelmente e feito cometer uma injustiça clamorosa contra um dos mais notáveis escritores do Brasil.

E tudo isso produzido por uma vírgula travessa que saiu do seu lugar e foi-se intrometer onde aonde não era chamada.

Eis o caso em duas palavras: Numa das revistas passadas escrevi eu com a melhor boa-fé e sem malícia o seguinte:

“Os homens que falam de tudo e nada, dizem têm aí um belo tema para dissertarem, etc.”

Agora, passando os olhos o meu artigo, fiquei pasmo: em lugar do que eu tinha escrito havia uma blasfêmia deste teor:

“Os homens que falam de tudo e nada dizem, têm aí um belo tema para dissertarem, etc.”

E por isso vem o homem citando as tais malditas palavras: “Os homens que falam de tudo e nada dizem!”

Eu que sou o primeiro a reconhecer (como ponto de fé, como dogma) a graça esquisita, a fina elegância, o bom gosto, o espírito delicado do sublime escritor do Jornal do Comércio, podia cair naquele contra-senso e avançar que ele fala de tudo e nada diz?

Fala de tudo!... Que insinuação pérfida! Como podia eu dizer semelhante blasfêmia, se ele só fala de si e dos seus amigos?

E nada diz!... Outra falsidade. Não só diz, mas rediz,  repete três e quatro vezes a mesma coisa. Queixa-se sempre de ser obrigado a escrever aquilo de que todos o desobrigam.

Só quem não tiver lido... Que disparate! Pois alguém pode deixar de ter lido o Tudo e nada? Não é possível! Depois da Quaresma, da Páscoa e das confissões, vem o tempo das penitências.

Já vêem os meus leitores que nunca foi minha intenção escrever aquele absurdo. A minha pena, que tem a balda dos calemburgos [1], fez, sem que eu o sentisse, uma transposição de vírgula, e arranjou-me assim este grave comprometimento.

O homem, porém, tomou o negócio ao sério; e, portanto, estou perdido. Que será de mim a lutar com uma pena que escreve com tinta simpática, e que por conseguinte tem a amizade de todo o mundo?

E por onde foi começar? Pelas minhas celebérrimas erratas! Que há de ser de mim? Fui meter-me no orçamento, eu que não estou habituado a somar o dinheiro da nação e a contar os emolumentos que às vezes se percebem pelos requerimentos das partes. É bem feito que o mestre me dê o quinau.

Demais, ele tinha justa razão de zangar-se. Eu ofendi-lhe  um privilégio exclusivo, usurpei-lhe um direito sagrado, ataquei um elemento essencial de sua existência, esbulhei-o [2] de um brevet de perfection, tirei-lhe um monopólio que ele exercia, enfim, errei sem pedir-lhe vênia e permissão.

E, antes que o ofenda segunda vez, vou mudar de assunto e falar de outras coisas.

O governo contratou finalmente a construção de um teatro com a primeira empresa que para este fim se organizou. Era tempo, porque o Provisório começa de novo a revoltar-se contra a permanência.

Na segunda-feira alguns barrotes do soalho entenderam que, estando passados os três anos de existência, tinham todo o direito de apodrecerem e partiram-se. E assim o fizeram, dando ao governo e à empresa um grande exemplo de exatidão e lealdade no cumprimento dos contratos.

A polícia, que assistiu ao fato, registrou-o, e, como o soalho estava no seu direito, assentou que seria uma violência inaudita o contrariá-lo.

Vejam que respeito se vota entre nós à lei dos contratos! Que boa-fé preside às convenções! O Teatro Provisório pode cair em cima das nossas cabeças, e ninguém tratará de prevenir semelhante desastre; porque enfim o edifício só tem obrigação de existir três anos e estes três anos estão concluídos.

Assim, pois, estamos bem servidos de teatros líricos; um está em projetos, o outro em ruínas. Veremos quem ganha a aposta: se o novo se construí antes do velho cair.

Quanto a mim, aposto pelo velho, apesar da boa vontade da empresa Pedro II, que se empenha em realizar a sua idéia o mais breve possível.

Desta vez deixemos em paz a política; os ministros estão muito ocupados com os relatórios. E um relatório vale por dez regulamentos.
––––––––––-
Notas:
[1] balda dos calemburgos
Mania de trocadilhos, de jogo de palavras parecidas no som e diferentes no significado, e que dão margem a equívocos.
[2] esbulhei-o
Despojei-o

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.