segunda-feira, 23 de junho de 2008

Antoine de Saint-Exupéry (1900 - 1944)

“Vou confiar-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe veio ao mundo em Lyon, França, em 29 de Junho de 1900, e desapareceu em 31 de Julho de 1944, no Mediterrâneo.

Com a prematura morte de seu pai, monsieur Jean de Saint-Exupéry, Antoine foi ter uma infância feliz ao lado da mãe, dos três irmãos e da tutora austríaca Paula no velho castelo da tia avó materna, Madame de Tricaud, em Saint-Maurice de Rémens.

Neste tempo, o melhor amigo de Antoine era um velho fogão... aos 12 anos já escrevia versos como este em louvor das máquinas de voar "Les ailes frémissaint sous le souffle du soir" (Asas fremiam à brisa do crepúsculo).

Apaixonado desde a infância pela mecânica, estudou a princípio no colégio jesuíta de Notre-Dame de Saint-Corix, em Mans, de 1909 a 1914. Neste ano da Primeira Guerra Mundial, juntamente com seu irmão François, transfere-se para o colégio dos Maristas, em Friburgo, na Suíça, onde permanece até 1917. Quatro anos mais tarde, em abril de 1921, Antoine inicia o serviço militar no 2º Regimento de Aviação de Estrasburgo, tinha dificuldades de se ajustar à disciplina da realidade; entregando-se a devaneios, fazia poesias, sonhava acordado, foi reprovado nos exames para admissão da Escola Naval.

Após a doce infância, a dura realidade de sua juventude contrastaria com o conto de fadas vivido em Saint-Maurice.

Nessa época, seus colegas de juventude descreviam Antoine como um “jovem tímido e introspectivo, e com tendência a súbitas mudanças de humor, transformando-se, rapidamente, de uma pessoa cheia de vida a uma atitude calada; pouco sociável e indócil, sofria, porque queria ser amado.”

Falhara irremediavelmente no concurso para ingresso na escola naval, porque ultrapassara a idade limite; então, foi estudar arquitetura. Foi um período “sociável” de Antoine, mas uma época insípida, porque, embora gostasse de desenhar, não estava feliz com os estudos de arquitetura. Quando Antoine foi convocado para servir no Segundo Regimento da Força Aérea, em 02 de Abril de 1921, ele sentiu a chance de encontrar o seu verdadeiro caminho: A aviação.

A paixão de Antoine por aviação era antiga; nos tempos de infância, próximo ao castelo de Saint-Maurice, havia uma pista de aviação, na qual ele sempre espionava o vem-e-vai de pilotos e mecânicos, admirando-lhes a dedicação ao novel meio de transporte e o clima de camaradagem entre eles.

Em um dia do ano de 1912, um famoso piloto, Vedrines, levou Antoine para um passeio de avião. Este dia tornou-se inesquecível para Antoine, que descobriu que tinha alma de piloto de avião; sua bicicleta, ele transformou em um “avião”, fixando nela um par de asas...

Mas, no Segundo Regimento da Força Aérea de Strasbourg, Antoine logo se desiludiu: Eles não o haviam convocado para o pessoal de vôo, e sim como assistente de serviços de terra. Nesta ocasião, deprimido, como de costume, ele revelou sua tristeza a sua mãe, em uma carta:

À noite, sinto-me um pouco triste. Venha algum dia a Strasbourg. Sinto-me um tanto sufocado neste lugar. Eu estou sem perspectivas. Eu preciso me dedicar a algo que eu goste. Mãe, se você soubesse o quanto é irresistível o meu desejo de voar! Se eu não conseguir meu objetivo, eu serei muito infeliz... Mas eu vou conseguir” (1921)

A 17 de junho, obtém em Rabat,para onde fora mandado, o brevê de piloto civil. No ano seguinte, 1922, já é piloto militar brevetado, com o posto de subtenente da reserva. Em 1926, recomendado por amigo, o Abade Sudour,é admitido na Sociedade Latécoère de Aviação, onde começa então sua carreira como piloto de linha, voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar, na mesma equipe dos pioneiros Vacher, Mermoz, Guillaumet e outros.

A falta de recursos para estudar aviação, tendo de se socorrer, constantemente, da generosidade da mãe, talvez, explique a ansiedade de Antoine, a impaciência e os conseqüentes acidentes em que se envolvia.

Definitivamente, Antoine não era um homem de sorte: Sem dinheiro, sem trabalho e moralmente abatido pelo último acidente que o fez perder tudo... Então, longos meses de amargura vieram.

Durante um tempo, quando recuperou-se dos ossos quebrados, foi trabalhar contando telhas; sentia-se prisioneiro entre as quatro paredes do escritório de quatro metros quadrado, atrás das barras de intermináveis colunas de números.

Em 1923, Antoine se descrevia, em cartas a sua mãe, como um patético, vivendo uma situação desprezível e desalentadora. Sua vida era dividida entre o escritório e o quarto de hotel onde vivia. Sua alegria era pilotar, aos finais de semana, quando tinha dinheiro para tanto... Então, seu entusiasmo não tinha limites:

Mãe, Domingo eu fui dar uma volta de avião. Tive um bom vôo. Eu adoro voar. Você não pode imaginar a calma e a solidão que se encontra a 4.000 metros de altitude, sozinho com o motor.”

Em 1924, um novo emprego: Representante de vendas de caminhão; então, viajava o tempo todo para muitos lugares, mas, em quinze meses, vendeu apenas um caminhão... Através de uma parente distante, Antoine conheceu Jean Prevost, o qual publicou alguns de seus escritos na edição de Abril (1926) da revista “Navire d’argent”. O Piloto, era a estória de um instrutor de vôo que, como ele, tinha depressão quando abandonava seu avião. O Piloto foi um sucesso. Nesta ocasião, conheceu Beppo de Massimi, um dos idealizadores da Companhia Aérea Latdcoe’re, que o apresentou ao inflexível e perspicaz Didier Daurant.

Antoine queria ser piloto da empresa e teve sucesso na entrevista com Daurant que, no entanto, mandou Antoine para o galpão de mecânica primeiro, como fazia com todos que queriam ser pilotos.

Alguns meses mais tarde, Antoine já voava entre Toulouse-Rabat; depois, Dakar-Casablanca, num perigosíssimo percurso de 2.765 quilômetros sobre território africano. Realizado, escreveu a sua mãe, em 1926: “Estou bem e feliz”.

Em 1927, Didier Daurant designou Antoine para assumir uma base da empresa em Cape Juby, entre Casablanca e Dakar, cuja missão seria a de resgatar pilotos franceses civis que caíssem no deserto, os quais não podiam contar com o auxílio das forças espanholas em território dissidente; muitos pilotos tinham tido suas gargantas cortadas no deserto e Daurant precisava de alguém que tivesse diplomacia para lidar com os militares espanhóis, a fim de obter permissão para construção de uma pista de pouso no deserto; ainda, tinha que ser um homem corajoso e disposto a voar, a qualquer hora, para resgatar seus companheiros que caíssem no deserto do Saara. De fato, ninguém mais apropriado para tal missão que “Saint-Ex”.

Porém, Antoine viveu ali um fim de mundo, solidão, silêncio e isolamento, cercado pelo mar de um lado e pelo deserto do outro, precariamente instalado em uma barraca que repartia com o mecânico “Toto”, dormindo em um colchão fino, com uma jarra de água e bacia de lavar o rosto, com sua máquina de escrever e alguns papéis timbrados da empresa. Antoine conquistou a confiança dos militares espanhóis e, ainda, através das crianças, a amizade dos árabes, com os quais podia contar para resgatar pilotos que caíam no deserto. Nestes tempos, escreveu seu primeiro livro, Southern Mail, sobre uma tábua apoiada em dois barris. Depois de dezoito meses em Cape July, a missão de Antoine fora ali mais do que cumprida e, como resultado de seu esforço, foi condecorado. Quando chefiou o posto de Cap Juby,que os mouros lhe deram o cognome de senhor das areias.

Em seguida, Didier designou Antoine, em Outubro de 1929, como gerente chefe da companhia Aeroposta-Argentina, com a missão de abrir novos caminhos para a companhia na costa da América Latina; mesmo ganhando 225 mil francos por ano, Antoine não se sentia completamente feliz.

Todavia, foi neste período em que escreveu seu segundo livro, Night Flight, que fez um sucesso fabuloso entre o público. Mas, seus amigos o reprovaram, acusando Antoine de haver distorcido a verdadeira realidade existente na vida dramática dos pilotos que faziam os vôos noturnos.

Em 1931, Antoine casou-se com Consuelo Suncin. A Aeroposta Argentina entrou em declínio e Antoine foi demitido, voltou ao posto de simples piloto, fazendo os vôos noturnos entre Casablanca e Dakar. Porém, o governo francês transformou todas as empresas aéreas em apenas uma, a Air France, e Antoine voltou a estaca zero, com um trabalho apático de piloto de teste na companhia Latecoere, em 1932. Antoine é um péssimo piloto de testes e é obrigado a desistir deste trabalho. Em 1935, passa a viajar pela França e no exterior pelo departamento de propaganda da Air France. Então, começa a escrever artigos para o jornal “Paris Soir”; seus artigos fazem sucesso, sua situação financeira melhora e ele compra seu avião, o “Simoun”.

Ao comprar o “Simoun”, um de seus projetos era bater o recorde de velocidade entre Paris e Saigon. Em 29 Dezembro de 1935, Antoine e seu mecânico Prevot caíram no deserto, onde passaram cinco dias morrendo de sede, tendo miragens e quase morreram, quando, então, foram resgatados por beduínos. Esta experiência serviu de pano de fundo para o Pequeno Príncipe.

Apesar de ter quase morrido no deserto, Antoine não perdera a coragem, nem a fascinação pelo perigo. Ia levando a vida exercendo o jornalismo. Pelo jornal “O Intransigente”, foi enviado à Barcelona para acompanhar a guerra civil, onde Antoine passou pela amarga experiência de presenciar atrocidades.

Passados já alguns anos da fracassada aventura Paris-Saigon, Antoine estava pronto para outra: Uma corrida aérea entre Nova Ioque e Tierra del Fuego; ao decolar de uma pista na Guatemala, houve um sério acidente: Antoine teve traumatismo craniano, quase perdeu o ombro esquerdo e permaneceu em coma por vários dias em Nova Iorque. Demorou muitos meses para que Antoine se recuperasse e, durante este período, ele escreveu um novo livro, Wind, Sand and Stars, um livro de memórias sobre seus dez anos de pilotagem e velhos amigos dos tempos da rota Toulouse-Dakar, os pilotos Mermoz e Guillaumet. Em Maio de 1939, recebe o Grande Prêmio da Academia francesa. Quatro meses depois, eclodia a Segunda Grande Guerra.

Neste tempo, Antoine é capitão da reserva da Força Aérea de Toulouse. Mas, sua idade (39 anos) e seu estado de saúde (ombro semi-paralítico) o impedem de realizar missões aéreas. Porém, Antoine não se conformou com a idéia de ficar na reserva, e passou a envidar todos os esforços para poder participar de missões aéreas durante a guerra. Tanto se esforçou que convenceu o General Davet que, por sua vez, convenceu seus superiores de que, na força aérea, o que importa “não é a condição física do coração, mas sua dedicação.”

Assim, em 03 de Novembro de 1939, foi designado para o esquadrão de reconhecimento em Orconte, na província de Champagne. As experiências em Orconte, Antoine descreveria em Flight to Arras.

Em 22 de Junho de 1940, a França assinou um armistício de derrota e Antoine, sentindo-se extremamente humilhado, abandonou seu país, partindo para Nova Iorque. A França estava sob o jugo do domínio alemão e, por isso, o livro Flight to Arras, lido por um grande público americano, teve sua distribuição proibida pelos alemães na França.

Antoine permaneceu por dois anos nos Estados Unidos, correspondendo-se, por carta, com o jornalista Léon Werth, um amigo que vivia na França ocupada pelos alemães. Estas cartas foram publicadas em Fevereiro de 1943 e, em Abril do mesmo ano, foi publicado o Pequeno Príncipe, que recebeu um fria recepção do público. Ninguém poderia imaginar que, da literatura de Antoine, seria produzido um livro como o Pequeno Príncipe, que se constituía de uma curta história para crianças, onde os animais falavam. Era inimaginável, para muitos, que um homem de ação, e com o perfil de um herói como Antoine, pudesse escrever histórias para crianças.

Todos que conheceram Antoine sabem que, sempre que tinha qualquer pedaço de papel às mãos, fosse um guardanapo de restaurante ou um papel de carta, ele desenhava crianças. Questionado, certa vez, pelo seu editor, nos Estados Unidos, Curtice Hitchcock, o que desenhava, ele respondeu: “Nada demais, apenas a criança que existe no meu coração”, ao que o editor lhe replicou que ele deveria escrever a história daquela criança em um livro de crianças. Daí, talvez, haver nascido o livro Pequeno Príncipe, cujos desenhos foram feitos pelo próprio Antoine, sem a ajuda de profissionais, de modo que as ilustrações pudessem ter a mesma simplicidade e a mesma doçura do caráter daquela curta história.

O Pequeno Príncipe foi, ao mesmo tempo, o mais simples e o mais profundo livro escrito por Antoine; superficialmente, é uma pequena história para crianças, mas, na realidade, é a história de uma criança escrita para os adultos. O Pequeno Príncipe foi “a criança que vivia dentro de Antoine, que o emocionava e o guiava, a criança que o fazia levantar nos momentos cruciais de sua vida, que o prevenia de tomar decisões estúpidas como muitos adultos que acreditam em números, em demonstrações, na seriedade da lógica mais do que na seriedade do coração”.

Em 1942, os Estados Unidos decidem entrar na Grande Guerra e desembarcam no Norte da África; após publicar o Pequeno Príncipe, Antoine segue para Algiers para se juntar a seus companheiros, sob o comando americano, no esquadrão 2/33.

Os americanos equipam o esquadrão com aeronaves Lightning P-38, que alcançam velocidades de até 700 Km/h; para pilotá-las, não podem os pilotos ter mais de 35 anos; aos 43 anos e com um ombro paralisado, Antoine seria excluído da pilotagem, mas, graças às suas amizades influentes, obtém autorização para pilotar os Lightning P-38.

Depois dos 40 anos queria continuar voando em missões de guerra, numa idade que já era excessiva para tal tarefa. Tentou durante vários meses, até que no final conseguiu retornar a sua esquadrilha de reconhecimento. Além das razões patrióticas, havia outra de muita importância pessoal: continuar desfrutando do vôo.

Não suportava os trabalhos administrativos e burocráticos, se bem que teria exercido um papel mais útil se os aceitasse, tendo em vista suas relações e influência. Não obstante, usou essas mesmas relações para obter a autorização de vôo, após vários meses de negativas por parte do comando aliado. A partir daí começa a ter lugar uma seqüência de fatos que acabaram por levar Saint-Exúpery ao desenlace fatal, em 31 de julho de 1944, quando desapareceu junto com seu avião.

Em 6 de junho decolou em sua primeira missão, que era fotografar vários objetivos simples na região da Marselha; um incêndio em seu motor esquerdo obrigou-o a voltar antes de chegar à zona do objetivo.

A segunda missão foi em 15 de junho, e quase desmaiou quando o regulador de oxigênio apresentou um defeito. Em 24 de junho aterrissou pensando que tudo ia bem, quando notou que não conseguia parar uma das hélices e que um único motor fazia todo o trabalho. Como diz Curtis Cate, seu biógrafo, "era um exemplo dessa distração que fazia sacudir a cabeça de seus camaradas". Sua idade e condições físicas são incompatíveis para a pilotagem dos P-38; Antoine é cortado do esquadrão.

Em 29 de junho de 1944, dia de seu aniversário, a missão em pauta era fotografar a região do lago de Annecy, à qual associava profundas e numerosas lembranças de infância. O turno cabia a outro piloto, mas ele suplicou que trocassem, quase como um presente de aniversário, para voltar a percorrer aquela região de tantas lembranças. Logo depois de decolar, perdeu um motor; sabia-se assim alvo fácil para um caça alemão, razão pela qual fez um desvio para os Alpes, onde havia menos bases inimigas e ele teria a possibilidade de mergulhar num vale se visse um caça à distância. Abaixo de seu avião, as montanhas se transformavam pouco a pouco em bases de encostas e colinas. De repente, descobre uma planície, nela uma grande cidade, e ao redor numerosas pistas de aviação. Em sua traseira aparece um caça: "Enfio a cabeça na cabine e espero. Meu pobre Antoine, desta vez estás acabado. Uma última lembrança, todos os que me esperam esta tarde, vigiando o horizonte... mas por que demora tanto a morte?". O caça o tomara por um amigo. "Reconheço Gênova e ao mesmo tempo volto a ver as muitas bandeirolas cravadas sobre esta cidade; é uma cidade muito protegida".

Em carta que escreveu a seu amigo Pellissier diz: "Exerço uma estranha profissão para minha idade. O mais velho, depois de mim, tem seis anos menos do que eu. Mas prefiro esta vida: o café da manhã às 7 horas, a comida, a tenda de campanha ou o quarto pintado de cal, em seguida, 10.000 metros de altitude em um universo inédito: é melhor que o ócio atroz de Argel" (lugar onde se refugiara quando da queda da França ante os alemães) "Para mim é impossível descansar e trabalhar na provisoriedade do limbo. Ali me falta o sentido social. Mas escolhi o gasto máximo e, como sempre, terei que ir até o extremo de mim mesmo, e não retrocederei. Desejo que esta sinistra guerra termine antes que me tenha extinguido por completo, como uma vela em combustão. Tenho outro trabalho para fazer mais adiante".

Além destes fatos, houve outros que puseram em perigo sua vida, todos relacionados com esquecimentos e distrações. Dizia simplesmente, "terminarei como meus amigos" (fazendo referência ao fato de que era o último que restava de seus velhos camaradas da AeroPostale). Em uma despedida disse: "estou seguro que não voltarei a vê-la".

Por oito meses, Antoine usa de todos os recursos para convencer pessoas influentes a ajudá-lo a retornar às missões de vôo; passa por períodos de depressão, ao mesmo tempo em que dá continuidade ao livro The Wisdom of the sands, publicado após a sua morte.

Finalmente, o Coronel Chassin, que conhecia Antoine por muitos anos, consegue convencer o General americano Eaker a deixar Antoine reintegrar-se ao esquadrão aéreo, desta vez, na Sardinia, sob a condição de que não faria mais do cinco missões de reconhecimento; contudo, estas cinco missões se transformaram em oito, porque Antoine sempre se oferecia para as missões subseqüentes.

No dia 31 de Julho de 1944, às quinze para as nove da manhã, Antoine saiu em sua nona missão, com o objetivo de fotografar Grenoble e Annecy. Uma e meia da tarde, Antoine não tinha voltado, quando ainda lhe restava apenas mais uma hora de combustível. Às duas e meia da tarde, seus companheiros suspeitaram que o pior havia acontecido.

Em 1998, um pescador (Habib Benamor) encontrou na rede que lançara ao fundo do mar uma pulseira que pertencera Exupéry.

Cinco anos antes (1993), o banco central francês lançou uma nota de cinqüenta francos com o seu retrato ao lado do Pequeno Príncipe.

Intensas pesquisas no fundo do mar próximo à Ilha de Riou foram envidadas pelo engenheiro e especialista na exploração de naufrágios Henri-Germain Delauze. O mergulhador profissional Luc Vanrell, que havia fotografado escombros metálicos naquela região (em 1982), passou a mergulhar naquela área do mar em busca de restos do avião de Exupéry, um P.38 F-5B da série J.

O DRASSM (departamento de arqueologia submarina do Ministério da Cultura francês) autorizou em 2003 uma pesquisa formal nos destroços encontrados pelos exploradores. Delauze e Vanrell passaram a trabalhar juntos. 10% da aeronave foi resgatada (uma peça de alumínio da fuselagem, um turbocompressor, componentes hidráulicos e elétricos). Philippe Castellano, historiador amador e mergulhador, foi chamado para ajudar na identificação das peças içadas à superfície pelo barco Minibex. Entre elas, Castellano encontrou o número 2734 gravado. Estava confirmado: Aquele avião era o de Exupéry...

Teria Exupéry escondido no fundo do mar o seu avião e viajado para o asteróide B 612 para juntar-se ao seu pequeno príncipe?

Uma carta foi encontrada no quarto de Exupéry. Estava endereçada ao General, a qual dizia em resumo:

Eu não me importo se eu morrer na guerra, ou se eu me transformar em alvo destes torpedos voadores, os quais nada têm de verdadeiramente voadores, e que transformam o piloto em um contador por meio de indicadores e botões. Mas, seu eu voltar vivo desta ingrata, mas necessária “tarefa”, haverá apenas uma questão para mim: O que se pode dizer à humanidade? O que se tem que dizer à humanidade?”

Suas Obras

Suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviação, a guerra. Também escreveu artigos para várias revistas e jornais da França e outros países, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França.

No entanto, deve-se dar uma atenção a este último, O pequeno príncipe (O Principezinho, em Portugal) (1943), romance de maior sucesso de Saint-Exupéry. Foi escrito durante o exílio nos Estados Unidos, quando fez visitas ao Recife. E para muitos era difícil imaginar que um livro assim pudesse ter sido escrito por um homem como ele.

O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geógrafo, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.

É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

Principais Obras
O aviador (1926);
Correio do Sul (1928);
Vôo Noturno (1931);
Terra de Homens (1939);
Piloto de Guerra (1942);
O Principezinho (pt) (1943).
Cidadela (1948)-
Cartas ao Pequeno Príncipe


Fontes
http://www.edmundolellisfilho.com/
http://pt.wikipedia.org/
Constelar on Line Edição 108 :: Junho/2007. http://www.constelar.com.br/

Antoine de Saint - Exupéry (O Pequeno Príncipe)

O narrador recorda-se do seu primeiro desenho de criança, tentativa frustrada de os adultos entender o mundo infantil ou o mundo das pessoas de alma pura. Ele havia desenhado um elefante engolido por uma jibóia, porém os adultos só diziam que era um chapéu. Quando cresceu, testava o grau de lucidez das pessoas, mostrando-lhes o desenho e todas respondiam a mesma coisa. Por causa disto, viveu sem amigos com os quais pudesse realmente conversar.

Pelas decepções com os desenhos, escolhera a profissão de Piloto e, em certo dia, houve uma pane em seu avião, vindo a cair no Deserto de Saara. Na primeira noite, ele adormeceu sobre a areia. Ao despertar do dia, uma voz estranha o acordou, pedindo para que ele desenhasse um carneiro. Era um pedacinho de gente, um rapazinho de cabelos dourados, o Pequeno Príncipe.

O narrador mostrou-lhe o seu desenho. O Pequeno Príncipe disse-lhe que não queria um elefante engolido por uma jibóia e sim um carneiro. Ele teve dificuldades para desenhá-lo, pois fora desencorajado de desenhar quando era pequeno. Depois de várias tentativas, teve a idéia de desenhá-lo dentro de uma caixa. Para surpresa do narrador, o Pequeno aceitou o desenho. Foi deste modo que o narrador travou conhecimentos com o Pequeno Príncipe. Ele contou-lhe que viera de um planeta, do qual o narrador imaginou ser o asteróide B612, visto pelo telescópio uma única vez, em 1909, por um astrônomo turco.

O pequeno Planeta era do tamanho de uma casa. O Pequeno Príncipe contou o drama que ele vivia, em seu Planeta, com o baobá, árvore que cresce muito; por este motivo, ele precisava de um carneiro para comer os baobás enquanto eram pequenos. Através do Pequeno Príncipe, o narrador aprendeu a dar valor às pequenas coisas do dia-a-dia; admirar o pôr-do-sol, apreciar a beleza de uma flor, contemplar as estrelas... Ele acreditava que o pequeno havia viajado, segurando nas penas dos pássaros selvagens, que emigravam.

O Príncipe conta-lhe as suas aventuras em vários outros planetas: o primeiro era habitado por apenas um rei; o segundo, por um vaidoso; o terceiro, por um bêbado; o quarto, por um homem de negócios; o quinto, um acendedor de lampião; no sexto, um velho geógrafo que escrevia livros enormes, e, por último, ele visitou o nosso Planeta Terra, onde encontrou uma serpente, que lhe prometeu mandá-lo de volta ao seu planeta, através de uma picada. No oitavo dia da pane, o narrador havia bebido o último gole de água e, por este motivo, caminharam até que encontraram um poço. Este poço era perto do local onde o Pequeno Príncipe teria que voltar ao seu planeta. A partida dele seria no dia seguinte. Falou-lhe, também, que a serpente havia combinado com ele de aparecer na hora exata para picá-lo. O narrador ficou triste, ao saber disto, porque tomara afeição ao Pequeno. O Príncipe lhe disse para que não sofresse, quando constatasse que o corpo dele estivesse inerte, afirmando que devemos saber olhar além das simples aparências. Não havia outra forma de ele viajar, pois o seu corpo, no estado em que se encontrava, era muito pesado. Precisava da picada para que se tornasse mais leve.

Chegado o momento do encontro com a serpente, o Pequeno Príncipe não gritou. Aceitou corajosamente o seu destino. Tombou como uma árvore tomba. E assim, voltou para o seu planeta, enfim. O narrador, dias mais tarde, conseguiu se salvar, sentindo-se consolado porque sabia que o Pequeno Príncipe havia voltado para o planeta dele, pois ao raiar do dia seguinte à picada, o corpo do Pequeno não estava mais no local. Hoje, ao olhar as estrelas, o narrador sorri, lembrando-se do seu grande Pequeno amigo.

Obs.:O Pequeno Príncipe, embora pareça um livro escrito para crianças, é uma obra urgentíssima para adultos. Suas palavras possuem conotações mais profundas, que não poderão ser notadas em uma simples leitura. Esta obra pode ser considerada como Fábula, ou se preferir, Parábola.

Fonte
http://www.netsaber.com.br/

O Pequeno Príncipe (Análise sob o olhar da Psicanálise)

Oh! Ultrapassei as imperiosas
fronteiras da terra,
E dancei nos céus
com alegres asas de prata;
Em direção ao sol subi,
e com o coração leve fui parte das
alturas, das nuvens entre as quais passa o sol
e fiz muitas coisas
Que você nunca sonharia
- girei e subi direto
E balancei-me no ar,
Bem alto no silêncio iluminado pelo sol.
Planando lá,
Persegui o vento que assobiava,
e bruscamente virei e levei
Meu ansioso aparelho através
de corredores no ar suspensos.
(Vôo Alto, John Magee)

É difícil dizer se é lícito interpretar uma obra artística através de seu autor, ainda mais num caso como O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, cuja repercussão foi tão grande a ponto de converter-se em pouco tempo num clássico da literatura.

Segundo a a psicologia Junguiana todo artista é como o leito de uma correnteza da alma coletiva. Mas o próprio artista, em sua consciência, é marcado por esta inundação. Como diz Jung, "dificilmente haverá um homem criativo que não tenha que pagar caro pela divina centelha do poder".

Partindo desta premissa, podemos dizer que O Pequeno Príncipe é certamente um personagem que, apesar de possuir elementos da psicologia pessoal do autor, ultrapassa-o e configura uma mensagem à humanidade.

O romance O Pequeno Príncipe coloca em evidência, logo de início, a disparidade entre o pensamento infantil e o pensamento adulto, cada um com a esfera de interesses que lhe é própria, como dois mundos de difícil conciliação. Tanto que o narrador é tomado por um profundo sentimento de solidão, como ele mesmo declara: "Vivi assim, sozinho, sem ninguém com quem verdadeiramente falar ..." De fato, parece que não encontrava com quem compartilhar sua vivência pessoal. Isto posto, era de se esperar que algo acontecesse. E logo o autor acrescenta: "...até que tive uma avaria no deserto do Saara, faz 6 anos"."Era uma questão de vida ou morte". Desta maneira inicia-se O Pequeno Príncipe, que Saint-Exupéry começou a escrever no verão de 1942 e que está baseado em um fato que lhe ocorrera seis anos antes, no Ano Novo de 1936. Naquela ocasião seu avião caiu no deserto, e "tanto o tanque de água quanto o tanque de combustível foram perfurados. Tínhamos por toda provisão uma laranja, algumas uvas passas, um quarto de litro de vinho branco num recipiente térmico, um pouco de café em outro". "Estávamos privados de água por destruição de nossas reservas e incapazes de nos localizarmos no deserto com uma margem de precisão de 300 quilômetros", de acordo com o que o próprio Saint-Exupéry descreve em relatório. Esteve quase quatro dias perdido até que foi encontrado por um beduíno. "Tinham visto miragens magníficas: oásis, camelos, cidades. Prévot, seu companheiro de aventura, tinha ouvido um galo cantar. Saint-Exupéry tinha visto em sua alucinação três cães que se perseguiam mutuamente".

Em 26 de abril de 1934 Saint-Exupéry ingressa na Air France como piloto. Já fora recusado no ano anterior.

Possuía uma tremenda energia posta a serviço de atividades muito dinâmicas e rápidas, que implicam em parte a ampliação de horizontes intelectuais ou vivenciais. Foi um pioneiro da aviação, que trabalhou fazendo correio aéreo em diversas partes do mundo, tendo aberto, inclusive, a primeira linha aeropostal da Patagônia. Era alguém com presunções aristocráticas ou de auto-importância, pois nosso herói procedia de família nobre e herdou o título de conde de seu pai, mas, nunca fez alarde disso.

Caracterizava-se por uma excessiva audácia, por um sentimento exagerado de confiança, levando às vezes a realizar atos imprudentes. De fato, seu biógrafo relata o contexto da realização da acidentada viagem. Apesar de sua situação econômica não andar muito boa, Exupéry não resistiu à tentação de comprar um avião, se bem que esperasse tirar proveito disso: o Ministério da Aeronáutica da França oferecia um prêmio de 150.000 francos a quem batesse o recorde de tempo no trajeto Paris-Saigon. Exupéry conseguiu inclusive que um periódico aceitasse publicar uma reportagem sobre o vôo. Mas sua situação econômica piorou tanto que não pôde pagar o aluguel do apartamento onde vivia com a esposa Consuelo, e ainda lhe cortaram a luz e o gás. "Nunca havia passado por uma situação semelhante. Não restava mais do que um modo de sair dela: bater o recorde Paris-Saigon".

"Saint-Exupéry se encontrava visivelmente num estado nervoso pouco propício para embarcar numa experiência fisicamente exaustiva".

Em 1935, tentado pela possibilidade de ganhar 150 mil francos, Saint-Exupéry se lança à corrida Paris-Saïgon. O desafio era ligar as duas capitais em menos de cinco dias e quatro horas. A partida acontece em 29 de dezembro. Em 30 de dezembro, às 2h45 da madrugada, a aeronave se espatifa ao atingir a crista de um planalto. Durante três dias o piloto e o mecânico Jean Prévot caminham pelo deserto, sofrendo de sede, até serem resgatadospor um beduíno.

Nestas condições empreendeu a aventura que quase o levou a morrer de sede no deserto. Sabemos, por Jung, que quando faltam estímulos exteriores, tal como ocorre num deserto, o inconsciente começa a produzir seus próprios conteúdos, que se extrovertem na tela de projeção vazia que é o próprio deserto. Daí aparecem as alucinações - miragens. Além disso, a ciência médica diz que as extremas condições decorrentes do calor excessivo do deserto e da falta de água, combinados, dão como resultado diversos sintomas físicos: disfunção neurológica, conduta psicótica, delírios e alterações mentais.

Imagino que O Pequeno Príncipe seja um produto tardio desta experiência.

"Estava mais isolado que um náufrago sobre uma balsa no meio do oceano. Imagine, pois, minha surpresa quando, ao romper o dia, despertou uma estranha vozinha que dizia: - Por favor... me desenhe um cordeiro!"

Como uma miragem, surgiu do deserto este homenzinho das estrelas. Desta maneira o inconsciente irrompeu como um fantasma.

Conforme Marie-Louise Von Franz, o homem que se identifica com o Puer Aeternus (Trata-se do nome de um deus da antigüidade. Procede da Metamorfose de Ovídio, onde se aplica ao menino-deus dos mistérios Eleusinos e, do ponto de vista da psicologia profunda de Carl Jung, representa um arquétipo relacionado com a mudança e a renovação) permanece muito tempo na psicologia adolescente "com uma dependência excessiva da mãe".

Jung diz: "o Puer Aeternus só tem uma vida breve, pois sempre é uma mera antecipação de algo desejável e desejado. Isto é tão real que certo tipo de menino mimado ostenta também in concreto as propriedades do adolescente divino que floresce prematuramente, e inclusive sucumbe de morte precoce". Recordemos que Saint-Exupéry morreu aos 44 anos. Sempre teve medo de ver-se colhido por uma situação da qual "poderia ser impossível escapar". Além disso, tinha "uma fascinação por esportes perigosos, especialmente o vôo e o alpinismo".

Seu pai morreu quando ele tinha quatro anos. Manteve pela vida inteira uma prolífica correspondência com a mãe que foi recolhida e publicada, em francês, em 1955. E Jung diz, em uma nota de pé de página, que "o complexo materno deste autor foi abundantemente confirmado por informação de primeira mão".

N'O Pequeno Príncipe, diz o narrador: "tenho sérias razões para pensar que o planeta de onde vem O Pequeno Príncipe é o asteróide B612"

A grande maioria dos asteróides descobertos até agora está numa região exatamente entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Na verdade não existe um asteróide B612, mas sim o 612, cujo nome é Verônica, um nome de mulher, e, além disso, é também uma planta herbácea de flores azuis.

Na obra, o Pequeno Príncipe tem uma relação intensa com uma flor que "havia germinado de uma semente trazida de sabe-se lá onde"- de outro planeta? Na carta de Saint-Exupéry, o significado etimológico desta última palavra é "não lugar". Podemos relacionar a flor com uma Vênus que vem de um não lugar. Isto se vê também em indivíduos com pouco enraizamento na Terra, cuja consciência está em algum não lugar fora da terra, ou seja, extraterrestre. As oposições se manifestam, geralmente, como o que em psicologia se chama projeção, quer dizer, o ver em outra pessoa características que nos são próprias, sejam estas consideradas boas ou más.

A flor se comportava de uma maneira muito coquete, deixando o Pequeno Príncipe fascinado por sua beleza. Mas em pouco tempo a flor já o chateava com seguidas exigências: um dia lhe pediu um biombo porque "sentia horror às correntes de ar", e inclusive forçou a tosse para lhe infligir remorsos. Típica manipulação emocional do tipo materno negativo que tem por finalidade obter a submissão do eu de nosso pequeno herói, impedindo sua maturação. Uma consciência masculina com uma anima, ou seja, com um fundo anímico deste tipo ficaria sempre envolta nesses caprichos "femininos", com duas possibilidades: ou se identifica com eles, configurando uma possível homossexualidade, ou os abandona em busca de uma nova oportunidade. Ambas as possibilidades descritas ainda mantêm a consciência masculina muito perto do complexo materno.

Nosso homenzinho parte, abandonando a flor e o planeta. É como se seu amor frustrado lhe tivesse servido de incentivo para afastar-se do lar e chegar finalmente à Terra.

A flor, para Novalis, é símbolo do amor e da harmonia que caracterizam a natureza primitiva. Identifica-se com o simbolismo da infância e de certo modo com o estado Edênico. Essa flor, como o feminino que há nele, embora ainda muito apegado à mãe. Segundo Jung, a figura do arquétipo da Anima emerge do arquétipo Mãe, e analisando a carta do Saint-Exupéry vemos que é um reflexo de sua psicologia pessoal.

Mas a flor não é apenas símbolo do feminino, é também do renascimento primaveril e da totalidade em sua manifestação plena, ou seja, o que Jung chamaria o Si mesmo, e nesta história funciona como um indicador do processo por desenvolver.

O asteróide 325 leva o nome de Heidelberga (30) faz referência à cidade alemã de Heidelberg, conhecida por ter a universidade mais antiga deAlemanha, imortalizada na opereta de Sigmund Romberg intitulada O príncipe estudante. Na obra, o Pequeno Príncipe corresponde a um reino sem súditos e coincidiria com o momento em que o puer percebe que é rei de um mundo solitário que não tem contato com a realidade.

Svea, o asteróide que corresponde ao faroleiro, que acende o farol cada vez que o sol se põe e o apaga em cada amanhecer. O habitante deste diminuto planeta parece que é o encarregado de iluminar a noite - a luz da consciência, o que indica uma pequena esperança para nosso Pequeno Príncipe. É digna de nota a aceleração do processo, já que a duração do dia deste asteróide vai-se acelerando até chegar a um dia por minuto terrestre. Provavelmente terei que pensar na circulação da luz, e citando Jung, "psicologicamente, esse curso circular seria um dar voltas em círculo em torno de si mesmo, com o que evidentemente ficam implicados todos os aspectos da personalidade.

Outra questão importante neste asteróide é que o faroleiro é o primeiro que faz algo que não é para ele, como observa o próprio Pequeno Príncipe.Possivelmente o faroleiro só se põe a serviço de uma finalidade superior, que para Jung seria o Si mesmo, coisa que ainda não pode fazer, por exemplo, na etapa do homem de negócios, que pretende apropriar-se do que pertence à totalidade (as estrelas).

Por último, antes de chegar à Terra, faz uma parada no asteróide Adalberto, onde encontra um Geógrafo, etimologicamente alguém que desenha a Terra.

Agora passarei a falar do simbolismo da escada, ou da escala, como diz o Dicionário dos Símbolos de Chevalier. "Os diferentes aspectos do simbolismo da escada se reduzem ao único problema das relações entre céu e terra" A escada pode ser esculpida em uma árvore, na rocha, ou também pode ser de matéria aérea, como o arco-íris; ou de ordem espiritual, como os degraus da perfeição interior. Mas a escada pode igualmente ser utilizada pela divindade para descer do céu à terra", e neste sentido é um instrumento das epifanias divinas, mas também veículo de encarnação das almas. "No Timor Leste, o Senhor Sol, divindade suprema, baixa uma vez ao ano a uma figueira para fecundar sua esposa, a Terra Mãe".

Os xamãs siberianos sobem ao céu e voltam a descer por uma bétula com sete entalhes (ou 9 ou 12), a escada de Buddha tem sete cores, a escala dos mistérios mitraicos sete metais, a escada de Jacob, por onde sobem e baixam os anjos, etc, são diferentes exemplos do sentido da escala ou escada na história religiosa mundial; e não esqueçamos, que nosso Pequeno Príncipe baixou sua escada de 6 asteróides e planetas, chegando à Terra, como sétimo.

Por último transcrevo uma tradução de um texto de Macróbio, um platônico latino do século IV, Comentário a um Sonho de Cipião: "A alma, ao começar seu movimento descendente desde a intercessão do zodíaco com a Via Láctea até as esferas sucessivas inferiores, ao cruzar estas esferas, não apenas adota o envoltório de cada uma das esferas, aproximando-se de um corpo luminoso, mas também adquire cada um dos atributos que exercitará mais tarde, ou seja: na esfera de Saturno adquiriria a razão e a compreensão...; na esfera de Júpiter, a capacidade de atuar...; na esfera de Marte, um espírito intrépido...; na esfera do Sol, a percepção dos sentidos e a imaginação...; na esfera de Vênus, o impulso passional; na esfera de Mercúrio, a capacidade de falar e de interpretar...; e na esfera da Lua, a capacidade de semear e de cultivar corpos...".

Como poderíamos interpretar, do ponto de vista psíquico, esta viagem interplanetária, ou mais exatamente, inter-asteróides? Para isso deveremos rever as teorias astronômicas que tratam da origem destes diminutos corpos celestes.

Há duas teorias sustentadas pelos astrônomos:

A primeira diz que seriam o resultado da fragmentação de um antigo planeta, pois segundo uma tese astronômica, deveria haver um planeta entre Marte e Júpiter. A segunda, que seriam porções de matéria cósmica que nunca teria chegado a formar um corpo celeste maior. Estas duas possibilidades enfatizam a polaridade integração-desintegração, que, se interpretada simbolicamente do ponto de vista psíquico, tem, como já veremos, sérias conseqüências, inclusive para nosso tema.

Assim como se considera em astrologia que o Sol é a fonte primária da energia que o restante dos planetas reflete, na psique humana existem fragmentos que são chamados complexos que formam parte do que, para Jung, é o inconsciente pessoal. Estes complexos são conglomerados de tonalidade afetiva, quer dizer, são como centros de força que atraem certo tipo de experiências. Assim se pode falar do complexo materno, do paterno ou de um complexo de poder, etc. Os planetas, segundo este ponto de vista, podem ser entendidos como complexos.

O objetivo do trabalho terapêutico seria a integração à consciência destes fatores inconscientes, que tendem a ter certa autonomia. Os asteróides, neste contexto, podem ser entendidos da mesma maneira, quer dizer, como aspectos cindidos a serem integrados na consciência.

O Pequeno Príncipe, através da viagem para a Terra, no processo encarnatório, foi encontrando seus diferentes complexos.

E Saint-Exupéry, o autor, já vimos que era conde, nascera na cidade de Lyon, pertencia a uma família nobre de província que descera na escala social, embora conservasse algumas propriedades familiares, mas seu pai trabalhava para uma companhia de seguros. Aqui vislumbramos possivelmente o rei sem súditos do primeiro asteróide. Saint-Exupéry não só escreveu O Pequeno Príncipe, mas também elaborou mais três novelas, além de muitos artigos e cartas. Em 1939 recebeu o prêmio da Academia Francesa de melhor novela do ano por Terra de Homens, e no mesmo ano recebeu o National Book Award do EUA por obra de não ficção.

Em todas as suas obras e cartas expressa um elevado nível de idéias, com um exacerbado idealismo que se manifesta também em artigos jornalísticos e como correspondente de guerra na Espanha, nas épocas mais sombrias daquele país. E apesar de ter combatido como piloto de guerra no exército aliado, ter participado de mil aventuras, haver-se comprometido politicamente nas difíceis horas da França ocupada, continuava tendo um irrefreável desejo de vôo. Diz em uma carta de 1944, o ano de sua morte: "Faço a guerra o mais profundamente possível. Sou, por certo, o decano dos pilotos de guerra do mundo... Vi de tudo desde minha volta à esquadrilha. Conheci as avarias da máquina, o desmaio por vazamento do tanque de oxigênio, a perseguição por caças, e também o incêndio em vôo. Pago bem. Não sou avaro, e me sinto um carpinteiro são. É minha única satisfação. E também passear em vôo solitário, somente eu e meu avião, durante horas sobre a França, tirando fotografias. É uma coisa estranha."

Na mesma carta diz mais adiante algo que é como a confissão do rei sozinho, e que além disso é quase um preâmbulo da aparição do jovem das estrelas na obra O Pequeno Príncipe: "Não tenho ninguém, nunca, com quem falar. Isso já é alguma coisa. Tinha com quem viver (refere-se à separação de sua esposa), mas que solidão espiritual!!"

Ou seja, havia vivências ou formas de pensar ou de entender o mundo que Saint-Exupéry não encontrava com quem compartilhar, um mundo como o daquele rei aquariano a que fizemos referência.

É difícil dizer se realmente nosso escritor deu materialidade à vida, como sugere a simbólica da escada cósmica, ou na realidade concretizou o processo inverso de espiritualização ou de busca espiritual, que, em sua forma mais concreta, levou-o a morte.

E aqui podemos ver o que acontece com o Pequeno Príncipe: ele volta para seu asteróide fazendo-se picar por uma serpente do deserto. Textualmente: "Parecerá que sofro... parecerá um pouco que morro". Também: "Parecerá que morri, e não será verdade..." e ainda: "é muito longe. Não posso levar meu corpo ali. É muito pesado."

Parece que nosso Pequeno Príncipe desejava voltar para o lugar de onde veio, e sem o corpo, quer dizer, em espírito.

E Saint-Exupéry também tinha esse desejo espiritual irrefreável que leva certas almas a desdenhar a vida corpórea, pondo-a em perigo, para poder viver uma vida mais alta, uma vida espiritual.

Não devemos vasculhar apenas a psicologia pessoal do escritor para compreender-lhe a obra artística: temos que compreender também que mensagem coletiva deve manifestar, e que relação tem o conteúdo da obra com a consciência de sua época.

Se existe algo que seja característico deste personagem, é sua ingenuidade, esse dom antigo que faz pensar no paraíso, no "pastarão juntos o leão e o cabrito" da Bíblia. O Pequeno Príncipe é um ser que nos remete ao princípio, ao paraíso terrestre original, razão pela qual, ao voltar a seu asteróide, é picado por uma serpente, que é como o ouroboros da alquimia, a serpente que morde a própria cauda, que é a roda interminável da origem sempre voltando para si mesma, e assim se fazendo eterna. Por outro lado a serpente também pode ser a astúcia da terra que nos pica, e esta é outra vertente do mesmo símbolo.

Tais características são evidentes no livro desde o começo, e em meu entender são o motor que nos faz lê-lo uma e outra vez com esse prazer, digamos, infantil.

No nível coletivo, O Pequeno Príncipe funciona como um balde de água fresca no meio do deserto humano da Segunda Grande Guerra (recordemos que foi escrito em 1942). Aqui nos referimos ao aspecto positivo do puer aeternus, que é essa capacidade de estar perto da fonte da vida, como os meninos, o que exerce um efeito rejuvenescedor sobre as pessoas que encarnam o arquétipo oposto, o senex, modelo do esgotado e do que chegou ao fim (o deserto). Este é um exemplo possível de como expressar a polaridade Mercúrio-Saturno.

Em segunda instância, O Pequeno Príncipe é um extraterrestre, vem de outro planeta. E é sabido que em 1942, época em que esta encantadora história começou a ser escrita, começaram a proliferar as notícias de OVNI, cuja quantidade aumenta grandemente após o fim da guerra (Segunda Guerra Mundial).


Segundo Jung, que também se ocupou deste tema, embora, naturalmente, considerando-o como fenômeno psíquico, durante a Segunda Guerra Mundial foram observados na Suécia misteriosos projéteis, que se supunha terem sido inventados pelos russos; também luzes que acompanhavam os aparelhos de bombardeio aliados, em suas incursões à Alemanha; logo se seguiram as profusas observações de pós-guerra nos EUA, até chegar ao conhecido caso Adamsky, em 1952, que disse ter viajado à Lua em uma nave tripulada por venusianos. Jung estima que os OVNIs ou "discos voadores" são objetos de estrutura mandálica, de forma circular ou esférica - embora haja também com forma de "charutos", quer dizer, cilíndricos -; e que têm a propriedade de irradiar luz intensa de diferentes cores.


Fonte
Constelar on Line Edição 108 :: Junho/2007 .
Um Pequeno Príncipe entre Marte e Júpiter. Ricardo D. Coplán
http://www.constelar.com.br/

domingo, 22 de junho de 2008

Notícias Rápidas

Arroubos Poéticos, de Edival de Moraes Blagitz
Experiências, alegrias, amores, homenagens, saudades e sentimentos humanos. Sem rodeios ou meias-palavras, "Arroubos Poéticos" apresenta a visão particular e original de Edival de Moraes Blagitz. A linguagem simples e a liberdade com que compõe seus versos, leva o autor a um nível de grande intimidade com o leitor, tornando-o, se não um amigo, um bom companheiro de conversas, ao longo das páginas, ao pé do ouvido.
Edival de Moraes Blagitz - Tel. (15) 3234-8451 / (15) 3013-8013
http://www.crearte.com.br/index.htm
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Memórias de um autêntico amazônida - Tião Maia
Professor de literatura da Universidade do Amazonas e da Universidade da Califórnia, em Bekley (EUA), Milton Hatoum, nascido em 1952, em Manaus (AM), estreou como autor em 1989, com o romance “Relato de um Certo Oriente”. Em seguida vieram “Dois Irmãos”, “Cinzas do Norte” e agora o recém-editado “Órfãos do Eldorado”, todos recebidos com entusiasmo pela crítica e muito prêmios. Um dos grandes escritores brasileiros da atualidade, publicado em mais de dez países.
http://www2.uol.com.br/pagina20/22062008/cot0222062008.htm
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Elas perguntam, Martha Medeiros responde
O Projeto Literário do Colégio Mutirão Objetivo, denominado Encontro do Escritor com o Aluno, é uma iniciativa que visa aproximar os alunos da literatura. Primeiramente, os alunos estudam as obras e a vida do escritor selecionado. Num segundo momento, eles recebem a visita do autor. Semana passada, a escola recebeu a escritora Martha Medeiros. Aos 46 anos, ela passa à platéia uma jovialidade de dar inveja. Logo no início do encontro, a cronista também se revelou uma pessoa descontraída.
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/25539§ion=Reportagens
(VEJA REPORTAGEM ABAIXO)
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Inquérito sobre o Saci-Pererê
No dia 25 de janeiro de 1917,o eminente escritor paulista Monteiro Lobato propôs a abertura de inquérito sobre a existência do Saci-Pererê. Através do jornal "O Estado de São Paulo", deu início a sua campanha, pedindo aos leitores que enviassem cartas contando suas experiências (ou informações) sobre o mito do Saci-Pererê. Esse material rendeu o livro "O Sacy-Pererê, resultado de un inquérito". Lobato propunha que as histórias enviadas respondessem a três questões:
1) sobre a concepção pessoal do Saci; como o recebeu na sua infância; de quem recebeu; que papel representou tal crendice na sua vida etc...
2) qual a forma atual da crendice na zona em que reside.
3) que histórias e casos interessantes, "passados ou ouvidos" sabe a respeito do Saci.
No dia 08 de janeiro de 2006, o historiador e folclorista Carlos Carvalho Cavalheiro propôs, através de convites por e-mails, a reabertura do Inquérito sobre o Saci-Pererê e sugeriu que as histórias fossem enviadas e que, de alguma forma, publicadas (no molde do primeiro Inquérito) num só volume, no dia 25 de janeiro de 2007, quando se comemorará 90 anos de Inquérito sobre o Saci!
“Proponho, ousadamente, a reabertura do Inquérito. Já recebi algumas respostas. A idéia é que, de alguma forma, esses causos sejam publicadas num só volume, no dia 25 de janeiro de 2007, quando se comemorará 90 anos de Inquérito sobre o Saci”, explica Cavalheiro.
Os interessados podem mandar suas histórias para o e-mail: saci@crearte.com.br
O objetivo é recolher as histórias sobre o Saci que ainda povoam o imaginário das pessoas. Será um diagnóstico sobre como, noventa anos depois, o imaginário popular lida com a figura do Saci, um dos grandes mitos populares”, explica o pesquisador sorocabano.
Conheça algumas histórias sobre o saci em http://www.crearte.com.br/saci.htm
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O que é o Roda Mundo e como ele surgiu?
O Roda Mundo é uma Antologia Internacional que tem um caráter globalizado por contar com a participação de autores dos cinco continentes, numa integração da comunidade lusófona e também espanhola. A obra reúne crônicas, contos, poemas, ensaios e textos em português, inglês, italiano e espanhol, montando assim um panorama dos diferentes estilos, tendências, culturas e maneiras de enxergar o mundo, por meio da palavra impressa.
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4ª Semana do Escritor
Roda Mundo e Rodamundinho serão lançados em julho
O Rodamundinho é uma antologia infanto-juvenil idealizada que reúne textos de jovens de sete a 15 anos.
http://www.itu.com.br/noticias/detalhe.asp?cod_conteudo=14109

Fonte:
Douglas Lara em http://www.sorocaba.com.br/acontece

Martha Medeiros

Nasceu em Porto Alegre e se formou em Comunicação Social. Trabalhou muitos anos como publicitária, até iniciou carreira literária. Como poeta, lançou os seguintes livros: Strip-Tease (1985), Meia-Noite e Um Quarto (1987), Persona Non Grata (1991), De Cara Lavada (1995), Poesia Reunida (1999) e Cartas Extraviadas e Outros Poemas (2001). Destes, só os últimos dois seguem sendo comercializados. Todos foram editados pela L&PM, com exceção do primeiro, o Strip-Tease. (www.lpm.com.br).

Em 1995 lançou seu primeiro livro de crônicas pela editora Artes e Ofícios, chama-se Geração Bivolt e é uma raridade até em sua casa, "acho que devo ter apenas um exemplar escondido em alguma prateleira". Totalmente fora de catálogo.

Em 1996 lançou o guia Santiago do Chile, Crônicas e Dicas de Viagem, que relata sua experiência de oito meses vivendo na capital chilena. Já foi atualizado várias vezes e deve sair nova atualização ainda neste inverno. É da Artes & Ofícios também.

O segundo livro de crônicas foi o Topless, de 1997, que ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura, e depois dele vieram Trem-Bala (1999), Non-Stop (2001), Montanha-Russa (2003, também ganhou o Prêmio Açorianos e ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti) e o Coisas da Vida (2005). Todos L&PM.

Tem um livro infantil chamado Esquisita como Eu, lançado pela Editora Projeto e com ilustrações da Laura Castilhos. "Um dia vou escrever de novo para crianças".

Na ficção, o primeiro foi o Divã, lançado pela editora Objetiva, do Rio. "Vendeu muito, virou peça de teatro com a Lilia Cabral no papel principal e em breve estará no cinema: já foi filmado, agora está em fase de montagem e sonorização. Lilia fará o papel de novo, e se cercou bem, olha só o casting masculino: José Mayer, Reynaldo Gianechini, Cauã Reymond... A direção é do José Alvarenga, o mesmo que dirigiu "Os Normais"".

Depois veio Selma e Sinatra, um livro em que exercitou a criação de diálogos, gostou muito de escrevê-lo, mas não teve grande repercussão.

E, por fim, Tudo Que Eu Queria Te Dizer, o livro de cartas fictícias que lançou no final do ano passado e que está indo superbem, com ótima aceitação. Acaba de ser lançado na Itália. O Divã também fez carreira internacional, foi lançado na França, Suiça, Portugal, Itália e Espanha.

São 18 livros até aqui. Em agosto estará lançando outra coletânea de crônicas. Enquanto isso, segue escrevendo todas as quartas e todos os domingos no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e também aos domingos no Jornal de Santa Catarina e no Globo. Faz colaborações eventuais para revistas, assim como assina uma coluna bimestral na Estilo Zaffari, publicada aqui no sul, mas com distribuição em São Paulo também.

Nas horas vagas, grava entrevistas, responde e-mails, participa de Feiras e Bienais, visita escolas no interior e, segundo ela, ainda sobra tempo pro lazer! "Até porque não separo uma coisa da outra, gosto tanto do meu trabalho que me sinto permanentemente em férias. É uma questão de estado de espírito".

Fontes:
http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&pg=1&template=3948.dwt&tipo=1§ion=Blogs&p=1&coldir=2&blog=255&topo=3994.dwt&uf=1&local=1 Foto: Ricardo Wolffenbüttel
Montagem da foto: José Feldman

Martha Medeiros no Encontro do Escritor com o Aluno (RS)

O Projeto Literário do Colégio Mutirão Objetivo, denominado Encontro do Escritor com o Aluno, é uma iniciativa que visa aproximar os alunos da literatura. Primeiramente, os alunos estudam as obras e a vida do escritor selecionado. Num segundo momento, eles recebem a visita do autor. Semana passada, a escola recebeu a escritora Martha Medeiros. Aos 46 anos, ela passa à platéia uma jovialidade de dar inveja. Logo no início do encontro, a cronista também se revelou uma pessoa descontraída.

- Eu não faço palestras. Vim aqui para um bate-papo! - ressaltou.
Foi nesse clima de descontração que ocorreu o encontro, no auditório da Faculdade da Serra Gaúcha, lotado de jovens ansiosos por uma resposta para as suas perguntas. Como o objetivo do encontro era aproximar os jovens da escritora, o Kzuka selecionou três gurias do Objetivo para fazer perguntas à gaúcha. Mas antes confira os principais momentos do bate-papo da escritora com os alunos!

Mulheres X Homens
- Eu não sou representante do universo feminino. Pelo contrário, não quero esse estigma. Já acabou há muito tempo essa linha que dividia os assuntos entre para homens e para mulheres. Nós já ultrapassamos essa segmentação. Hoje em dia, mulher lê sobre futebol e homens lêem sobre os filhos. Eu escrevo pra todo mundo.

Inspiração
- Pra mim, escrever é muito fácil. Principalmente quando sei sobre o que quero falar. O problema é que hoje em dia existem muitos cronistas e todo mundo comenta sobre tudo. Então, como ser realmente original nesse mundo? Eu optei por ser trivial e falar das pequenas coisas do cotidiano que nos interessam muito. Tudo o que eu vejo, um filme, um show, até o papo com alguma amiga, serve de inspiração. Enfim, eu dou o meu chute em todas as áreas.

- É importante ter uma vida regrada, mas é mais importante seguir o nosso interior.

Eu, tu, eles...
- Eu tenho muita dificuldade de escrever na 3ª pessoa. Eu adoro me colocar no lugar do outro. Acho que é aí que eu ganho a empatia dos meus leitores.

Divã
- O livro Divã foi uma surpresa. Ele virou moda entre os cariocas, principalmente depois que saiu uma nota falando que o Antônio Fagundes tinha adquirido um para presentear uma 'amiga'... A atriz Lilia Cabral adorou a história e resolveu adaptá-la para o teatro. Após dois anos em cartaz, o diretor José Alvarenga achou que a história poderia virar um filme. A produção é cheia de atores globais como o Reynaldo Gianecchini e o Cauã Reymond. Eu não vi nada ainda e estou superansiosa.

Metas
- Nunca tive metas muito exóticas, elas sempre foram alcançáveis. Meu desejo mais ousado sempre foi viajar muito e, sempre que posso, faço isso. Meu principal desejo é poder continuar... continuar viajando, escrevendo, amando...

Educação
- Às vezes, temos que dizer não para os filhos. Se eles querem crescer, eles precisam aprender a se frustrar.

Três Desejos
Virgínia Maffei, 15, aluna do 1º ano, não conhecia a obra da autora antes de ler No Stop, indicação da professora do colégio.
- Adorei. Ela fala o que a gente pensa, mas não conseguimos expressar. Me identifico com o que ela escreve.

A pergunta da Virgínia: Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?
- Nossa! Eu cairia estatelada (risos). Três pedidos é muita coisa. É muito bom chegar no estágio em que eu cheguei e ter realizado tudo o que eu queria. Agora, o que vier é lucro. Também acho que as coisas pequenas são as mais fundamentais. Mas se eu tivesse que fazer três pedidos, por primeiro, pediria pra continuar as coisas como estão. Em segundo lugar, pediria saúde por muito tempo. Por último, faria um pedido que fizesse o bem pra toda a humanidade, como ter mais paz no mundo.

Bichos de Pelúcia
Bruna Milani, 16, é aluna do 2º ano e gosta do feminismo da autora.
- Só não gostei da crônica Bichos de Pelúcia... não tem sentido o que ela falou no texto, porque eu posso ter 16 anos e ainda possuir bichos de pelúcia no quarto sem ser imatura.

A pergunta da Bruna: Por quê você condena o fato de as pessoas mais velhas terem bichos de pelúcia?
- Essa crônica rendeu uma repercussão que não esperava. Centenas de cartas chegaram ao jornal pedindo a minha demissão, e eu recebi uma enxurrada de e-mails me criticando. A inspiração surgiu quando vi um clipe de uma cantora seminua cantando abraçada à um ursinho de pelúcia. Acabei escrevendo sobre essa loucura, era apenas um deboche. A idéia era mostrar que as pessoas precisam fazer um rito de passagem, amadurecer. Mas diante de tantas críticas, fui falar com um psicólogo. Ele me fez entender que estamos vivendo num mundo tão violento, que possuir ursos de pelúcia é uma forma de manter a inocência a que ele remete. Aí, fiz uma segunda crônica falando disso... Mas ainda acredito que a gente precisa saber amadurecer. Acho a vida adulta infinitamente mais legal!

Dicas para viver melhor
Nicole Panata, 16, aluna do 3º ano, adora ler Martha Medeiros. Ela sempre acompanha as crônicas da autora no caderno Donna, da Zero Hora.
- É impossível não se identificar com os assuntos que ela escreve. A Martha faz a gente refletir e, independentemente da idade, sempre há algo das crônicas dela que podemos usar no dia-a-dia. Gosto dela porque é uma autora sem papas na língua. Ela tem as opiniões parecidas com as minhas...

A pergunta da Nicole: As tuas crônicas me passam grandes ensinamentos. Você os utiliza no seu dia-a-dia?
- Gostaria de esclarecer que eu não pretendo fazer a cabeça de ninguém, só espero que as pessoas pensem. Mas eu sigo o que eu escrevo, eu sou assim. Às vezes, eu paro, me olho e me questiono. Porque uma coisa é a teoria e outra, a prática. Costumo dizer que felicidade é uma mistura de sorte com escolhas bem_feitas. Por isso, procuro aproveitar.

Fontes:
Elas perguntam, Martha Medeiros responde. Artigo publicado por Roberta Rech em 20/06/2008.
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/25539§ion=Reportagens
Foto: Ricardo Wolffenbüttel
Montagem da foto: José Feldman

Música e literatura unidas pela mesma causa (Entrevista com Thedy Correa)

Nos mais de 20 anos de carreira, 12 CDs foram lançados e cerca de 150 músicas foram compostas pelos porto-alegrenses do Nenhum de Nós. A sintonia no palco continua a mesma de 1986, quando os caras se reuniram pra montar a banda.

Convidado especial do evento Arte e Som, realizado na semana passada pelos acadêmicos de Relações Públicas da UCS, o vocalista Thedy Corrêa esteve em Caxias pra conversar com os alunos de comunicação e falar de algumas experiências vivenciadas durantes todos esses anos no mundo musical.

Antes de subir ao palco do UCS Teatro, Thedy bateu um papo descontraído com o Kzuka. Sentado ao lado do exemplar de Bruto, seu livro lançado em 2006, o músico contou sobre a transição de leitor pra escritor e de como os universos da música e da literatura se encontram.

Confira abaixo alguns trechos da conversa:

Kzuka - Tu começaste com a música há muito tempo e agora está transitando no universo da literatura. Tu achas que essas duas artes se encontram e tem a ver uma com a outra?

Thedy - Eu comecei primeiro na música. Já lancei mais de 10 discos, e esse tá sendo meu primeiro livro. Mas a literatura começou na minha vida antes da música. Eu sempre fui um leitor ávido. E sempre usei muito a literatura como instrumento pra tocar minha vida adiante. Tem livros que foram determinantes pra eu ser o que sou e pensar da forma que penso. Então, daí pra frente, sempre pensei que um dia eu poderia fazer um livro. E o Bruto foi o primeiro de uma série que eu espero que sejam muitos.

Kzuka - Tu lembras quais são os livros que mais te marcaram nessa tua formação?

Thedy - Eu lembro do On The Road (Pé na Estrada) do Jack Keroauc. Esse foi um livro que “abriu minha cabeça”, realmente. Eu nunca esqueci o primeiro livro que li, As Aventuras de Tibicuera, do Erico Verissimo. E outro livro importante pra mim foi Pergunte ao Pó, do John Fante. Tem outros, claro. Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu, por exemplo. A lista é grande.

Kzuka - Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Thedy - Eu sempre escrevi bastante pro Nenhum de Nós. E muito disso vai sendo guardado e chega uma hora que tu pensa “pô, vai deixar guardado pra sempre? Ou vai fazer alguma coisa com isso?”. Resolvi pegar essas coisa que eu tinha guardado e transformar em um livro. Foi um processo natural. São poemas que seriam cantados e agora vão ser lidos. De repente até podem ser transformados em letras de música.

Kzuka - Então, é um universo parecido entre a música e a literatura, não?

Thedy - Gostaria que fosse mais parecido. Queria que as pessoas que gostam e ouvem música lessem também. No Brasil isso é complicado, né. O público de literatura não é muito forte. Eu acho que quem lê gosta de música, mas nem todo mundo que gosta de música, gosta de ler.

Kzuka - Tanto a música quanto a literatura tem a ver com comunicação. Tu te comunicas utilizando essas artes?

Thedy - Eu acho que sim. É uma ferramenta que uso pra me comunicar. Um instrumento que uso pra ajudar as outras pessoas a se comunicar. Acho que a música tem essa capacidade. Por isso que acho tão importante o papel de um músico e de uma banda.

Kzuka - A música influencia as pessoas...

Thedy - Eu tenho certeza que isso acontece. O que escrevemos é ouvido por muitas pessoas que assimilam tudo. Aliás, essa é a idéia. A música passa a fazer sentido pras pessoas de uma maneira que elas colocam em prática na vida. Não tenho dúvida de que a música é um instrumento de comunicação.

Kzuka - E qual a música do Nenhum de Nós que ainda te arrepia, faz tu obteres uma comunicação contigo mesmo?

Thedy - Você Vai Lembrar de Mim, é uma das campeãs da história do Nenhum. Foi uma música que passou por um momento de inspiração. Imaginei uma situação que acontece com algumas pessoas e a partir disso escrevi a letra. Eu achava que a música nem iria ter o sucesso que teve. Compus e quando fomos lançar um dos discos eu nem tinha mostrado ainda pra banda e depois apresentei ela: "olha, tenho uma música aqui, não sei se vocês vão gostar". Aí toquei ela pros guris e eles falaram: "tu tá louco? Essa música já está incluída no disco”.

Kzuka -Vocês estão há muitos anos na estrada, sempre com a mesma formação e sintonia, né. Qual o segredo?

Thedy - Eu costumo dizer que isso é a fé no que a gente faz. Acreditamos que estamos produzindo boa música. E cada vez que subimos no palco temos a energia renovada. Se a gente fizesse como se fosse um trabalho qualquer não existiria motivação pra continuar. Música tem que ter um componente emotivo pra ser transmitido no palco.

Kzuka - Qual o maior amadurecimento da banda ao longo de todos esses anos?

Thedy - Acho que é musical e pessoal. Nosso amadurecimento como artista é muito grande. Estamos cantando melhor, compondo melhor.

Kzuka - Daqui pra frente, o que esperar do Nenhum de Nós?

Thedy - A idéia é continuar escrevendo boas canções.

Fontes:
artigo de Marcelo Andrighetti. Publicado em Caxias 06/04/2008
http://www.clicrbs.com.br/kzuka/jsp/home.jsp?secao=detalhe&localizador=Kzuka/kzuka/Caxias%20do%20Sul/Kzuka+vai+Fundo/12771§ion=Reportagens
Foto: Daniela Xu
Montagem da foto: José Feldman

sábado, 21 de junho de 2008

Maria Nascimento Santos Carvalho

Sou MARIA NASCIMENTO
e por erro ou ato falho,
me esqueci, por um momento,
de acrescer SANTOS CARVALHO.

Tenho orgulho de dizer
que, entre muitas coisas boas
tive a glória de nascer
num lindo Estado: A L A G O A S.

Venho de humildes raízes,
mas a sorte generosa,
traçou minhas diretrizes
por uma estrada ditosa ...

Com seu poder sem medida,
Deus legou-me a grande sina
de abrir os olhos à vida
filha de AMPARO e MARINA.

E, me ofertou todos sãos,
como parte de um tesouro,
meus dez queridos irmãos
que para mim valem ouro.

Antônio,Telma,Angelina,
José do Amparo, Abraão,
Benedito, Carolina,
e outros nomes que virão...

Jorge Carlos, Aurelina
e, completando, o Luiz,
que a família nordestina
se é numerosa, é feliz...

O meu segundo presente,
do Bom Pai Celestial,
foi nascer, exatamente,
numa Noite de Natal.

Em que ano foi sei de cor,
mas não digo, simplesmente,
porque a idade é bem melhor
vista no rosto da gente .

Sou feliz quando me lembro
em meu rumo alvissareiro,
que, em cada mês de dezembro,
completo mais um janeiro.

A idade quem quer inventa,
mas tive sempre em meus planos,
manter, após os quarenta,
o espírito de vinte anos.

E cumpriu-se a "profecia":
Deus, como outro bom presente,
pôs em minha alma, poesia,
quando eu era adolescente...

CORURIPE foi meu berço...
Para o Rio vim embora
tendo pouco mais de um terço
da idade que tenho agora.

Com estudos incompletos,
e, ainda, quase menina,
eu vim cumprir os projetos
que o Destino me destina.

Com esforço me formei,
enfrentei muito trabalho
e anos depois me casei
com o poeta ÉLTON CARVALHO ...

As tristezas e alegrias
que a vida me concedeu,
estão todas nas poesias
que a minha verve escreveu.

E, graças ao Criador,
enriqueceram meus dias
meus livros: "Preces de Amor"
e "Batel de Fantasias"...

Como simples andorinha
que alça vôos de condor,
fiz da bagagem que eu tinha
outras "Confissões de Amor"

Alguns decênios passados,
plenos de glórias terrenas,
os meus prêmios conquistados
contam mais de três centenas! ...

Com esta Biografia,
rascunho do meu passado,
com respeito e simpatia
deixo a todos um recado ...

Seja o seu gosto qual for
Veja este site e, por fim,
leia meus versos de amor
e aprenda a gostar de mim.

Maria Nascimento Santos Carvalho (Milagres do Destino)

(Conto Poético)

Numa pequena cidade situada no Litoral Sul do Estado de Alagoas, onde eu nasci, morava uma numerosa família, cujo pai, o seu Manoel, era um pequeno agricultor que, apesar da vida sacrificada que levava, era uma pessoa muito alegre e comunicativa.
Nas poucas horas de descanso, seu Manoel , seus vizinhos sabiam que ele estava em casa porque gostava muito de cantar, principalmente a canção " Sertaneja " e as músicas do saudoso " Gonzagão ".

Como pessoa solidária que era, prestava muitos favores a quem quer que necessitasse dos seus préstimos. Sua esposa, a dona Marina, também era comunicativa, mas não encontrava nem uma "horinha" para prosear com suas amigas porque seus afazeres não lhe davam tempo nem para pensar, pois, quando não estava cuidando de um filho pequeno estava esperando outro. E, assim , acabou gerando um time de fotebol, juiz, assistentes e parte da torcida, uma vez que teve 17 filhos.

Eu era a melhor amiga da família, principalmente de seus filhos : brincávamos juntos, saíamos juntos, partilhava com eles alegrias e tristezas... Éramos iguais até na pobreza, e eu, pela amizade que nos unia, fazia parte de suas vidas.

Um dia, chegou na pequena cidade, o senhor Ladislau, um moço muito educado, para trabalhar numa das poucas Repartições Públicas da Cidade. Era o habitante mais bem vestido e perfumado que já havia colocado os pés no lugarejo. Todos o respeitavam, não só pelo posto que ocupava , mas, principalmente pelo seu irrepreensível comportamento.

Numa tarde, quando seu Ladislau passou pela porta de seu Manoel, todo garboso dentro de seu terno impecavelmente branco e engomado, o senhor Firmino, um vizinho ignorante e reconhecidamente mexeriqueiro e preconceituoso comento quase sussurrando : " ... Ele anda assim como um almofadinha porque é "diretô da Coleturia Federá " e sorrindo, exibindo o seu desfalque dentário, falou : " dizem que esse "nego" tombém é pueta, faz histora de pescadô e é adevogado...E pondo ainda mais veneno na voz, piscou um olho e disse, maldosamente : "deve ser o adevogado mais preto do mundo, pur isso veio dá com os costados nesse fim de mundo onde o Judas perdeu as botas "...

Revoltada com a discriminação , uma das filhas do casal, MARIA, como tantas outras Marias que nascem e morrem todos os dias, disse afrontosamente : " Eu sou preta e nem sei o que um adevogado faz, mas quando crescer vou ser adevogada e andar bem vestida e cheirosa como o seu Ladislau..."

Todos os presentes, até seus pais, estericamente, deram gargalhadas pelo absurdo que, segundo eles, haviam acabado de ouvir.

Como poderiam acreditar naquela "bobagem" se na cidade não havia nem escola com Curso Ginasial ? Mas Maria que até então nem sonhava ultrapassar o curso primário, deu asas ao sonho nascido naquele momento. Para ela era uma questão de honra ser advogada para cumprir a promessa que somente ela havia acreditado ser possível.

Quando completou dezoito anos, apesar dos protestos de sua família, jogou seus limitados pertences num saco, pegou carona num caminhão e muitas horas depois estava na Capital acalentando um sonho que só ela e sua esperança acreditavam.
Maria apavorou-se quando viu a "grandiosidade da cidade ". Nunca imaginou que houvesse no mundo uma cidade com tantas casas e com tanta gente circulando pelas ruas ... E as Lojas ? E a Feira do Passarinho ? E as Bancas de Revistas e Jornais ? e o Gogó da Ema ?

Tudo para ela era exageradamente grande demais até sua sorte porque uma semana depois de ter chegado já havia encontrado um trabalho numa Casa de Saúde, ajudada por sua irmã mais velha que a hospedara na casa humilde de uma vila mal cuidada e lamacenta.

Imaginem alguém arranjar um emprego de secretária de uma imensa Clinica especializada em Doenças Mentais somente com um diploma do Curso Primário ?

Imaginem alguém fazendo um teste datilográfico sem nunca ter chegado perto de uma máquina de escrever ? Era uma " coisa de doido " imaginar que seria possível ... Mas como " Deus escreve certo por linhas tortas ", colocou a sorte a seu favor e Maria, milagrosamente " mesmo sem saber fazer uso de toda aquela engrenagem, passou no teste e foi admitida. Depois de vencido o primeiro desafio, Maria saiu correndo atrás de uma escola de datilografia, fez curso intensivo, e aí, sim, estava preparada, "datilograficamente", para exercer a função.

Incentivada pelo seu ideal, fez Exame de Admissão ao Ginásio para o único Colégio Estadual e, mais uma vez, o destino a ajudou Trabalhava de dia, estudava à noite e, mentalmente, ainda tinha que alimentar a esperança de ser advogada e como era uma sonhadora inveterada queria também fazer poesias, como o seu Ladislau... Não se importaria se, voltando à sua terra natal, ouvisse seu Firmino comentando com outro vizinho fofoqueiro : " - aquela pretinha é a Maria filha do seu Manoé que foi morá na grande e agora diz qui sabe até fazê puisia cuma o seu Ladislau...

Um dia, Maria, depois de ler, repetidamente , " O Mal Secreto " , resolveu fazer uma poesia baseada nele. Não no seu conteúdo, é claro, mas obedecendo a sua harmonia, sua musicalidade. Após uma infinidade de poesias rascunhadas, sem sucesso, Maria aprendeu metrificar, colocar rimas e passar para o papel o que vinha em sua imaginação, e cada vez mais se aperfeiçoava na arte de versar.

O tempo foi passando e Maria já no terceiro ano ginasial deu asas à sua imaginação e incentivada por um amigo que gostava de ler suas poesias e acreditava no seu sucesso literário em um grande Centro Cultural, como o Rio de Janeiro, e confiando na hospitalidade de seu tio, fez um acordo trabalhista com a Casa de Saúde, onde permanecia, comprou uma passagem aérea na extinta " Cruzeiro do Sul ", colocou seus pertences na mala que substituiu o saco da primeira viagem, vestiu sua melhor roupa e voou para a Cidade Maravilhosa, num chuvoso dia 8 de novembro.

Como a sorte sempre foi sua melhor aliada, no dia 16 de novembro já começou a trabalhar no escritório de um hotel, no Centro da Cidade. Tinha uma boa caligrafia e gostando de exibi-la, escreveu :

" Homem casado quando ama
outras mulheres na rua
levanta aquelas da lama
e põe defeitos na sua ...

Displicentemente, deixou seu escrito num balcão do escritório e um Escritor de Lisboa, a serviço do Grupo de Estudos do Porto, lendo a mensagem, disse:

– que bela quadra !!! - Quem é o autor ??? E, Maria, meio sem jeito, respondeu : fui eu que escrevi de brincadeira... E ele admirado, ou talvez para testá-la, incumbiu-a de escrever outras "quadras" que publicaria num livro, motivo da pesquisa do Grupo, envolvendo literatos e ilustres vultos brasileiros. E, como cidadão íntegro, de palavra, dedicou-lhe uma página como " poetisa desconhecida, com reduzidos dados biográficos e três "quadras", como até hoje é conhecida a trova em Portugal.

Aquela publicação era o que faltava para que Maria se sentisse uma poetisa de fato... E ela, que a cada dia inventava um novo sonho, resolveu cursar a quarta série ginasial. Trabalhava o dia inteiro e estudava à noite... morava em Realengo, trabalhava no Centro e estudava em Triagem. Saía de casa às sete horas da manhã e nunca chegava em casa antes de uma hora do dia seguinte. Tudo isto correndo atrás de um ideal : a vontade de vencer... virar "gente grande ".

Depois daquele ano de estudo, que lhe pareceu um século, Maria continuou estudando e fazendo versos.

Anos depois fez o Curso Clássico, o mais apropriado para os vestibulares dos Cursos de Ciências Sociais.

Feito o vestibular, Maria foi classificada na Segunda opção jornalismo. Ainda não era dessa vez que se tornaria advogada. Fez o Curso de Jornalismo e teve oportunidade de assinar várias colunas literárias em alguns jornais de pequena e média circulação.
Foi aí que, baseada em sua própria vida, escreveu o soneto :

SONHOS DE CONDOR

Em minha vida simples, malograda,
de filha de modesto agricultor,
faltava tudo, e não faltava nada,
porque nasci num lar cheio de amor !

E, cedo, minha luta foi travada,
pois calcada em meu pai, um lutador,
não quis me sentir ave engaiolada,
e sonhei alto em vôos de condor...

Não pude ter infância e juventude,
nem mesmo DEUS nos dando amor, saúde
e a régia proteção da Deusa CERES ...

Mas, para compensar a imensa lida,
Deus, pondo poesia em minha vida,
me fez a mais ditosa das mulheres ! ...

Entusiasmada com a sua produção literária já bem aceita por renomados poetas e críticos literários, acrescentou à sua inesgotável fonte de desejos a vontade de publicar um livro, mas o projeto não saiu das folhas de papel datilografadas... Faltava-lhe o principal : a verba para para cobrir as despesas da edição.

Ingressou em algumas agremiações literárias, mas o sonho de ser advogada parecia Ter ficado para traz, o que lhe dava uma enorme sensação de fracasso.

Contudo, numa das costumeiras reuniões literárias, o destino, mais uma vez, amigo solidário de quase todas as suas horas, colocou em sua direção um renomado poeta que ela conhecia apenas de nome e, naquele momento, percebeu que se operara não apenas um encontro entre pessoas comuns, mas um encontro de almas... E esse encontro inesperado transformou-se no encontro eterno, que somente Deus que, como já frisei : " escreve certo por linhas tortas " poderia operar... E se deu ali uma infinita comunhão de almas e corações.

E para agradecer a Deus, como fazia, sempre que recebia uma graça, Maria, humildemente fez sua singela oração :

PRECE

Eu agradeço a Deus pelos dias bons,
que revigoraram minha fé ;
pelos dias maus,
que me ensinaram a viver ;
pelos dias alegres
que me inspiraram poesia ;
pelos dias tristes
em que pude ser mais sentimento que razão
e pude mergulhar na fantasia ...
Eu agradeço a Deus
por meu dote de rimar
pelos passos firmes
que me ensinou a dar,
por te dar encanto, em forma de magia ...
Eu agradeço a Deus
por haver te encontrado,
por seguirmos juntos a mesma jornada
e por nos mostrar tanta poesia ...
Eu agradeço a Deus
por tudo que não fui e que hoje sou,
e pelo maior bem que me legou,
porque não fez de mim " qualquer " MARIA
...

Os anos foram – se passando e o seu poeta, além de patrocinar seu livro de trovas, a incentivou a realizar o seu primeiro sonho manifestado, motivo das gargalhadas de seus familiares e de seu Firmino, o vizinho preconceituoso, que era ser advogada, mesmo sem saber o que um advogado fazia na vida.

Maria que já imaginava esgotados todos os milagres que o destino lhe poderia proporcionar, apesar da luta diária , movida pela energia que lhe transmitia o seu Poeta, companheiro de todas as horas, ingressou na Faculdade de Direito e, graças à sua Estrela que continuava a brilhar, concluiu o Curso que tanto almejava, com o direito e o orgulho de poder exibir o " Histórico Escolar "mais honroso" que um ser humano poderia almejar.

Com seu Diploma de Graduação nas mãos e para reforçar o cumprimento do desafio a que se propôs quando ainda era criança, Maria fez um brilhante Curso de Pós – Graduação , especializando-se em Direito Civil e Processo Civil, quando já havia publicado mais um livro de trovas...

Depois, Maria publicou seu terceiro livro contendo trovas, sonetos, poemas etc., o que a consagrou definitivamente como poetisa

Mas, como "na vida tudo passa", e a ventura não pode ser eterna, quase depois de três dezenas de amor, companheirismo e amizade, e após Maria publicar um livro de trovas, sonetos, poemas etc., seu Poeta subiu para um Plano Superior, ao encontro de outros poetas e Maria, movida pela tristeza, escreveu :

No momento em que partiste
pranteei minha viuvez ...
Foi o trajeto mais triste
que uma lágrima já fez ! ...

E, ainda sob o impacto da partida de seu Poeta, Maria tentando, imaginariamente, se convencer de que a ausência não eterna, de que o Caminho do Além pudesse Ter um retorno, num dos repetidos momentos de saudade e de amargura, guiada pela força do seu próprio desespero, seguiu ao encontro de sua

V I A C R U C I S

Foste embora e eu, sedenta de carinhos,
tentando alimentar minha ilusão,
fingia encontrar rosas nos espinhos
com que marcaste a minha solidão...
Depois, tentei seguir outros caminhos,
mas, sem achar a tua direção,
na ‘ VIA CRUCIS ‘ longas dos sozinhos
deixei pedaços de alma e coração...
E, nessa andança inútil, sem destino,
provei a dor cruel do desatino
e todo o dissabor dos desenganos...
Não te encontrei ... Por isso, em poucos meses,
meu coração parou milhões de vezes,
minha alma envelheceu mais de cem anos...

Maria que, embora com muito sacrifício tenha se tornado uma vencedora, por ter vencido todos os desafios a que se propôs, continua humilde, tanto quanto o era no tempo em que morava numa cidade tão pequena que nem constava do Mapa do Brasil, mesmo depois de quase quatro dezenas de anos distante de seus familiares continua visitando-os periodicamente e prestando toda a ajuda que lhe é possível, demonstrando todo o orgulho que sente por poder privar da amizade dos seus amigos desde a infância, de dizer que é filha do seu Manoel e da dona Marina... Que Tem 10 irmãos pobres, mas honrados, enfim, um mundo de motivos para acreditar nos MILAGRES DO DESTINO ...

Mas, o que mais a deixa feliz é perceber o quanto DEUS foi generoso permitindo que ela aniversariasse com Seu Filho : JESUS CRISTO, porque Maria, como Ele, nasceu num Dia 25 de Dezembro...

E para agradecer por esta graça divina, compôs :

LEMBRANÇAS

Quando vem o Natal, vêm - me à lembrança
as histórias que ouvia, os madrigais .. .
E tento reavivar a confiança
que, na infância, traziam meus Natais ...

Recordo a casa cheia de criança,
meus pobres natalícios sempre iguais,
mantendo acesa a chama da esperança
no " presente " de Deus para os meus pais...

Num Natal ... Vinte e Cinco de Dezembro,
há quanto tempo quase nem me lembro,
generoso, o Bom Pai Celestial

tendo pena por ver tanta pobreza,
num gesto de piedade e de grandeza,
mandou-me como um brinde de Natal ...

Depois de ler MILAGRES DO DESTINO, o leitor se perguntará : isto será realidade ou ficção ? E na dúvida, pensará : só pode ser ficção, porque como poderia alguém saber tanta coisa sobre a vida de uma simples Maria ? Uma Maria que nasceu, como tantas outras, numa minúscula cidade pobre do nordeste ?

E, silenciosamente, a voz invisível da criadora de MILAGRES DO DESTINO responde :
- Não, amigo, não é ficção ! É uma grande realidade :

... Essa pessoa orgulhosa por seus pais, irmãos e demais familiares e amigos, hoje quase sexagenária e infinitamente agradecida a Deus por tudo que, honestamente, conseguiu conquistar,
SOU EU ! ...

Fonte:
http://www.marianascimento.net

Maria Nascimento Santos Carvalho (Palestra sobre Trovas)

Autoridades presentes,
minhas senhoras, senhores,
renomados Presidentes,
meus bons irmãos – Trovadores.

A Academia da Trova
que nos acolhe tão bem
a cada dia comprova
o valor que a Trova tem...

Permitam-me apresentar
A Trova na Academia
que, agora vai ocupar
um pouquinho do seu dia.

A palestra que apresento,
humilde e quase sem brilho,
nesta Academia ostento
feito a mãe que ostenta um filho.

Abrindo o meu sentimento
eu confesso, agradecida,
que este momento é um momento
de vitória em minha vida.

Permitam-me lhes dizer
com infinita humildade
que nem sei como conter
meu grau de felicidade...

E em meio a tanta afeição
a minha emoção é tanta
que as frases de gratidão
morrem presas na garganta.
Meus amigos :

Gostaríamos, neste momento, de poder dizer Trovas de todos os nossos irmãos de sonhos, mas são tantos e tão queridos que passaríamos horas e horas fazendo desfilarem seus versos, razão porque, pedimos desculpas àqueles que, por limite de tempo, não estão incluídos em nosso modesto trabalho, o que muito nos entristece.

Como estamos na Academia Brasileira da Trova, procuramos focalizar o tema TROVA e deixar alguns esclarecimentos sobre ela : gênero, forma, metrificação, ritmo etc.

Para ilustrar o nosso trabalho, registramos a opinião abalizada do grande escritor JORGE AMADO a respeito da Trova.

“ Não pode haver criação popular que fale mais diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela, que o povo toma contacto com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador são imortais”.

A TROVA

Na antiguidade, Trova era considerada uma canção, uma quadra popular que tinha origem nas composições dos Trovadores medievais.

Na poesia trovadoresca, ou provençal que começou a partir do século XIII, a Trova podia ser :
Uma “ Cantiga de Amigo “, quando a mulher contava ao amado suas mágoas de amor. (Eram de fundo folclórico e as mais antigas e mais belas).

“ Cantiga de Amor “, quando o namorado se dirigia à amada e “Cantiga de escárnio“, com poesia satírica e picante.

As Trovas eram cantadas pelos Trovadores, geralmente nobres empobrecidos que as compunham e pelos jograis, homens do povo que se limitavam a interpretar as canções dos Trovadores.

A partir do século XVII, essas composições passaram a se chamar de Trova e foram reunidas em três cancioneiros : Cancioneiro da ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca de Lisboa.

Atualmente, de acordo com a definição de LUIZ OTÁVIO, o Príncipe da Trova Brasileira,
TROVA é uma composição poética contendo quatro versos setissílabos, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto, com sentido completo, como :

Ó linda Trova perfeita
que nos dá tanto prazer !
Tão fácil – depois de feita.
- Tão difícil de fazer ...
Adelmar Tavares - Rei da Trova Brasileira

As Trovas podem ser , líricas, filosóficas, lírico filosófica ao mesmo tempo, humorísticas , brejeiras, as de humor leve, cívicas, religiosas etc.

Até há mais de meio século passado, as Trovas, na maioria, eram compostas com rimas simples, ; rimando apenas o segundo verso com o quarto, o que até o presente, ainda é utilizado por um número muito reduzido de autores, não valendo esta prática para os Concursos de Trovas e Jogos Florais.

É de José Alberto da Costa, de Maceió - AL, a Trova de rima simples que diz :
Tentei fazer uma trova
e vi que não é moleza.
Se dizer tanto em tão pouco
com graça e muita beleza.

Muitas composições musicais foram feitas com versos de sete sílabas, entre elas, as mais costumeiras são as cantigas de roda e as cantigas de ninar, geralmente com rimas simples, que até hoje são exaustivamente cantadas, como :

O cravo e a rosa
O cravo brigou com a rosa
debaixo de uma sacada ...
O cravo saiu ferido
a rosa, despetalada.

O cravo ficou doente
a rosa foi visitar...
O cravo teve um desmaio
a rosa pôs-se a chorar...

O cravo tem vinte anos,
a rosa tem vinte e um ...
A diferença que existe
é que a rosa tem mais um !

Quanto às Trovas perfeitas, aquelas que rimam o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto e com rimas consideradas rimas ricas, temos :

De Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira :
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder :
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...

Sérgio Bernardo , de Nova Friburgo - RJ
Sem a trova, que o completa,
como aos sonhos dar vazão
o coração do poeta,
num mundo sem coração?!

Edmar Japiassú Maia – Rio de Janeiro - RJ
Quatro folhas: sortilégios...
Quatro versos: quadras novas ...
E ao poeta os privilégios
de cantar trevos e trovas!

Elisa Flores - Rio de Janeiro - RJ
Dos fios de luz dispersos
sob a prata do luar,
escrevo em trova meus versos
e os deponho aos pés do altar.

Antônio Siécola Moreira - Santa Rita do Sapucaí - MG
A Trova, que eu idolatro,
pois me encanta e me extasia,
é um "retrato três por quatro"
que tiramos da Poesia.

Em A Banda, de Chico Buarque de Holanda, com exceção da primeira estrofe, todas as demais podem ser consideradas como Trovas simples, também, por serem compostas com rimas simples, rimando apenas a o segundo com o quarto versos : Ouçamos na voz do excelente cantor Antônio Moreira.

A BANDA

Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.

A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.

Mas para meu desencanto
o que era doce acabou,
tudo tomou seu lugar
depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto,
em cada canto uma dor
depois da banda passar
cantando coisas de amor.

Estão aqui presentes Trovas de excelentes Trovadores paulistas que nos brindaram com suas composições, tais como :

José Valdez de Castro Moura - Pindamonhangaba – SP
Bendigo a Trova que aflora
na minh' alma ! Que alegria !
E, sinto luzes da aurora,
no final de cada dia !

Marina Bruna – São Paulo - SP
A Trova, que lembra a rosa
no emblema dos trovadores,
é tão pura e majestosa
quanto a rainha das flores.

Pedro Ornellas - São Paulo - SP
De incompetência dão provas
os meus rabiscos bisonhos;
sobra sonho em minhas trovas,
falta a trova dos meus sonhos!

Domitilla Borges Beltrame – São Paulo - SP
A Trova, bem trabalhada
e que é feita com ternura,
é como jóia engastada
em nossa literatura !

Selma Patti Spinelli - São Paulo - SP
Recolhe o som do infinito
e a luz que a manhã renova,
prende num verso bonito,
e num milagre: eis a Trova!

Como dissemos, há muitas cantigas de roda feitas em forma de Trovas. Ora com rimas simples, ora com rimas duplas, ou perfeitas, mas todas lindas, como “ Terezinha de Jesus “, que, apesar de conter verso de pé-quebrado, como: “acudiram três cavalheiros” é tão apreciada pela garotada quanto por todos nós.

Teresinha de Jesus

Teresinha de Jesus
numa queda foi ao chão
acudiram três cavalheiros
todos três chapéu na mão.

O primeiro foi seu pai
o segundo, seu irmão,
o terceiro foi aquele
que à Teresa deu a mão.

Da laranja quero um gomo,
do limão quero um pedaço,
da menina mais bonita
quero um beijo e um abraço.

Alguns Trovadores preferem utilizar o tema nas rimas, o que, muitas vezes, dificulta muito mais a feitura da Trova, quando há poucas rimas, como sejam : Palavra, mãe, tempo, quarto etc.

Vejamos Trovas com rimas na temática: Trova :

Josafá da Silva Sobreira - Rio de Janeiro - RJ
Quem dera que minha Trova
fosse um hino de louvor
que um anjo ao meu lado aprova
e leva aos pés do Senhor !

Gislaine Canales – Porto Alegre - RS
A minha vida é uma trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a trova da vida!

Kleber Leite - Itaocara - RJ
"Verdade!.. não faço trova...
Sou um mero Beija-flor...
Levando ao mundo, o que prova
ser ela o meu grande Amor..."

Jane Azevedo – Mauá - RJ
Quanto mais eu faço trova
mais trovas quero fazer,
parece até uma prova
de amor ... com muito prazer.

Prof. Garcia - Caicó - RN
No amor tudo se renova,
não seja escravo da dor;
faça do ódio uma trova,
do tédio um verso de amor!

Outra composição que muito nos encanta, que também é feita em forma de Trova é “Samba lelê”, mas além de se apresentar com rima simples, em seu primeiro e segundo versos encontramos a palavra TÁ, em vez de ESTÁ, e a junção de “ com a “, com a contagem de uma sílaba apenas, o que só é permitido através de “licença poética “.

Isto tornaria impossível uma classificação num Concurso de Trovas, no gênero lírico - filosófico, por entender a maioria dos julgadores que há uma imperfeição inaceitável (tá), em dois versos e uma apenas protegida por licença poética, (com a) o que caracteriza total falta de recurso para a composição perfeita da Trova.

Deliciemo-nos com um trecho de Samba lelê na expressiva voz de Antônio Moreira.

Samba lelê

Samba lelê tá doente,
tá com a cabeça quebrada ...
Samba lelê, precisava
de uma gostosa palmada. (bis)

O Rio Grande do Sul também está presente em nosso modesto trabalho, representado por Trovadores de excepcional qualidade, como :

Mílton de Souza - Porto Alegre - RS
A quadra metrificada
chama-se "trova", hoje em dia.
E a trova é a raiz quadrada
da mais perfeita poesia...

Clênio Borges - Porto Alegre - RS
Nesta trova vou contar
o que um adeus faz sentir:
quem parte, almeja ficar,
e quem fica, quer partir.

Enriquecendo esta modesta palestra, também selecionamos Trovadores de vários outros estados, com Trovas de inspirações privilegiadas, tais como :

Antônio Augusto de Assis – Maringá - PR
Na tribo dos trovadores,
entre irmãos te sentirás.
Quanto mais fraterno fores,
melhor trovador serás!

Thereza Costa Val – Belo Horizonte - MG
Na trova, que é seu veleiro,
singrando temas diversos,
trovador é marinheiro
que navega em quatro versos.

Sarah Rodrigues / Salinópolis - PA
"Na paisagem desse sonho,
no contraste de um amor,
essas trovas que eu componho
sempre afogam minha dor."

Roberto Resende Vilela - Pouso Alegre - MG
Pelas veredas singelas
da Trova e da Poesia,
se difundem as mais belas
lições de Filosofia.

No Rio de Janeiro, estamos premiados com Trovas de renomados Trovadores, o que muito nos honra e nos envaidece:

Almerinda Liporage – Rio de Janeiro - RJ
Se uma Trova me entristece,
fazê-la, sei que não devo ...
Tristeza ninguém merece
e, por isso, eu não a escrevo...

Benedita Azevedo - Mauá - RJ
Fazer trova com carinho
faz bem ao nosso viver.
Fazer da trova um bom vinho,
é só questão de querer...

Maria Madalena Ferreira - Magé - RJ
Meu dia nasce risonho;
minha emoção se renova
sempre que acordo de um sonho
e trago pronta, uma Trova...

Renato Alves – Rio de Janeiro - RJ
A trova é pequena flor
que brota do sentimento...
Com redondilhas e amor
traz à vida um grande alento!

Agora, amigos, dadas algumas informações sobre a Trova, que esperamos tenham sido proveitosas, apresentamos, a Trova de autoria do saudoso irmão – Trovador, José Maria Machado de Araújo, que representa o desejo de todos nós, que diz :

“Trovadores, meus irmãos,
vamos viver que mãos dadas,
que onde há correntes de mãos,
não há mãos acorrentadas !

Convidamos, agora, o “cantor – poeta” Antônio Moreira, para, homenageando à Academia Brasileira da Trova, seus associados e todos os Trovadores presentes, interpretar a mais bela canção já composta em homenagem aos Trovadores :

O Trovador
Jair Amorim e Evaldo Gouveia

Sonhei que eu era um dia um trovador
dos velhos tempos que não voltam mais
cantava assim a toda hora
as mais lindas modinhas
do meu Rio de outrora
Sinhá Mocinha de olhar fugaz
se encantava com meus versos de rapaz.
Qual seresteiro ou menestrel do amor
a suspirar sob os balcões em flo
na noite antiga do meu Rio
pelas ruas do Rio
eu passava a cantar
novas trovas em provas de amor ao luar
e via então com um lampião de gás
na janela a flor mais bela em tristes ais!!!

Como uma homenagem ao grande responsável pelo imenso movimento trovadoresco existente até os nossos dias, Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira, registramos uma Trova de sua autoria, que todos nós os Trovadores aplaudimos e comungamos do seu louvável pensamento.

A Trova tomou-me inteiro
tão amada e repetida,
agora traça o roteiro
das horas da minha vida.

E, finalmente, agradecendo em meu nome e da União Brasileira de Trovadores, Seção Rio de Janeiro, à Trovadora Alba Helena Correia, membro da Diretoria da Academia Brasileira da Trova e demais associados pela oportunidade que nos foi concedida, acrescentamos :

Estou realmente encantada
por tudo que me fizeram
e levo na alma guardada
toda a atenção que me deram ...

Findando esta cerimônia
que me deixou encantada,
eu quero ter muita insônia,
para sonhar acordada.

Este conclave comprova
no calor humano infindo
que o mundo de quem faz Trova
é um mundo muito mais lindo ...

Pelo meu dom milagroso
agradeço enternecida
por Deus ser tão generoso
pondo a Trova em minha vida...

E entre amantes da Poesia
me felicito porque
trouxe para a Academia
lições de amor da UBT.

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1002380