quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Semana Literária – Maputo 2011: O Ensaio para um Verdadeiro Festival Literário (até 16 de Dezembro)

Sala do Centro Cultural Moçambique-Brasil
Maputo (Moçambique) é palco de debates literários e palestras que juntam Governo, escritores, docentes de literatura e de língua portuguesa, artistas musicais e jornalistas, numa iniciativa denominada “Semana Literária”, levada a cabo pelo Movimento Literário Kuphaluxa, na semana em que comemora o seu segundo aniversário de criação. A decorrer nos dias 09, 12 a 16 de Dezembro, o evento visa igualmente marcar o início das ações rumo à realização daquela que será a primeira Festa Literária de Maputo, e acontece no Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo, entre as 17 e 20 horas.

Durante seis dias, cerca de nove temas são debatidos seis temas, proferidas duas palestras e uma conversa lírica, a terminar com um sarau cultural intitulado “A encarnação do verbo”, para marcar a festa dos dois anos do movimento. A “Semana Literária” começa debatendo as questões do Livro como patrimônio e base de construção sociocultural, no dia 09 de Dezembro (sexta-feira) as 18 horas, pelos ministérios da Educação e da Cultura, Celso Muianga da editora Ndjira e a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), com a moderação do filósofo, escritor, crítico literário e docente universitário, António Cabrita.
Juvenal Bucuane

Segunda-feira, dia 12 de Dezembro, as 17 horas, a vez do tema “A organização dos escritores e o seu papel para a construção de um Moçambique Literário” a ser debatido pelo Secretário-geral da AEMO, Jorge de Oliveira e pelo escritor, Juvenal Bucuane.

No mesmo dia, as 18 e 30, os jornalistas e linguistas, debatem as páginas culturais e a abordagem dos assuntos literários, num debate a contar com três painelistas, nomeadamente, Policáripio Mapengo, jornalista do grupo SOICO (O País e Stv), Nélio Nhamposse, escritor e revisor linguístico, Rogério Guambe, linguista e director da Rádio Cidade em Maputo.

O atual estágio da Literatura Moçambicana e o surgimento de novos autores estará em discussão num debate encabeçado pelo escritor e docente de literatura moçambicana na Universidade Eduardo Mandlane, Lucílio Manjate, AEMO e pela editora Ndjira, na terça-feira, dia 13 de Dezembro as 17 horas.

Já no dia seguinte, quarta-feira, 14 de Dezembro, a escritora Ana de Sousa Baptista na companhia do escritor, docente universitário e membro da comissão nacional do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Calane da Silva, refletem sobre “as vantagens e desvantagens da ratificação do Acordo Ortográfico para a Literatura de língua portuguesa”, as 17 horas.

As 18 e 30 do mesmo dia, os escritores Élio Martins Mudender e Alex Dau, orientam uma palestra sobre “o ser escritor, o que escrever e para quê escrever”.

Quinta-feira, 15 de Dezembro, será a vez das mulheres. As escritoras Emmy Xyx e Rinkel, vão debater o espaço que as mulheres ocupam na literatura moçambicana, com a moderação da ensaísta e docente universitária, Sara Jonas, seguindo do tema “Revistas Literárias – a nascente dos escritores moçambicanos”, orientado por Pedro Chissano, que versará sobre a revista Charrua, Aurélio Furdela versará sobre a revista Oásis e por último Eduardo Quive, vai falar sobre a revista Literatas.

Sexta-feira, dia 16 de Dezembro, os ânimos da Semana Literária vão centrar-se, primeiro, numa Conversa Lírica intitulada “Ritmo, Arte e Poesia” com o rapper do agrupamento Xitiku ni Mbaula, Dinguizuay e pelo poeta, Sangare Okapi as 16 horas. Já ao anoitecer, será a vez do esperado sarau cultural “A Encarnação do Verbo” a ser abrilhantada por declamadores e leitores do Movimento Literário Kuphaluxa, entre representações teatrais, com a música a cargo do jovem músico Dudas Aled. Uma verdadeira noite de exaltação dos novatos e encerramento das actividades do ano 2011, em dias em que o Kuphaluxa regista os dois anos de existência.

A NOMEAÇÃO DE MEMBROS HONORÁRIOS

Marca a celebração dos dois anos do Kuphaluxa, a nomeação de membros honorários da agremiação, a figuras da literatura moçambicana e lusófona que contribuíram para o crescimento da mesma.

Entre os honrados, já são conhecidos como nomeados os escritores Rubervam Du Nascimento de Piauí, Brasil, que neste ano, na sua visita a Moçambique pela primeira vez, realizou diversas actividades com o movimento e a destacar, a doação de 50 livros da sua autoria. Ainda do Brasil, as escritoras, Ana Rüsche, e Luana Antunes Costa, integram essa lista, acompanhados pela escritora Lurdes Breda de Portugal. Ana Rusche, também deslocou-se a Maputo pela primeira vez e durante quatro dias realizou várias actividades com o Movimento Literário Kuphaluxa, além de ter trazido na sua bagagem, vários livros para oferecer ao movimento, a escolas e à Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Será a primeira vez que o Kuphaluxa vai anunciar oficialmente a nomeação de membros honorários, numa altura que só o escritor Calane da Silva tinha esse título.

Visite o blogue do Movimento Literario Kuphaluxa
http://kuphaluxa.blogspot.com

Fonte:
E-mail de comunicação do evento por Amosse Mucavelle.
http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com/

Gislaine Canales (Feliz Natal)


As vozes dizem: Hosana!
É Natal. Só paz e amor!
O universo se engalana
num parto de luz e cor!

Papai Noel, com carinho,
eu te peço, por favor:
põe em cada sapatinho
uma gotinha de amor!

Neste Natal eu queria
que o mundo fosse melhor,
que presenteasse alegria
e desse abrigo ao menor!

Que a paz chegasse, afinal,
que a justiça se fizesse,
e um verdadeiro Natal,
realizasse, a nossa prece!

Da cidade da alegria,
desta Camboriú legal,
eu lhe desejo, em poesia,
um belo e feliz Natal!

Que, em 2012, a Trova
seja nossa inspiração
e o ano, que se renova,
tenha maior emoção!

Fonte:
Poema enviado pela autora

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte XIV


PARÁGRAFOS.

Use parágrafos diferentes para idéias (assuntos) diferentes. Uma redação sobre o carnaval atual, por exemplo, você poderá subdividi-la em três parágrafos, a saber:

PRIMEIRO PARÁGRAFO

Carnaval de clube, mencionando a grande beleza na sua decoração, a presença de dois conjuntos tocando, quando for o caso, para que o folião pule o tempo todo, sem parar, com mais conforto, pelo fato de o ambiente ser fechado, etc.

SEGUNDO PARÁGRAFO

Carnaval de rua, dando especial destaque ao desfile dos blocos, das escolas de samba e aos trios elétricos.

TERCEIRO PARÁGRAFO

Conclusão, citando a ressaca (o cansaço), o dinheiro gasto, as noites sem dormir, etc.

O texto deve ter parágrafos bem distribuídos, articulados e interligados um ao outro coerentemente.

Não construa parágrafos longos, constituídos de um só período composto, recheado de orações e de relações sintáticas.

Não faça parágrafos muito curtos nem muito longos. O ideal seria que contivessem, no mínimo, 4 linhas e, no máximo, 7 linhas.

Não deixe parágrafos soltos. Faça uma ligação entre eles, pois a ausência de elementos coesivos entre orações, períodos e parágrafos é erro grave.

Obedeça ao parágrafo ao iniciar a redação, isto é, não comece a escrever logo no início da linha. O parágrafo é marcado por um ligeiro afastamento com relação à margem esquerda da folha (três centímetros aproximadamente). E sempre que houver outros parágrafos no decorrer da redação, siga o alinhamento do parágrafo inicial.

PARÊNTESES, TRAVESSÃO DUPLO.

Sempre que quiser fazer dentro da narração ou da descrição, um comentário à parte, empregue os parênteses ou o travessão duplo.

PARÓDIA.

É a imitação engraçada ou ridícula de outro texto.

PERÍFRASE OU AUTONOMÁSIA.

É uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.

Visitou a cidade do forró.
Pelé, o Rei do Futebol, fez muitíssimo pelo esporte.
O Príncipe dos Poetas também teve outras atividades que o tornaram famoso.

PERÍODO.

Construa períodos com duas ou três linhas no máximo.

PLANEJAMENTO.

Toda redação tem: Introdução (princípio), desenvolvimento (meio) e conclusão (fim).

O planejamento do texto que escreve não deve ser visto como algo contra sua liberdade de expressão, mas como um guia para aumentar suas chances de sucesso.

Planeje o texto.
Delimite o tema, defina o objetivo, selecione as idéias capazes de sustentar sua tese.
Depois, faça um plano com o assunto geral do texto, o aspecto do tema que vai ser tratado, aonde quer chegar e, finalmente, os argumentos, exemplos, comparações, confrontos e tudo que ajudar na sustentação do ponto de vista que quer defender.

PLANO.

Faça sempre, antes de escrever, um plano escrito de sua redação, para orientar-se e observar melhor a seqüência das idéias apresentadas.

PLEONASMO OU REDUNDÂNCIA.

É a repetição desnecessária de palavras, expressões ou idéias.

FRASES COM PLEONASMOS__________CORRIJA-AS PARA
Subir para cima______________________Subir
Entrar para dentro____________________Entrar
Voltar para trás______________________Voltar
A brisa matinal da manhã enchia-o de alegria.___A brisa matinal enchia-o de alegria.
Ele teve uma hemorragia de sangue. _______Ele teve uma hemorragia.

No entanto, pode ser usado como figura de construção, com função estilística, para enfatizar uma idéia e tornar a mensagem mais expressiva.

A mim, ensinou-me tudo.
A música exige ouvidos de ouvir!
As flores, dou-as a você, com carinho.

PLURAL.

Cuidado com a formação do plural de algumas palavras, sobretudo as compostas — primeiro-ministro, abaixo-assinado, lusobrasileiro, etc.

POLISSEMIA.

Tire proveito da polissemia das palavras, para criar situações de mal-entendidos e de humor.

Os políticos fazem na vida pública o que os outros fazem na privada.

A máquina de ferro resfolegava à distância, seu apito chegando até os passageiros que esperavam pelo embarque. Quando o trem parou, a movimentação tomou conta da plataforma da estação.

POLISSÍNDETO.

É a repetição de conjunções para conseguir determinado efeito na frase. Use-o nas enumerações para sugerir o excesso e a reação da personagem ou do narrador a esse exagero.

FRASES COM POLISSÍNDETOS

Mão gentil, mas cruel, mas traiçoeira.
Falei, e falei, e pedi, e supliquei, tudo em vão.
Foi então que chorei e chorei até que ele me ouvisse.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Manoel Barros (Poemas Rupestres) Parte VII, final


O COPO

Estava o jacaré na beira do brejo
tomando um copo de sol.
Foi o menino
E tascou uma pedra
No olho do jacaré.
O bicho soltou três urros
E quebrou o silêncio do lugar.
Os cacos do silêncio ficaram espalhados
na praia.
O copo de sol não rachou nem.

Uma metáfora sustenta a construção deste poema: ‘um jacaré tomando um copo de sol!'

Como sempre o infante mexeu com o jacaré e lhe tascou uma pedra no olho. Os urros do jacaré suscitaram a outra grande metáfora do poema: ‘quebrou o silêncio do lugar!' e os cacos do silêncio, para o menino ficaram espalhados na praia devido ao urros do jacaré ofendido no olho.

Mas a metáfora do poema persiste: ‘O copo de sol não rachou nem!”

Talvez o poema tenha surgido devido ao linguajar popular que afirma “estou tomando sol”. No poema o sol é servido no copo.

ARMÁRIO

O avô despencou do alto da escada aos
trambolhos.
Como um armário.
O armário quebrou três pernas.
O avô não teve nada.
Ué! armário não é só um termo de comparação?
Aqui em casa comparação também quebra perna.
O avô dementava as palavras.

Como no poema anterior, o poeta brinca com as palavras e com as possibilidades que existem nelas de as fazer significar. Com uma agilidade de criança usa de uma metáfora, como usara no poema anterior, com a palavra polissêmica maçã, com a palavra armário e com os jogos de linguagem com as pernas.

Como interlocutor aparece o avô que tem gosto inusitado de estar em lugares muito estranhos.

Ainda tem uma maneira especial de se relacionar com o processo metafórico, torna-o lúdico e lhe revela o caminho de adquirir outro significado, mas ironiza e cria outro sentido, outro processo, mais aberto: “Aqui em casa comparação também quebra perna.” Como o avô poderia ter quebrado a perna pelo tombo assim como o armário que, imaginariamente, teria despencado da escada e quebrado três pernas, somente como segundo termo de comparação, o que não aconteceu, pois o avô não quebrou a perna como o armário deveria ter quebrado três pernas.

Como conclusão: “O avô dementa as palavras.” Estas, quando nas mãos do avô despreendiam-se de seus significados comuns, enlouqueciam e passavam a indicar o inusitado. Esse avô tornou-se poderoso e bom mestre do poeta. Poesia ou poeta é aquele que enlouquece as palavras para fazê-las dizer ou significar algo fora do seu comum expressar.

Enlouquecer as palavras é tirar-lhes a lógica comum para assumir outros parâmetros de significação, principalmente para inaugurar sentidos e horizontes novos. Também para inaugurar poetas. Em outras palavras, o avô, o poeta, carnavaliza as palavras.

O CASACO

Um homem estava anoitecido.
Se sentia por dentro um trapo social.
Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado
e sujo.
Tentou sair da angústia
Isto ser:
Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no
lixo.
Ele queria amanhecer.

Poema simples e extraordinário capaz de revelar as angústias humanas.

Com três metáforas básicas disseca a evolução interior do homem.

Entre os limites do paradoxo entre o anoitecer e o amanhecer, acontece o traçado da angústia de um homem.

No trajeto de sua história ele – “Se sentia por dentro um trapo social”. Maior desgaste ou estado lamentável não poderia haver.

Em seguida para descrever o estado de miséria interior, usa a metáfora do ‘casaco rasgado e sujo'.

A concepção do poeta coloca nele a capacidade de reagir e de suspirar por outros momentos, quer sair dessa situação. Então o homem “queria jogar o casaco rasgado e sujo no lixo.” Essa atitude do homem angustiado é o exato momento, situação ou realidade que o poeta quer expressar, quer colher com dignidade.

Angustiar-se e anela-se,r deixar o peso da angústia, querer sair do jugo da angústia é o instante ou momento que é aprofundado e retratado pelo poeta como a vontade de um nascimento, de um renovo. A força da vida e dos desejos de liberdade e tranqüilidade impele o homem para uma situação de dignidade ou de abertura. O instante da constatação do nascimento desse desejo é construído pelo poeta com um verso magistral que inaugura a vida, a força vital, a alma humana e seus anseios: “Ele queria amanhecer”.

“Amanhecer” é a grande metáfora de todos os inícios e de todas as situações de renovação e de todas as esperanças de renascimentos. Aqui, pelo contexto do poema o verso inaugura a força, mesmo humilde, do início de um desejo, de um princípio de querer renovar-se.

Por outro lado o verbo amanhecer, por sua natureza abre horizontes amplos e iluminados. Um homem que quer amanhecer, quer deixar o horizonte estreito e estrangulador de uma noite de angústia da alma.

Não poderia haver fecho mais poético que “Ele queria amanhecer”.

O OLHAR

Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.

O olhar como ponto de vista para se entender e entender o mundo ou os processos. Surge neste pequeno poema uma consideração pelo homem e por valores da vida a partir de um foco: o olhar.

Antes de tudo somente vê quem quer ver. Pode-se olhar para tudo e a nada se fixar ou adquirir uma ciência que passa pelos olhos para se enxergar e perceber as diversas dimensões da vida.

O olhar no poema surge pela metáfora do andarilho. O andarilho pode e deve em seu percurso ter pontos de vista bem diferentes. Não repete o ponto de partida para fixar a origem, o olhar e, concomitantemente, o sujeito do olhar. O andarilho varia constantemente seu ponto de vista e não se repete. Esse andarilho tem a propriedade de ter um olhar marcado pela liberdade do trajeto. De outra forma, o percurso do andarilho vai semeando-lhe pontos de vista para contemplar as paisagens. Uma vez escolhido o percurso determinam-se os pontos de vista do olhar. Porém, no poema, a denominação de andarilho está para a plena liberdade dos percursos. Andarilho combina com aquele que anda sem rumo fixo, determinado. Este é o ponto de vista do poeta que assim vai explicitando o olhar do andarilho.

Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.

Constata-se que o andarilho tinha um olhar de amplidão; fixava-se em horizontes vastos e nunca repetidos: o sol marca sua trajetória pelo movimento contínuo (Nosso), as águas não se repetem, mesmo quando em estado de lagoas ou represadas; as árvores estão aí mas variam, e finalmente as aves que não repetem os seus vôos. Assim tudo pode ser diferente a cada momento: o sol visto por entremeio das nuvens ou com céu límpido; as águas em seus movimentos que inventam até sons e as aves que não deixam rastros.

Elementos que determinam uma qualidade vital para a variabilidade da vida, a liberdade para se construir e inventar.

Tudo o que é muito poderoso e definitivo ou definido já dominou o seu horizonte, não poderá ver como o andarilho aprendeu a ver. O poder e as certezas estabelecidas impedem a simplicidade para se recriar ou mudar de lugar, do ponto de vista para se ver e ver a realidade. No andarilho as possibilidades foram incorporadas a ponto de o poeta afirmar que o seu olhar tinha os pontos de vista do sol, das águas, das árvores e das aves. Nem sequer deixou de ser pessoa ao incorporar as visões de outras perspectivas, simplesmente ampliou a sua liberdade.

O preço de sua liberdade foi o julgamento dos “outros” que se fixam – o desapego era evidente ou notável a ponto de “Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos”. Logicamente aqui para expressar a abrangência desse estado de liberdade, nem sequer necessita de proteção da roupa. Uns simples trapos compõem sua liberdade. Trapos aqui não para dizer o empobrecido, mas o ampliado.

Por fim o poeta conclui: “O silêncio honrava a sua vida”.
O comedimento de quem descobriu a simplicidade e não se põe a julgar. Somente pode assumir o silêncio como experiência do aprendizado e do aprofundamento. As descobertas são tantas que a possibilidade de outras tantas leva-o a esperá-las, a estar comedido em seu olhar que lhe oferece a simplicidade como valor e parâmetro. Acredita que todos estejam iluminados em suas liberdades para integrarem as inaugurações que o mundo e a vida lhes oferecem.

De forma inequívoca o silêncio deveria ser a aura de sua liberdade, de seus pontos de vista inaugurados com simplicidade e sabedoria. Nem todos estão preparados para abrir mão do poder, até o poeta que se admirou do andarilho.

––––––––––––––-
Nota do Blog: Alguns poemas do livro foram propositalmente não incluidas nestas análises por serem de teor erótico, o que estaria ferindo os objetivos deste blog.

Fonte:
Portal das Letras - Pe. Afonso de Castro
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/p/poemas_rupestres

Cesar Cardoso (Lançamento dos Livros Infantis: O Que É Que Não É? e Você Não Vai Abrir?)


O escritor Cesar Cardoso está lançando dois novos livros para o público infantil. O Que É Que Não É?, ilustrado por Cris Alhadeff, é um jogo de esconde-esconde entre as imagens e o texto, onde um inocente chafariz pode virar um esguicho de baleia. Mal saiu do forno, o livro já foi selecionado para o Programa Nacional de Biblioteca da Escola - PNBE, e chegará às bibliotecas das escolas públicas de todo o país. Você Não Vai Abrir?, ilustrado por Salmo Dansa, propõe um outro jogo. Nas páginas dele, o autor e o próprio livro discutem quem é que realmente conta as histórias. E na briga dos dois quem sai ganhando é o leitor, que se delicia com poesias, contos, notícias e outros textos, sempre com muito humor.

Os dois livros, publicados pela Editora Biruta, serão lançados na Livraria Museu da República, na quarta feira, dia 14 de dezembro, das 19 às 22 horas. A livraria fica na Rua do Catete 153, no Rio de Janeiro.

O carioca Cesar Cardoso (1955) é escritor, poeta, fotógrafo e roteirista e edita o blog PATAVINA'S (http://cesarcar.blogspot.com). Em 2010 realizou a exposição de fotos No Vermelho Piscante Gire Com Cuidado, no Centro Cultural Carioca. Já escreveu para programas como Tv Pirata, Sai de Baixo, a Grande Família, Toma Lá Dá Cá e atualmente está no programa Os Caras de Pau, da Rede Globo.

Fonte:
O Autor

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Paraná em Trovas Collection - 28 - Sinclair Pozza Casemiro (Campo Mourão)

Clevane Pessoa (Para Sermos Nós Mesmos)


Temos que aprender a reedificar nossas edificações interiores, que muitos tentam destruir. Dentro de nós, nos vem um instrumento belo e forte que se chama intuição. Caímos num mundo feito muito, muito tempo antes de nós, e ele está cheio de dogmas, leis, normas e preceitos, conceitos e preconceitos. Necessidades que nos afastam de nós mesmos. Crianças costumam acreditar - e uma de nossas maiores "conquistas" apreendidas do mundo externo é desacreditar no outro, desconfiar de quem nos cerca. Como nos enganam, quando nos fazem esquecer a criança dentro de nós...

Se estamos a caminhar apressados e nos perguntam as horas, levamos um susto, a carga adicional de adrenalina no sangue, a taquicardia paroxística, traduzidas do medo que hoje sentimos de outros humanos, é muito triste.

Claro, há motivos: assaltos, arrastões, seqüestros relâmpagos e demorados. Numa capital, por exemplo, não se fica a conversar na porta de casa, não se cumprimenta quem por nós passa muito depressa, tão depressa quanto nós também passamos pelos outros. Nas praças, caminha-se, corre-se, sem sequer olhar para os lados. Às vezes, um cãozinho na coleira nos proporciona um dedo de prosa. Não são contados "causos".

Aquele que morre, é um entre dezenas. O que nasce, na Maternidade, já terá a companhia de outras pessoazinhas nos berçários.

Não somos mais "o" alguém... O filho de seu fulano, o neto do velho beltrano. Passamos a ser " um". Um médico, um carteiro, uma advogada, mais um, mais uma.

Kierkegaard,em 1850, já chamava a atenção para o fato de que um indivíduo será sempre superior à sua espécie vista como um todo.

A nossa individualidade é que nos torna singulares. Claro, a adaptabilidade é um exercício: sofre menos, quem se adeqüa ao necessário. Mas não precisamos ser quais animaizinhos amestrados, aquele que se curva ao mestre, ao dono, ao chefe, a patrão, a ponto de perder-se de si, nem adestrados, aqueles que renunciam aos seus próprios ideais e filosofia de vida, à sua maneira de ser, para não perder um emprego, um status, um casamento sem amor, mas que traz benefícios pecuniários, por exemplo.

Há um tempo, na vida, em que precisamos, sim, ser alunos e ter mestres. Somos filhos a quem os pais ensinam. Temos de respeitar os que vieram antes, os que já estudaram mais, os mais sábios, instrutores de fé, de crenças. Mas nem estes têm direito de nos subjugar, amordaçar, calar.

Respeitar alguém não significa ser-lhe subserviente. O brio de ser, o brilho da individualidade, somente lustra nossa personalidade.

Quantos, para agradar a companheiros conjugais, amantes e namorados, não raras vezes, amigos, anulam-se, desconstroem-se, desinstalam-se de seus melhores traços? Renunciam a suas metas, a seus dons, a seus talentos.

Somente deveremos exercer profissões que nos atraiam, nas quais nos sintamos realizados e felizes.

A propósito: há algo de mal na felicidade? Quantas pessoas acreditam-se não merecedores da felicidade plena? Pois saibam que a busca da ventura é o primeiro dever do seres humanos.

Quando, em outubro, fui ao CLESI, em Ipatinga, MG, receber a antologia Prosa Gerais e o troféu de segundo lugar por "O balão Amarelo", conheci, na van do Resort San Diego, que nos levava ao auditório da USICULTURA, um jovem e talentosos poeta e contista.

Conversa vai, conversa vem, ele contou que morava em Juiz de Fora (onde morei), que era belorizontino (onde agora resido). E, pasmem (eu não!), deixou o cursos de Medicina, para ser... Poeta.

Adorei conhecer tal força, tal auto-respeito, em alguém ainda longe dos trinta anos anos. Ele subiu ao palco três vezes. Certamente as palmas, para os conhecedores, como eu, dessa escolha maravilhosa, tinham um sentido muito maior.

Sim, às vezes, é belo renunciar. Mas por uns tempos, por favor! Como viver longe de si mesmo, da pessoa que você veio destinada a ser? É preciso adquirir a habilidade de estabelecer espaços, hiatos de temporalidade, momentos de generosidade em prol do outro. Isso é belo. Mas assim que puder, rasgue os ombros e deixe que dos cortes, nasçam asas. E voe, sendo você mesmo...

Há quase três décadas, escrevi:

"A liberdade de ser
É o espaço do ser,
Dentro do estar, para fazer-se."

Eu própria, embora não divorciada da Literatura, nem dissociada de minha essência poética,p ara responder às necessidades de ser companheira e mãe, deixei por uns tempos,paralela a tudo mais, a minha vocação de escrever.

Assim que pude, no entanto, retomei as hastes de minhas flâmulas, redesenhei os brasões de meu ideal e voltei ao meu fazer de escritora, amante das palavras, sacerdotisa do verbo.

E jamais escrevi tanto: eu , de mim, aqui estou, militante por mim mesma, pelo meu modo de ser- estar no mundo...

O sentido da Vida, é simples:viver. Mas não se traia, nem se esqueça. Lembre-se de você, fruto de si mesmo. Lembre-se sempre de ser único. Você...

Com os melhores votos de feliz e consciente Ano Novo. Sempre é tempo de mudar, quando é preciso. Mude para melhor. Você tem esse direito. Todos nós temos: o direito de sermos nós mesmos.

Artur de Azevedo (Assunto para um Conto)


Como sou um contador de histórias, e tenho que inventar um conto por semana, sendo, aliás, menos infeliz que Scherazade, porque o público é um sultão Shariar menos exigente e menos sanguinário que o das Mil e Urna Noites, sou constantemente abordado por indivíduos que me oferecem assuntos, e aos quais não dou atenção, porque eles em geral não têm uma idéia aproveitável.

Entre esses indivíduos há um funcionário aposentado, que na sua roda é tido por espirituoso, o qual, todas as vezes que me encontra, obriga-me a parar, diz-me, invariavelmente, que estou ficando muito preguiçoso, e, com um ar de proteção, o ar de um Mecenas desejoso de prestar um serviço que aliás não lhe foi pedido, conclui, também invariavelmente:

- Deixe estar, que tenho um magnífico assunto para você escrever um conto! Qualquer dia destes, quando eu estiver de maré, lá lh'o mandarei.

Há dias, tomando o bonde para ir ao Leme espairecer as idéias, sentei-me por acaso ao lado do meu Mecenas, que na forma do costume começou por invectivar a minha preguiça, e prosseguiu assim:

- Creio que já lhe disse que tenho um assunto para o amiguinho escrever um conto...

- Já m'o disse mais de vinte vezes!

- Qualquer dia lá lh'o mandarei.

- Não! Há de ser agora! O senhor tem me prometido esse assunto um rol de vezes, e não cumpre a sua promessa. Nós vamos a Copacabana, estamos ao lado um do outro, temos multo tempo... Venha o assunto!...

- Não; agora não!

- Pois há de ser agora, ou então convenço-me de que tal assunto não existe, e o senhor mentiu todas as vezes que m'o prometeu!

- Ora essa!

- Sim, que o senhor tem feito como aquele cidadão que prometia ao Eduardo
Garrido, todas as vezes que o encontrava, um calembour para ser encaixado na primeira peça que ele escrevesse. Até hoje o Garrido espera pelo calembour!

- Eu tenho o assunto do conto, explicou o Mecenas, mas queria escrevê-lo...

- Para quê? Basta que m'o exponha verbalmente.

- Então lá vai: é a história de uma herança falsa, um sujeito residente na Espanha escreve a outro sujeito residente no Rio de Janeiro uma carta dizendo
que morreu lá um homem podre de rico, chamado, por exemplo, D. Ramon, e que esse homem não deixou herdeiros conhecidos: a herança foi toda recolhida pela nação; mas o tal sujeito residente na Espanha, que é um finório, manda dizer ao tal sujeito residente no Rio de Janeiro, que é um simplório, que existem aqui herdeiros, cujos nomes ele não revelará ao simplório sem que este mande pelo correio tantas mil pesetas. O simplório manda-lhe o dinheiro, e fica eternamente à espera dos nomes dos herdeiros. - Que tal?

- Muito bom!

- Você não acha aproveitável este assunto?

- Acho-o magnífico, interessantíssimo, espirituoso! Tanto assim que vou escrever o conto e publicá-lo no próximo número d'O Século!

- Ora, ainda bem! Quando lhe faltar assunto, venha bater-me à porta: o que não me falta é imaginação!

- Muito obrigado; não me despeço do favor.

Como vê o leitor, aproveitei o assunto do imaginoso Mecenas.

Guerra Junqueiro: Contos para a Infância (Não Quero)


Um dia, indo eu pela estrada, ouvi dois rapazinhos falando muito alto:

– Não, dizia um com voz enérgica, não quem.

Parei e perguntei-lhe:

– Que é que tu não queres, meu rapaz?

– Não quero dizer à minha mãe que venho da escola, porque é mentira. Vai-me ralhar, bem sei; mas dantes me ralhe do que mentir.

– E fazes bem, volvi eu. És um rapaz como se quer.

Apertei-lhe a mão, enquanto o outro pequeno, o que lhe insinuara a mentira, se ia embora todo envergonhado.

Daí a tempos, passando pela mesma aldeia e necessitando de falar ao professor, entrei na escola, onde reconheci logo os dois pequenos; o que não quis mentir, sorria-me, enquanto que o outro, vendo-me, baixou os olhos. Ao despedir-me, interroguei o mestre sobre os dois alunos:

– Oh! disse-me ele, falando do primeiro, é um magnífico estudante, um pouco teimoso mas honrado, sincero, sempre disposto a confessar as suas faltas e, o que é ainda melhor, a repará-las. O outro, ao contrário, é mentiroso, covarde, incorrigível.

– Pois já vejo que me não tinha enganado.

E contei-lhe o que se passara.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 424)


Uma Trova Nacional

Natal... o bater do sino...
Invoca-me algo risonho,
o sorriso do menino
na paisagem do meu sonho.
–FERNANDO CÂNCIO/CE–

Uma Trova Potiguar

Mangedoura, os Reis Magos,
em nome da humanidade,
trazem presentes e afagos
pra saudar a divindade.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2001 - Petróplis/RJ
Tema: “JESUS” - 19º Lugar.

Meus filhos, não lastimeis
se a sorte às vezes vos falha...
Lembrai: Jesus, Rei dos Reis,
nasceu em berço de palha!...
–ERCY MARIA M. DE FARIA/SP–

Uma Trova de Ademar

Que na noite de Natal
vivamos apenas isto:
um momento fraternal
e uma louvação a Cristo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Natal... repicam os sinos...
banha-se o mundo de luz...
Há nos lábios dos meninos
o sorriso de Jesus!
–COLBERT R. COELHO/MG–

Simplesmente Poesia

“Trovadoresco” é Natal!
–RENATO ALVES/RJ–

O grande Ademar Macedo
manda um brinde especial
que leio agora bem cedo...
"Trovadoresco" é Natal"

Meu muito obrigado, amigo!
É bom saber, afinal,
que posso contar contigo
pra espantar o baixo-astral!

Estrofe do Dia

Mais um Natal se aproxima
e um desejo me consome:
poder ver Jesus de perto
e pedir a ele em meu nome
que tire um pouco dos nobres,
ponha na mesa dos pobres
para amenizar a fome.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Natal Cristão.
–AMILTON MONTEIRO/SP–

Natal cristão é impróprio à comilança
e, de igual modo, à zorra e à bebedeira.
É festa dedicada a uma criança
terna e divinamente alvissareira!

É o aniversário alegre da esperança
que Deus mandou à nossa terra inteira.
É aleluia! É bem-aventurança!
Fraternidade pura e verdadeira!

Natal é dia de abraçar o irmão
de qualquer raça, cor ou devoção...
Já que nós temos sempre o mesmo Pai!

É desejar-lhe paz, saúde e amor,
em casa, no trabalho, onde for...
Enquanto a breve vida não se esvai!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte XIII


ORDENAÇÃO.

A falta de ordenação das idéias é um erro comum e indica, segundo os organizadores de vestibulares, que o candidato não tem o hábito de escrever. O texto fica sem encadeamento e, às vezes, incompreensível, partindo de uma idéia para outra sem critério, sem ligação.

ORGANIZAÇÃO.

É avaliada a capacidade do aluno de organizar os argumentos que fundamentarão a conclusão do texto.

Seu texto está bem organizado? Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão?

Tem frases curtas e claras, ausência de termos repetidos, seqüência dos fatos e criatividade?

ORIGINALIDADE.

Seja o mais original possível, porque a transcrição de frases implica perda de pontos preciosos quando da correção da redação.

Ser original não é criar algo novo para a literatura, é sermos nós mesmos. Escreva à sua maneira, imprima sua marca pessoal ao SEU estilo, evitando os lugares-comuns e os chavões.

Como ser original ao se fazer uma redação? É simples, ouse. Se você se limita a repetir o que todo mundo diz, como um papagaio, com medo de errar, provavelmente cairá no lugar-comum e na mediocridade. Tenha a preocupação de inovar, com coragem. Seja atrevido. A segurança virá aos poucos e com a satisfação de perceber que fez algo seu, com seu próprio padrão de qualidade.

O uso excessivo de certas figuras de linguagem ou de alguns provérbios acarreta o empobrecimento da redação. Como tudo que existe, as palavras também se desgastam. É preciso criar novas figuras para expor suas idéias. Escrever que a namorada é uma flor, ou que filho de peixe, peixinho é, não realça a redação de ninguém. Use a imaginação para não precisar desses chavões antigos e pobres.

PALAVRAS.

Use as palavras certas nos lugares certos.

Não exagere no uso de palavras do tipo: problema, coisa, negócio, principalmente, etc.

Entre duas palavras, escolha, sempre, a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta.

Quando for revisar sua redação, corte vocábulos desnecessários, use sinônimos ou, se for o caso, mude a frase.

NO LUGAR DE___________ESCREVA
Empreender______________Fazer
Regressar ou retornar _______Voltar
Pleito__________________Eleição
Usuário_________________Passageiro
Óbito__________________Morte
Matrimônio_____________Casamento

PALAVRAS ADEQUADAS.

Use palavras que estejam em perfeita concordância com o que está escrevendo.

ERRADO
O gosto do dinheiro.
…grande sono, por causa das noites sem dormir.
Tomei banho de piscina.
A canoa quase virou e, por isso, tomei um grande choque.

CERTO
O gosto pelo dinheiro.
…muito sono, por causa das noites sem dormir.
Tomei banho na piscina. (Pode-se tomar banho de água, não de piscina).
A canoa quase virou e, por isso, tomei um grande susto. (Tomar choque é receber uma descarga elétrica. O mais correto, no caso, é tomar um susto.)

PALAVRAS CURTAS.

Prefira palavras curtas e simples. Os vocábulos longos e pomposos criam uma barreira entre leitor e autor. Fuja deles. Seja simples. Entre duas palavras, prefira a mais curta. Entre duas curtas, a mais expressiva.

Casa, residência ou domicílio? Casa, é claro!

PALAVRAS ESTRANGEIRAS.

Evite usar palavras estrangeiras. Quando empregá-las, coloque-as entre aspas.

PALAVRAS OU EXPRESSÕES GASTAS.

Evite escrever palavras ou expressões que, depois de entrarem na moda, tornam-se gastas, como:

desmistificar, contexto, sofisticado, inacreditável, principalmente, devido a, através de, em nível de, tendo em vista, etc.

...é aos dezoito anos que se começa a procurar o caminho do amanhã e encontrar as perspectivas que nos acompanharão para sempre na estrada da vida.

Não se utilize de expressões parecidas com as grifadas no texto, porque são consideradas gastas e vulgarizadas pelo uso contínuo e irão comprometer a boa qualidade do texto.

PALAVRAS REPETIDAS.

Evite as repetições de palavras. Troque-as por sinônimos. Se já usou linda, por exemplo, use bela (ou bonita), a depender da ênfase que queira dar à frase. Após ter usado professor, use educador ou docente. Para não repetir o adjetivo doente, use enfermo.

Portanto, nunca repita várias vezes a mesma palavra. Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas idéias é a insistente repetição de um mesmo vocábulo. Isso causa uma impressão desagradável a quem lê ou corrige sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário.

FRASE COM PALAVAS REPETIDAS
Ela estava que era uma vaidade só, exibia seus vaidosos colares, sua vaidosa fala, seu vaidoso jeito de andar.

MELHOR
Ela estava muito vaidosa aquele dia, exibia colares caros, fala pedante, andava com pompa.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Gato Felix – II – A história da Emília

Na manhã seguinte tia Nastácia apareceu dizendo que do galinheiro havia sumido um pinto. Eram doze e só encontrara onze.

— Que será? — murmurou dona Benta.

— Deve ser alguma raposa que anda rondando por aqui ou algum gato vagabundo. E que pena, sinhá! Sumiu justamente o mais bonito, um carijozinho...

Logo que os meninos souberam do caso, Pedrinho disse:

— Vamos armar uma ratoeira, mas o melhor é consultarmos o Visconde. Depois que foi embrulhado naquele folheto das Aventuras de Sherloque Holmes, ficou tão esperto que é capaz de descobrir o ladrão.

Foram falar com o Visconde, ao qual contaram, tudo. O Visconde deu uma risadinha de detetive e disse:

— Deixem o negócio por minha conta. Irei examinar o local do crime para tomar as minhas providências.

E foi. Foi ao galinheiro onde passou o dia a examinar a poeira do chão, a catar os pelinhos que havia nele, a conversar com os pais da vítima — um lindo galo carijó e uma galinha sura. Enquanto isso Emília pensou, pensou e inventou a historinha que ia contar de noite.

Quando chegou a noite e tia Nastácia acendeu o lampião e disse “É hora!”, a boneca entrou na sala, muito esticadinha para trás, toda cheia de si.

— Era uma vez... — foi dizendo.

— Espere, Emília! — advertiu Narizinho. — Não vê que o Visconde e o gato Félix ainda não vieram?

Nisto chegou o gato e sentou-se no colo de dona Benta. Depois apareceu o Visconde, que entrou para dentro da lata.

Emília começou de novo:

— Era uma vez um rei...

— Eu já sabia que vinha história de rei – interrompeu Narizinho. — Emília vive com a cabeça entupida de reis, príncipes e fadas...

A boneca não fez caso e continuou:

— Era uma vez um “rei”, um “príncipe” e uma “fada”, que moravam juntos num lindo palácio de cristal, na beira do lago mais azul de todos. Uma beleza esse palácio, todo cheio de fios de ouro, que quando dava o vento iam para lá e vinham para cá. E quando dava o sol, os cristais e os ouros brilhavam tanto que quem olhava sentia logo uma tontura e precisava agarrar-se a qualquer coisa para não cair. E o príncipe foi e disse:

— Meu pai: quero casar-me, mas as moças daqui não são bonitas, nem boas de coração. Vou procurar uma pastora bem pobrezinha, mas que tenha um coração de ouro.

— Vai, meu filho — disse o rei — mas leva contigo a fada do palácio. Sozinho, não te deixarei ir.

O príncipe chamou a fada, virou a fada numa bengalinha e virou-se a si mesmo numa formiguinha.

— Eu já sabia que vinha história de virar — disse a menina. — Sem reis e sem “viradas” Emília não passa...

— Virou uma formiguinha — prosseguiu Emília — e saiu andando por uma estrada muito comprida, com aquela bengalinha na mão. Andou, andou, andou até que encontrou uma velha.

— Você caçoou de tantos velhos que havia na história do gato Félix mais vai pelo mesmo caminho — disse tia Nastácia.

— Não me atrapalhe! A minha história só tem esta velha. Encontrou uma velha e disse:

— Velha dugudéia, diga-me, se for capaz, se há por aqui uma pastora assim, assim, e de bom coração.

— Há muitas pastoras por aqui. — respondeu a velha — Mas se têm bom coração não sei. Só experimentando.

— E como se experimenta o coração de uma pastora?

— Virando num pobre bem pobre e indo pedir-lhe esmola.

A formiguinha virou logo num pobre bem pobre e foi pedir esmola às pastoras. Chegou-se à primeira, que estava fiando na roca enquanto o seu rebanho pastava, e disse:

— Gentil pastora, uma esmolinha pelo amor de Deus! Há três anos que não como nem durmo, e se não me dás um pão, morro de fome já neste instante.

A pastora deu-lhe uma pedra, dizendo:

— Aqui tens um pão muito gostoso.

O pobre pegou a pedra, olhou, olhou, olhou e disse:

— Que todos os pães que comas sejam gostosos como este! — e foi andando o seu caminho.

Dali a pouco a pastora sentiu fome; foi comer o pão que trazia no bolso e viu que tinha virado pedra, e quebrou todos os dentes e morreu... Mais adiante o pobre encontrou outra pastora e pediu outra esmolinha. A pastora deu-lhe um osso, dizendo:

— Leva este pão, que é muito gostoso.

— Obrigado — respondeu o pobre — e que todos os pães que comas sejam gostosos como este!

E foi andando. A pastora logo depois sentiu fome e foi comer o pão que estava na cesta e viu que tinha virado osso. Essa pastora não morreu de fome, como a primeira, mas teve de passar a vida roendo ossos feito cachorro. O pobre foi andando, andando, andando, até que encontrou uma terceira pastora. A coitadinha parecia ainda mais pobre do que ele e estava chorando.

— Por que choras, ó gentil pastora? — perguntou o pobre.

— Choro porque minha madrasta, que é muito má, me bate todos os dias. Põe-me neste lugar, guardando estes porcos imundos, e não me dá comida a não ser este pão bolorento e tão azedo que até preciso tapar o nariz quando o como.

— Pois se eu pilhasse esse pão — disse o pobre — dava um pulo de alegria, porque estou morrendo de fome e só encontrei pedras e ossos neste país de pastoras.

A triste pastorinha olhou bem para ele e disse:

— Pois não morrerás de fome. Repartirei contigo o meu pão bolorento.

E partiu o pão bolorento em dois pedaços e deu o maior ao pobre. O pobre agradeceu e foi andando, e a pastorinha começou a comer o seu pedaço de pão bolorento. Tapou o nariz e deu a primeira dentada. Mas viu logo que o pão tinha virado no doce mais gostoso do mundo! Comeu, comeu quanto quis; e quanto mais comia mais sobrava. E voltou para casa pulando de contentamento e palitando os dentes. Sua madrasta percebeu a felicidade da pastorinha e disse:

— Ahn! Estou vendo que você comeu alguma coisa muito gostosa!

— Não comi nada! — respondeu a coitadinha tremendo de medo. — Só comi o pão que a senhora me deu.

A madrasta agarrou-a e cheirou-lhe a boca e ficou furiosa e disse:

— Sua boca está cheirando ao doce mais gostoso do mundo, e como me enganou, vou matá-la.

E foi buscar a faca da cozinha, que era deste tamanho!

A pastorinha, sabendo que ia morrer, pôs-se a rezar lá no fundo do coração:

— Pobre encantado, que transformaste o pão bolorento em doce, socorra-me!

Nem bem acabou de o dizer, a porta abriu-se e o pobre entrou.

— Esconde-te — disse a pastorinha — que ela vem vindo com uma faca deste tamanho.

O pobre escondeu-se atrás dum armário e logo depois a madrasta entrou com o facão. Entrou e disse à menina:

— Reze depressa, que vai morrer.

— Não me mate! — gemeu a pastorinha, tremendo como geléia. — Não me mate, porque estou inocente!

Mas a má madrasta não quis saber de nada e avançou para a coitadinha com a faca no ar. E a faca foi descendo sobre o peito da vítima e a ponta já ia encostando nas suas carnes, quando o pobre veio por trás da madrasta e agarrou-a pelo pulso.

— Miserável! — exclamou. — Quem merecia morrer eras tu, mas vou virar-te num horrendo sapo de cidade.

Nesse ponto Narizinho interrompeu-a.

— Por que sapo de cidade, Emília? Que diferença há entre sapo do mato e sapo da cidade?

A boneca explicou:

— É que nas cidades há muitos moleques que gostam de judiar dos sapos, de modo que sapo de cidade padece mais.

Narizinho voltou-se para dona Benta.

— Já reparou, vovó, como Emília está ficando inteligente? Não é mais aquela burrinha de antes, não...

Emília continuou:

— E imediatamente a madrasta virou no sapo mais feio do mundo e saiu pulando, pulando, pulando e foi para uma cidade onde havia mais de cem moleques nas ruas. Então o pobre disse à gentil pastorinha...

— Adeus, gentil pastora! Vou-me embora para longes terras.

— Que pena! — exclamou ela. — Por que não ficas morando aqui comigo? Como és pobre, trabalharei para ti e comprar-te-ei uma roupa nova e uma cartola.

— Interesseira é que ela era! — observou tia Nastácia. – Sabia que o pobre era dos tais que viram pão bolorento no doce mais gostoso do mundo. Eu se fosse o pobre desconfiava...

— Pois o pobre não desconfiou — disse Emília. — Ele não tinha maldade nenhuma no coração; em vez de desconfiar, beijou a mão da pastorinha e disse:

— Pois aceito — mas com uma condição!...

— Dize qual é — ordenou a pastora.

— É casares comigo!

A pastorinha não vacilou um só instante e aceitou a proposta. E no outro dia veio o padre e casou-a.

— Agora — disse o pobre — vamos sair os dois pelo mundo para tirar esmolas.

E saíram. E foram andando, andando, andando, até que chegaram ao palácio do rei. Bateram na porta e entraram e foram falar com Sua Majestade. O rei estava de coroa na cabeça, sentado no seu trono de ouro e marfim, muito triste porque não tinha notícias do amado filho.

— Que é que queres, senhor pobre? — perguntou o rei.

— Quero dar a Vossa Majestade uma boa notícia.

O rei arregalou os olhos, cheio de esperança, e disse:

— Pois fala, e se a notícia for mesmo boa dar-te-ei os mais ricos presentes.

Então o pobre contou que havia encontrado o príncipe e que ele já tinha casado com a moça de melhor coração do mundo inteiro.

— Bravos! — exclamou o rei. — E quando esse amado filho me aparece por cá?

— Ei-lo! — exclamou o pobre, virando-se outra vez em príncipe. — E eis minha amada esposa. — disse batendo com a bengalinha no ombro da pastora e virando-a na mais linda princesa de todas que existiram, existem e existirão.

O rei ficou alegríssimo e beijou a princesa na testa e disse para o príncipe:

— Muito bem! Só resta agora que fiques rei. Adianta-te, meu filho, e vem sentar-te neste trono, ao lado de tão formosa princesa.

Deste momento em diante o rei és tu, e ela a rainha. Já estou cansado e até enjoado de ser rei. Amém.

Assim terminou Emília a sua historinha, inventada por ela mesma, sem ajutório de ninguém, nem tirada de nenhum livro. Todos bateram palmas e dona Benta cochichou para a negra:

— Boa razão tem você de dizer que o mundo está perdido! Pois não é que essa boneca aprendeu a contar história que nem uma gente grande?

— Mas eu não gostei! — disse o gato Félix, que andava a implicar se com a boneca. — Histórias de virar são muito fáceis. Assim que aparece uma dificuldade, isto vira naquilo e pronto!

— Não acredite, Emília! — gritou Narizinho. — A história que você contou está muito boa e merece grau dez. Para uma boneca de pano, e feita aqui na roça, não podia ser melhor.

Emília, toda ganjenta com o elogio, botou a língua para o gato Félix. Nisto o relógio da sala bateu dez horas.

— Vamos dormir, criançada — disse dona Benta — e amanhã quem vai contar uma história é o Visconde.

No dia seguinte tia Nastácia veio dizer que havia desaparecido outro pinto. Dona Benta ficou muito aborrecida; viu que naquele andar lá se ia a ninhada inteira.

— E Pedrinho? — indagou. — Que é que Pedrinho diz a isto?

— Ele e o Visconde andam lidando, lidando, lá no galinheiro, mas até agora não descobriram nada.

Pedrinho estava naquele momento em conversa com o Visconde no quintal.

— Na minha opinião — dizia ele — isto é alguma raposa que vem visitar o galinheiro de noite.

— Pois eu acho que não é raposa nenhuma — afirmou o novo Sherlock Holmes. — Examinei tudo muito bem examinado, e encontrei um pêlo de animal que não é raposa nem gambá, nem ratazana.

— Que é então?

— Ainda não sei. Tenho que examinar esse pêlo ao microscópio e preciso que você me faça um microscopinho.

— Vovó tem um binóculo. Quem sabe se serve?...

— Há de servir. Vá buscá-lo. Pedrinho foi e trouxe o binóculo de dona Benta. O Sherlock pôs o pelinho em frente do binóculo e examinou-o atentamente. Depois disse:

— Acho que estou na pista do ladrão...

— Quem é?

— Não posso dizer ainda, mas é um bicho de quatro pernas da família dos felinos. Vá brincar e deixe-me só por aqui. Preciso “deduzir” e pode ser que de noite já esteja com o problema resolvido.

Pedrinho foi brincar, deixando o Visconde mergulhado em profunda meditação. Estava um dia muito lindo, de sol quente. Dona Benta sentou-se na sua cadeira de pernas serradas a fim de acabar um vestido de Narizinho e a menina ficou ao seu lado para enfiar a agulha e virar a máquina. E Emília? Emília, na varanda, balançava-se numa pequena rede especialmente armada para ela num canto. A boneca estava pensando na vida, e com idéia de virar escritora de histórias. Nisto o gato Félix, que ia passando, resolveu parar. Sentou-se sobre as patas traseiras e cravou os olhos na boneca, enquanto sua cauda ia desenhando um preguiçoso “S” no ar.

— Que tanto olha para mim? — disse de repente Emília. – Nunca me viu?

O gato fez um riso de ironia e miou:

— Tão importante assim, nunca! Parece que está mesmo convencida de que é uma grande contadeira de histórias.

Emília deu um balanço na rede e murmurou:

— A inveja matou Caim!...

O gato mordeu os lábios e replicou com ar de desprezo :

— Era só o que faltava, o célebre gato Félix ter inveja duma boneca de pano feita por uma negra velha...

— A inveja matou Caim! — repetiu a boneca. — Você está mas é danado com o grande sucesso da minha historinha.

— História mais feia e sem graça nunca vi...

— Mas todos gostaram, até Narizinho, que sabe todas as histórias dos livros.

— Gostaram de dó de você. Se não gostassem, você punha-se a chorar que não acabava mais.

— Mentiroso! Eu nunca chorei nem hei de chorar, e muito menos por causa de uma simples brincadeira. Você é um grandessíssimo mentiroso, sabe?

— Por quê?

— Porque é! Você não é americano, nem nasceu em nenhum arranha-céu, nem é parente do Gato de Botas, nem foi engolido por tubarão nenhum. Tudo isso não passa de potoca. Eu sei conhecer muito bem quando uma pessoa está mentindo ou falando a verdade...

O gato ficou furioso e quis arranhar Emília. A boneca deu um berro e chamou Narizinho.

— Que é, Emília? — indagou a menina aparecendo. – Que aconteceu que está tão danadinha?

Emília ergueu-se da rede, colérica, e apontou para o gato.

— É esse cara de coruja que está querendo me arranhar! Já se viu que desaforo?

— E por quê? Por que é que vocês brigaram?

Emília empertigou-se toda.

— Ele está morrendo de inveja da minha história e veio aqui me procurar. E como eu disse que ele não é americano, nem parente do Gato de Botas, nem foi engolido por tubarão nenhum, o burrão quis arranhar-me. Esse hipopótamo!...

O gato virou-se para Narizinho:

— Veja bem quem é que está insultando. Se eu sou hipopótamo, que é ela? Uma macaca!...

Aquilo era demais. Emília perdeu a cabeça, avançou para o gato Félix, agarrou-lhe a barba e deu tal puxão que arrancou um fio. A menina apartou os briguentos; pôs o gato para fora e deixou Emília sozinha na varanda. Emília ficou falando consigo mesma, pensando num meio de vingar-se do gato Félix. Nisto apareceu o Visconde.

— Senhor Visconde, venha ouvir a história da minha briga com o gato Félix.

O Visconde sentou-se na rede junto dela e ouviu a história inteira. Quando chegou no ponto do fio da barba que Emília havia arrancado ao focinho do gato, indagou :

— E onde está o fio? Como ando fazendo um estudo sobre pelos de animais, teria muito gosto em examinar esse.

Emília abriu uma caixinha, tirou de dentro o fio de barba e deu-o ao Visconde, dizendo:

— Leve, mas depois traga-o outra vez. Quero guardar esse fio como prova da esfrega que dei naquele cara de coruja...

O Visconde tomou o fio e foi examiná-lo com o binóculo de dona Benta.
––––––––
Continua... O Gato Felix – III – A história do Visconde

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Manoel Barros (Poemas Rupestres) Parte VI


Terceira Parte

CARNAVAL



ENUNCIADO

Agora não posso mais priscar na areia quente
que nem os lambaris que escaparam do anzol.
Não posso mais correr nas chuvas na moda que
os bezerros correm.
Nem posso mais dar saltos-mortais nos ventos.
Agora
Eu passo as minhas horas a brincar com palavras.
Brinco de carnaval.
Hoje amarrei no rosto das palavras minha máscara.
Faço o que posso.

Neste poema, aparecem os indícios da idade ou das circunstâncias em que se encontra o poeta. Não mais se sente livre para realizar o enunciado proposto no poema. Para ele somente o enunciado é possível para a vida, propriamente quanto se exige a agilidade de um infante.

Porém não deixa de ‘brincar'; mais precisamente ‘brinca' com as palavras. O “priscar dos lambaris, a corrida alegre dos bezerros na chuva e os saltos-mortais nos ventos” existiram sempre como as brincadeiras mais inocentes, apropriadas e eternas com que os infantes inventam a vida.

Ao se declarar nas ‘brincadeiras' de hoje, escolhe como objeto de suas peraltices as palavras e se proclama um ‘folião' no carnaval das palavras. Esse horizonte assumido pelo poeta indica a trajetória de sua ludicidade e inventividade da vida mediante as palavras.

Palavras e Carnaval

Palavras levadas a sério em seu extremo poder de significar tornam-se o meio e a possibilidade de interconexão capaz de puxar e constranger o poeta em seu afazer. Delas ele depende, mas delas também ele se torna um servo que se posiciona perante a vida a partir delas. Praticamente, sem as palavras ele não subsiste enquanto tal. Substitui a vida de imersão na natureza pelas relações lúdicas com as palavras. Então ele proclama:

- “Brinco de carnaval” – assim a festa se organiza e qualquer palavra pode assumir o personagem da máscara. Nesse mundo de ‘faz de conta' o processo carnavalesco procede com seriedade. As máscaras exigem seriedade e competência para não cair no grotesco. Parece uma nova relação com as palavras.

- Neste processo – e aí se insere o título do poema ENUNCIADO – aparece uma nova relação do poeta com as palavras; não mais está alucinado pela alma da palavra, por sua raiz ou por sua fonte original capaz de significar. Ao contrário neste carnaval coloca máscaras nas palavras para que elas assumam novos significados. É um outro processo. Meio pesaroso confessa:

- “Faço o que posso” – De fato, parece que a luta para se atingir o âmago das palavras exige sempre muita energia e dedicação por parte do poeta; agora ele prefere colocar máscaras...

Dessa forma é que se entende esse título: ENUNCIADO. Uma tentativa de poema que proclama as palavras que significam nos versos. Há um pesar ao admitir essa nova postura no poeta. Porém, o poema está em consonância com o título da terceira parte do livro: "CARNAVAL". No carnaval o que vale são as máscaras embora seja tudo muito efêmero.


O MURO

O menino contou que o muro da casa dele era
da altura de duas andorinhas.
(Havia um pomar do outro lado do muro.)
Mas o que intrigava mais a nossa atenção
principal
Era a altura do muro
Que seria de duas andorinhas.
Depois o garoto explicou:
Se o muro tivesse dois metros de altura
qualquer ladrão pulava
Mas a altura de duas andorinhas nenhum ladrão
pulava.
Isso era.

O poeta brinca com as palavras em estado de infância.

A afirmação central do poema que dá suporte para todos os versos é: “O muro da casa dele era da altura de duas andorinhas.”

A maior lucidez do menino atrai as palavras mais simples para inaugurar um mundo diferente e original da criança. Os argumentos de criança são concernentes com a fantasia. O fantástico se imiscui com o real no mundo do infante. Assim a unidade de medida “uma ou duas andorinhas” é o suporte fantástico para explicar a preocupação da criança: “Mas a altura de duas andorinhas nenhum ladrão pulava.”

O poema condiz com o conjunto dos outros poemas. Nesse poema, o poeta brinca, na pessoa do infante, como se faz no carnaval. Apesar de ser efêmero é consistente no mundo do infante, ou com ‘um muro com a medida de duas andorinhas' não seria tão fácil para qualquer ladrão pulá-lo para chegar até o pomar de seu quintal. Fantástico, mas consistente.

LÍNGUA

A seca foi braba naquele ano.
O pai falou: Lá evém uma língua de fogo
do lado da Bolívia
e vai lamber todo o pasto.
O menino assustou: Língua de fogo?
O pai explicou ao menino que se tratava
de imagem.
Língua de fogo é apenas uma imagem.
Mas, pela dúvida, o menino retirou seu
cachorro da imagem.

O poema se mostra jocoso ao brincar com a imagem e expressão “Língua de Fogo”. Também incluiu neste lúdico jogo de interpretação a ação crível e precavida do menino que retira o seu querido cão da imagem depois de saber de seu pai que a ‘língua de fogo que vinha da Bolívia iria destruir todo o pasto.'

Moral da história: sempre é bom tirar o cachorro da imagem quando o amor é muito e o conhecimento insuficiente.

Ou de como se faz um poema a partir de uma imagem ou de uma palavra.

Fonte:
Portal das Letras - Pe. Afonso de Castro
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/p/poemas_rupestres

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Paraná em Trovas Collection - 27 - Áureo Baika (Campo Largo/PR)

Roseana Murray (A Bailarina e Outros Poemas)


O LAMBE-LAMBE

O lambe-lambe lambe o tempo
(como se o tempo fosse
uma bala, um doce)
e vai pregando seus retratos.

No canto da praça
um velho, um menino,
lado a lado
o mesmo desbotado sorriso.

Atrás do pano preto
o lambe-lambe
e seus misteriosos pensamentos:
onde foi parar a moça
que ele fotografou um dia?
A moça rasgou seu coração
como uma velha fotografia
e partiu junto com o vento.

Num canto da praça
o lambe-lambe
e sua estranha galeria.

O MÉDICO

Para o médico, o corpo
não tem segredos:
é como uma fábrica,
uma orquestra,
uma casa com os móveis
todos no lugar.

O sangue corre nas veias
como um disciplinado rio.
O pulso bate com precisão,
afiado relógio marcando a vida.

Se alguma coisa se move
erradamente,
se alguma coisa se quebra,
o médico bota o corpo de castigo,
e vai escrevendo receitas
como cartas que o corpo entendesse.

A RENDEIRA

A rendeira... seu ofício de aranha
tecendo beleza
me ajuda a tecer meus poemas.

Tem mãos de maga,
a rendeira,
tem mãos de espuma.

Não assina seu trabalho
com um nome,
mas com magia,
como um vôo de pássaro
assina o céu.

O VENDEDOR DE COCADA

Lá vai o vendedor de cocada
com seu tabuleiro,
pano branco na cabeça.

Lá vai o vendedor de cocada
vendendo um mundo de coco:
cocada branca ou queimada
pra vida ficar mais gostosa.

Lá vai o vendedor,
tabuleiro na cabeça,
adoçando a calçada.

A ARQUITETA

A arquiteta gostaria
de projetar mil casas
por dia,
aéreas, subterrâneas,
casas de vidro e de paina,
redondas, de esvoaçantes
telhados.

Em frente à prancheta
a arquiteta sonha
o justo sonho
de todo mundo ter
onde morar.

OS CATADORES DE PAPEL

Pela cidade afora,
noite ou dia,
a qualquer hora,
os catadores de papel
são triste paisagem.

Vão juntando papel e pobreza,
moram assim,
nas praças, nos vãos,
em casa feita de nada.

Tenho tanta pena
dos catadores de papel,
agora moram aqui,
no meu poema.

OS MÚSICOS

Na casa dos músicos
as paredes são sonoras,
no teto moram acordes,
e nos vãos sustenidos se escondem.

Os pensamentos dos músicos
não são como os pensamentos comuns,
moram em outras altíssimas esferas.

Para nós, os outros,
eles constroem algodoados
caminhos de sons.

Para que nossa vida
fique mais leve,
fique mais bela.

A ATRIZ

No camarim a atriz
cola uma outra alma
na sua,
um outro rosto
no seu,
e vão pro palco
assim tão grudados,
que é como um rio
navegando em outro
rio.

O palco suspenso
por um fio de magia
é a casa da atriz.

A BAILARINA

A bailarina,
como frágil lamparina,
como pequeno colar,
faz do ar sua casa,
sua estrada pontilhada
de água.

Entre uma estrela e outra
a bailarina descansa.
Ali onde os humanos
não podem ir,
só os loucos, os loucos
e os que sabem
que com um desejo
se constrói um planeta.

O PESCADOR

Os sonhos do pescador
são feitos de espuma, de sal,
de muitos milhares de peixes,
como feixes de girassol.

Na rede do pescador
pedaços de luz e de prata,
seus sonhos materializados.

Em terra firme o pescador
é habitante provisório,
anda meio de lado,
cheio de silêncios marinhos,
suas mãos de alga.

AS FEITICEIRAS

Não sei se existe ainda
o ofício de feiticeira,
isso é coisa medieval.
Naqueles tempos
elas eram lenha de fogueira
com seus ardentes pensamentos.

Queria hoje ser uma delas,
virar tudo pelo avesso,
trocar as almas e os corações.

Fazer por um segundo
deste triste planeta
um outro mundo.

OS CARTEIROS

Abrir uma carta,
o coração batendo,
é precioso ritual.
O que terá dentro?
Um convite, um aviso,
uma palavra de amor
que atravessou oceanos
para sussurrar em meu ouvido?

São como conchas as cartas,
guardam o barulho do mar,
o ar das montanhas.
Para mim os carteiros
são quase sagrados,
unicórnios ou magos
no meio dessa vida barulhenta.

O POETA

O poeta vai tirando da vida
os seus poemas
como pássaros desobedientes
e amestrados.

A palavra é o seu castelo,
sua árvore encantada,
abracadabra construindo o universo.

RECEITA CONTRA DOR DE AMOR

Chore um mar inteiro
com todos os seus barcos a vela
chore o céu e suas estrelas
os seus mistérios o seu silêncio
chore um equilibrista caminhando
sobre a face de um poema
chore o sol e a lua
a chuva e o vento

para que uma nova semente
entre pela janela a dentro

RECEITA DE ACORDAR PALAVRAS

Palavras são como estrelas
facas ou flores
elas têm raízes pétalas espinhos
são lisas ásperas leves ou densas
para acordá-las basta um sopro
em sua alma
e como pássaros
vão encontrar seu caminho

RECEITA DE INVENTAR PRESENTES

Colher braçadas de flores
bambus folhas e ventos
e as sete cores do arco-íris
quando pousam no horizonte
juntar tudo por um instante
num caldeirão de magia
e então inventar um pássaro louco
um novo passo de dança
uma caixa de poesia

RECEITA DE PÃO

É coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixe crescer ao sol

depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão

adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha

mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo

então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança

asse em forno forte
até que o perfume do pão
se espalhe pela casa e pela vida

RECEITA DE TOCAR O OUTRO

Porteira aberta
para o universo cada
um é único
lugar sagrado
onde árvores antigas
e estrelas cantam

tocar o outro
em sua alma
como se fosse
uma flauta

RECEITA DE OLHAR O FOGO

Pula o fogo e dança
nos olhos
uma dança muito antiga

de rios caçadas cavernas
estrelas entrelaçadas

no fogo os pensamentos
se derramam
e os sonhos como poeira mágica

RECEITA DE ESPANTAR A TRISTEZA

Faça uma careta
e mande a tristeza
pra longe pro outro lado
do mar ou da lua

vá para o meio da rua
e plante bananeira
faça alguma besteira

depois estique os braços
apanhe a primeira estrela
e procure o melhor amigo
para um longo e apertado abraço

RECEITA DE OLHAR

Nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol

faça do seu olhar imensa caravela

AMOR NÃO É SÓ

Amor não é só de homem
por uma mulher
ou de mulher por um homem
amor é amor por tudo
que é justo e livre
amor é horror a tudo
que o ser inventa
para humilhar outro ser

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Amor à primeira vista
é alma trocando de corpo
feito pássaro de ninho
é sede repentina
sede da água do outro

PEQUENOS LUXOS

Amor tem seus pequenos luxos
um pôr-de-sol caprichado
luar derramando água
uma flor recém-colhida
um verso equilibrado
na ponta dos dedos
amor tem seus pequenos luxos
de planta nascendo ontem
pedindo terra adubada

FOLHA SECA

Amor não correspondido
vai virando tudo em deserto
vai calando a voz do mundo
vai tirando da água a sua nascente
amor não correspondido
vai tornando em folha seca
tudo o que toca com os dedos
até perder seus espinhos
e se deixar morrer nos vãos
de uma tarde qualquer

FRUTA NO PONTO

Às vezes dá vontade
de agarrar a vida
com uma duas
dez mãos
e levar à boca
e trincar nos dentes
como uma fruta
no ponto

BANHO-MARIA

Amor não deve ser mantido
em banho-maria
pois seus poderes
de luz e encantamento
se esvaem neste lento
cozinhar
amor pede fogo alto
grossas chamas
sol intenso
e muita pimenta
amor pede tempero forte
pede tudo em exagero
mel de se lambuzar

O PRIMEIRO BEIJO

O primeiro beijo
inaugura a casa
inaugura o corpo
talha a primeira pedra
do caminho

pode e deve ser doce
abelha inventando mel
pode e deve ser louco
doce vôo louco
no corpo do outro

RECADO

Ao vento da noite
sussurro sete segredos:
tudo que tenho por fora
tudo que tenho por dentro
que o vento vá levando
minha sede de amor
pule cercas pule sebes
abra porteiras no mar
derramando meu recado
nos quatro cantos do ar

Fonte:
Murray, Roseana. A bailarina e outros poemas. 1. ed. - São Paulo : FTD, 2001. (Coleção literatura em minha casa ; v. 1)

Roseana Murray (1950)


Roseana Murray (Rio de Janeiro, 27 de junho de 1950) é uma poetisa e escritora de obras infanto-juvenis brasileira.

Quando criança, Roseana gostava muito de ler, "tudo o que tinha disponível", segundo a própria autora. Gostava muito do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Tesouro da Juventude, Contos de Fadas, entre outros.

Roseana é formada em Lingua e Literatura Francesa, pela Aliança Francesa, Universidade de Nancy. Mora em Saquarema, cidade de que é cidadã honorária. É casada com Juan Arias, jornalista e escritor espanhol, correspondente, no Brasil, do jornal El País, de Madrid. Tem dois filhos: André e Gustavo.

Começou a escrever poesia para crianças em 1980, com o livro Fardo de Carinho, influência direta de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles.

A autora publicou mais de cinqüenta livros , entre eles Classificados Poéticos (Ed. Miguilim, 1984), Falando de Pássaros e Gatos (Edições Paulus, 1987) e Receitas de Olhar (Ed. F.T.D, 1992).

Recebeu por três vezes o Prêmio de Melhor de Poesia pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, o Prêmio APCA, o Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor livro infantil e faz parte da Lista de Honra do I.B.B.Y

Trabalha em Saquarema com o Projeto Uma Onda de Leitura junto com a Secretaria de Educação. Roseana, procura em suas obras mostrar maneiras de viver melhor, ela expressa seu dia a dia.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Roseana_Murray

Antonio Barbosa Bacelar (Poemas Avulsos)


À MORTE DE UMA DAMA

Sombras de um claro sol que me abrasava,
Cinzas de um doce fogo aonde ardia,
Ruínas de uma boca em que vivia,
Cadáver de uma vida que adorava,

Quem te trocou, senhora? O tempo estava
A teus pés, em teu rosto o sol nascia,
De tua vista se compunha o dia,
De tua ausência a noite se formava.

Pois como pôde o tempo pressuroso,
O dia breve, a noite fugitiva
Mudar um corpo e rosto tão fermoso?

Mas tanto sol e luz, tão excessiva
Ardendo de contínuo, era forçoso
Trocar-se em cinza morta a flama viva.

A UMAS SAUDADES

Saudades de meu bem, que noite e dia
A alma atormentais, se é vosso intento
Acabardes-me a vida com tormento,
Mais lisonja será que tirania.

Mas, quando me matar vossa porfia,
De morrer tenho tal contentamento,
Que em me matando vosso sentimento,
Me há-de ressuscitar minha alegria.

Porém matai-me embora, que pretendo
Satisfazer com mortes repetidas
O que à beleza sua estou devendo.

Vidas me dai para tirar-me vidas,
Que ao grande gosto com que as for perdendo
Serão todas as mortes bem devidas.

A UMA AUSÊNCIA

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima á confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.

À VARIEDADE DO MUNDO

Este nasce, outro morre, acolá soa
Um ribeiro que corre, aqui suave,
Um rouxinol se queixa brando e grave,
Um leão c'o rugido o monte atroa.

Aqui corre uma fera, acolá voa
C'o grãozinho na boca ao ninho üa ave,
Um demba o edifício, outro ergue a trave,
Um caça, outro pesca, outro enferoa.

Um nas armas se alista, outro as pendura
An soberbo Ministro aquele adora,
Outro segue do Paço a sombra amada,

Este muda de amor, aquele atura.
Do bem, de que um se alegra, o outro chora...
Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!

A UMA DAMA

(Romance)

Por fazer lisonja às flores
De flores touca o cabelo
Nise, a gala do donaire,
Nise, a glória dos desejos.
Invejosas as estrelas
Murmuraram tanto emprego,
Se as não contentara Nise
Com tê-las nos olhos negros.
De garbo, postura e talhe
Vai luzida em tanto extremo,
Que nas vidas que cativa
Tem muita parte o asseio.
Quanto pisa e quanto fala,
Vai brotando e florescendo
Uma rosa em cada passo,
Um jasmim em cada alento.
Caçadora ufana e dextra,
Quem viu caçadora Vénus?
Pede as armas emprestadas
Dizem que a um menino cego.
Galharda o arco exercita,
E, com movimento dextro,
De quantas setas lhe fia,
Nenhuma lhe leva o vento.
Guarde-se todo o alvedrio,
Que não dão as frechas erro,
Pois para acertar as vidas
Tomam nos olhos preceitos.
Despejada comunica
Ao monte seus raios belos,
Que nem sempre o majestoso
Há-de afectar o encoberto.
E, com deixar-se admirar,
Nada lhe perde o respeito;
Mas tais amas traz consigo...
Pastores, diga-o Fileno.

Fonte:
alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bacelar.htm

António Barbosa Bacelar (1610-1663)

Nasceu em Lisboa, Portugal de uma família remediada, frequentando o Colégio de Santo Antão e indo depois estudar Direito para Coimbra.

Tendo-se dedicado à magistratura, foi corregedor em Castelo Branco, provedor em Évora, desembargador no Porto e magistrado na Casa da Suplicação em Lisboa.

A par do trabalho no âmbito da justiça, dedicou-se à escrita, nomeadamente à historiografia e à poesia.

Dentro da historiografia, escreveu a Relação Diária do Sítio e Tomada da Forte Praça do Recife, publicada em Lisboa em 1654, a Relação da Vitória que Alcançaram as Armas do Muito Alto e Poderoso Rei D. Afonso VI, em 14 de Janeiro de 1609, Uma e Outra Fortuna do Marquês de Montalvor, D. João de Mascarenhas e a Vida de D. Francisco de Almeida.

A sua obra poética está essencialmente publicada na Fénix Renascida.

Fonte:
Projeto Vercial

Ialmar Pio Schneider (Soneto de um Solitário)


Por que a solidão me faz tremer
no escuro desta noite, sem ninguém?
Oh! quem sabe, eu nasci para sofrer
e tu que lês meus cânticos, também !...

Minha mágoa não posso descrever;
é uma vontade de possuir alguém
e ao mesmo tempo a ela pertencer
com toda força que minhalma tem.

Eu sei que a madrugada chegará
e o galo vai cantar; é o mensageiro
a prenunciar o dia que amanhece.

Maior tristeza que a minha não há:
mas se fores feliz, sem desespero,
não guardes estes versos e me esquece

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Imagem = www.suzetterizzo.com.br