domingo, 6 de setembro de 2015

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas Trovia n. 185 – Setembro 2015)





Felicidade é somente
uma visita apressada,
que aparece de repente
e parte sem dizer nada...
Aparício Fernandes
– – – – – –
Saudade, ventura ausente,
um bem que longe se vê;
uma dor que o peito sente
sem saber como e por quê.
Bastos Tigre
– – – – – –
Os sonhos, o amor jurado
e os beijos que me roubou
são vestígios do passado
que para mim não passou...
Florestan Japiassú Maia
– – – – – –
A gente passa a existência
travando sérias batalhas,
até ver que a experiência
é uma sequência de falhas...
Jacy Pacheco
– – – – – –
Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha...
Lourdes Strozzi
– – – – – –
Saudade – sonho perfeito...
uma angústia... um não-sei-quê...
– Este vazio em meu peito,
todo cheio de você...
Luiz Otávio
– – – – – –
Dona Saudade, velhinha,
bordadeira paciente,
não tem agulha nem linha,
mas borda os sonhos da gente!
Onildo de Campos
– – – – – –
Entre prazer e desgosto,
traz-me a garoa emoção...
– Por fora, cai no meu rosto;
por dentro, em meu coração.
P. de Petrus
– – – – – –
Coração, velha gaiola...
A saudade, no poleiro,
com seu canto me consola
noite e dia, o tempo inteiro.
Reinaldo Moreira de Aguiar
– – – – – –
Ouvindo tuas propostas,
com muito amor, de mãos juntas,
eu, que fui buscar respostas,
voltei cheio de perguntas!...
Rodolpho Abbud
– – – – – –
A trova, penso e presumo,
com o seu fascínio estranho,
faz do infinito um resumo,
sem diminuir-lhe o tamanho!
Sebas Sundfeld
– – – – – –
Eu carrego as mãos desnudas,
tateando sonhos vãos.
Mãos que falam, sendo mudas,
quando aperto as tuas mãos.
Zálkind Piatigórsky
– – – – – –

Cremos mandar na mulher,
mas isso é pura balela.
Tudo o que a gente não quer
quem não quis mesmo foi ela...
Adelino Moreira Marques
– – – – – –
De noite eu a vi – que bela!
Fugiu-me, mal lhe sorri.
De dia, porém, ao vê-la,
aí fui eu que fugi...
Beny Silva
– – – – – –
À mulher do caranguejo
propõe um siri de fama:
se você me der um beijo,
eu tiro você da lama!
Clarindo de Araújo
– – – – – –
O Criador teve um ato
de fina ironia e graça:
quando fez o literato,
pôs logo no mundo a traça...
J. Dias de Morais
– – – – – –
Minha boca é a fechadura
e o teu beijo a chave certa...
Só teu beijo, criatura,
me deixa de boca aberta!
Jorge Murad
– – – – – –
Radiografei o teu busto
para ver teu coração...
E quase morri de susto:
tinha a forma de um cifrão!
Paulo Edison Macedo
– – – – – –
Você já me disse tudo...
Agora escute, meu bem:
sossegue um instantezinho,
para que eu fale também!
Ramos Jube
– – – – – –
Em que pese a formosura
de outra construção qualquer,
a mais bela arquitetura
em pilotis é a mulher!
Zálkind Piatigórsky

 

Que tristeza ouvir um santo,
um sábio, um poeta, um rei,
ao peso do desencanto,
dizer ao mundo: – Cansei!
A. A. de Assis – PR
– – – – – –

O bem maior só teremos
se da sorte for vontade,
pois num barquinho sem remos
passeia a felicidade.
Amaryllis Schloenbach
– – – – – –
O namoro é um tesouro...
Se ele é falso você dança,
se ele é puro, é duradouro;
vale a pena uma aliança.
André Ricardo Rogério – PR
– – – – – –
No palco do meu viver,
com a mente distraída,
eu sou ator sem saber
neste teatro da vida.
Ari Santos de Campos – SC
– – – – – –
Quero sim, você diz não!
Assim é tudo impossível...
Não quero viver em vão,
nessa dúvida terrível.
Benedita Azevedo – RJ
– – – – – –
Se eu sinto fugir a calma
e até viver me angustia,
abro as janelas da alma
e deixo entrar a Poesia!
Carolina Ramos – SP
– – – – – –
Quisera ter tantas vidas
pra levar a Paz e o Bem.
Lancei sementes nas lidas...
agradeço a Deus. Amém!
Cônego Telles – PR
– – – – – –
O beijo é como a poesia
que só nos faz encantar.
Nossa alma se extasia
e nos convida a sonhar.
Cristóvão Spalla – RJ
– – – – – –
Se eu voltasse ao tempo ido
de criança sem cuidados,
trocava um peito partido
por dois joelhos ralados.
Dáguima Verônica – MG
– – – – – –
Rosa vermelha, tu existes,
rubra e linda entre os espinhos,
para tornar menos tristes
os que caminham sozinhos!
Delcy Canalles – RS
– – – – – –
Não me negues teu retrato,
que isso é tola precaução,
pois já o tenho, de fato,
gravado no coração!
Diamantino Ferreira – RJ
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Nesta vida rotineira,
tua saudade em minha alma
é cantiga de goteira
em noite de chuva calma!
Domitilla B. Beltrame – SP
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Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés... do nada!
Dorothy Jansson Moretti – SP
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Jogo de amor não tem pressa,
adora preliminares...
Toda sedução começa
num longo beijo... de olhares...
Élbea Priscila – SP
– – – – – –
Voa, passarinho, voa,
que gaiola é só maldade.
Livre, lá nos céus entoa
o cantar da liberdade.
Eliana Jimenez – SC
– – – – – –
Junte uma trinca de santos,
à beleza do folclore;
a roça tem seus encantos,
não há quem não os adore!
Eliana Palma – PR
– – – – – –
Na solidão não me espanto,
pois, querendo conversar,
a saudade fala tanto
que eu nem preciso falar!
Elisabeth Souza Cruz – RJ
– – – – – –
Mãos finas ou mãos calosas...
seja qual for seu mister,
entre espinhos... entre rosas...
mulher é sempre mulher!
Ercy Marques de Faria – SP
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As pedras do meu caminho
vou transpondo-as com ardor
e cada dia um trechinho
vira caminho do amor!
Flávio Stefani – RS
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Saudade - seja onde for,
sempre é saudade, meu bem;
um sentimento de amor,
que dói no peito de alguém.
Francisco Garcia – RN
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Com a visão embaciada
e o caminhar pouco ereto,
vejo o esplendor da alvorada
pelos olhos do meu neto.
Francisco Pessoa – CE
– – – – – –
A trova, com seu compasso,
ameniza a minha dor,
razão por que sempre a faço
pensando no meu amor...
Gislaine Canales – RS
– – – – – –
O forte nó da saudade
amarra o tempo num laço,
e aprisiona a mocidade
nas trovas de amor que eu faço.
Héron Patrício – SP
– – – – – –
Velhos sonhos, na lembrança,
vou mantendo em meu viver,
e nunca perco a esperança
de que vão acontecer!
Istela Marina – PR
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Luzes! Músicas! E a mesa
como nunca alguém sonhou.
Mas havia uma tristeza
que eu não sei por onde entrou...
Janske Schlenker – PR
– – – – – –
Não dou conselhos na luta
que cada um realiza,
pois nem o tolo os escuta
e nem o sábio precisa.
J. B. Xavier – SP
– – – – – –
Se sofres, poeta, canta,
que essa cantiga, aonde for,
consola, embala, acalanta,
quem vive pobre de amor!
Jeanette De Cnop – PR
– – – – – –
Por te amar sempre sofri
e também sempre sofreste;
pois eu jamais te entendi
e jamais tu me entendeste.
Jessé Nascimento – RJ
– – – – – –
O tempo, que tudo apaga,
promovendo o esquecimento,
em vez de apagar afaga
teu nome em meu pensamento.
João Costa – RJ
– – – – – –
Que se diga "não" à guerra;
que ao ódio se diga "não"!
E que as armas desta Terra
sejam Paz, Amor e Pão!
Joaquim Carlos – RJ
– – – – – –
Mantenha a cabeça erguida,
sorria, volte a cantar...
Sem ânimo para a vida,
você não sai do lugar!
Jorge Fregadolli – PR
– – – – – –
Amigo é persona grata
que tem sorriso na voz
e um trato que só maltrata
quando está longe de nós!
Josafá Sobreira da Silva – RJ
– – – – – –
Amor há no coração
que é feito brasa apagando.
Se vai virando carvão,
surge a saudade soprando...
José Fabiano – MG
– – – – – –
A saudade que me envolve
me cobre com o seu manto.
Meu coração se dissolve
Implorando o seu encanto!
José Feldman – PR
– – – – – –
A espera mais desejada,
tem a mulher que engravida:
nove meses mais pesada,
feliz o resto da vida!
José Lucas de Barros – RN
– – – – – –
Faz bem a todo poeta “voar um pouco fora das asas”.
– – – – – –
Ao passar por duras fases,
viu minha alma ressequida
que os amigos são oásis
na aridez do chão da vida!
José Messias Braz – MG
– – – – – –
Quando o amor tem consistência,
nada abala o seu teor;
ao contrário: a própria ausência
é quem lhe apura o sabor!
José Ouverney – SP
– – – – – –
Hão de volver as ternuras
adormecidas em mim,
se despertares as juras
de ternura e amor sem fim.
Lisete Johnson – RS
– – – – – –
Sonatas intercaladas
antes, durante e depois...
E em nossa pele, trocadas,
as digitais de nós dois!
Lucília Decarli – PR
– – – – – –
Não foi perto, nem distante:
o nosso amor, ideal,
nasceu da luz de um instante
e se tornou imortal!
Luiz Carlos Abritta – MG
– – – – – –
Debruçada sobre o berço
do seu querido filhinho,
busca a mãe, com o seu terço,
indicar-lhe um bom caminho.
Luiz Hélio Friedrich – PR
– – – – – –
Se caem do céu as águas,
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?
Mª Conceição Fagundes – PR
– – – – – –
Tu trazes na alma a nobreza
e, por caminhos diversos,
mostras bem toda a beleza
tão presente nos teus versos.
Mª Ester Figueiredo Alves – RJ
– – – – – –
Amar muito e perdoar
estão sempre de mãos dadas...
São modos de abençoar
nossas ações e jornadas.
Mª Luiza Walendowsky – SC
– – – – – –
Para que a trova seja trova, o fundamental é que
o autor/autora seja de fato, e antes de tudo, poeta.
– – – – – –
A trova, falada ao vento,
tal qual o vento, é fugaz;
existe por um momento,
e o próprio vento a desfaz.
Maurício Friedrich – PR
– – – – – –
Resposta à mão calejada
de um lavrador que tem fé
é quando Deus, na alvorada,
põe flor nos pés de café!
Neide Rocha Portugal – PR
– – – – – –
Todo dia eu digo adeus
para a minha mocidade.
São felizes dias meus
que eu conservo na saudade.
Nei Garcez – PR
– – – – – –
No começo de um namoro,
quanta promessa se faz...
Mas tudo termina em choro
quando o sonho se desfaz.
Olga Agulhon – PR
– – – – – –
Felicidade encontrei,
depois de buscar a esmo,
naquele dia em que olhei
para dentro de mim mesmo.
Olympio Coutinho – MG
– – – – – –
Trovador que espalha o sonho
que lhe mora n’alma inquieta
confessa ao mundo, risonho,
a bênção de ser poeta.
Renato Alves – RJ
– – – – – –
Quando uma ofensa me oprime,
em silêncio enfrento tudo.
Qualquer grito se redime
ante o meu protesto mudo!
Rita Mourão – SP
– – – – – –
Seresta se tem na roça
no cantar dos passarinhos
que faz até da palhoça
o mais lírico dos ninhos!
Roza de Oliveira – PR
– – – – – –
Tornar-se um trovador conhecido não é difícil. Mas ele
precisa ajudar, pelo menos divulgando as suas trovas.
– – – – – –
A verdadeira amizade
aconselha o que convém,
deixando a comodidade
que a tudo só diz: – Amém!
Ruth Farah – RJ
– – – – – –
A semente, pequenina,
sob a terra protegida,
é assinatura divina
no grande livro da vida!
– – – – – –
Selma Spinelli – SP
A vida me fez assim:
arredia e bem cabreira;
criou trincheiras em mim,
mas tentei ficar inteira!
– – – – – –
Talita Batista – RJ
Por meu pranto... por meus ais...
por meu viver infeliz...
sei que saudade é bem mais
do que o dicionário diz!
Therezinha Brisolla – SP
– – – – – –
Pensando na tua imagem,
em sonhos,sempre te vi...
Que importa se era miragem,
importa o amor que vivi!
Vanda Alves – PR
– – – – – –
Revezam-se em nossas rotas
sombra e luz, contras e prós,
e as vitórias e derrotas
começam dentro de nós...
Vanda Fagundes Queiroz – PR
– – – – – –
Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!
Vânia Souza Ennes – PR
– – – – – –
Olho a rua... a noite avança,
tudo adormece ao luar...
Dorme até minha esperança,
pois cansou de te esperar!
Wanda Mourthé – MG
– – – – – –
Tem-se às vezes na batalha
uma vitória aparente,
pela conquista que espalha
derrota dentro da gente.
Wandira Fagundes Queiroz – PR

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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) Trovas de Protesto



Com trovas também se protesta. Foi o que fiz certa vez, penalizado com a situação das professoras mineiras que, além de receberem (no caso seria melhor dizer “não receberem”) um salário ridículo, ainda se viam sujeitas a vexames devido ao atraso sistemático, às vezes de muitos meses, no tocante ao recebimento de sua raquítica remuneração. Vai daí, enderecei ao então Governador Israel Pinheiro, o seguinte protesto:

Ilustre Governador
Doutor Israel Pinheiro,
peço vênia para expor
um drama que é bem mineiro.

Talvez não tenham levado
até seu conhecimento
que as professoras do Estado
não recebem pagamento.

Sim porque, desde janeiro,
(meu Deus, como o tempo passa!)
as mestras, sem ver dinheiro,
vão trabalhando de graça…

Essas moças estudaram,
são cheias de idealismo,
e o que sabem propagaram,
dando lições de civismo!

Aguentam alunos burros,
que nem Jó aguentaria,
e suportam pais casmurros
e mães com “filholotria”.

Um ano vai, outro vem,
elas sempre sorridentes…
– São heroínas também,
como herói foi Tiradentes!

Ah! Que vergonha danada!
– Aí mesmo, em seu Estado,
já existe escola fechada
por atraso de ordenado!

Quanto mais Minas precisa
de cultura e de instrução,
vemos pobres professoras
morrendo de inanição!

Mas há manobras manhosas
na sua filosofia:
– as classes mais poderosas
sempre recebem em dia…

E enquanto o ensino se afoga,
vai crescendo a cretinice.
– Será que o Senhor advoga
o incremento da burrice?

Não é que eu queira impedir
gestões governamentais:
– o senhor há de convir
que já foi longe demais…

Na justiça eu me regulo,
não fujo dessa premissa.
Por isso é que eu fico fulo
quando vejo uma injustiça!

A professora primária
merece todo respeito:
– solte esta verba ordinária
a que elas já têm direito!

Analisando a questão,
com muita filosofia,
eu vejo a contradição
nesta tremenda ironia:

“Israel” é tradição
de sucesso financeiro.
E o seu sobrenome, então,
até rima com dinheiro!

Além disso, governando
as minas que são gerais,
o senhor está zombando
de quem esperou demais…

A situação é séria
e exige uma solução.
– Não deixemos na miséria
os esteios da nação!
 
Portanto, Governador,
pague às moças sem demora.
Ou então faça um favor:
– renuncie e dê o fora!…

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

Millor Fernandes (1923 - 2012)

    
            Milton Viola Fernandes, filho de Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, Millôr Fernandes nasceu no dia 16 de agosto de 1923 no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro. Só seria registrado no ano seguinte, tendo como data oficial de nascimento o dia 27 de maio de 1924. Sua certidão de nascimento, grafada à mão, fazia crer que seu nome era Millôr e não Milton. Seu pai, engenheiro emigrante da Espanha, morre em 1925, com apenas 36 anos. A família começa a passar por dificuldades e sua mãe passa horas em frente a uma máquina de costura para poder sustentar os 4 filhos. Apesar do aperto, o autor teve uma infância feliz, ao lado de 10 tios, 42 primos e primas e da avó italiana D. Concetta de Napole Viola.
Estuda na Escola Ennes de Souza, de 1931 a 1935, por ele chamada de Universidade do Meyer, mas que na verdade era uma escola pública. A chegada ao Brasil das histórias em quadrinhos, em 1934, faz de Millôr um leitor assíduo dessas publicações, em especial de Flash Gordon, de autoria de Alex Raymond, e, com isso, dar vazão á sua criatividade. Sob a influência de seu tio Antônio Viola, tem seu primeiro trabalho publicado em um órgão da imprensa — "O Jornal", do Rio de Janeiro, tendo recebido o pagamento de 10 mil reis por ele. Era o início do profissionalismo, adotado e defendido para sempre.
Em 1935, também com 36 anos, falece sua mãe, o que faz com que os irmãos Fernandes passem a levar uma vida dificílima. Essa coincidência de datas leva Millôr a escrever um conto, "Agonia", publicado na revista "Cigarra" em janeiro de 1947, onde afirmava: "Tenho dia e hora marcada para me ir e o acontecimento se dará por volta de 1959". A morte da mãe o leva a morar em Terra Nova, subúrbio próximo ao Méier. Trabalha, em 1938, entregando o remédio para os rins "Urokava" em farmácias e drogarias. Durou pouco esse emprego. Logo vai ser contínuo, repaginador, factótum, na pequena revista "O Cruzeiro", que nessa época tinha, além de Millôr, mais dois funcionários: um diretor e um paginador. Com o pseudônimo "Notlim" ganha um concurso de crônicas promovido pela revista "A Cigarra". Com isso, é promovido e passa a trabalhar no arquivo.
            O cancelamento de publicidade em quatro páginas de "A Cigarra" fez com que fosse chamado por Frederico Chateaubriand para preencher as páginas que ficaram em branco. Cria, então, o "Poste Escrito", onde assinava-se Vão Gôgo. O sucesso da seção faz com que ela passe a ser fixa. Com o mesmo pseudônimo, começa a escrever uma coluna no "Diário da Noite". Assume a direção de "A Cigarra", cargo que ocuparia por três anos. Dirigiu também "O Guri", revista em quadrinhos e "Detetive", que publicava contos policiais.
            Ciente da necessidade de se aprimorar, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro de 1938 a 1943. Em 1940, muda-se para o bairro da Lapa, centro da cidade, e passa a morar próximo a Alceu Pena, seu colega em "O Cruzeiro". Colabora na seção "As garotas do Alceu" como colorista e versejador. Autodidata, faz sua primeira tradução literária: "Dragon seed", romance da americana Pearl S. Buck, com o título "A estirpe do dragão", em 1942.
            No ano seguinte retorna, com Frederico Chateaubriand e Péricles, á revista "O Cruzeiro". Em dez anos, a tiragem foi um grande êxito editorial, passando de 11 mil para mais de 750 mil exemplares semanais. Em 1945, inicia a publicação de seus trabalhos na revista "O Cruzeiro", na seção "O Pif-Paf", sob o pseudônimo de Vão Gôgo e com desenhos de Péricles.
            No ano seguinte lança "Eva sem costela — Um livro em defesa do homem", sob o pseudônimo de Adão Júnior. Sua colaboração para "O Cruzeiro", em 1947, atinge a marca de dez seções por semana.
            Em 1948 viaja aos Estados Unidos, onde encontra-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, o cientista César Lates e a estrela Carmen Miranda. Casa-se com Wanda Rubino. Publica "Tempo e Contratempo", com o pseudônimo de Emmanuel Vão Gôgo, em 1949. Assina seu primeiro roteiro cinematográfico, "Modelo 19". O filme, lançado com o título "O amanhã será melhor", ganha cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo. Millôr é agraciado com o de melhores diálogos.
            Em 1951, na companhia de Fernando Sabino, viaja de carro pelo Brasil, durante 45 dias. Lança a revista semanal "Voga", que teve apenas cinco números. Viaja pela Europa por quatro meses, em 1952.
            "Uma mulher em três atos", sua primeira peça, estréia no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo (SP), em 1953.
            No ano seguinte, compra o imóvel que se tornaria famoso — "a cobertura do Millôr", no bairro de Ipanema. Nasce seu filho Ivan.
            Em 1955, divide com o desenhista norte-americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, Argentina. Escreve “Do tamanho de um defunto”, que estreou no Teatro de Bolso (Rio) e, depois, adaptado pelo próprio autor para o cinema, tendo o filme o título de “Ladrão em noite de chuva”. Nesse ano escreve “Bonito como um deus”, que estréia no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo (SP), e ainda “Um elefante no caos” e “Pigmaleoa”. Em 1956, passa a ilustrar todos os seus textos publicados na revista "O Cruzeiro". No ano de 1957, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro recebe exposição individual do biografado. Realiza a cenografia de “As guerras do alecrim e da manjerona”. Esse trabalho foi premiado pelo Serviço Nacional de Teatro no ano de 1958. Nesse ano, conclui a primeira tradução teatral: “Good people”, então intitulada “A fábula de Brooklin — Gente como nós”. Fez parte do grupo que "implantou" o frescobol no posto 9, Ipanema, Rio de Janeiro.
            Escreve o roteiro de “Marafa”, a partir do romance homônimo de Marques Rebello. Em 1959. No mesmo ano, apresenta na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, a convite de Frederico Chateaubriand, uma série de programas intitulada “Universidade do Méier”, na qual desenhava enquanto fazia comentários. Posteriormente, o programa foi transferido para a TV Tupi do Rio de Janeiro, com o título de “Treze lições de um ignorante” e suspenso por ordem do governo Juscelino Kubitschek após uma crítica à primeira dama do país: Disse Millôr: "Dona Sarah Kubitschek chegou ontem ao Brasil depois de 5 meses de viagem á Europa e foi condecorada com a Ordem do Mérito do Trabalho." Nasce sua filha, Paula.
            Nos anos seguintes, já integrado á intelectualidade carioca, convive com Péricles, criador de "O Amigo da Onça", Nelson Rodrigues, David Nasser, Jean Manson, Alfredo Machado, Fernando Chateaubriand, Emil Farhat e Accioly Netto, entre outros.
            Em 1960, depois de resolvidos os problemas com a censura, estréia no Teatro da Praça, no Rio, ”Um elefante no caos”. O título original da peça era “Um elefante no caos ou Jornal do Brasil ou, sobretudo, Por que me ufano do meu país” rendeu a Millôr o prêmio de “Melhor Autor” da Comissão Municipal de Teatro. O filme “Amor para três”, com roteiro do biografado, baseado em “Divórcio para três”, de Victorien Sardou. Expõe, em 1961, desenhos na Petit Galerie, no Rio. Viaja ao Egito e retorna antes do previsto, tendo em vista a renúncia do presidente Jânio Quadros. Trabalha por 7 dias no jornal "Tribuna da Imprensa", Rio, que mais tarde pertenceu a seu irmão Hélio Fernandes. Foi demitido por ter escrito um artigo sobre a corrupção na imprensa. Os editores, o poeta Mário Faustino e o jornalista Paulo Francis pediram também demissão em solidariedade.
            No ano seguinte, na edição de 10 de março de “O Cruzeiro”, “demite” Vão Gôgo e passa a assinar Millôr. A Amstutz & Herder Graphic Press, importante publicação de Zurique, dedica uma página de seu anuário ao autor. “Pigmaleoa” é apresentada, no Teatro Rio. Em 1963, escreve a peça teatral “Flávia, cabeça, tronco e membros”. Viaja a Portugal e, durante sua ausência, a revista “O Cruzeiro” publica editorial no qual se isenta de responsabilidade pela publicação de “História do Paraíso”, que obteve repercussão negativa por parte dos leitores católicos da revista. Millôr deixa a revista e começa a trabalhar no jornal “Correio da Manhã”, ficando até o ano seguinte.
            A partir de 1964, e até 1974, colabora semanalmente no jornal Diário Popular, de Portugal. A página mereceria o seguinte comentário de um ministro de Salazar: "Este tem piada, pena que escreva tão mal o português". Lança a revista “Pif-Paf”, considerada o início da imprensa alternativa no Brasil. Foi fechada em seu oitavo número, por problemas financeiros.
            Volta à TV, em 1965, como apresentador na TV Record, ao lado de Luis Jatobá e Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), do “Jornal de Vanguarda”. “Liberdade liberdade” estréia no Teatro Opinião, no Rio, musical escrito em parceria com Flávio Rangel.
            Composta pelo biografado, a canção “O homem” é defendida no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, por Nara Leão, em 1966. Monta, ao ar livre, no Largo do Boticário, Rio, só com atores negros, sua adaptação de “Memórias de um sargento de milícias”.
            Em 1968 passa a colaborar com a revista “Veja”. No ano seguinte, participa do grupo fundador de “O Pasquim”.
            Lança o livro “Esta é a verdadeira história do Paraíso” e também “Trinta anos de mim mesmo”, numa sessão de autógrafos denominada “Noite da contra-incultura”.
            Em 1975, faz exposição de 25 quadros “em branco, mas com significado”, na Galeria Grafitti, no Rio.      No ano seguinte, escreve para Fernanda Montenegro a peça “?..”, que se tornou o grande sucesso teatral de Millôr ao ser encenada no Teatro Maison de France, no Rio.          Em 1977, realiza nova exposição de seus trabalhos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
            Estréia no Teatro dos Quatro, Rio, a peça “Os órfãos de Jânio”, em 1980.
            O ano de 1982 é de muito trabalho. O autor escreve e publica a peça “Duas tábuas e uma paixão”. Traduz a opereta “A viúva alegre”, de Franz Lear, apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. “A eterna luta entre o homem e a mulher”, no Teatro Clara Nunes – Rio. Escreve a adaptação de “A chorus line”. Estréia “Vidigal: Memórias de um sargento de milícias”. São dele, nessa peça, os cenários, figurinos e letras, escreve e representa o espetáculo “O gesto, a festa, a mensagem”, na TV Record de São Paulo. Deixa a revista “Veja”.
            Em 1983, ?homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói (RJ). Millôr não comparece ao desfile. Passa a colaborar com a revista “Isto é”. Lança “Poemas”, em 1984. Estréia o musical “O MPB4 e o dr. Çobral vão em busca do mal”. No ano seguinte, colabora com o Jornal do Brasil. Lança o “Diário da Nova República”. ?montada a peça “Flávia, cabeça, tronco e membros” no Teatro Ginástico – Rio.
            Passa a usar o computador para escrever e desenhar, em 1986. Escreve, com Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, o roteiro do filme “O judeu”, baseado na vida de António José da Silva,concluído em 1995.
            No ano seguinte, lança “The cow went to the swamp / A vaca foi para o brejo”.
            Deixa a revista “Isto é “ e o Jornal do Brasil, em 1992. No ano de 1994, lança “Millôr definitivo — A bíblia do caos”.
            Escreve a peça “Kaos”, Adapta para a Rede Globo “Memórias de um sargento de milícias”. A partir de um argumento de Walter Salles, escreve o roteiro “Últimos diálogos”, em 1995. Em 1996, passa a colaborar nos jornais “O Dia” (RJ), “O Estado de São Paulo” (SP) e “Correio Braziliense” (DF). Neste último, trabalharia somente até o fim do ano. Em 1998, em parceria assina o roteiro de “Mátria”. No ano seguinte, começa a adaptar “Os três mosqueteiros”, de Dumas, para o formato de musical, trabalho que não chegou a ser concluído.
            Em 2000, escreve o roteiro de “Brasil! Outros 500 — Uma Pop Ópera”, que teve sua estreia no Teatro Municipal de São Paulo. Deixa de colaborar com “O Estado de São Paulo” e “O Dia”. Passa a colaborar com coluna semanal na “Folha de São Paulo”. Lança o site “Millôr On Line” (http://www.millor.com.br) .
            No ano seguinte, deixa a “Folha de São Paulo” e volta ao “Jornal do Brasil”. Em 2002, publica “Crítica da razão impura ou O primado da ignorância”, em que analisa as obras “Brejal dos Guajas e outras histórias”, de José Sarney, e “Dependência e desenvolvimento na América Latina, de Fernando Henrique Cardoso. Deixa de colaborar, em novembro, com o “Jornal do Brasil”. Em 2003, ilustra “O menino”, volume de contos de João Uchôa Cavalcanti Netto, e faz cem desenhos para uma nova compilação das “Fábulas fabulosas”.       
            Em 2004, lança pela Editora Record, “Apresentações”.
            Em meados de agosto de 2004 é anunciado seu retorno às folhas da revista semanal “Veja”, a partir de setembro daquele ano.
            Millôr faleceu no dia 27 de março de 2012, em casa, no bairro de Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.
Fontes:
Livros do autor, Internet, CD "Em busca da Imperfeição", de 1999, produzido pela Neder & Associados e “Cadernos de Literatura Brasileira – Instituto Moreira Salles.