segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

João da Câmara (O primeiro sorriso)

Mal se tinham acendido as luzes no Coliseu, quando ele entrou devagarinho, triste, um pouco asmático, meneando a cabeça pálida.

Parece que mais lhe pesava a corcunda naquela noite.

Andando pelo corredor estreito, que divide os camarotes dos lugares mais baratos, foi encostar o queixo à teia de pinho, pintada de branco, junto do caminho atapetado, que a cantora devia seguir do camarim para o palco.

Era uma artista célebre a que se estreava. Com oito dias de antecedência tinha-se espalhado com profusão pela cidade, colado aos vidros das portas dos armazéns de música, pendurado em quadros às esquinas das ruas, o retrato litografado de mademoiselle Eva d'Avenay.

Um dia, o corcunda, passeando depois do jantar, como costumava, pela rua do Ouro, erguendo a cabeça, deu, de súbito, com um daqueles retratos na loja de um livreiro.

Parecido ou não, representava uma mulher lindíssima.

Ficou estático um momento; sentia tremer-lhe o coração um pouco, e como que dois dedos apertarem-lhe amorosamente a garganta.

Entrou envergonhado, e com voz sumida perguntou ao caixeiro se aquilo se vendia.

— Um tostão.

Ele que nunca olhara para mulher senão cá de muito baixo, coitado, assentando no meio da espinha as abas do chapéu, que (fato pouco vulgar) por detrás é que amoleciam, podia finalmente, por um tostão (barato!) contemplar uma mulher bonita à vontade, sentado comodamente, sem ser visto e sem ter de corar.

Quando saiu da loja, levando na mão o rolinho de papel pardo, que embrulhava a litografia, caminhou mais depressa, quase alegre, menos asmático.

Chegou na casa, desdobrou o retrato sobre a mesa, encostou nela os cotovelos, e, com as fontes apertadas nos punhos cerrados, passou parte da noite em contemplação da estranha formosura.

Parecia-lhe que afinal aquela mulher tinha que refletir para ele uma parte de tanto amor, que todo lhe estava dando e que era o primeiro que sentia.

Desejos haveria tido, mas amar... Quem? Se, quando passava, todos se riam e ninguém, ninguém, jamais sorrira para ele!

Quando recordava tempos longínquos, via, como através de um nevoeiro, uma mulher a quem ele estendia os bracinhos magros, que se lhe debruçava sobre o pequenino berço — tão pequenino! — e que o envolvia numa atmosfera de amor, beijando-o muito. Mas essa mulher também não sorria... chorava.

Chorava naturalmente ao vê-lo tão fraquinho, tão feio, tão enfezado (raquítico). Se o visse agora, cheio de rugas precoces, com os cabelos alvejando-lhe nas fontes, e triste sempre, sempre tão triste!

Por isso contemplava aquele retrato, como se fora possível aquela mulher loira, voltar a cabeça no papel e enviar-lhe, só para ele, aquele sorriso que, por todas as esquinas, por toda a parte, ela enviava... para quem? — para coisa nenhuma; que o retrato era a três quartos e ninguém sabia para onde olhava.
*
* *

Os porteiros, cada um á sua porta a receberem os bilhetes, cantarolavam os bocejos e assoavam-se com estrondo para despertar. O teatro continuava às escuras. Um homem gordo entrou devagar, com as mãos nas algibeiras do colete, assobiando por entre dentes. Sentou-se, deitou as pernas para cima da cadeira que lhe ficava de fronte, pôs o lenço entre o pescoço e o colarinho, e, tirando um palito da algibeira, pôs-se a palitar os dentes, com um ar desinteressado.

Duas ou três filas mais adiante, um outro abanava-se pachorrentamente com o chapéu, virando um bocadinho a cara para lhe ir o fresco às orelhas.

Conheciam-se e começaram conversando em voz alta:

— Olá, Conselheiro! Então também deitou até cá?

O homem gordo encolheu os ombros.

— Não há mais nada que fazer!

E depois de palitar um bocado:

— Que isto cheira-me a fiasco.

— Ora! disse o outro com ar convencido e para estar de acordo. A tal mulher...

— A gente cai em cada uma...! – terminou o Conselheiro.

E, encostando a cabeça para trás, deu largas a um bocejo formidável.

Um arrumador, que passava naquele instante, sorriu-se aduladoramente, curvando-se muito.

— Senhor Conselheiro...

— Adeus, seu José.

E fechou os olhos, como se estivesse dormindo.

Ah! se o corcunda não andasse tão rasteiro, se não fosse tão fraquinho, como perguntaria àquele homem, frente a frente, com que direito bocejava, quando ele estava ali sentindo o coração a estalar-lhe no peito!

Os músicos com os instrumentos dentro de saquinhos de chita, começaram a entrar, limpando o suor, resmungando árias, espreguiçando-se.

Deram oito horas. Chegaram umas carruagens a trote largo. O teatro encheu-se rapidamente.

Ouvia-se o sussurro das conversações e o ranger das varetas dos leques. Os lugares junto da teia, a que se encostara o corcunda, eram da predileção de muitos; pouco a pouco foram-no empurrando, e ele apertado, aflito com a asma, que logo o atacou violentamente, ouvia por detrás umas risadinhas zombeteiras. Sentiu numa orelha bater-lhe uma bolinha de papel. Um velho mal encarado, ao lado dele, estava de figa feita. E resignado, agarrando-se aos balaústres da teia, esperava que fosse aquela noite a primeira feliz da sua vida.

Abriram as torneiras do gás e a luz jorrou de repente. Houve um sussurro maior. Muitos, que ainda se não tinham visto, cumprimentaram-se. Os elegantes das cadeiras apontaram os óculos para os camarotes e começaram tirando os chapéus.

O teatro transbordava.

Os músicos afinavam os instrumentos. Ouviam-se por entre as variações alegres da flauta as notas harmônicas das rabecas. O homem dos tímbales batia notas surdas com a mão esquerda e apertava com a direita as escaravelhas. Afinal entrou o regente, de casaca e gravata branca, cumprimentando os colegas, enquanto descalçava a luva.

Bateu na estante e ergueu alto o braço.

Houve uns schius! assobiados por alguns amadores, que a toda a sala impuseram silêncio.

O regente olhou para todos os músicos, demorou-se um instante e depois, descrevendo com a batuta um quarto de circunferência, fez sinal às rabecas, que logo começaram tocando muito piano, em uníssono.

Era com certeza mademoiselle Eva d'Avenay quem ali atraia a maior parte dos espectadores. Os conversadores pouco a pouco foram elevando o tom e, como as rabecas sozinhas continuavam tocando pianíssimo, havia o que quer que fosse fantástico naquele maestro de grande cabeleira caindo-lhe até a gola da sobrecasaca, elevando alto, muito alto, a batuta, e deixando depois cair o braço a tremer, a tremer, comandando uns arcos que se mexiam como puxados por um só homem, mordendo cordas que não tinham som.

Decididamente o corcunda sufocava.

De repente, a um sinal enérgico do regente, os metais vibraram enchendo a sala de notas alegres, vivas, que num instante, como por encanto, cortaram as palestras. Foi um relâmpago de alegria. O regente sorriu-se delicadamente e as rabecas continuaram sozinhas no meio da distração geral.

Um gaiato gritou lá de cima:

— Muito bem!

Tinham acabado felizmente.

A respiração do corcunda era um apitozinho.

Instantes depois, corria-se uma cortina e encaminhava-se para o palco mademoiselle d'Avenay.

Houve um sussurro admirativo. Muita gente ergueu-se. Ouviram-se vozes:

— Abaixo!

Ela, já no palco, sorria impassível, cumprimentando o público, olhando em volta, muito serena.

Alguns entusiastas davam palmas.

O Conselheiro olhou para o amigo e fez-lhe uma cara como quem diz: — de truz (de primeira ordem)!

O regente muito amável curvou-se para a cantora e fez-lhe baixinho uma pergunta. Respondeu que sim, muito risonha, muito amável.

As rabecas preludiaram.

Ela consertava o decote e alisava o cabelo na testa.

Era uma mulher em todo o esplendor da beleza dos trinta anos, de elegância distinta e inteligente, alta, com o busto quebrado um pouco na cintura, o peito forte, braços admiráveis, ombros muito redondos, e nas costas, bem ao meio, uns dois ou três sinais, que pareciam ter-lhe sido dados, de caso pensado, pela natureza, para que ninguém julgasse que aquele busto era de mármore. Os olhos azuis tinham um olhar profundo e os cabelos loiros e finos emolduravam uma testa muito lisa, como de virgem de quinze anos.

Quando cantava, a boca simpática, fresca, sorria sempre, alegrando-se aos cantos com duas pregas infantis.

Do lugar onde estava, o corcunda via-lhe o perfil sereno, a longa trança dourada e todo o vulto branco salientando-se na massa escura dos espectadores aglomerados nos degraus em anfiteatro do outro lado da sala.

Quando ela acabou de cantar, toda a plateia aplaudia, delirante.

O corcunda bem queria dizer — bravo! Mas sumira-lhe a voz.

Mademoiselle d'Avenay cantou três vezes naquela noite e o delírio crescendo sempre!

Agradecia muito reconhecida, pondo a mão no peito, fazendo ranger a seda do vestido. Já os músicos se tinham retirado, já o iluminador começava fechando as torneiras do gás e ainda novas ovações ecoavam na sala.

Ela tornava a subir ao palco, agradecendo, muito amável, sorrindo como no retrato, para o ar, para coisa nenhuma.

E por onde passava deixava no rasto um cheiro forte, bom, que embriagava o corcunda.
*
* *

Achou-se afinal sozinho.

Umas famílias, que se tinham encontrado à saída, conversavam, enquanto as senhoras vestiam os xales e os homens acendiam os cigarros.

Que fazia ali o corcunda? Viera na esperança de que essa mulher ideal, como ele não sonhara poder haver no mundo, reparasse no pobre verme e do seu pedestal lhe fizesse a mercê de um olhar.

Mas nem ela o vira, nem ele pudera ajudar a ovação. Bem tinha deitado os bracinhos por entre os balaústres para aplaudir; se não fosse a asma, teria gritado: bravo! mil vezes. Mas se era tão fraquinho...!

Estava extenuado, meio morto; a cabeça lhe estalava.

Sentou-se num dos degraus da geral e escondeu o rosto entre as mãos.

Pouco a pouco, ia perdendo a memória do que se passara, conservando apenas a consciência de que era um desgraçado.

Acordaram-no uns passos de mulher.

Ergueu a cabeça.

Mademoiselle d'Avenay, toda embrulhada em rendas brancas, saía do camarim muito risonha, conversando com uma velha, que a acompanhava.

Levantou-se. Ela tinha de passar por ali e ele tremia. Quase sem forças, desvairado, mal pode pronunciar:

—Bravo! Bravo!

Ela parou um pouco assustada. Vendo-o tão pequenino, na meia escuridão, julgando-o provavelmente uma criança, tocou-lhe com dois dedos na cara. Mas, picando-se nas barbas, retirou a mão e disse:

— Pardon, monsieur.

E quando passou... sorriu-se para ele.

Fonte: João da Câmara. Contos. Lisboa: Guimrães, Libânio & Cia, 1900. Disponível em Domínio Público. Convertido para o português atual por Jfeldman.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 21

 

Mensagem na Garrafa – 74 -

 
Auta de Souza
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

AO CAIR DA NOITE

Não sei que paz imensa
Envolve a Natureza,
Ness’ hora de tristeza,
De dor e de pesar.
Minh’ alma, rindo, pensa
Que a sombra é um grande véu
Que a Virgem traz do céu
Num raio de luar.

Eu junto as mãos, serena,
A murmurar contrita,
A saudação bendita
Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua plena
No azul, formosa e casta,
Um longo manto arrasta
De lúrido esplendor.

Minhas saudades todas
Se vão mudando em astros...
A mágoa vai de rastros
Morrer na escuridão...
As amarguras doidas
Fogem como um lamento
Longe do Pensamento,
Longe do Coração.

E a noite desce, desce
Como um sorriso doce,
Que em sonhos desfolhou-se
Na voz cheia de amor,
Da mãe que ensina a Prece
Ao filho pequenino,
De olhar meigo e divino
E lábio aberto em flor.

Ah! como a Noite encanta!
Parece um Santuário,
Com o lindo lampadário
De estrelas que ela tem!
Recorda-me a luz santa,
Imaculada e pura,
Da grande noite escura
Do olhar de minha mãe!

Ó noite embalsamada
De castas ambrósias...
No mar das harmonias
Meu ser deixa boiar.
Afasta, ó noite amada,
A dúvida e o receio,
Embala-me no seio
E deixa-me sonhar!

Célio Simões (Meu dia no supermercado)

Chegamos do nosso giro de final de ano, por sinal curto em relação aos anteriores e nos demos conta de que os mantimentos caseiros estavam zerados. Despensa rarefeita, geladeira quase deserta, freezer congelando a provisão que fora deixada. Minha esposa elegeu como prioridade dar um grau no apartamento, embora eu não visse nele qualquer vestígio de sujeira. Mas ela é assim mesmo e nesse quesito (nos outros também) eu não dou pitaco. Já me preparava para ganhar a rua pretextando outras providências, quando ela, concluída a inspeção que fez na cozinha, surgiu de lá com um papelucho na mão e pediu: - Se você passar no supermercado compre o que está nesta lista, pois precisamos nos reabastecer. “Espiolhando” vislumbrei rabiscado o rol de gêneros que aos poucos fui decifrando: banana, alface, pepino, tomate, cenoura, limão, maçã, mamão, melancia, maracujá, ovos, alho e cebola. 

Na mesma proporção que eu evito os shoppings, por serem impessoais e repetitivos na aparência em todo lugar, gosto de ir aos supermercados (desde que seja com ela), mas tenho especial predileção pelas feiras livres, por nelas identificar autêntico local de congraçamento, de dinâmicas proativas nas relações sociais e econômicas, verdadeira celebração da cultura popular, reflexo espontâneo da alma de um povo, como sabidamente são em Belém o Ver-o-Peso, a Feira da 25, a da Batista Campos, a da Praça Brasil e outras menos votadas, a despeito da insegurança existente nos espaços públicos, exigindo redobrada atenção de quem nelas comparece. 

Escolhi um supermercado perto de casa e estando lá, saí empurrando o indefectível carrinho, olhos grudados no papel com a lista de compras. Por onde começar? Até que me saio bem com carnes e peixes, principalmente estes, que conheço de sobejo, mas com o resto a coisa complica um pouco ou, para ser sincero, complica muito. É que no setor de hortifruti vejo todo mundo apalpando sensualmente os produtos antes de colocar nos sacos plásticos, mas até hoje ainda não descobri o ponto exato que revela uma batata boa de outra imprópria para o consumo. Como se fossem chocalhos, observo os compradores sacudindo no ar lustrosos maracujás, a modo polidos com óleo de mutamba (óleo aromático), porém uns são devolvidos à gôndola, outros são aproveitados e por mais que eu me esforce, não ouço barulho algum que sirva de referência entre aquele que presta e aquele que não presta. Em tais situações, peço mil desculpas para não ser mal interpretado e apelo à generosidade e ao conhecimento das experientes donas de casa, rogando que me ajudem nas escolhas - e até que tenho encontrado desinteressada colaboração.

Nesse dia, meu carrinho já estava à meio, mas ainda faltava a alface, que minha esposa pediu da “verde e da escura”, esta última vista até então de forma suspeitosa por mim, pois imaginava que aquela cor fuliginosa decorria da sua natural deterioração. De longe, vi uma compradora elegante, trajada como se fosse para uma solenidade, esquadrinhando as alfaces contra a luz forte do teto, praticamente escaneando com os olhos as dobras enrugadas do vegetal, em busca talvez de algum piolho-de-cobra oculto nas folhagens e pensei: essa entende mesmo do riscado, vou pedir ajuda. No que eu tomei seu rumo, da minha ilharga surgiu a voz álacre, amistosa e acolhedora de uma antiga e querida amiga, dessas que fizeram parte do feliz universo da meninice:

- Nossa, olha quem está aqui no supermercado! Quanto tempo meu amigo. Estou muito feliz em reencontrá-lo, em especial neste início de ano. Leio sempre seus textos, acompanho suas postagens nas redes sociais, vibro com as fotos das suas viagens. E você?...

Com o coração em festa trocamos caloroso abraço, ao tempo em que resumi as atividades que tenho nessa fase da vida que eufemisticamente rotularam de melhor idade, dizendo-lhe honestamente que apesar de setentão não me sinto velho, no máximo seminovo, para utilizar a linguagem típica do mercado automotivo. Entretanto, apesar do afeto ressurgido naquele inesperado colóquio, abusei da amizade, postulei e dela recebi eficaz assessoria para a compra de pepinos e cenouras, embora sem minimamente entender como ela sabe que um está bom e o outro não. Despedimo-nos, ela estava com pressa. 

Tudo OK? Não. Reparei que ainda faltava o limão! Mas esse eu tiro de letra, murmurei. Imagina se eu ia errar na compra daquilo que abundava em nosso quintal, na vizinhança, na fazenda e no Bar do Plácido, onde mal saídos das calças curtas, curtíamos a caipirinha que nos permitia vencer a inibição e dançar tipo Carlinhos de Jesus nos salões feericamente iluminados dos bailes de então. É comigo mesmo, pensei. Olhei o bendito papel e lá constava, tipo ordem do dia no quartel: traga 12, de casca fina! No que eu estava me preparando para avaliar a espessura da casca do primeiro, tive outra surpresa: 

- Não acredito! Cara, quanto tempo! Só pode ser presente de Ano Novo!...

À minha frente estava um sujeito risonho, porte mediano, físico entanguido, trajando bermuda e camisa polo, pilotando outro carrinho, que eu nunca vira antes.  Apertou vigorosamente minha mão e desandou a falar:

- Cara, eu estou muito feliz! Adoro encontrar meus colegas de turma brilhando em suas atividades. Estou aposentado, aproveitando o lado bom da vida, meus filhos já casaram faz tempo e venho sempre neste supermercado comprar as coisas para a minha mulher, porque moramos bem aqui pertinho – e fez um biquinho com os lábios para me indicar o seu local de residência. 

Notei que o carrinho dele, contrastando com o meu, regurgitava de carne, peixes nobres, frango, frutas, folhagens, enlatados, compotas, temperos, pães, bolos e material de limpeza – indicando que sua jubilação não fora pelo INSS. Com esforço, dominei o ímpeto de pedir àquele desconhecido, do qual nem mesmo o nome eu sabia, seu cronograma de compras, visando doravante fazer com ele uma dobradinha, a fim de cumprir sem sobressaltos a espinhosa desobriga. Mas ele não me dava chance falar, empolgado em sua catadupa discursiva sobre os bons e saudosos tempos da faculdade, até que rematou:

- Soubeste do Ambrósio(*)? Agora ele é figurão nacional. Foi eleito para presidir o Conselho Federal de Química, é pouco? Na nossa turma ele nem abria a boca e agora manda e desmanda lá em Brasília. Dá para imaginar isso, irmão?

Sinceramente, mas de química, a única e reiterada experiência que tive foi fazer, quando moleque, cerol de papagaio com cola de sapateiro e vidro moído de magnésia, surrupiado do lixão da Farmácia Esculápio para as porfias domingueiras, por isso percebi logo que se tratava de um engano sobre a minha pessoa. Pisando em ovos para não melindrá-lo, disse-lhe do equívoco que ele estava cometendo e a sua reação foi mais surpreendente ainda: 

- Poxa vida, me desculpa, mas tu és a cara do nosso colega da Faculdade de Química que foi orador da turma, juro que pensei que fosse ele... 

Achei meio fantasiosa a notícia de que eu tivera um sósia nos distantes anos setenta, quando, exultantes e sonhadores, transpusemos o portal de saída da universidade, mas era hora de livrar meu interlocutor daquela saia justa e foi ele mesmo que, incrivelmente, se incumbiu disso. Com expressão iluminada por um largo sorriso, tirou de letra, não se deu por achado: 

- Pois é parceiro, mas mesmo não sendo tu, já que estamos nesse papo, vamos celebrar e desejar que todos os nossos amigos sejam felizes e tenham muita saúde em 2024. Ato contínuo, simulando um brinde, me fez repetir o gesto de tocar duas taças, na hipótese imaginárias, o tradicional “tim tim” dos filmes natalinos. Esse caboclo é meio gira, pensei. Tomara que os demais que estão comprando não nos chamem de doidos, rezei piamente...

Embora constrangido, caprichei na reciprocidade e finalmente ele se foi. Saí dali com a sensação de sincero bem estar por ter, naquele breve tempo, realizado o ideal da convivência humana, mesmo com um estranho. Acho que valeu até mesmo a encenação do brinde que fiz para não decepcioná-lo. A magia do Natal, que naturalmente se estende para além da virada do ano, me fez descobrir que a tal resiliência, palavra muito em moda nas entrevistas televisivas, pode fazer a diferença. É questão apenas de vontade, que a gente incorpora com a prática, a mesma prática que faz as donas de casa darem um show de versatilidade e competência nas suas compras em supermercados. 
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(*) Ambrósio, no texto, é nome fictício.
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Célio Simões é advogado, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Confraria Brasileira de Letras, do Instituto dos Advogados do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós. 

Fonte: Texto enviado pelo autor

Luiz Damo (Trovas do Sul) LIV


Adotemos um costume:
de em lugar nenhum fumar.
Mesmo tendo alguém que fume
não queira se acostumar.
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A grande e dura saudade
sob a lápide se esconde,
só nos traz perplexidade
e ao grito sequer responde.
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Antes que venha a aderir
o rol dos menosprezados,
não devo me permitir
ficar de braços cruzados.
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A vida nunca termina,
sempre está se renovando,
quando a morte se aproxima
vida nova vem chegando.
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A vida só tem sentido
se vivida intensamente,
cada momento perdido
não se vive novamente.
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Cada semente lançada
na lavoura da esperança,
nunca seja destroçada,
mas um sinal de bonança.
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Deve haver felicidade
em cada instante do dia,
na maior profundidade
complemento da alegria.
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Doces versos ao relento
espalhei sem perceber,
que levados pelo vento
foram distantes crescer.
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Do infinito a imagem vem,
como nós o imaginamos,
mas na verdade ele tem
o tamanho que lhe damos.
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Faltando a sinceridade
a mentira encontra alento
e à luz da falsa verdade
cresce o desentendimento.
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Há grande falta de afeto
neste mundo a vigorar
e muita gente sem teto
sob a ponte indo morar.
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Joguei pétalas em cores
para os passos perfumar,
o que vi não foram flores,
mas perfume em seu lugar.
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Na festa de São João
nunca faltam brincadeiras,
pipoca, doce e pinhão,
à luz de grandes fogueiras.
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Não tem batalha sem luta,
nem luta sem união,
sendo a vitória uma fruta
colhida da rendição.
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No fim da vida alguém sente,
quanta chance foi perdida
de viver intensamente
cada momento da vida...
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O homem tem sede de paz
mas de justiça também,
nem tudo lhe satisfaz,
só procura o que convém.
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Olho pro campo. Chovendo!
Muda a terra ressequida.
Mal creio que esteja vendo
outro milagre da vida.
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Outono vem pra trazer,
a certeza da colheita,
frutos que vamos colher
numa operação perfeita.
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Quando a saudade apertar
nosso coração reclama,
pois deseja sempre estar
ao lado de quem mais ama.
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Quem passa o tempo brincando
pode estar jogando fora
tudo o que estava ganhando
e assim lastimando chora.
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São corpos siliconados
com formas esculturais,
só falta serem clonados
pra se ter outros iguais.
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Se de pai fores chamado
ouve o que teu filho tem,
talvez queira ser amado
tal como o queres também.
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Se um melhor caminho tem,
neste mundo todo seu,
mostre e diga-nos também
como foi que apareceu…
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Toda paz que tanto anseia
o homem poderá alcançar,
basta dar a quem o odeia
mais amor sem o odiar.
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Transformar a tempestade
em luzes para o futuro,
requer força de vontade
para até seguir no escuro.
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Viva a vida sem receio,
não lastimes nem lamentes!
"Levanta e vem para o meio",
pois não somos diferentes.
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Fonte> Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014. Enviado pelo autor.

Coelho Neto (O Fauno)

Nascido na Veiga, entre outeiros de relva aveludada e claros, sonoros fios d'agua, criado no meio de ovelhas brancas, em companhia de pastores e zagalas
(pastoras), adorando o sol de ouro puro e as estrelas rutilas de prata, fazendo canções à lua, contando queixas de amor às fontes vivas, era feliz o pastorzinho.

Só pensava em Aleina e no seu rebanho, dando-se por venturoso se a pastora lhe sorria, correndo ao templo rústico com ofertas aos deuses se ouvia balar um novo anho.

À noitinha, em tempo de luar, deixava as folhas cheirosas do seu leito pastrano (rústico) e, à porta da cabaninha, contemplando o céu, ouvia o rouxinol. 

Que lindos os seus pensamentos!

Um dia, alongando-se no caminho, penetrou a floresta, guiado pelas borboletas, e, no recesso sombrio em que se apinhavam as árvores mais velhas, ficou ouvindo o sereno murmúrio das águas apenas nascidas.

Gozava aquele tartareio das fontes, berços das ribeiras, quando descobriu um fauno que ia e vinha de arvore a árvore, tocando ligeiramente as flores desabrochadas.

Empalideceu receoso, quis esconder-se às vistas do deus silvestre, mas a figura do fauno — cornífero, capripede, veludo — fê-lo rir e, como o morador e protetor da selva não se perturbasse com a sua presença, o pastorzinho adiantou-se.

— Que fazes, fauno? perguntou.

Voltou-se o deus e, fitando no pastor os grandes olhos profundos, respondeu:

— Caso as flores, pastor. Sou eu quem leva recados de uma a outra corola. É verdade que a brisa e as abelhas auxiliam-me, mas sou eu quem lhes diz onde há flores púberes, flores que podem celebrar noivado. Sou eu que, à noite, pelo clarão nupcial da lua, visito os ramos sentindo o perfume! É pelo perfume que chego a conhecer a puberdade dessas donzelas cativas que nem por viverem presas às hastes em que nasceram deixam de se entender com os seus namorados, não fossem elas femininas!

O pastorzinho desatou a rir e o fauno, encostando-se a um velho e rugoso tronco, suspirou:

— Eis! Se conhecesses, como eu, os segredos da natureza, não ririas, por certo. Dizes cá, pastorzinho: queres ser sábio como um deus?

— Sim, quero. A que preço? Dou-te a ovelha mais gorda do meu rebanho e uma taleiga (saco pequeno e largo) nova que ainda não serviu.

— Guarda a tua ovelha e a taleiga. Dar-te-ei toda a ciência dos deuses se me quiseres ceder as tuas ilusões. Troquemos as nossas almas: levarás, com a minha, a eternidade e a sabedoria. Eviterno e onisciente, que fortuna! pastor! Eu ficarei com as ilusões da tua e sujeito à vida efêmera que as almas humanas vivem no corpo em que transitam. Conhecerás todos os segredos da terra, todos os mistérios do céu; verás tão claro no futuro como no presente e a tua mocidade será perpetua como a cor azul do eliseu e a cor verde do mar. Queres?

— Sim, quero, disse o pastor contente.

— Vem comigo. Habito uma caverna a dois passos daqui e no tempo que baste a uma abelha para sugar o mel de um nectário farei a troca das almas. Levarás a riqueza e eu ficarei com as ilusões que valem menos que o fumo que sobe da lenha verde. 

Pôs-se a rir, de contente, o pastorzinho e, rindo, acompanhou o fauno à caverna.

Era uma furna sombria, merencória e humilde: parecia que ali se agasalhava o inverno. Contínua, com triste som, uma gota d'água pingava e os passos, ainda os mais leves, retumbavam no côncavo rochoso com um soturno ressoo longo e amedrontador. E disse o fauno:

— Senta-te, vou fazer lume.

E, puxando folhas secas, fez fogo e, em volta da chama, sentaram-se os dois.

Pôs-se o fauno a murmurar palavras encantadas e os olhos do pastorzinho logo se fecharam, pendendo-lhe a cabeça loura e, dormindo, quedou no leito de ramos.

Então o deus silvestre, colando a sua boca à do pastor, sorveu-lhe a alma cheia de ilusões e transmitiu-lhe, com a eternidade, o seu espírito onisciente.

Logo despertou o pastorzinho e, olhando, um momento, em torno, ergueu-se e, tristonhamente, partiu. Ficou o fauno a fitar o lume alegre, pôs-se a cantar contente e, levantando-se num pincho (salto), entrou a bailar em redor da fogueira.

E assim cantava o que fora imortal:

“Estrelas são gotas de luar. Ó cântaro da lua, cheio de leite, que desastrada zagala andou contigo aos boléos (boleando) para que assim derramasses tanto leite na eira?

Bem hajas, zagala — não fosses tu e não haveria estrelas. A luz do sol é sangue, a luz da lua é leite”. 

E cantava ainda:

“Quão lindo é o olhar da virgem! Há mais profundeza e mistério nos olhos da mulher do que nos abismos do mar. Pode o mergulhador descer à pesca da perola, nos penetrais mais íntimos das águas... quem é capaz de descobrir o segredo dos olhos verdes, abismos de sedução onde cantam sereias?

Um beijo é um germe, é o pólen que vai de lábio a lábio. O amor... que importa a morte?!”.

Assim cantava o fauno e ria perseguindo, a correr, as borboletas e toda a brenha parecia rir com o alegre fauno. Mas, de vez em vez, gritos rolantes atroavam.

— Fauno do bosque, dá-me as minhas ilusões, toma a tua alma com a eternidade, a onisciência e todo o seu poder divino. Restitui-me as ilusões que me roubaste. Conhecer toda a verdade é viver no vazio, é ver o fim de todo o Bem, o fim de todo o Amor; é jazer, vivo, num sepulcro porque o nada é a expressão da vida. E as minhas ilusões eram o azul desse vazio, o horizonte feliz desse infinito lúgubre. Dá-me as ilusões, toma a tua alma.

E o fauno, ouvindo o pastor, abalsava-se (embrenhava-se), fugindo, a cantar, pelo bosque verde:

“Há mais profundeza e mistério nos olhos da mulher do que nos abismos do mar”.

E o pastorzinho? Pobre pastor deserdado! E vós, que andais pelos bosques, não vos fieis em faunos.

Fonte> Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão Ltda, 1924. Disponível no Portal de Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Itararé/SP)


Letra: Dorothy Jansson Moretti
Música: Maestro Gerson Gorski Damaceno

Itararé das campinas
e mil recantos amados 
das verdejantes colinas  
e dos vales ondulados...

Das araucárias e pinus,
envolvidos na fragrância, 
os ventos te cantam hinos, 
ó terra de nossa infância!

Do Rio Verde e Caiçara, 
da Gruta das Andorinhas, 
quem dera eu te alcançara 
nessa trilha que caminhas!

Das araucárias e pinus 
envolvidos na fragrância, 
os ventos te cantam hinos 
ó terra de nossa infância!

De tua gente expansiva  
brilhantes realizações 
 te fazem sempre mais viva 
 junto aos nossos corações!

Das araucárias e pinus 
envolvidos na fragrância,
os ventos te cantam hinos, 
ó terra de nossa infância!

Artur de Azevedo (Contos em versos) As Vizinhas

I
O Felizardo tinha,
Havia um mês apenas,
Uma formosa e lânguida vizinha,
Flor da flor das morenas,
Por quem se apaixonara
Desde o momento em que lhe viu a cara.
À janela sozinha,
Nunca a pilhou, mas sempre acompanhada
Por uma quarentona
Rechonchuda e anafada (adiposa).

Quem seria a matrona
Ele ignorava, mas, na vizinhança,
Tendo indagado, soube, sem tardança,
Que das duas vizinhas
Uma era a filha e outra a mulher do Prado,
Velhote apatacado,
Que a vender galos, a vender galinhas,
E outros bichos domésticos, vivia
Durante todo o dia
Na praça do Mercado.

Felizardo ficou muito contente
Ao saber que a matrona
Da morena era mãe, porque a tal dona
Indubitavelmente
Mostrava ter por ele simpatia;
Quando a cumprimentava, ela sorria
Com um sorriso de sogra em perspectiva.

A morena adorada
Era mais reservada,
Menos demonstrativa;
Sorria-lhe igualmente,
Mas disfarçadamente
E de um modo indeciso,
Como se fora um crime o seu sorriso.

II
Um dia Felizardo, que era esperto,
Tendo a jeito apanhado um molecote
Da casa das vizinhas, deu-lhe um bote
E o efeito foi certo,
Porque não há moleque
Que por uns cinco ou dez mil réis não peque.
— Como se chama a filha do teu amo?
— Mercedes. — E a senhora? — Julieta.
— Pois ouve cá: dona Mercedes amo.
Toma esta nota. Dobro-te a gorjeta
Se acaso te encarregas
De lhe entregar uma cartinha... Entregas?
— Entrego, sim senhor. — Quando trouxeres
A resposta, terás quanto quiseres!

A secreta cartinha
Uma declaração de amor continha,
E terminava assim: «Se me autoriza
A pedi-la a seu pai em casamento,
Três letras bastam... nada mais precisa...
Sim ou não... minha vida ou meu tormento.»
Veio em breve a resposta
Pela tal mala-posta,
E exultou Felizardo,
Lendo, escrito em bastardo,
O grato monossílabo ditoso
Com que sonhava um coração ansioso.

No mesmo dia foi o namorado
Ter com o pai da morena
À praça do Mercado.
Não preparou a cena:
Refletiu que modesto
Devia o velho ser, por conseguinte,
Dispensava etiquetas. Deu no vinte,
Como o leitor verá, se ler o resto.

III
Em mangas de camisa estava o Prado.
Na barraca sentado,
Entre galos, galinhas, galinholas
Das raças mais comuns e das mais caras, —
Frangos, patos, perus, coelhos, araras,
Passarinhos saltando nas gaiolas,
Saguis mimosos, trêmulos, surpresos,
Acorrentados cães, macacos presos,
E no ambiente um cheiro
De entontecer o próprio galinheiro,
Quando foi procurado
Por Felizardo. — Felizardo Pinho
É o meu nome; conhece-me, seu Prado?
— De vista, sim, senhor, que é meu vizinho.
— Eu amo ardentemente sua filha,
E não sou para aí um farroupilha.
Não quero agora expor-lhe as minhas prendas;
Apenas digo-lhe isto:
Vivo das próprias rendas,
Tenho boa família e sou bem visto.
Venho, por sua filha autorizado,
Dizer-lhe que domingo irei pedi-la.
Até lá pode ser bem informado,
Afim de que me aceite ou me repila.
O pai, que estava atônito e pasmado,
Interrogou: — É sério? É decidido?
O senhor gosta da Mercedes? — Gosto,
E tudo, tudo arrosto,
Para ser seu marido!
— Bom; domingo lá estou, e é crença minha
Que ficaremos do melhor acordo;
Mas vá jantar, que sábado, à tardinha,
Mando pra casa o meu perú mais gordo.

No domingo aprazado
O Felizardo, todo encasacado,
Inveja das catitas mais catitas,
Foi recebido pelo velho Prado
Na sala de visitas.
— Vou chamar a Mercedes, disse o velho,
Enquanto o namorado, num relance
Mirando-se no espelho,
Achava-se um bom tipo de romance.

Voltou à sala o Prado,
Trazendo pela mão... a quarentona.
— Aqui tem minha filha! Embatucado,
Felizardo caiu numa poltrona.

O mísero protesta:
— Perdão, mas não é esta!
— Eu não tenho outra filha! sobranceiro
Exclama o galinheiro.
Felizardo, fazendo uma careta,
— Mas a outra?... — pergunta. — A Julieta?
Essa é minha mulher! — Minha madrasta,
Acrescenta Mercedes. — Basta! basta
Perdão, minha senhora!
Murmurou Felizardo, e foi se embora,
Correndo pelas ruas.
Não houve nunca mais noticias suas

Artur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público . Convertido para o português atual por J. Feldman