quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Hans Christian Andersen (O guardador de porcos)

Era uma vez um príncipe pobre; ele tinha um reino muito pequeno, mas mesmo assim grande o bastante para que ele se casasse. E casar era o que ele queria, era mesmo seu maior desejo. Mas é claro que ele ia ser muito atrevido se perguntasse logo à filha do Imperador: “Você quer casar comigo?” Pois foi justamente o que ele fez.

Seu nome ilustre era conhecido por toda parte, e havia centenas de princesas que lhe diriam “sim” na mesma hora, felizes da vida de ir morar com ele em seu pequeno reino.

E a filha do Imperador? Que será que ela respondeu? Pois é o que vamos ver agora.

Sobre o túmulo do pai do príncipe, crescia uma roseira, uma roseira maravilhosa. Só florescia de cinco em cinco anos, e ainda assim dava apenas uma rosa de cada vez. Mas não era uma rosa como as outras; tinha um perfume tão doce, que fazia as pessoas esquecerem todos os desgostos e preocupações.

Além da rosa, o príncipe tinha um rouxinol; um rouxinol que cantava tão bem, que era como se as mais lindas melodias morassem em sua pequena e delicada garganta.

Essa rosa e esse rouxinol o príncipe quis dar de presente à princesa; para isso, foram enviados a ela dentro de duas caixas de prata. O Imperador ordenou que as caixas fossem levadas ao grande salão, onde a princesa brincava com suas damas de honra. Quando ela viu aquelas caixas com os presentes, bateu palmas de alegria.

– Ah, que bom se eu ganhasse um gatinho! – disse ela.

Mas o que saiu da primeira caixa foi uma rosa lindíssima e perfumada.

– Oh, que coisinha mais bem feita! – exclamaram todas as damas de honra.

– Ela é mais do que bem feita. É fascinante! – disse o Imperador.

A princesa, porém, tocou na rosa e logo começou a chorar:

– Que coisa horrível, Papai! Não é uma rosa artificial, é de verdade! – reclamou ela, aborrecida, jogando a rosa no chão.

– Que coisa horrível! É uma rosa de verdade! – disseram também todas as damas de honra. É que elas achavam uma rosa de verdade muito pouco elegante e nobre, pois se encontra por toda parte. Ninguém reparou em seu doce perfume, ninguém se abaixou para pegá-la do chão, e logo ela foi esquecida. Mais tarde, uma serva do palácio jogou-a no lixo.

– Antes de ficarmos zangados, vamos primeiro verificar o que veio na outra caixa – disse então o Imperador. Com todo o cuidado, a caixa foi aberta, e o que apareceu foi o rouxinol. Dois pajens tiveram de trazer um suporte de ouro com uma argola pendurada, e um deles pousou o passarinho naquele aro dourado. E, apesar de ser bem simples, sem cores vivas, seu canto era tão maravilhoso, que ninguém conseguiu falar mal dele.

As damas de honra ficaram escutando, encantadas, o Imperador pôs as mãos no peito, comovido, e a princesa sentou-se numa poltrona sem dizer nada e prestando a maior atenção.

– Superbe! Charmant! – disseram as damas de honra, pois todas falavam francês, cada uma pior que a outra.

Com isso, elas queriam dizer que o canto do passarinho era magnífico e fascinante. A linda voz do rouxinol ressoou por todo o castelo, de modo que foram aparecendo mais e mais ouvintes: o mestre-de-cerimônias e os ministros, o camareiro do Imperador e a criada de quarto da princesa.

– Como esse passarinho me faz lembrar a caixinha de música da saudosa Imperatriz! – disse um velho ministro – Ah! O tom é o mesmo, e a maneira de cantar também!

– Tem razão – disse o Imperador, chorando como uma criança, pois começou a pensar em sua boa esposa, que havia morrido há poucos anos.

De repente, a princesa disse:

– Tenho a impressão de que esse passarinho canta como se estivesse vivo. Não me digam que é um passarinho de verdade!

O Imperador indagou dos mensageiros que tinham trazido os dois presentes, e eles responderam:

– Sim, é um passarinho de verdade.

– Então, podem soltá-lo – disse a princesa, e não deixou que o príncipe viesse ao palácio.

Os servos tiveram de abrir a janela e deixar o passarinho sair voando.

As damas de honra ainda comentaram:

– Deve ser muito sem educação esse príncipe, para mandar de presente uma rosa de verdade e um passarinho vivo.

Apesar de tudo, o príncipe não desanimou. Pintou o rosto de marrom, afundou o chapéu na cabeça até a testa e foi bater à porta do castelo. E aconteceu que quem abriu foi o próprio Imperador; o príncipe tirou o chapéu e disse:

– Bom dia, senhor Imperador! Seria possível arranjar para mim um trabalho no castelo?

– Pois é – respondeu o Imperador – tanta gente vem pedir emprego aqui… Mas eu não sei se temos alguma coisa para você fazer. Vou pensar… Ah, espere um pouco! Lembrei que preciso de alguém para tomar conta dos porcos, pois nossos porcos são muitos.

E assim o príncipe arranjou um emprego de guardador imperial de porcos. Deram-lhe um quartinho miserável ao lado do chiqueiro, e lá ele teve de morar; mas durante o dia todo ele trabalhou e, ao anoitecer, tinha feito uma panelinha com alegres guizos pendurados em volta; e, assim que a panelinha fervia, os guizos tocavam a antiga melodia:

“Oh, meu Agostinho,
perdeste tudinho!”

Mas a panelinha sabia fazer uma porção de outras coisas, pois não era uma panela comum. Só de pôr o dedo na fumaça que saía dela, a gente ficava sabendo que comida estava sendo preparada em todos os fogões da cidade. Na casa do alfaiate imperial, ia-se comer linguiça no espeto; a mulher do caçador da corte estava assando uma perdiz, que seu marido tinha reservado para eles depois da última caçada; na casa do sapateiro, as batatas pulavam dentro d’água, e na casa do professor da escola, por ser dia de aniversário, uma galinha estava sendo ensopada. E – vejam só! – o mendigo, que todos os dias pedia esmola no castelo, tinha até um suculento pedaço de carne em sua sopa e mingau de aveia para a sobremesa. Pois é, a panelinha era bem diferente da rosa de verdade e do rouxinol vivo. Então, certo dia, quando a princesa estava por acaso passeando ali perto com todas as suas damas de honra, ouviu a música dos guizos e parou toda contente; é que ela também sabia tocar “Oh, meu Agostinho”. Aliás, era a única música que ela sabia tocar, e assim mesmo com um dedo só.

– Essa é a cantiga que eu toco! – disse ela – Deve ser bem educado esse guardador de porcos. Vá falar com ele e pergunte quanto custa esse instrumento que eu quero tanto comprar.

Então, uma das damas de honra teve de ir até o chiqueiro, mas precisou calçar tamancos, pois o lugar era muito cheio de lama.

– Quanto você quer pela panelinha? – perguntou a dama de honra, tampando o nariz e pisando na ponta dos pés.

– Quero dez beijos da princesa – respondeu o jovem guardador de porcos.

– Deus me livre! – disse a dama de honra, e quase desmaiou com aquela exigência.

– Por menos eu não vendo. Afinal ela não é uma panela comum – replicou o guardador de porcos.

A dama de honra foi até onde as outras estavam, e a princesa perguntou:

– Que foi que ele disse?

– Eu nem posso contar – respondeu ela.

– Pois então fale aqui no meu ouvido!

Quando a princesa ficou sabendo o que o guardador de porcos queria, disse:

– Que sem-vergonha! Que sujeito malcriado! – e foi embora dali.

Mas, foi só andar um pouco, que os guizos tocaram:

“Oh, meu Agostinho,
perdeste tudinho!”

– Olhem – disse a princesa – voltem lá e perguntem se ele aceita dez beijos de minhas damas de honra.

– Muito obrigado – respondeu o guardador de porcos – Quero dez beijos da princesa ou nada de panelinha.

– Está muito chato esse vai e vem! – disse a princesa – Vocês todas fiquem então em volta de mim, para que ninguém veja.

Assim, as damas de honra fizeram uma roda esticando as pontas dos vestidos, e o guardador de porcos ganhou dez beijos, e a princesa recebeu a panelinha.

Foi uma alegria, que só vendo! O dia inteiro a panela ferveu; e elas agora sabiam o que estava sendo cozinhado em todos os fogões da cidade, tanto na casa do camareiro como na casa do sapateiro ou do alfaiate. As damas de honra dançavam e batiam palmas, dizendo:

– Sabemos quem vai comer sopa doce e omelete e quem vai ganhar mingau e carne assada. Que coisa mais interessante!

– Interessantíssima! – exclamou a mestre-sala.

– É, mas guardem segredo, pois eu sou a filha do Imperador.

– Pode deixar, pode deixar! – disseram todas.

O guardador de porcos, isto é, o príncipe – só que ninguém sabia que ele era o príncipe – não deixava passar um dia sem fazer alguma coisa, e dessa vez ele fez uma matraca. E era só girar a matraca que ela tocava todas as valsas e polcas do mundo.

– Que maravilha! – exclamou a princesa quando passou por perto – Nunca ouvi música mais linda. Ouçam, vá uma até o chiqueiro e pergunte ao guardador de porcos quanto custa esse instrumento: só que beijos eu não dou mais!

– Ele quer, em troca, cem beijos da princesa – disse a dama de honra que tinha ido lá perguntar.

– Acho que ele ficou maluco! – retrucou a princesa, saindo dali.

Entretanto, depois de andar um pouco, parou.

– Em nome da arte, é preciso fazer alguma coisa. Afinal, eu sou a filha do Imperador! Diga que vou dar dez beijos, como da outra vez. O resto ele pode receber de minhas damas de honra.

– Ah, mas nós não temos vontade nenhuma de fazer isso! – disseram as damas de honra.

– Que enjoamento de vocês! – reclamou a princesa – Pois se eu posso beijar, vocês também podem. Além disso, é de mim que vocês recebem alimento e salário!

Assim, querendo ou não, as damas de honra foram de novo ao chiqueiro.

– Cem beijos da princesa – respondeu o guardador de porcos – senão cada um fica com o que é seu!

– Então, ponham-se todas na minha frente – disse ela.

As damas de honra obedeceram, e o guardador de porcos ganhou os beijos da princesa.

– Mas que ajuntamento é aquele lá no chiqueiro? – perguntou o Imperador, que tinha saído para o terraço.

Ele esfregou os olhos e pôs os óculos.

-É… São as damas de honra que fazem esse barulho todo; preciso ir ver o que está acontecendo!

E… zás-trás… lá foi ele bastante afobado.

Assim que chegou mais perto, começou a andar bem devagarinho. As damas de honra estavam tão ocupadas contando os beijos, para que fosse um negócio honesto, que nem repararam no Imperador.

– Que é isso? – exclamou ele, ao ver a princesa e o guardador de porcos se beijando.

Já haviam sido trocados oitenta e seis beijos, quando o Imperador começou a dar sapatadas na cabeça dos dois.

– Fora daqui! – gritou ele, furioso.

E a princesa e o guardador de porcos foram expulsos do reino. Do lado de fora, a princesa ficou chorando, o guardador de porcos reclamando, enquanto o maior temporal começou a cair.

– Ai, ai! Coitada de mim! – gemia a princesa – Se ao menos eu tivesse casado com aquele belo príncipe! Ah, como eu sou infeliz!

O guardador de porcos foi então para trás de uma árvore, limpou o rosto tirando dele a tinta marrom, livrou-se dos trapos horríveis que usava e apareceu vestido de príncipe. Estava tão bonito, que a princesa curvou-se, respeitosamente.

– Por você, só sinto desprezo – disse ele – pois não quis um príncipe honesto, não aceitou a rosa nem o rouxinol, mas beijou um guardador de porcos em troca de uns brinquedinhos; agora, você recebeu o que merecia!

E com essas palavras o Príncipe foi embora, deixando a Princesa sozinha na chuva.

(Tradução Ruth Salles)

Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público

Mitos Indígenas (Igaranhã - a canoa encantada)

 Um índio da tribo Kamaiúra iniciou a construção de uma canoa com a casca do jatobá. Ao terminá-la retomou para junto de sua mulher, que há pouco dera à luz, permanecendo por alguns dias. 

Algum tempo depois, voltando à mata onde havia deixado a canoa, não mais a encontrou. Entristeceu-se e, pensativo, tentou imaginar o que ocorrera. Talvez a tivessem roubado, ou algum animal a tivesse destruído. Como poderia pescar agora? 

Absorto, despertou com um ruído. Foi grande o seu espanto ao perceber que em sua direção movimentava-se lentamente, por si mesma, uma canoa, a mesma que ele construíra, agora com vida e olhos na proa. Talvez houvesse se transformado em um animal, pensou. Dar-lhe-ia então um nome: Igaranhã - o crocodilo. 

Entrou na canoa, ordenando-lhe que seguisse em direção ao lago. Assim que Igaranhã tocou a água, cobriu-se com muitos peixes, dos mais variados tipos, cores e tamanhos, que saltavam sem cessar da água para dentro da embarcação. 

Os primeiros, a própria canoa devorou, ficando no entanto a maior parte para o índio. Á sua mulher, maravilhada, falou apenas de um lugar ideal para a pesca, que houvera encontrado. 

Dias depois, retomando ao mesmo local, nada encontrou sob a frondosa árvore. Como por encanto a canoa surgiu novamente da mata, dirigindo-se ao lago e o fenômeno repetiu-se. 

O índio ambicioso recolheu rapidamente os peixes, sem deixar à Igaranhã sua parcela do alimento. Esta então, muito contrariada, acabou por devorar seu próprio dono.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 36

 
Trova com imagem obtidas no facebook da trovadora

Monsenhor Orivaldo Robles (Maringá, mãe ou madrasta?)

(texto escrito em 2014)

Os pioneiros desta cidade agregaram ao nome Maringá os qualificativos “novo” e “velho”. O novo desapareceu pouco depois; o velho continua até hoje para designar o bairro onde a cidade começou. Os que chegaram naqueles sofridos tempos eram homens rudes, de mãos calejadas e rosto queimado de sol. A maioria era competente em derrubar mato, queimar coivara e plantar café. Da língua pátria pouco tinha conhecimento. Não sabia que nome de cidade leva adjetivo do gênero feminino. Como fez, na construção “nossa amada Maringá”, o poeta e professor Ary de Lima, a quem me coube a honra de ter como colega no querido Colégio Gastão Vidigal. Com razão até maior do que outras, Maringá é feminina. Pois não se chamava Maria do Ingá, na canção que a batizou, a retirante nordestina e imaginária musa de Joubert de Carvalho? Todos os que por aqui passam dedicam-lhe elogios feitos com adjetivos ou pronomes femininos. Sempre escutamos: “Maringá é linda. Deve ser muito bom viver nela”.

Nossa cidade exibe o encanto de uma sedutora mulher, que desperta paixão logo ao primeiro olhar. Não fui eu que inventei isso. Venho ouvindo-o desde meus dezesseis anos. O tempo só fez crescer em mim um amor de que não me sabia capaz. No seu cinquentenário, faz dezessete anos, eu lhe dirigi uma saudação que hoje reconheço um tanto melosa. Mas como não ser meloso falando àquela que se conheceu como graciosa menina de dez anos? Eu me permiti, na ocasião, pieguices deste calibre: “Que saudade da garotinha que embalamos no berço de mato e chão batido. Que nos garantia uma união de meninos vivendo juntos, olhando-nos de frente e sorrindo sem disfarce. Era o tempo em que partilhávamos tudo. O pão era branco; o dia, claro; a palavra, direta. Sentíamo-nos abertos e puros, animados de coragem para enxugar o suor uns dos outros. Estendíamos as mãos com transparência e as apertávamos sem medo. Não havia susto em nossas noites nem desconfiança em nosso olhar”.

Para mim Maringá irradiava a ternura de um colo de mãe. Notaram que até seu aniversário tem um traço materno? Cai perto do Dia das Mães; às vezes nele. Talvez para recordar que ela nasceu para acolher os filhos. Todos os filhos, sem excluir um sequer.

Agora me angustia uma preocupação difícil de ocultar. Quando me recebeu, mais de cinquenta anos atrás, Maringá ainda cheirava a mato e sujava-se no pó e no barro, como lembram idosos que têm a minha idade. Mas era uma cidade deliciosa, que nos envolvia num abraço de mãe. Nela nos sentíamos em casa. Não havia essa distância que hoje separa uns de outros; ricos, de pobres; os do centro, dos da periferia; os que aqui moram, dos obrigados a morar em cidades afastadas; os que se acham importantes, dos que são vistos como pés-rapados.

Compreendo que a cidade cresceu além do que se pensava. Mas mãe que é mãe não discrimina um filho por ser menos prendado que outro. Ao contrário, dá atenção maior ao que é menos favorecido. Na casa em que uns são considerados mais filhos, outros menos, algo está muito, muito errado mesmo. Dá pena ver Maringá passando de mãe amorosa a madrasta desumana, que mima uns enquanto pisoteia outros.

Perto dos setenta, a formosa dama de hoje precisa redescobrir a inocência do seu tempo de menina. Brilho sem amor não vale nada. É pura hipocrisia.

Fonte: Portal do Rigon. 10 maio 2014
https://angelorigon.com.br/2014/05/10/maringa-mae-ou-madrasta/

Caldeirão Poético LXXIX


Murilo Fontes
Juiz de Fora/MG, 1901 – 1975, Lisboa/Portugal

SINOS DA TARDE

São seis horas da tarde... são seis horas!
Vibram nos ares carrilhões divinos!
Por que sofres minh'alma, por que choras
pela tardinha, ao repicar dos sinos?

São seis horas... e eu sei... Tu não demoras...
Dentro em breve chegavas... mil violinos
cantavam no meu peito como auroras
a bendizer os nossos dois destinos!

São seis horas... meu Deus! Quanta harmonia,
duas vidas vivendo uma só vida
na glorificação de um grande amor!

São seis horas... eu rezo... morre o dia!...
Que saudades de ti, minha querida!
— Sinos da tarde, cessem por favor!
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Paschoal Carlos Magno
Rio de Janeiro/RJ, 1906 – 1980

À MINHA MÃE

A tua sombra é doce e comovida,
o teu destino de árvore tonteia...
A tua vida, que mais linda vida?
Toda de pássaros e ninhos cheia...

A sombra deu a tantos acolhida,
a árvore tudo dando pouco anseia:
cada vez mais cansada e envelhecida,
a ramaria para o chão arqueia...

Mas quando o vento vem rodopiando,
a árvore, cuja sombra é boa e doce,
abre os braços em súplica, chorando.

Choro de folhas! Alma dos caminhos...
Enche todos os Céus como se fosse
choro de mãe para embalar os ninhos...
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Paulo Fender
Belém/PA, 1912 – 1981, Rio de Janeiro/RJ

NÃO ERA AMOR...

Não era amor aquele amor veemente,
que me trazia em êxtase profundo
e que causava inveja a toda gente,
como se fosse o amor maior do mundo.

Era, apenas, talvez, abismo fundo,
em que se rola involuntariamente,
coisa estranha, que um deus fero e iracundo
fez brotar no meu peito, de repente.

Não era amor, torno a afirmá-lo, e creio
que todo aquele insopitado anseio
por vê-la sempre a mesma, eterna e linda,

era simples loucura de criança,
porque hoje, velho, o coração não cansa
de me dizer que não amei ainda!
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Rosemar Pimentel
Niterói/RJ, 1905 – 1975

PEQUENINO MORTO

Morreu. Vestiram-no de branco e veio
entre outras crianças rútilas, mimosas,
dar o corpinho emagrecido e feio
à tristeza das tumbas dolorosas.

As mãozinhas em cruz, postas no seio,
como duas saudades silenciosas,
tornavam-se mais lívidas, no meio
das grinaldas, dos lírios e das rosas.

Eu, que encontrei o féretro na estrada,
penso na dor de quem ficou sozinho
e vejo, pela aldeia desolada,

que quando passa o corpo desse anjinho,
enquanto os outros pais não dizem nada,
o coração das mães chora baixinho!...
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Santiago Vasques Filho
Teresina/PI, 1921 – 1992, Fortaleza/CE

NATAL DO ÓRFÃO

— "Mamãe, Papai Noel não veio ainda?
No ano passado, ele chegou tão cedo!... “
E a mulher, voz tremente, a tarde finda,
tenta encobrir o trágico segredo:

"Vai dormir, que ele vem... Não tenhas medo.
Olha as estrelas... como a noite é linda!...
Põe teu sapato ali, que o teu brinquedo
há de deixar, por certo... É cedo ainda...”

Dorme o garoto, e acorda com surpresa,
vendo vazio o gasto sapatinho!
"Ele não veio!..." — e logo o pranto vaza...

—"Sim, filhinho, não veio... Com certeza
não encontrou teu pai pelo caminho,
ou se esqueceu do número da casa!...”
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Vulmar Coelho
Santana dos Ferros/MG, ??? – ????, Juiz de Fora/MG

MELANCOLIA

A gente morre um pouco todo o dia.
O tempo vai matando, devagar,
os sonhos, um por um, a fantasia,
essa ilusão ingênua de sonhar.

A vida é como o sol — nasce, irradia...
Depois vem vindo a luz crepuscular.
Despedem-se os prazeres, a alegria,
e só resta um consolo recordar.

O corpo cansa de viver. A estrada
fica deserta e triste. A caminhada
é mais penosa pelo anoitecer.

Fica-se abandonado ao léu da sorte,
e quando, finalmente, chega a morte,
a gente já tem pouco que morrer.

Fonte> Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Beatrix Potter (A História de Pedro, o Coelho)

Era uma vez, quatro pequenos Coelhos, e seus nomes eram - Flopsy, Mopsy, Rabo de Algodão, e Pedro. Eles viviam com sua Mãe em um banco de areia, embaixo da raiz de uma árvore de pinheiro muito grande.

"Agora, meus queridos", disse a velha Sra. Coelho uma manhã, "vocês podem ir para os campos ou para a estrada, mas não vão para o jardim do Sr. McGregor: seu pai teve um acidente lá; ele foi colocado em uma torta pela Sra. McGregor.

"Agora corram, e não se metam em encrenca. Eu estou saindo. "

Então a velha Sra. Coelho pegou uma cesta e seu guarda-chuva e foi pela floresta até a padaria. Ela comprou uma fatia de pão marrom e cinco bolinhos de passas. 

Flopsy, Mopsy e Rabo de Algodão, que eram bons coelhinhos, desceram a estrada para colher amoras, mas Pedro, que era muito desobediente, correu direto para o jardim do Sr. McGregor e se esgueirou por baixo da porta.

Primeiro ele comeu algumas alfaces e algumas vagens, e então ele comeu alguns rabanetes. Sentindo-se um pouco enjoado, foi procurar alguma salsa.

Mas ao final de uma plantação de pepino, quem ele encontrou foi o Sr. McGregor!

O Sr. McGregor estava de joelhos plantando couves jovens, mas ele se levantou e correu atrás de Pedro, agitando uma enxada e gritando: "Pare seu ladrãozinho!"

Peter estava tremendo de medo. Correu por todo o jardim, pois tinha esquecido o caminho de volta para a porta. Perdeu um dos seus sapatos entre as couves e o outro sapato entre as batatas.

Depois de perdê-los, ele começou a correr com as quatro patas e foi mais rápido. Então, acho que ele poderia ter escapado completamente se ele não tivesse, infelizmente, corrido para uma rede de groselhas e ficado preso pelos grandes botões de sua jaqueta. Era uma jaqueta azul com botões de latão, bem nova.

Pedro se deu por perdido e derramou grandes lágrimas, mas seus soluços foram ouvidos por alguns pássaros amigáveis, que voaram até ele em grande excitação e imploraram que se esforçasse mais.

O Sr. McGregor chegou com uma peneira, que ele pretendia usar para cobrir Pedro, mas Pedro se esgueirou a tempo, deixando sua jaqueta para trás. Correu para o galpão de ferramentas e pulou em uma lata. Seria um ótimo esconderijo, se não tivesse tanta água dentro dela.

O Sr. McGregor estava certo de que Pedro estava em algum lugar no galpão de ferramentas, talvez escondido embaixo de um vaso de flores. Ele começou a virá-los cuidadosamente, olhando por baixo de cada um. 

De repente Pedro espirrou - 'Atchim!' O Sr. McGregor apareceu atrás dele em seguida, e tentou pisar em Pedro, que pulou pela janela, derrubando três plantas. A janela era muito pequena para o Sr. McGregor, e ele estava cansado de correr atrás de Pedro. Ele voltou para o seu trabalho.

Pedro sentou-se para descansar, estava sem fôlego e tremendo de medo, e não tinha a menor ideia de qual caminho seguir. Além disso, ele estava muito molhado por ter entrado naquela lata.

Depois de um tempo, ele começou a vagar, saltando e saltando - não muito rápido, e olhando em todos os lugares. Encontrou uma porta em um muro, mas estava trancada, e não havia espaço para um coelho gordinho se esgueirar por baixo. Uma velha ratazana estava subindo e descendo pelo degrau de pedra, carregando ervilhas e feijões para sua família na floresta. 

Pedro perguntou a ela o caminho para a porta, mas ela tinha uma ervilha tão grande na boca que não pôde responder. Ela só balançou a cabeça para ele. Pedro começou a chorar.

Então tentou encontrar o caminho direto através do jardim, mas ficou cada vez mais confuso. Depois de um tempo, chegou a um lago onde o Sr. McGregor enchia suas latas de água. Uma gata branca estava olhando para alguns peixes-dourados, ela estava muito, muito quieta, mas de vez em quando a ponta de sua cauda tremia como se estivesse viva. Peter achou melhor ir embora sem falar com ela. Ele tinha ouvido falar sobre gatos, de seu primo, o pequeno Benjamin Bunny.

Ele voltou para o galpão de ferramentas, mas de repente, bem perto dele, ele ouviu o barulho de uma enxada - ré-é-é-que, reque, reque, reque. Raspando no chão. Pedro se escondeu debaixo dos arbustos. Mas como nada aconteceu, saiu, subiu em uma carroça e espiou. A primeira coisa que viu foi o Sr. McGregor plantando cebolas. Suas costas estavam voltadas para Pedro, e depois dele estava a porta!

Pedro desceu muito silenciosamente da carroça e começou a correr o mais rápido que pôde, ao longo de uma caminhada reta atrás de alguns arbustos de groselha preta. O Sr. McGregor avistou-o na esquina, mas Pedro não se importou. Ele deslizou por baixo da porta e, finalmente, estava a salvo na floresta fora do jardim.

O Sr. McGregor pendurou a pequena jaqueta e os sapatos em um boneco de espantalho para assustar os corvos. 

Pedro nunca parou de correr ou olhou para trás até chegar em casa na grande árvore de pinheiro. Ele estava tão cansado que caiu sobre a areia macia e agradável no chão da toca dos coelhos e fechou os olhos. 

Sua mãe estava ocupada cozinhando; ela se perguntou o que ele tinha feito com suas roupas. Era a segunda jaqueta e o segundo par de sapatos que Pedro tinha perdido em duas semanas!

Lamento dizer que Pedro não estava se sentindo muito bem durante a noite.

Sua mãe o colocou na cama e fez chá de camomila, e ela deu um pouco para Pedro.

"Uma colher de sopa para tomar na hora de deitar".

Mas Flopsy, Mopsy e Rabo de Algodão tiveram pão, leite e amoras para o jantar.
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Helen Beatrix Potter (Londres/Inglaterra, 1866 — 1943, Lakeland/Inglaterra) Uma das principais autoras infantis da Grã-Bretanha, Beatrix Potter é famosa por seu personagem Pedro Coelho, que até hoje encanta crianças mundo afora. Mulher de múltiplos talentos, apesar da rígida criação vitoriana se tornou, além de escritora e ilustradora, estudiosa de ciências naturais, conservacionista, agricultora e mulher de negócios. Sua maior realização foi a conservação de grandes áreas de terra na região de Lake District. Em testamento, Beatrix devolveu essas terras ao povo britânico, legando-as ao National Trust, organização do Reino Unido que tem por objetivo preservar áreas de patrimônio nacional e beleza natural.

Fonte: Beatrix Potter (escritora e ilustradora). A História de Pedro, o Coelho. Publicado originalmente em 1902 como The Tale of Peter Rabbit. Disponível em Domínio Público 

Mitos Indígenas (Kuat e Iaê – A conquista do dia)

No princípio só havia a noite. Os irmãos Kuát e Iaê - o Sol e a Lua - já haviam nascido, mas não sabiam como conquistar o dia. Este pertencia a Urubutsim (Urubu - rei), o chefe dos pássaros. 

Certo dia os irmãos elaboraram um plano para capturá-lo. Construíram um boneco de palha em forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas. 

Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam previsto. 

Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia em troca de sua liberdade. 

O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo. Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o que os irmãos queriam. 

Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou. 

O chefe dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à tarde vai se esvaindo, até o anoitecer.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Adega de Versos 119: Vanda Fagundes Queiróz

 

Mensagem na Garrafa = 104 =

Cristiane Emília Pasquini
Sorocaba/SP

COMO ANDA SEU TEMPO?

Ao observarmos o passado, há milhões de anos, o humano era pouco mais do que um macaco vivia em bandos – na época era necessário para a sobrevivência de cada um e da própria espécie.

Algum tempo depois, ainda há milênios atrás, o humano descobriu que podia controlar o fogo, diferentemente dos outros animais  a curiosidade humana superou o medo e com isso o fogo foi dominado, preservado e, depois usado sempre que desejasse.

Mais tarde aprendeu a usar o fogo para cozinhar, seguido da produção de utensílios, instrumentos e armas. Com as armas, aprendeu a caçar de forma mais eficiente assim, reduzindo seus esforços.

Com a agricultura, não precisou mais sair à busca de alimentos. Com essas facilidades o homem começou a ter tempo de sobra, o ócio.

Com esse espaço de tempo, a energia economizada nas atividades de sobrevivência passou a ser canalizada para a produção de bens, valores e atividades culturais. Vale salientar que a cultura em sua origem é filha do ócio, como a escrita, a pintura, a escultura, a música, a dança, a filosofia, as religiões, os jogos e etc.

Podemos concluir que desde as mais antigas civilizações o homem já vivia no ócio.

Ao avançarmos um pouco mais na história, grandes gênios criaram suas invenções durante seus momentos de ócio. Além de importantes invenções como as de Isaac Newton, que durante sua trajetória, descobriu várias leis da física, entre elas, a lei da gravidade, na passagem do século XIX para o XX, podemos citar o físico alemão Albert Einstein, o pintor espanhol Pablo Picasso, que contribuíram grandemente para a história com a teoria da relatividade e o cubismo, respectivamente.

Mais uma vez constatamos que a criatividade aflora durante o ócio.

Penso 99 vezes e nada descubro. “Deixo de pensar, mergulho no silêncio, e a verdade me é revelada”.( Albert Einstein) .

Pois bem. Com a evolução dos tempos, a escrita, a informática  as informações em fração de segundos “dão volta ao mundo”, com isso exige uma maior versatilidade do ser humano.

Atualmente para exercer uma profissão, qualquer que seja, há a necessidade de uma flexibilidade maior, principalmente no que se refere às atualizações, intensas e que se alteram numa velocidade incrível. É uma verdadeira “corrida contra o tempo”.

E por falar em tempo, e tempo para o ócio? Se para criarmos necessitamos dele, como realizar tantas atividades, das quais a cada dia são mais exigentes, se o tempo é escasso? Corremos feitos loucos, sem tempo pra nada, nem mesmo para usufruir de nossas próprias riquezas.

Segundo o professor e sociólogo italiano, Domenico De Masi devemos exercitar o “ócio criativo”. Ele afirma que “quando o trabalho, estudo e jogo (lazer) coincidem, estamos diante daquela síntese exaltante que chamo de ócio criativo”.

Imagine você fazendo o que gosta a durante a vida inteira? E então viveria do que?

Se imaginarmos o trabalho como um fardo, a situação realmente parece ser impossível. Mas, se o trabalho, o lazer e o estudo começassem a se misturar em nossas vidas de tal forma que não desse mais para diferenciar uma da outra, aí sim teríamos o possível.

De Masi defende um novo modelo social baseado nas premissas da simultaneidade entre o trabalho, estudo e lazer  militante pela redistribuição do tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder  no qual indivíduos e a sociedade são educados para privilegiar a satisfação de necessidades radicais, como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas.

Ainda afirma o professor e sociólogo italiano que “o ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades”.

Diante disso, quem sabe em algum momento possamos parar e refletir: O que estamos fazendo com nosso tempo?

Pense nisso!

Luiz Damo (Trovas do Sul) LVI


Almas fortes, condoreiras,
peregrinas do saber,
são perenes mensageiras
num constante alvorecer.
= = = = = = = = = 

Andando em vastos caminhos
plantas eu vi florescer,
vi também muitos espinhos
entre as flores se esconder.
= = = = = = = = = 

A renovação da vida
acontece todo o dia,
desde a roseira florida
ao sol que a luz irradia.
= = = = = = = = = 

As baixas temperaturas
no inverno verificadas,
fazem brotar as agruras
pelos pobres enfrentadas.
= = = = = = = = = 

As estrelas só se apagam,
frente o sol, seu superior,
seus encantos se propagam
à noite pelo esplendor.
= = = = = = = = = 

As manhãs ficam amenas
quando o verão for dormir,
jornadas quentes, serenas,
só se o calor nos cobrir.
= = = = = = = = = 

As veredas deste mundo
devem ser endireitadas,
num sentimento profundo
as arestas aparadas.
= = = = = = = = = 

A velocidade gera
cicatrizes nas estradas,
arma que deflagra a guerra
entre classes desalmadas.
= = = = = = = = = 

De Aristóteles podemos
ter alguma semelhança,
mas em Platão escondemos,
nosso pensar como herança.
= = = = = = = = = 

De repente o sol se apaga,
cede à noite o seu lugar,
todos esperam que traga
novo alento ao retornar.
= = = = = = = = = 

Diz quem ama, à parte amada:
– Esquecer-te eu não consigo,
sem ti sou menos que nada,
mais que tudo, eu sou contigo.
= = = = = = = = = 

Hiroshima, foste a praça,
pela bomba destruída,
numa nuvem de fumaça
foste também engolida.
= = = = = = = = = 

Nagazaki, na sequência,
mergulhou na amarga sorte,
sem piedade, sem clemência,
foi coberta pela morte.
= = = = = = = = = 

Muitas metas alcançadas
nem sempre são merecidas,
algumas, tão cobiçadas
e outras, menos preferidas.
= = = = = = = = = 

Nalgum lugar do passado
muitas sementes caíram,
alguém deve estar cansado
de esperar… elas sumiram.
= = = = = = = = = 

Num Brasil maravilhoso
cheio de encanto e riquezas,
é tão triste e clamoroso
faltar pão em muitas mesas,
= = = = = = = = = 

O fraco se desespera
em qualquer dificuldade,
enquanto o forte a supera
com dinamismo e vontade.
= = = = = = = = = 

Os vastos campos floridos
se revestem da fragrância,
quando neles são colhidos
bons frutos em abundância.
= = = = = = = = = 

Quem andar com segurança
nada poderá temer,
basta ter força, esperança,
para mais fácil vencer.
= = = = = = = = = 

Que o gesto de amar, jamais
seja fonte de pecado,
peque por amar demais
nunca por não ter amado.
= = = = = = = = = 

Rolam águas pelos rios,
pelo rosto escorre o pranto,
externando os desafios
deste mundo em desencanto.
= = = = = = = = = 

Tantas mensagens deixadas
aos homens nas Escrituras,
para serem vivenciadas
libertos das ataduras.
= = = = = = = = = 

Toda a natureza canta
louvores de paz e amor,
num hino que a dor espanta
dando à vida mais calor.
= = = = = = = = = 

Todo lar exige um teto
para 'florir' e crescer,
mas se não tiver afeto,
seu destino é perecer.
= = = = = = = = = 

Todo pescador se agita
na barranca do alagado,
vendo o peixe logo grita:
– Vem pra cá bicho danado!
= = = = = = = = = 

Vigorosos pensamentos
ultrapassam as estrelas,
esperam pelos momentos
em que poderão contê-las.

Fonte> Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014. Enviado pelo trovador.

Mitos Indígenas (Tucumã - O surgimento da noite)

No início não existia a noite. Esta pertencia a uma enorme serpente, que a mantinha no fundo das águas. 

Quando a filha desta se casou, exigiu que viesse a noite, sem a qual não poderia se deitar. O esposo então avisou três mensageiros para que a trouxessem. 

A serpente, senhora da noite, recebeu-os com indiferença. Mesmo assim, entregou-lhes um coco, Tucumã, lacrado com cera de abelha, dizendo-lhe que ali estava o que vieram buscar. Não deveriam entretanto abri-lo, pois a noite poderia escapar. 

Na volta, os índios perceberam que do coco saiam ruídos de sapos e grilos. Um deles, o mais curioso, convenceu os companheiros a abrirem o fruto. E assim o fizeram. 

Logo que derreteram a cera, a noite saiu através do coco, escurecendo o dia. 

A filha da serpente aborreceu-se, pois agora ela deveria descobrir como separar o dia da noite. Desta forma, ao surgir a grande estrela da madrugada, criou o pássaro Cujubim, ordenando que este cantasse para que nascesse a manhã. Em seguida, criou o pássaro Inhambu, que deveria cantar à tarde, até que viesse a noite. Criou ainda os outros pássaros para alegrar o dia, diferenciando-o da noite. 

Aos mensageiros desobedientes, lançou toda a sua ira, transformando-os em macacos de boca preta – devido à fumaça - e risca amarela - pela cera derretida. 

Assim, a filha da serpente pôde finalmente se deitar e todos os seres puderam dormir.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
continua…

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.