sábado, 17 de abril de 2021

Ronnaldo de Andrade (Caderno de Trovas) – 2 –

Após fazermos amor,
nos meus braços adormece,
e eu, com bastante fervor,
beijo-a e lhe faço uma prece.
= = = = = = = = = = =

As lágrimas que derramo,
quando me encontro ao seu lado,
são, meu Amor, porque lhe amo
muito além do desejado
= = = = = = = = = = =

Às vezes eu sinto um tédio,
meu coração quer falhar.
O meu único remédio
é você,  seu lindo olhar!
= = = = = = = = = = =

É mentira quando falo
que mais feliz estou eu.
E na mentira me embalo
depois que ela me esqueceu.
= = = = = = = = = = =

É triste ficar distante
de você, ó minha amada.
Vejo em tudo o seu semblante;
sem você não valho nada!
= = = = = = = = = = =

Eu sinto que estou amando.
Adeus maldita desgraça,
o seu fim está chegando,
o amor agora me abraça.
= = = = = = = = = = =

Eu sinto que estou amando
como nunca amei alguém.
Parece que estou sonhando,
pois esse amor me faz bem.
= = = = = = = = = = =

Eu sinto que estou amando,
– desta vez é de verdade –
e aos poucos me abandonando
a tal infelicidade.
= = = = = = = = = = =

Eu sinto que estou amando
e este amor é tão perfeito,
que aos poucos vai ocupando
mais espaço no meu peito.
= = = = = = = = = = =

Fiz dela minha rainha,
tornando-me escravo seu,
Mas hoje, linda andorinha,
sei que ela já me esqueceu.
= = = = = = = = = = =

Hoje quem sofre sou eu,
e sofrer me desconforta.
Sei que ela já me esqueceu
e por isso a quero morta.
= = = = = = = = = = =

Mate-me em sua memória,
convença-se que morri.
Não deixemos para história,
os versos que lhe escrevi.
= = = = = = = = = = =

Neste peito, um coração
que muitos chamam de pedra,
se debate com unção:
é o amor que nele medra.
= = = = = = = = = = =

Ninguém nunca vai a amar
nem igual nem melhor que eu.
Tristonho chorei um mar
depois que ela me esqueceu.
= = = = = = = = = = =

Nosso amor... Os nossos medos...
Nossas novas esperanças...
Nossas mãos... Os nossos dedos...
Nossas vidas... Alianças...
= = = = = = = = = = =

Olha-me com tanta pena,
que chego a pensar... Confesso.
O seu olhar me envenena...
Não me olhe assim, eu lhe peço.
= = = = = = = = = = =

Penso, às vezes, que sou louco,
me entregar dessa maneira.
Pra você pode ser pouco,
ou uma grande besteira.
= = = = = = = = = = =

Perdoe-me, mas tenho pressa:
você se casa comigo?
Sabe que lhe amo, confessa!
Dar-lhe-ei amor e abrigo.
= = = = = = = = = = =

Quando a vejo não disfarço,
sua beleza me encanta.
Diz-me, Senhor, o que faço
pra conquistar essa santa?
= = = = = = = = = = =

Quando você põe em mim,
esses olhos cor de mel
e esses lábios de carmim,
eu deliro, vou-me ao céu.
= = = = = = = = = = =

Sei que ela já me esqueceu
e que rasgou cada poema
que lhe fiz. Amá-la é meu,
entre outros, maior problema.
= = = = = = = = = = =

Sei que ela já me esqueceu,
mas a amo. Isso me aborrece.
Lhe escrevi, não respondeu,
finge que não me conhece
= = = = = = = = = = =

Tornei-me um senhor ateu.
O meu ego ficou ferido,
depois que ela me esqueceu
por um amor proibido.
= = = = = = = = = = =

Trago solto aqui no peito
batendo descompassado
este coração, sujeito
misterioso e apaixonado.
= = = = = = = = = = =

Trago solto aqui no peito,
na mais penosa mazela,
o coração, que assim feito
eu, vive a chorar por ela.
= = = = = = = = = = =

Trago solto aqui no peito,
se contorcendo de dor,
grande, débil e imperfeito,
um coração sofredor.
= = = = = = = = = = =

Trago solto aqui no peito
um coração melancólico
que diz assim, deste jeito,
“ah! Deus nunca foi católico”.
= = = = = = = = = = =

Um dia ela foi a minha
companheira e eu fui o seu.
Só fui ver que era mesquinha
depois que ela me esqueceu.
= = = = = = = = = = =

Vejo-me em pleno abandono,
faminto e jogado ao léu,
feito um cachorro sem dono,
e uma estrela, só, no céu.
= = = = = = = = = = =

Você não sabe do que
eu sofro quando estou só,
e nem mesmo do porquê
qual me faz me sentir pó.
= = = = = = = = = = =

Você quer ver-me em ruína,
quer ver a minha desgraça.
Mas eu não tenho essa sina,
e vou vivendo com graça.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor.

Nenhum comentário: