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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A. A. de Assis (Estudar é Preciso)

O poeta nasce feito?...Quase. Nasce com uma competência natural, o que geralmente chamamos "dom". Esse "dom" distingue-o como uma pessoa especial, criativa, capaz de utilizar a palavra como matéria-prima da arte. O poeta precisa, entretanto, ajudar a natureza, complementando o "dom" com as ferramentas proporcionadas pelo estudo e pelo treinamento. O estudo lhe fornece a indispensável bagagem cultural; o treinamento lhe permite aprimorar a técnica. Isso siginifica que ninguém fará poesia de boa qualidade sem que se empenhe num constante e diciplinado exercício de aprendizagem.

Consulta freqüente a bons manuais de linguagem e de versificação, leitura de livros e mais livros de poemas (principalmente livros e mais livros de Trovas); aprofundamento na história da literatura; participação em oficinas, seminários, congressos, concursos, festas literárias, etc; permanente troca de idéias com outros poetas, sobretudo produção intensa de poesia. Porque o poeta ou se entrega para valer, e apaixonadamente, à sua arte, ou jamais passará de um fazedor de versinhos. Toda arte exige dedicação. A poesia mais do que qualquer outra, e mais ainda a poesia na modalidade Trova. Muito estudo. Treinamento incessante. "Dom", cultura e técnica somados.

Se você aceita o desafio, parabéns para todos nós, candidatos que somos a leitores dos seus belos versos.

Fonte:
Boletim Nacional da União Brasileira dos Trovadores
Agosto 2008 - numero 481. p.1.

sábado, 9 de agosto de 2008

J. G. de Araujo Jorge (Trovas)

Sejam felizes ou não
Cantando instantes diversos,
As trovas do coração,
são trevos de quatro versos.

Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
- eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.

Tão simples, as trovas são
Cantigas com que a alma expande
Tudo o que há no coração
Do poeta - um menino Grande.

Meu terço feito de trovas
Que em versos fico a compor,
Com ele rezo, e dou provas
Do meu culto ao teu amor!

Ciúme

"Dosado", o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...

Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego...

Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, - essa criança
tão difícil de educar...

Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?

Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê... mas como arde!

O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer... de marido!"

Solidão

Por certo a pior solidão
É aquela que a gente sente
Sem ninguém no coração...
No meio de muita gente...

Praias longe, em solidão
Fora de todas as rotas,
Tal como o meu coração
Só como o sonho... das gaivotas...

A Vida
-
Gota d'água transparente
que brilha, cresce...e que cai!
Assim a vida da gente
que num instante se vai!

A Vida, - mistério vão
sombra agora, depois luz,
- estranho traço de união
ligando um berço... a uma cuz!

A Vida - uma onda que avança
e volta, vai-vem do mar...
Quando vai, quanta esperança!
Quanta amargura, ao voltar!

A Vida - visão fugaz,
praia chã, mar que alteia,
onda que faz e desfaz
os seus cabelos de areia...

A Vida - ansiosa escalada
sobre a paisagem do mundo
Tanto esforço para nada
se há sempre abismo no fundo!

Às vezes penso que a vida
que há tanta gente a querer
só existe, - indefinida -
pra gente poder morrer...

Ó pobre vida suicida!
Teu destino é uma ironia
se o que chamamos de vida
é um morrer de cada dia!

Numa amizade perdida,
num amor que se desgraça,
a morte desconta a vida
a cada dia que passa!

Há uma ironia, contida
nas contigências da sorte:
- quanto mais se vive a vida
mais se avança para a morte.

Vive a vida bem vivida
e ao mais, esquece e revela,
que a gente leva da vida
a vida que a gente leva...
( JG. de Araujo Jorge do livro "Trevo de Quatro Versos" 1a ed. 1964 )

Fonte:
http://www.jgaraujo.com.br/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Entrevista com Leonilda Hilgenberg Justus

Leonilda Hilgenberg Justus é a única mulher do interior do Paraná a integrar a Academia Paranaense de Letras

A beleza, a harmonia, o amor, a dor, a alegria. A vida bem vivida, cheia de emoções e sentimentos, é a musa inspiradora da maior poetisa de Ponta Grossa, Leonilda Hilgenberg Justus. Cheia de histórias para contar, Leonilda sempre foi uma das maiores entusiastas da cultura local. Fundou entidades, liderou movimentos, integra e participa ativamente de centros literários. Enfim, além de dedicar amor sem fim a seu marido Germano e seus filhos Ipuran e Ipojuçan (os três já falecidos), Leonilda sempre guardou espaço privilegiado em seu coração para as letras e artes. Agora, ela se dedicou a compor a sua 15ª obra, ‘Fortuna Crítica’, na qual reune críticas sobre sua obra provenientes das mais variadas partes do Brasil e do exterior, e reestreiou agora na Revista Urbe, uma coluna semanal.

URBE Como a senhora começou a escrever?
LEONILDA
Comecei a escrever num dia de insônia. Eu nunca tinha escrito nada. Nós estávamos na fazenda, e eu adoro a fazenda, porque até o meu marido [Germano Justus] perguntou para mim um dia: ‘Leonilda, você tanto tempo ficou esperando a casa nova, onde é que você quer, aqui em Ponta Grossa ou na fazenda?’ Na mesma hora eu falei: ‘Na fazenda’. ‘Meu Deus, é tanto assim?’, ele disse. Eu digo: ‘é tanto assim.’ Eu queria muito. E daí eu não podia dormir, não podia dormir, e me veio uma poesia sobre a fazenda. ‘Meu presente’ é nome da minha primeira poesia. No dia seguinte, acordei e falei para o Germano: ‘Germano, fiz uma poesia à noite’. ‘Você? Você nunca escreveu nada?!’. E o ‘Meu Presente’ escrevi como aconteceu, que o Germano um dia me perguntou se eu queria aqui ou lá, daí eu disse que me desse uma casa nova na fazenda, uma sede bonita. Foi um agradecimento ao meu marido.

URBE Quais as formas poéticas que a senhora trabalha?
LEONILDA
Todas as manifestações poéticas eu domino e já fui premiada. Haicai, que é aquela forma com três linhas, que eu ganhei um primeiro lugar em São Paulo. Soneto eu já ganhei alguns prêmios primeiros lugares. Poemas, prosa - vou muito bem na prosa – e trova também. Por isso eu acho que sou muito querida e muito protegida pelos anjos e santos que estão lá em cima. Às vezes, eu estou na cama, vendo um filme, de repente, parece que me sopram, eu levanto ligeiro, pego o caderno e vou escrevendo. É uma coisa maravilhosa.

URBE Como a senhora define poesia?
LEONILDA
Foi uma coisa muito linda que me aconteceu. Eu estava fazendo uma apresentação lá no Colégio Sagrada Família, fazendo uma palestra para as alunas, contando minha vida. Tinha mais de 300 naquele salão enorme. E uma delas, uma menina muito inteligente, me fez uma pergunta que eu nunca sonharia em fazer. ‘Dona Leonilda, posso perguntar uma coisa?’. Eu disse ‘claro, pergunte sobre o que você quiser. Se eu puder responder eu respondo. ‘O que é poesia?’. ‘Eu respondi na hora. Foi Deus ou algum poeta que me soprou. Eu disse poesia é som da vida, minha querida’. Você veja que coisa mais linda. E de fato, qualquer coisa, cai uma florzinha e eu faço [a poesia] em cima daquilo que me vem a inspiração. Se eu vejo uma criança chorando, chego em casa e vou bolando e escrevo sobre aquilo. É tudo que eu presencio andando pela vida.
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URBE Quantos livros a senhora já publicou?
LEONILDA
Agora, o 14º o Coletânea. O primeiro, ‘Se me amasses’, lancei por volta de 1983.

URBE Entre eles, quais são seus trabalhos principais, que a senhora mais gosta?
LEONILDA
Acho que quase todos. São filhos meus, né? Eu pergunto: você vai ter dez filhos, qual é o que você prefere? Não tem. Um pode ser mais bravo, outro pode ser mais carinhoso. Mas não tem: todos são meus filhos.

URBE Quais são seus próximos projetos
LEONILDA
Um dos meus projetos é um espaço maravilhoso no Jornal da Manhã (risos). A minha coluna, que estará também nessa nova fase do jornal.

URBE E em relação aos seus trabalhos, seus livros?
LEONILDA
Agora estou começando o meu 15º livro, que será ‘Fortuna Crítica’ o título. Quem me deu essa sugestão foi a Luísa Cristina [Santos Fontes]. Então, agora estou fazendo, porque recebo críticas do mundo inteiro. São trechos de críticas que são feitas sobre a minha obra, de acadêmicos do mundo inteiro.

URBE Qual a sua avaliação sobre a produção poética e literária que circula no Brasil?
LEONILDA
Acho que está muito bem, apesar da maioria achar que não, que está muito apática, não tem retorno... eu não posso me queixar. Nunca me faltou, nesses 20 e tantos anos que eu sempre falo sobre livros, nunca me faltou um livro numa semana. Eu leio muita coisa, todo mundo criticando que a poesia e os livros também... mas acho que está muito bem.

URBE E a qualidade?
LEONILDA A qualidade é mesclada. Mas tem coisas muito boas, tem coisas que não são tão boas. Mas mantém sempre uma ‘tabelinha’, entre bons, ruins e médios.

URBE O que a senhora mais gosta é a poesia. Como a senhora se relaciona com outras formas literárias?
LEONILDA
O que eu mais gosto é o soneto, aquele clássico, difícil. O soneto exige muita técnica, cada linha tem que obedecer às regras. Se escapar das regras, não é concursável e não é valorizado. Romance eu nunca fiz. Daqui por diante quem sabe... Eu sou muito fantasista, viajo muito, invento... Quem sabe se de repente... Crônicas eu faço, já ganhei prêmios também.

URBE Uma das suas maiores inspirações também é a sua família, né?
LEONILDA
Muito, muito, muito. Adorava, adoro minha família. Meus pais foram muito bons. Perdi meus pais, perdi minhas irmãs mais moças que eu, perdi meu marido e perdi meus dois filhos. Todo mundo eu perdi, fiquei sozinha. Daí a Margarida [Santos Lima, amiga há décadas]: ‘Você não está sozinha. E nós?’. ‘Vocês sabem disso: estou dizendo sozinha dos meus’.
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URBE E agora a senhora vai reestrear uma coluna no Jornal da Manhã?
LEONILDA
O jornal está muito bom, muito bonito, muito eclético – tem tudo um pouco. Quem não gosta de uma coisa, pula aquilo e vai para outra. Abrange um número de leitores muito grande. Foi a primeira coisa que me saltou à vista. Mas também a aparência do jornal. Você abre e tudo é bonito, as fotos, a diagramação.
Escrevi por 21 anos todos os domingos no Jornal da Manhã. E agora, com muita honra, muita satisfação, muito reconhecimento, continuo nessa nova fase.

URBE Quais as principais entidades que a senhora fundou e das quais faz parte
LEONILDA Aqui em Ponta Grossa, com muita coragem e incentivo do meu esposo, foi o Centro Cultural Professor Faris Michaeli, e também por incentivo do doutor Enno Teodoro Wanke. No começo não tínhamos dinheiro nem para papel. Toda a minha família me ajudava, o doutor David [Pilatti Montes] quantas vezes ajudou! Daí a diretoria sugeriu de passar a cobrar. Daí eu disse não. A cultura tem que ir ao povo e o povo tem que ir à cultura. Tem que ser uma troca, porque se for para pagar ninguém vem. Depois fundei o Soroptimista Internacional de Ponta Grossa, fui uma das primeiras a integrar a Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Ponta Grossa [BPW]... Pertenço a todas as entidades do Paraná, Centro Literário do Paraná, Academia Feminina de Letras... E sou a única mulher do interior do Paraná a integrar a Academia Paranaense de Letras.

URBE A que se deve o seu trabalho?
LEONILDA Ao incentivo do meu esposo e meus filhos. Nunca vou esquecer uma coisa. Papai tinha uma letra tão linda e quando ele viajava com meu avô para o interior do Paraná ele ia fazendo trova. Eu puxei deles, eu herdei de papai. Acho que é uma coisa que nasceu em mim. [...] Ah, um dia ainda vou escrever um romance sobre minha vida.

URBE Esse é um dos seus projetos?
LEONILDA Meu primeiro projeto é o Fortuna Crítica. Mas faz tempo que estou pensando em escrever minha vida. Tenho tanta coisa linda para falar. Deus foi muito bom para mim. É sinal de que a minha vida tem sido muito bem vivida.

Fonte:
Jornal da Manhã. JM News. http://www.jmnews.com.br/ . 9/9/2007.

Leonilda Hilgenberg Justus (Trovas Avulsas)

Na correnteza da vida,
de roldão eu sou levada...
Por pedras soltas, ferida...
pelo Amor, sempre curada!

Cai a pétala silente,
num final de poesia...
- Não é da flor, de repente,
o fim? - O fim da magia!

Ondas sôfregas, gulosas,
adentram a praia...amantes!
Depois...calmas e ditosas,
enlanguescem triunfantes!

Hoje, são Bodas de Prata!
De Ouro, amanhã serão...
União tão forte não mata
o amor...é eterna oração!

Contigo quero brincar,
azul mar dos meus anseios...
e, nas águas afogar
dores, problemas, receios...
Fonte:
TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando. Antologia de trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro - Insituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.
http://jardimdeorfeu.no.sapo.pt (imagem)

sábado, 5 de julho de 2008

Vãnia Souza Ennes (Os trovadores passam, as Trovas ficam)

A palavra, matéria prima e vital do trovador, manifesta-se diante da capacidade de escrever construtivamente e desponta para escancarar os mistérios que nascem no fundo de um coração poetizado. O poder mágico do trovador é inventar, pensar coisas belas, abrir a porta dos sonhos, eternizar momentos, filosofar, demonstrar humor, aproximar o tempo, chorar num ombro amigo, interagir com a espiritualidade; é ser forte na capacidade de atuar em assuntos do passado, do presente e do futuro. Assim sendo, a mente do trovador reveste-se de especial colorido quando põe seus neurônios para agir e, imediatamente, transferir os sentimentos para o papel. A Trova é força indiscutível da sensibilidade interior de cada poeta e exterioriza-se em valiosas mensagens no momento em que se torna pública, no intuito de suavizar as adversidades da vida, amenizar as durezas da existência e melhorar os caminhos da humanidade. O ato de escrever Trovas é algo fascinante e, seguramente, não vai acabar em inércia capaz de fazer cães e gatos roncarem de tanto sono, porque ela é clara, transmite bons fluídos, renova e reinventa sentimentos! Descobrir as táticas de escrever trovas é um ato de conhecimento, que significa perceber as forças das relações entre o mundo da natureza e o mundo dos homens, o mundo real e o imaginário. E, ato de sabedoria, ao conduzir o homem a uma abertura de horizontes mentais que se dá pela criatividade do conjunto de palavras que seleciona, para formar seu acervo trovadoresco. Enfim, a trova quando rica em sabedoria, nobre na mensagem e estética na beleza, é capaz de emocionar pela magia e continua viva, mesmo após a partida do trovador para o mundo celeste!

Portanto, a Trova eterna eterniza o trovador!

Fonte:
Vânia Souza Ennes – Presidente Estadual da UBT do Paraná
Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores, julho 2008. n. 480.