segunda-feira, 14 de julho de 2008

Entrevista com Leonilda Hilgenberg Justus

Leonilda Hilgenberg Justus é a única mulher do interior do Paraná a integrar a Academia Paranaense de Letras

A beleza, a harmonia, o amor, a dor, a alegria. A vida bem vivida, cheia de emoções e sentimentos, é a musa inspiradora da maior poetisa de Ponta Grossa, Leonilda Hilgenberg Justus. Cheia de histórias para contar, Leonilda sempre foi uma das maiores entusiastas da cultura local. Fundou entidades, liderou movimentos, integra e participa ativamente de centros literários. Enfim, além de dedicar amor sem fim a seu marido Germano e seus filhos Ipuran e Ipojuçan (os três já falecidos), Leonilda sempre guardou espaço privilegiado em seu coração para as letras e artes. Agora, ela se dedicou a compor a sua 15ª obra, ‘Fortuna Crítica’, na qual reune críticas sobre sua obra provenientes das mais variadas partes do Brasil e do exterior, e reestreiou agora na Revista Urbe, uma coluna semanal.

URBE Como a senhora começou a escrever?
LEONILDA
Comecei a escrever num dia de insônia. Eu nunca tinha escrito nada. Nós estávamos na fazenda, e eu adoro a fazenda, porque até o meu marido [Germano Justus] perguntou para mim um dia: ‘Leonilda, você tanto tempo ficou esperando a casa nova, onde é que você quer, aqui em Ponta Grossa ou na fazenda?’ Na mesma hora eu falei: ‘Na fazenda’. ‘Meu Deus, é tanto assim?’, ele disse. Eu digo: ‘é tanto assim.’ Eu queria muito. E daí eu não podia dormir, não podia dormir, e me veio uma poesia sobre a fazenda. ‘Meu presente’ é nome da minha primeira poesia. No dia seguinte, acordei e falei para o Germano: ‘Germano, fiz uma poesia à noite’. ‘Você? Você nunca escreveu nada?!’. E o ‘Meu Presente’ escrevi como aconteceu, que o Germano um dia me perguntou se eu queria aqui ou lá, daí eu disse que me desse uma casa nova na fazenda, uma sede bonita. Foi um agradecimento ao meu marido.

URBE Quais as formas poéticas que a senhora trabalha?
LEONILDA
Todas as manifestações poéticas eu domino e já fui premiada. Haicai, que é aquela forma com três linhas, que eu ganhei um primeiro lugar em São Paulo. Soneto eu já ganhei alguns prêmios primeiros lugares. Poemas, prosa - vou muito bem na prosa – e trova também. Por isso eu acho que sou muito querida e muito protegida pelos anjos e santos que estão lá em cima. Às vezes, eu estou na cama, vendo um filme, de repente, parece que me sopram, eu levanto ligeiro, pego o caderno e vou escrevendo. É uma coisa maravilhosa.

URBE Como a senhora define poesia?
LEONILDA
Foi uma coisa muito linda que me aconteceu. Eu estava fazendo uma apresentação lá no Colégio Sagrada Família, fazendo uma palestra para as alunas, contando minha vida. Tinha mais de 300 naquele salão enorme. E uma delas, uma menina muito inteligente, me fez uma pergunta que eu nunca sonharia em fazer. ‘Dona Leonilda, posso perguntar uma coisa?’. Eu disse ‘claro, pergunte sobre o que você quiser. Se eu puder responder eu respondo. ‘O que é poesia?’. ‘Eu respondi na hora. Foi Deus ou algum poeta que me soprou. Eu disse poesia é som da vida, minha querida’. Você veja que coisa mais linda. E de fato, qualquer coisa, cai uma florzinha e eu faço [a poesia] em cima daquilo que me vem a inspiração. Se eu vejo uma criança chorando, chego em casa e vou bolando e escrevo sobre aquilo. É tudo que eu presencio andando pela vida.
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URBE Quantos livros a senhora já publicou?
LEONILDA
Agora, o 14º o Coletânea. O primeiro, ‘Se me amasses’, lancei por volta de 1983.

URBE Entre eles, quais são seus trabalhos principais, que a senhora mais gosta?
LEONILDA
Acho que quase todos. São filhos meus, né? Eu pergunto: você vai ter dez filhos, qual é o que você prefere? Não tem. Um pode ser mais bravo, outro pode ser mais carinhoso. Mas não tem: todos são meus filhos.

URBE Quais são seus próximos projetos
LEONILDA
Um dos meus projetos é um espaço maravilhoso no Jornal da Manhã (risos). A minha coluna, que estará também nessa nova fase do jornal.

URBE E em relação aos seus trabalhos, seus livros?
LEONILDA
Agora estou começando o meu 15º livro, que será ‘Fortuna Crítica’ o título. Quem me deu essa sugestão foi a Luísa Cristina [Santos Fontes]. Então, agora estou fazendo, porque recebo críticas do mundo inteiro. São trechos de críticas que são feitas sobre a minha obra, de acadêmicos do mundo inteiro.

URBE Qual a sua avaliação sobre a produção poética e literária que circula no Brasil?
LEONILDA
Acho que está muito bem, apesar da maioria achar que não, que está muito apática, não tem retorno... eu não posso me queixar. Nunca me faltou, nesses 20 e tantos anos que eu sempre falo sobre livros, nunca me faltou um livro numa semana. Eu leio muita coisa, todo mundo criticando que a poesia e os livros também... mas acho que está muito bem.

URBE E a qualidade?
LEONILDA A qualidade é mesclada. Mas tem coisas muito boas, tem coisas que não são tão boas. Mas mantém sempre uma ‘tabelinha’, entre bons, ruins e médios.

URBE O que a senhora mais gosta é a poesia. Como a senhora se relaciona com outras formas literárias?
LEONILDA
O que eu mais gosto é o soneto, aquele clássico, difícil. O soneto exige muita técnica, cada linha tem que obedecer às regras. Se escapar das regras, não é concursável e não é valorizado. Romance eu nunca fiz. Daqui por diante quem sabe... Eu sou muito fantasista, viajo muito, invento... Quem sabe se de repente... Crônicas eu faço, já ganhei prêmios também.

URBE Uma das suas maiores inspirações também é a sua família, né?
LEONILDA
Muito, muito, muito. Adorava, adoro minha família. Meus pais foram muito bons. Perdi meus pais, perdi minhas irmãs mais moças que eu, perdi meu marido e perdi meus dois filhos. Todo mundo eu perdi, fiquei sozinha. Daí a Margarida [Santos Lima, amiga há décadas]: ‘Você não está sozinha. E nós?’. ‘Vocês sabem disso: estou dizendo sozinha dos meus’.
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URBE E agora a senhora vai reestrear uma coluna no Jornal da Manhã?
LEONILDA
O jornal está muito bom, muito bonito, muito eclético – tem tudo um pouco. Quem não gosta de uma coisa, pula aquilo e vai para outra. Abrange um número de leitores muito grande. Foi a primeira coisa que me saltou à vista. Mas também a aparência do jornal. Você abre e tudo é bonito, as fotos, a diagramação.
Escrevi por 21 anos todos os domingos no Jornal da Manhã. E agora, com muita honra, muita satisfação, muito reconhecimento, continuo nessa nova fase.

URBE Quais as principais entidades que a senhora fundou e das quais faz parte
LEONILDA Aqui em Ponta Grossa, com muita coragem e incentivo do meu esposo, foi o Centro Cultural Professor Faris Michaeli, e também por incentivo do doutor Enno Teodoro Wanke. No começo não tínhamos dinheiro nem para papel. Toda a minha família me ajudava, o doutor David [Pilatti Montes] quantas vezes ajudou! Daí a diretoria sugeriu de passar a cobrar. Daí eu disse não. A cultura tem que ir ao povo e o povo tem que ir à cultura. Tem que ser uma troca, porque se for para pagar ninguém vem. Depois fundei o Soroptimista Internacional de Ponta Grossa, fui uma das primeiras a integrar a Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Ponta Grossa [BPW]... Pertenço a todas as entidades do Paraná, Centro Literário do Paraná, Academia Feminina de Letras... E sou a única mulher do interior do Paraná a integrar a Academia Paranaense de Letras.

URBE A que se deve o seu trabalho?
LEONILDA Ao incentivo do meu esposo e meus filhos. Nunca vou esquecer uma coisa. Papai tinha uma letra tão linda e quando ele viajava com meu avô para o interior do Paraná ele ia fazendo trova. Eu puxei deles, eu herdei de papai. Acho que é uma coisa que nasceu em mim. [...] Ah, um dia ainda vou escrever um romance sobre minha vida.

URBE Esse é um dos seus projetos?
LEONILDA Meu primeiro projeto é o Fortuna Crítica. Mas faz tempo que estou pensando em escrever minha vida. Tenho tanta coisa linda para falar. Deus foi muito bom para mim. É sinal de que a minha vida tem sido muito bem vivida.

Fonte:
Jornal da Manhã. JM News. http://www.jmnews.com.br/ . 9/9/2007.

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