quinta-feira, 20 de março de 2008

Isaac Asimov (Alguns de Seus Livros)

Eu, Robô – O Livro e o Filme

O Livro foi lançado em 1950.
O Filme estreou em 2004.

Em um cenário futurista surge o detetive Del Spooner (Will Smith) e logo percebemos que algo o incomoda no ambiente que o envolve: robôs dividem espaços com seres humanos nas ruas daquela cidade, se encarregando das chamadas tarefas mais pesadas do dia a dia social - são lixeiros, entregadores, trabalhadores domésticos.

Spooner é um policial atormentado por um trauma recente que amplifica sua desconfiança em relação aos robôs. Para ele, a qualquer momento uma dessas máquinas irá comprovar sua tese de que não se pode confiar em robôs. Para todas as outras pessoas, essa é uma tese paranóica, já que todos os humanóides (robôs com forma similar à humana) saem das linhas de produção da poderosa companhia U.S. Robots programados com as três leis da robótica:

Este é o código criado pelo cientista Alfred Lanning (James Cromwell) que, segundo a garantia da U.S. Robots e a crença geral da população, determina total proteção contra a famosa "síndrome de Frankenstein", pela qual a criatura tende a voltar-se contra seu criador.

É nesse ambiente que se passa Eu, Robô, superprodução dos estúdios da Fox norte-americana inspirada em um livro de contos homônimo do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992, criador original das chamadas leis da robótica) que chega às telas brasileiras nesta quinta-feira, 5 de agosto. O filme explora as possíveis contradições que podem subverter a razão das leis da robótica e que permitam que os robôs venham a se transformar em uma ameaça à humanidade.

Eu, Robô - dirigido por Alex Proyas (de Cidade das Sombras e O Corvo) - trabalha seu roteiro passando da discussão filosófica sobre a possibilidade de o ser humano criar uma máquina que possa desenvolver inteligência suficiente para tornar-se completamente autônoma para a ação policial tão cara à produções cinematográficas de Hollywood.

A trama (desde sua origem, nos contos de Asimov, e também no próprio roteiro do filme, de Jeff Vintar e Akiva Goldsman) traz elementos que são referências de histórias que alimentam o universo da cultura ocidental como: Frankenstein (a criatura que se volta contra o criador) e Pinóquio (a criatura que quer ser gente) na literatura; Blade Runner (a luta pela sobrevivência dos andróides e a procura por seu criador), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (a máquina que assume o controle em lugar do homem) e Inteligência Artificial (a humanização de um andróide), no cinema; e outras até mais prosaicas, como a série de TV Ciborg (que retrata o implante de próteses biônicas em um ser humano) e o desenho animado Os Jetsons (quem não se recorda da arrumadeira da família, com seu corpo de metal vestindo avental e touca de doméstica?).

Evidente que como toda boa superprodução dos Estados Unidos, um herói (Spooner) - que em um primeiro momento é considerado um outsider - vai se defrontar com dramas provocados pelo inesperado (não para ele), onde o desenvolvimento da inteligência artificial foge ao controle do criador, a ponto de essa "consciência eletrônica" poder reinterpretar da forma que lhe parece mais adequada as regras estabelecidas nas leis da robótica.

Os efeitos especiais são um capítulo à parte. Mas como a excelência nesta área vem estabelecendo novos parâmetros a cada produção desde o primeiro episódio da série Matrix, esses efeitos acabam sendo diluídos na trama de forma a serem praticamente acessórios. É claro que sem o uso desses efeitos, a trama pareceria muito menos verossímil. Vale lembrar ainda que o robô que se torna centro da trama, Sonny, é representado pelo ator Alan Tudyk, sobre cuja atuação é montada uma "maquiagem eletrônica" para que o exemplar se encaixe no desenho padrão dos modelos NS-5 (Assistente Doméstico Automático) produzidos pela U.S. Robots.

Durante a trama, é interessante observar a evolução de Sonny, um robô "único", desenhado e criado pelo doutor Alfred Lanning - principal pesquisador e um dos fundadores da U.S. Robots - para ser especial. Ele demonstra emoções, sentimentos e tem a capacidade especial de sonhar (capacidade que vai até se transformar em um dom premonitório, como se verá ao final do filme).

ROBBIE
Destaques para Robbie, publicado originalmente com o título "Strange Playfellow", a primeira história sobre robôs escrita por Asimov, na qual as Três Leis da Robótica são explicitamente apresentadas pela primeira vez.

– George, eu disse! Quer largar esse jornal e olhar para mim?
O jornal caiu ao chão e Weston virou o rosto cansado para fitar a mulher.
– O que é, querida?
– Você sabe o que é, George. Trata-se de Glória e daquela máquina terrível.
– Que máquina terrível?
– Ora, não finja que não sabe de que estou falando. É aquele robô que Glória chama de Robbie. Ele não a deixa por um só instante.
– Bem, por que haveria de deixar? Não deve deixá-la. E, certamente, não é uma máquina terrível. É o melhor robô que se pode comprar e pode ter absoluta certeza de que me custou meio ano de ordenado. Valeu a pena, porém; ele é muito mais inteligente do que a metade de meus empregados do escritório.
Fez menção de pegar novamente o jornal, mas sua esposa foi mais rápida, apanhando-o primeiro. – Escute, George. Não admito que minha filha seja entregue a uma máquina... e não me interessa o quanto ela seja inteligente. Não tem alma. Ninguém sabe o que pode estar pensando. Uma criança não foi feita para ser guardada por um objeto de metal.
Weston franziu a testa.
– Desde quando você decidiu isso? Há dois anos que ele está com Glória e só agora você se preocupa.
– No início, era diferente. Uma novidade; tirava-me uma carga dos ombros e... era uma coisa elegante. Mas agora, não sei... Os vizinhos...
– Ora, o que têm os vizinhos a ver com o assunto? Ouça: pode-se ter infinitamente mais confiança em um robô do que em uma ama-seca humana. Na realidade Robbie foi construído exclusivamente com uma finalidade: fazer companhia a uma criança pequena. Toda a sua “mentalidade” foi criada com esse único objetivo. Ele não pode deixar de ser fiel, carinhoso e bom. É uma máquina – feita assim. O que é bem mais do que pode dizer a respeito dos seres humanos.
– Mas poderia acontecer algo errado. Algum... algum... – a Sra. Weston era um tanto ignorante a respeito dos órgãos internos de um robô – ... alguma pecinha poderá soltar-se e aquela coisa horrível ficar maluca e... e...
Interrompeu-se, não conseguindo dizer em voz alta um pensamento tão óbvio.
– Tolice – negou Weston, com um involuntário estremecimento nervoso. –Isso é completamente ridículo. Na época em que compramos Robbie, tivemos uma longa conversa sobre a Primeira Lei da Robótica. Você sabe que é impossível a um robô fazer mal a um ser humano; que muito antes de acontecer o bastante para alterar a Primeira Lei, o robô se tornaria completamente inoperante. Trata-se de uma impossibilidade matemática. Além disso, eu chamo um engenheiro da U.S. Robôs duas vezes por ano e ele faz uma revisão completa no pobre aparelho. Ora, não há maior possibilidade de acontecer algo errado com Robbie do que eu ou você ficarmos birutas de uma hora para outra. Na verdade, as probabilidades são consideravelmente menores, e além disso, como é que você vai tirá-lo de Glória?
Fez um novo gesto inútil para apoderar-se do jornal, mas a mulher atirou raivosamente o Times para a outra sala.
– É justamente isso, George! Ela não brinca com mais ninguém. Há dúzias de meninos e meninas com quem poderia fazer amizade, mas ela se recusa. Nem mesmo chega perto deles, a menos que eu a obrigue. Uma menina não deve crescer assim. Você quer que ela seja normal, não quer? Quer que ela seja capaz de representar o seu papel na sociedade.
– Você está com medo de fantasma, Grace. Finja que Robbie é um cachorro. Já vi centenas de crianças que gostam mais de um cachorro do que do próprio pai.
– Um cachorro é diferente, George. Precisamos livrar-nos daquela coisa horrível! Você pode vendê-lo de volta à companhia. Já indaguei a respeito e sei que pode.
– Indagou? Ora, escute aqui, Grace, não vamos bancar idiotas. Ficaremos com o robô até Glória crescer um pouco mais, e não quero que se volte a tocar no assunto.
E saiu da sala, amuado.
O Homem Bicentenário
Lançamento 1976

Isaac Asimov considera esta novela a melhor história de robô que ele escreveu até hoje e "comparável aos meus maiores êxitos em qualquer outro gênero literário". Os críticos também concordam com esta opinião. Destinada a figurar em uma antologia que publicou em 1976 para festejar o segundo século da independência dos Estados Unidos, Asimov partiu do título para, aos poucos, criar os pormenores da trama. Estava combinado para 7.500 palavras, mas o autor se deixou empolgar e acabou tendo o dobro. O homem bicentenário, de forma premonitória, toca em problemas que certamente já se colocam nos altos escalões da pesquisa científica. Aqui, Andrew, o robô perfeito, extremamente inteligente, angustiantemente persegue as fragilidades humanas e se torna personagem desta que é uma obra-prima da ficção científica.

Despertar dos Deuses
Lançamento 1972

Que peripécias viverá a humanidade no futuro? Num mundo que sobreviveu a tremenda crise ecológica e que tem fome de energia? Quais os problemas que enfrentará? Do contato da Terra com um desconhecido Universo paralelo surgem terríveis enigmas imprevistos. Como evitar a catástrofe, que virá com a subversão das leis da natureza, se, contra a estupidez humana, os próprios deuses disputam em vão?

Da Terra, à beira da tragédia, somos levados por Isaac Asimov ao estranho e misterioso Universo paralelo, onde seres dotados de inteligência se conduzem de acordo com um padrão de vida completamente estranho ao nosso. E dali somos transferidos ao mundo Selenita, com a sua colônia humana já estabelecida e já desenvolvendo novas formas de convivência social. A essas situações fascinantes se acrescenta a emoção das paixões conflitantes de personagens inesquecíveis desenhados com invulgar maestria literária. Protagonistas de episódios cuja sucessão alucinante não esconde uma meditação profunda, em verdade projetada no futuro a partir da experiência crucial de nossa era.

Fim da Eternidade
Lançamento 1955

Qual seria a nossa atitude se descobríssemos que nossa individualidade como seres humanos poderia ser totalmente anulada por um sistema social maior, dominado pela máquina? E qual seria a atitude sensata e válida a ser tomada se tivéssemos que escolher entre a nossa existência, tal como a desejamos, e a continuidade do mundo de que dependemos, mas que é contrário às nossas aspirações?

Eternidade é uma organização dedicada a cuidar da humanidade, que se move em um tempo paralelo, medindo o tempo em séculos, pulando de um século a outro, entrando e saindo de nosso tempo real, para efetuar microtrocas (TMN: Troca Mínima Necessária, que provoca o RMD: Resultado Máximo Desejado) que suavizem o curso dos acontecimentos e criem o bem total. O processamento de pequenas mudanças no Tempo era a forma ideal de se recuperar o equilíbrio perdido.

Para isso escolhe-se uma das infinitas realidades possíveis, e faz-se os ajustes para que esta produza, mas a escolha do consenso sempre é uma escolha que elimina o extraordinário, que cria proteção e segurança à espécie humana, etc..., e por sua vez elimina as genialidades que provocam saltos na ciência humana.

Eternidade se estende pelos séculos dos séculos de forma infinita, e há uma série de séculos, que vão do ano 70.000 ao 150.000.

Esta é uma das melhores novelas de Asimov. O protagonista é Andrew Harlan, um executor encarregado de realizar as trocas que modificarão a realidade.

Asimov nos descreve uma sociedade estruturada, encarregada de dirigir os destinos da humanidade, e uma força em desacordo com o sistema instaurado que pretende mudar definitivamente essa organização, eliminando a Eternidade.
Viagem Fantástica
Lançamento 1966

O Doutor Benes, científico especialista em miniaturização, vai ao lado ocidental. Resolve o Princípio da Incerteza, pelo que diz: “quanto mais se reduz um objeto, menos tempo se permanece”. Eles – é assim como chamam os Soviéticos –, atentam contra sua vida. Um carro lançado choca contra o carro de Benes; quando o transportam à base, provoca-lhe um coágulo no cérebro, e a única forma de eliminá-lo é desde dentro do cérebro. As Forças Dissuasórias de Miniaturização Combinada (FDMC) bolam um plano para salvá-lo. Miniaturizarão um submarino com cinco tripulantes, o introduzirão em sua corrente sangüínea através da artéria carótida, subirão ao cérebro, eliminarão o coágulo e serão extraídos depois – aparentemente muito simples.

A crítica internacional é unânime em considerar Viagem Fantástica uma das melhores novelas de ficção científica jamais escritas. A densidade da ação mantém um clima de suspense constante e, pela primeira vez, alguém concebeu uma viagem onde o ambiente é o corpo humano.

As possibilidades infinitas da ciência moderna e o clima de otimismo que cercam as constantes descobertas parecem ultrapassar todas as barreiras do possível.

Tripulação
Pete Lawrence Duval - neurocirurgião.
Cora Peterson - ajudante do Doutor Duval.
Max Michels - especialista em circulação sanguínea e cartógrafo da nave.
Capitão Wiliam Owens - piloto do submarino.
Charlie Grant - agente do serviço secreto, herói e chefe da expedição.

Enigmas dos Viúvos Negros
Lançamento 1990

Enigmas dos Viúvos Negros é uma coletânea de doze histórias de mistério, escrita por Isaac Asimov, sobre as aventuras pelos caminhos do raciocínio de sete intelectuais, que formam o Clube dos Viúvos Negros. Uma vez por mês esses aventureiros cerebrais se encontram para jantar, conversar e solucionar enigmas, tudo isso regado a bons vinhos, no Restaurante Milano, onde são sempre servidos por Henry, cuja habilidade vai bem além da de um mero garçom.

Os Viúvos Negros recebem um convidado em cada um desses jantares que, depois da refeição, é submetido a uma bateria de perguntas sobre o modo como justifica sua existência. Mas o convidado quase sempre está enfrentando algum tipo de dificuldade, ou tem um problema que não consegue resolver, ou ainda está envolvido num mistério.

Em Enigmas dos Viúvos Negros, traições, desaparecimentos e mistérios são o prato principal de cada novo jantar.
Nêmesis
Lançamento 1989

Nêmesis não faz parte do Ciclo de Trantor. É um livro que também trata da conquista do Universo, mas não tem nada à ver nem com o Império, nem com os Robôs.

O ano é 2236. A Terra e suas cem colônias espaciais estão superpovoadas, decadentes, ultrapassadas. À dois anos-luz de distância, escondida por uma nuvem de poeira, está Nêmesis, a estrela mais próxima do Sol, em torno da qual gira o planeta Megas, com o satélite natural Eritro e o artificial Rotor.
Quando Nêmesis foi descoberta, os rotorianos a consideraram como a última esperança da raça humana, ponto de partida para uma nova civilização. E foi sob a liderança do comissário Janus Pitt, homem de forte personalidade, que eles viajaram secretamente para o sistema nemético com o objetivo de fundar uma sociedade mais forte, mais pura e mais organizada que aquela que haviam deixado para trás.

Mas Marlene, uma jovem rotoriana dotada de uma incomum habilidade de interpretar, pelos indícios do corpo, as mais bem guardadas emoções humanas, descobre que a promissora estrela é, na verdade, uma terrível ameaça para a Terra. Pitt está a par de todo o segredo, mas se recusa a prevenir os terráqueos; e Marlene sabe que se não agir rápido, o desastre será inevitável.

O cair da noite
Lançamento 1969

No planeta Kalgash sempre é de dia. Seus seis sóis – Onos, Trey, Petru, Dovim, Tano e Shita – fazem com que o céu esteja sempre azul. Essa falta de escuridão provoca aos habitantes de Kalgash a Síndrome da Escuridão, pânico de não ter luz.

Os protagonistas da história são Siferra 89, uma arqueóloga da Universidade de Saro, que descobre debaixo das ruínas do que se supõe ser um assentamento antigo, restos de cidades; Beenay 25, astrônomo que descobre um erro na Teoria da Gravitação Universal de Athor 77, seu mestre, já que os sóis não seguem as órbitas previstas. Talvez por haver um sétimo Sol?

Mondior 71, sumo sacerdote e Folum 66, sua voz, líderes dos Apóstolos da Chama, predizem que depois de um Ano de Graça, 2049 anos de Kalgash, os deuses comprovarão a bondade da humanidade, e se não passarem na prova, destruirão a Terra, enviando Chamas Celestiais. Segundo o Livro das Revelações, isso acontecerá logo; concretamente em 19 de theptar. Thermon 762 é um periodista do diário Crônica que investigará a notícia do Fim do Mundo. Mas, o que aconteceria se a Escuridão chegasse a Kalgash?
Fundação
Lançamento 1975

A trilogia Fundação mostra a evolução de uma crise histórica num imenso Império Galáctico humano. O homem povoa os planetas da Galáxia, a capital localizada em Trantor, centro de todas as intrigas, símbolo da decadência imperial. Graças à psicohistória, uma ciência que estuda os fatos históricos à luz da matemática, Hari Seldon prevê o desaparecimento do Império e o retorno à barbárie. Tem então a idéia de criar duas Fundações situadas em cada extremo da Galáxia, para reduzir o tempo de barbárie a um milênio.

Seldon acaba sendo detido e julgado como traidor, entretanto consegue convencer seus juízes de que deseja apenas preservar o saber do Império através de uma fundação enciclopédica. A partir de então começa a trama real da história que se entrelaça de tal forma que prende o leitor até suas últimas páginas.

Fundação, talvez um dos livros mais conhecidos da ficção científica, está formado realmente por cinco histórias, que narram o início da andadura do planeta Terminus, onde se inicia o projeto da Fundação para acordar o período de barbárie, que continuará com a queda do Primeiro Império Galáctico.

1º : Os psicohistoriadores

A chegada de Gaal Dornick a Trantor, matemático convidado por Hari Seldon para colaborar no projeto da psicohistória, permite explicar a Asimov o projeto da Fundação, como o estabelecimento de uma Fundação em um planeta distante permitirá reduzir o período de anarquia entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império.

2º: Os enciclopedistas

Estabelecidos já em Terminus, e transcorridos 50 anos, os membros do projeto Fundação chegam à primeira crise de Seldon. As crises poderiam definir-se como momentos de tensão, por motivos internos ou externos, que habitualmente exigem uma mudança ou uma ação. Além disso, toda crise tem um prego para sustentá-la e levar a Fundação na direção adequada. Aparece a figura de Salvor Hardin, um dos primeiros alcaides de Terminus, que encontra a solução para a crise.

3º: Os alcaides

Terminus estendeu sua influência mediante uma combinação de religião amparada baixo a superioridade científica. Anacreonte, um dos planetas mais próximos, tenta dominar Terminus, ou seja, é uma crise exterior resolvida pelo alcaide Salvor Hardin.

4º: Os comerciantes

A Fundação continua estendendo-se pela Galáxia, com uma combinação de comércio e religião, mas começam a surgir as dificuldades. Assim requere-se uma nova mudança, que como todas as mudanças produz resistência.

5º: Os príncipes comerciantes

A influência de Terminus foi aumentando. Começa a abandonar-se a religião, e o comércio é o meio de conseguir o poder e dominar o resto do Universo.

Segunda Fundação

Formada por dois relatos. Com personagens diferentes, ambas se centralizam no mesmo: a busca da Segunda Fundação para sua eliminação.

O Mulo inicia a busca

O Mulo convertido no Primeiro Cidadão da União de Mundos não abandonou sua intenção inicial de localizar a Segunda Fundação; estendeu rapidamente seu domínio pela Galáxia, mas continua temendo a única força que realmente pode vencê-lo: a Segunda Fundação. Aqui nos relatam o encontro entre essas duas forças.

A busca da Fundação

O Mulo envelheceu e morreu. Voltaram ao poder os governantes da Primeira Fundação, encontrando-se com um Império maior, mas a Primeira Fundação não abandonou seu plano de localizar e destruir a Segunda Fundação. Por outro lado, a subida ao poder do Mulo demonstrou que a Fundação não é invencível e Kalgan declara-lhes guerra.

Fundação II
Lançamento 1982

A Primeira Fundação conservou e depois propagou as ciências físicas; a outra, a Segunda Fundação, oculta aos olhos de todos – secreta mesmo –, controlava cada vez mais o desenvolvimento psicohistórico da Galáxia, rumo ao Segundo Império, com o auxílio do domínio da mente – a ciência mental. Mas a psicohistória é uma ciência estatística – e a margem de erro acabou aparecendo.

Um mutante, o Mulo, surgiu do nada, com poderes mentais numa Galáxia que não os tinha, exceto pela clandestina Segunda Fundação. Os exércitos desistiam de combatê-lo e se tornavam submissos.

A Primeira Fundação, que aos poucos ia substituindo e reconstruindo o Império, foi desbaratada. O Plano de Seldon voltou a ser apenas um sonho teórico. Por uma mulher, Bayta Darell e pela Segunda Fundação, o Mulo foi detido. Mas, com este movimento, a Primeira Fundação descobriu a existência da Segunda, e seus membros, fortemente independentes, imperialistas e individualistas, não querem uma Galáxia controlada por marioneteiros telepáticos; destruíram tudo que puderam descobrir da Segunda Fundação. Passados quase 500 anos depois do estabelecimento da Primeira Fundação, parece que nada a impedirá de fundar o Segundo Império Galáctico... Nada?
A Fundação e a Terra
Lançamento 1986

Golan Trevize, Conselheiro da Primeira Fundação, vê-se diante de uma tarefa assustadora: decidir qual será o futuro da Galáxia. Rejeitando a possibilidade de um Império Galáctico baseado na tecnologia da Primeira Fundação e também a de um Império baseado nos poderes mentais da Segunda Fundação, Trevize escolhe Gaia. O planeta Gaia é um super organismo, um aglomerado de seres que encontra sua força na unidade mental. Se toda a Humanidade se fundir com Gaia, o resultado será um supra-superorganismo dedicado ao bem comum, uma entidade que Trevize chama de Galáxia Viva.

Qual, porém, a razão pela qual Trevize foi levado a optar por Gaia em vez de uma das Fundações? Estará relacionada de alguma forma à história do planeta de origem da raça humana, que os antigos chamavam de Terra? Trevize não descansará enquanto não conhecer a resposta. Descobrindo que todas as informações a respeito da Terra desapareceram misteriosamente da Biblioteca Galáctica de Trantor, parte de Gaia em busca do planeta "perdido". Enquanto ele e seus companheiros, o historiador Janov Pelorat e a linda mulher de Gaia, chamada Bliss, viajam de planeta em planeta, enfrentam uma odisséia da qual depende o destino do Império... e da própria Humanidade.

Prelúdio da Fundação
Lançamento 1988

O ano é 12.020 da Era Galáctica e Cleon I ocupa o instável trono imperial em Trantor, capital do Império Galáctico. Quarenta bilhões de pessoas compõem uma civilização de imensa complexidade tecnológica e cultural, formando uma malha de relações tão intricadamente tecida que a retirada de um único fio pode desfazer toda essa estrutura complexa. O imperador está inquieto, pois sabe que há muitas pessoas interessadas em sua queda e que a única saída para continuar detendo o controle do Império está nas mãos de um jovem matemático...

Ao desembarcar em Trantor, o heliconiano Hari Seldon, protagonista da história, não tem a menor consciência das conspirações políticas em curso. Mas, ao apresentar na Convenção Decenal uma monografia sobre a psicohistória, sua notável teoria da previsão, ele sela seu destino e determina o futuro da humanidade. Tendo em mãos o poder profético tão ambicionado pelo imperador, o matemático se transforma de uma hora para a outra, no homem mais procurado do Império.

Seldon vê-se obrigado a fugir, e a lutar desesperadamente para evitar que sua teoria caia em mãos erradas, enquanto forja sua poderosa arma para o futuro: uma força que se tornará conhecida

Crônicas da Fundação
Lançamento 1993

Aos 21 anos, Isaac Asimov começou a escrever sua série da Fundação, sem ter ainda consciência de que aquela obra viria a ser considerada uma pedra angular da Ficção Científica. Quase cinco décadas se passaram até que ele viesse a concluir o brilhante épico. Crônicas da Fundação, escrito pouco antes de sua morte, é o último e inesquecível presente do mestre à sua legião de admiradores.

Em uma narrativa fascinante de perigo, intriga e suspense, Asimov relata a segunda metade da vida do herói Hari Seldon em sua luta para aperfeiçoar a revolucionária teoria da psicohistória e firmar o meio através do qual estaria assegurada a sobrevivência da humanidade: a Fundação. Afinal, ele e seu fiel bando de seguidores sabem que o poderoso Império Galáctico está se desmoronando e sua inevitável destruição irá devastar toda a Galáxia...

A Fundação e o Império
Este livro está formado por dois relatos; o primeiro nos apresenta as últimas coletâneas do Império, que, mesmo em decadência, mantém um poder formidável contra uma Fundação que começa a se estender pela Galáxia.

O General

Um general forte e inteligente tenta dominar os planetas que se separaram do Império, pondo Terminus contra eles. Por sorte contavam com "a mão morta de Seldon", que lhes ajuda a resolver a crise.
O mulo
Aqui o protagonista é um mutante com poderes mentais que permitem-lhe dominar mentes alheias. Ele consegue tomar o poder, um fato que não está previsto na psicohistória, que só pode prever mudanças sociais produzidas por massas humanas, e não atuações individuais. A crise prevista era de relação entre o centro e a periferia da Fundação.

O Mulo toma o poder em Terminus e, detectando um segundo poder mental, dedica-se a buscar a Segunda Fundação, que encarrega-se de velar pelo bom funcionamento do plano. Com um científico da Primeira Fundação – Ebiling Mis –, este descobre a situação da Segunda Fundação.

Poeira de Estrelas
Lançamento 1951

A narrativa inicia-se numa Terra ainda radioativa e insalubre. A época refere-se a um período primitivo da expansão do Império Galáctico, quando apenas 50 mundos constituem a sua unidade.
Em Poeira de Estrelas, Isaac Asimov se lança no fascinante e misterioso espaço cósmico, confundindo ficção e realidade futura, numa antecipação do que a era em que vivemos já denuncia para os cientistas e tecnólogos de hoje.

As correntes do Espaço
Lançamento 1952

A humanidade disseminou-se em alguns milhares de mundos habitáveis, formando-se pequenos reinados que lutam entre si. O planeta Florina, baixo o domínio de Sark, é um desses mundos, mas também tem um problema: seu Sol vai explodir e o único homem que sabe disso perdeu a memória.

Alguns habitantes de Florina trabalham para Sark recolhendo o Kirt, um “algodão” extremamente duro e resistente, usado para fins industriais ou para artículos de luxo. Isso converte Florina numa peça desejada também por Trantor, que evoluiu da República Trantoriana à Confederação Trantoriana e agora é o Império Trantoriano, e está próximo de formar o Império Galáctico.

Florina vem a ser o único lugar onde se obtém o Kirt, pois não se consegue duplicar sua qualidade em nenhum outro planeta, por isso suportam-se certos abusos por parte de Sark, a fim de garantir o comércio.

Os robôs
Lançamento 1957

O planeta Solaria poderia eliminar a Terra e transformá-la em duas partes iguais, e provavelmente o faria. Solaria era poderosa e ávida de poder.

Mais de duzentos anos se passaram para que desenvolvesse a arma derradeira - um maciço exército de robôs que poderia destruir a Terra e governar o Universo em questão de dias. Mas, em vista dos fatos, isto teria que esperar.

Um dos mais eminentes cientistas de Solaria foi encontrado brutalmente assassinado e só um Terrestre, Elijah Baley, poderia desvendar o desconcertante e sombrio mistério. E assim, mesmo contrariados, os Solarianos pediram o auxílio de um Terrestre.

Os Robôs do Amanhecer
Lançamento 1983

O protagonista é Elijah Baley. No planeta do amanhecer, robôs e seres humanos coexistem pacificamente até que o robô Jander é “assassinado”, ou melhor, desativado, em Aurora. Jander era um andróide, um robô de formas humanas - uma das mais sofisticadas e avançadas manifestações de inteligência artificial jamais concebidas.

Só um homem no planeta teria os meios, o motivo e a oportunidade de cometer o crime: Hans Fastolfe.

Hans contrata Elijah Baley para provar que ele não é o criminoso, o que faz Elijah ir ao Planeta Aurora.
A importância dessa inocência, é que o professor Fastolfe defende a liberdade de todos os humanos, para estender-se pela Galáxia, frente à oposição do doutor Kelden Amadiro, que quer que só os Espaciais possam conquistar o Universo e impedir que os terrestres saiam da Terra.

Armado unicamente de seu instinto, sua às vezes estranha lógica e as três imutáveis Leis da Robótica, Baley dispõe-se a revelar o mistério...
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Fontes:
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=4682

Império de Isaac Asimov. Disponível em http://anglopor8a09.vilabol.uol.%20com.br/index.htm

Isaac Asimov (Seus Personagens - Curiosidades)

Hari Seldon
Hari Seldon nasceu em Helicon, setor de Arturo, em 11988 do Império Galáctico - o mesmo ano que o imperador Cleon I - ou se preferirem em 79 antes da E.F. (Era Fundacional). Seu pai era um cultivador de tabaco em plantas hidropônicas; licenciou-se em Matemática, e em Helicon começa a desenhar a teoria da psicohistória. Podemos definir a psicohistória como o ramo da Matemática que se ocupa das reações de conglomerações humanas ante determinados estímulos sociais e econômicos.

No ano de 12020 chega a Trantor, onde expõe suas idéias no Congresso de Matemáticos, o que faz com que certas forças se fixem nele, e ele tem que fugir por Trantor, o que lhe ajuda a compreender a diversidade humana e que voltará com uma esposa, Dors Venabili; um filho, Raych; e um amigo, Yugo Amaryl, graças aos esforços do qual, se fixaram nas bases da psicohistória.

Tornou-se professor do Departamento de Matemática da Universidade de Streling, aonde chegou a diretor, e no ano 12028 foi nomeado Primeiro Ministro do Império, cargo que ocupou até o assassinato de Cleon I, em 12038, devido à uma conspiração.

Voltou à Universidade, onde pôde dedicar-se à psicohistória e à família, especialmente à sua neta Wanda, que demonstrou algumas qualidades excepcionais que permitiram a aceleração do projeto da Fundação, com o fim de que o período de barbárie, que transcorria entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império, diminuísse de 30.000 anos à somente 1.000 anos.

Nos últimos anos de sua vida percebeu claramente a decadência do Primeiro Império Galáctico, o que se fez eco, e ele acabou ficando conhecido como “corvo” Seldon.

Faleceu no ano 12069 em Trantor; sozinho, mas com a tranqüilidade de saber que tanto a Primeira Fundação, em Terminus, como a Segunda, no oposto extremo da galáxia, seguiriam seu caminho e facilitariam a chegada do Segundo Império.

U.S. Robôs

A U.S. Robôs é a companhia proprietária das patentes do cérebro positrônico, que permite a criação dos robôs positrônicos, o que, na prática, lhe dá um total monopólio na criação de robôs.

Se falarmos da U.S. Robôs temos que falar de Susan Calvin. Nascida nos Estados Unidos, não se casou nem teve filhos. Há quem diz que seus filhos eram seus robôs, especialmente Lenny. Durante toda a sua vida foi robopsicológa; começou muito jovem, sua primeira tese foi “Aspectos práticos da robótica”. Seu trabalho consistia em cuidar da parte psicológica dos cérebros positrônicos, e do funcionamento correto das Três Leis da Robótica. Dada a sua experiência, ocupou-se da maioria dos problemas que surgiam na operatividade dos robôs.

Defensora dos robôs, nos que via reflexadas todas as virtudes, era a teórica da U.S, assim como Mike Powell e George Donovan eram os comprovadores de campo, e os primeiros em viajar pelo espaço sideral. Conhecida por seu caráter frio, muitos achavam que amava mais os robôs do que os seus congêneres humanos.

Apesar de toda a sua apartação à ciência e a necessidade de robôs para a conquista espacial, a companhia criada por Robertson sempre teve o problema do desprezo pelos seres mecânicos.

Andrew Martin

A história de Andrew Martin é excepcional em muitos aspectos. Durante toda a sua vida ele procurou ser reconhecido como alguém comum. Começou sendo mordomo, depois artista, comprou sua liberdade e se dedicou à história dos robôs, sendo depois especialista neles.

Pleiteou durante décadas com o governo a fim de obter este reconhecimento, que obteve próximo a sua morte. Quando faleceu, mesmo que muitos dissessem que ele havia se suicidado, ele conseguiu morrer como um ser livre.

R. Daneel Olivaw

O Robô Daneel Olivaw teve uma longa existência. Criado pelo doutor Hans Fastolfe, no início da conquista espacial, trabalhou junto ao detetive de polícia Elijah Baley na solução de diversos casos, foi um ator determinante na emigração da humanidade ao espaço, e influenciou decisivamente em Baley para promover a segunda emigração ao espaço, até o ponto de um planeta ter o seu nome.

Graças a sua intuição e as capacidades mentais que o robô Giskard Reventlov transmitiu-lhe, pôde estabelecer a Lei Zero nas Três Leis da Robótica, o que permitiu-lhe interferir de forma ativa no curso da humanidade sem estar preso às Três Leis.

Chegou à Primeiro Ministro do Império, na época de Cleon I, conhecendo Hari Seldon, a quem ajudou e influenciou, para que desenvolvesse a psicohistória com uma finalidade prática, a fim de diminuir o tempo do caos da passagem do Primeiro ao Segundo Império.

Criou alternativas à caminho da Fundação, e foi para a Lua, a fim de influenciar o menos possível os acontecimentos, já que continuava afetado pelas Três Leis da Robótica. Os últimos dados de que se dispõe indicam que tinha mais de 20.000 anos.

OBRAS LEVADAS AO CINEMA E À TELEVISÃO

O homem bicentenário foi estreado em Dezembro de 1999. Baseado na novela O homem bicentenário, nos relata a vida de Andrew Martin, o robô que quer ser humano.

Em 1995 rodou-se na TV "The android affaire", baseado em uma história de Asimov e dirigido por Richard Kleter.

"O cair da noite" foi levado ao cinema em 1988 e dirigido por Paul Mayersberg, e o personagem de Aton está interpretado por David Birney. O cair da noite é uma das melhores novelas de Asimov, que transcorre em um planeta em que nunca se põe o Sol, a verdade é que ele tem cinco sóis. Baseado na novela "Bodas de aço", e titulada "Robôs", foi dirigida em 1988 por Doug Smith e Kim Takal, com Elijah Baley interpretado por Stephen Rowe e Brent Barrett no papel de R. Daneel.

"O pequeno menino feio", filho do tempo, titulado originalmente "O menino feio" foi produzido para a televisão em 1979.

"Mentiroso", um relato da série "Eu, robô", com o título "O robô mentiroso", foi produzido na Espanha em 1966, e dirigido por Antonio de Lara.

"As cavernas de Aço" foi dirigido para a TV em 1964, seguindo a novela "Bodas de Aço" com um bom elenco de atores.

"Eu, robô", foi levado ao cinema em 2004, tendo Will Smith ( como o Detetive Spooner) e Alan Tudyk (o robô Sonny).

Colaborações e atuações

Isaac Asimov também colaborou em outros filmes como assessor e roteirista. Em "Anos Luz" ocupou-se da revisão da tradução inglesa.

Uma de suas colaborações mais conhecidas foi em "Star Trek: O filme", com qualidade de consultor especial científico. Dirigida em 1979 por Robert Wise, e com William Shatner como Almirante e Capitão James T. Kirk e Leonard Nimoy no clássico papel de Comandante Spock.

Atuou em "O Magnífico Major" - de 1977 -, série de televisão dirigida por Nick de Noia, como artista convidado. Estreou o filme "Lance Preto", que tem certa inspiração na novela "O cair da noite".
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://anglopor8a09.vilabol.uol. com.br/index.htm

terça-feira, 18 de março de 2008

Semana do Escritor

Não resta dúvida de que a internet pode auxiliar a literatura, principalmente com relação à divulgação dos trabalhos de autores, lançamentos, dicas de leitura, discussões a respeito de obras...

Ela também te ajuda a encontrar aquele poema do qual você só se lembra um verso: basta uma pesquisa Google e você o terá inteiro. Contos, crônicas, todas as formas curtas encontram impulso na rede, além dos blogs de criações literárias. A Internet é ágil, não possui as tradicionais limitações de espaço ou de horário, e é ainda poderosa ferramenta de pesquisa cruzada. A internet também oferece obras.

Mas livros longos são difíceis de ler, mesmo com o e-reading e o e-book (espécie de programa de leitura e livro eletrônico portátil), então, a modalidade impressa ainda se faz mais eficaz. Livros eletrônico não têm cheiro, nem textura; não amarelecem com o tempo. Os livros são de papel: folheiam-se, dobram-se nos cantos, oferecem-se aos amigos com uma dedicatória manuscrita - afirmação do próprio Bill Gates, fundador da Microsoft, maior rede de software do mundo, em defesa de que o computador nunca irá substituir o livro. Assim, convém evitar algumas falsas questões, a começar pela idéia de que a impressão em papel é uma tecnologia condenada à obsolescência.

Como um dia se acreditou que o livro traria a libertação do ser humano e a possibilidade do conhecimento pleno, é importante não se render às promessas semi-religiosas da rede mundial para a comunhão dos povos e a distribuição do saber. A crença nos poderes virtuais, às vezes, parece ter gerado uma nova ideologia, um novo ismo, que se poderia batizar de virtualismo, tão nocivo quanto qualquer utopia.

Entretanto, acho que o maior aspecto negativo da internet em relação ao livro comum, é que a rede é uma teia dispersiva. Com tanta informação, creio ser missão impossível parar e ficar horas degustando uma história. Principalmente porque quando estamos em frente a um computador, mesmo que seja por lazer, o estado de espírito é outro: a curiosidade nos faz buscar outras coisas, diferente do momento de descontração em que você se deita em baixo de uma árvore, ou em sua cama antes de dormir, para deixar que o livro te leve a uma viagem de imaginação. Assim, essa pressa, agitação que temos em frente ao computador, atinge diretamente o prazer de ler, que é complexo e duradouro.

Quando perguntam às pessoas por que lêem tão poucos livros, elas dizem que é por falta de tempo. Mas todas têm algumas horas diárias, em média, para ficar entre o computador e a TV. Assim, a internet não é inimiga dos livros, mas adversária do tempo para os livros. Mas você ainda pode argumentar: pela internet você também pode acessar livrarias, sebos e receber seus exemplares em casa...e aí eu te digo, está aí um prazer que lhe é roubado: o de buscar as prateleiras, procurar uma obra e encontrar outra, de tocar, folhear, como que as mulheres quando estão em sua loja preferida, frente a enormes promoções e levam diversas peças consigo ao provador.
Assim, leia, aventure-se no mundo da imaginação e arrisque-se também a escrever. Por que não?

Todos temos experiências de vida, muitas estórias para contar. Sentimos o mundo cada um através de uma experiência sensorial diferente: divida a sua com os outros. A escrita pode também ser um exercício de auto-conhecimento, no qual você passa a se perceber melhor e a refletir sobre sua vivência.

Ótima oportunidade de se iniciar neste processo, é através da Semana do Escritor. O contato com escritores permite a troca de experiências, de dicas sobre o mundo literário, sobre o prazer de se ler e de também oferecer sua contribuição ao mundo, escrevendo...

A 4a. semana do escritor de Sorocaba ocorrerá de 22 a 27 de julho de 2008 na Fundec.

Fonte
Colaboração de DOUGLAS LARA

(Publicado na edição de 18/03/2008 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A)
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=47&id=72040

segunda-feira, 17 de março de 2008

Nicodema Alves (1900 - 1967)

"A poetisa NICODEMA ALVES vem de estrear nas letras nacionais com seu livro de versos: OCASO. Não se há negar que a beletrista caetiteense, sujo talento honra a Bahia, revela, através da sua poesia, um lirismo espontâneo, terno e evocativo, plasticidade de idéias, um desencatado pessimismo em face da vida, não isento de ironia e ceticismo, que não desapontam, contudo, os leitores, pois tudo que escreve e descreve é emoldurado na brilhante e colorida paisagem de nossa natureza tropical."
João Guimarães Filho

Biografia e Obra

Nicodema (Anísia de Souza) Alves nasceu em 15 de setembro de 1900 na cidade de Caetité, filha de Vicente Custodio de Souza e de Maria Anísia de Souza. Em Caetité passou toda a sua infância e adolescência no sítio da família.

Com a morte de sua mãe, ainda muito jovem ficou responsável pela educação de seus dois irmãos mais novos. Mais tarde, aos 21 anos casou-se com Avelino Domingues Alves, comerciante conceituado da região, com quem teve sete filhos.

Até então, suas viagens para Salvador se davam pela necessidade de tratamento médico, pois a escritora sofria de uma séria bronquite asmática, seqüela adquirida na juventude quando esteve refugiada por vários dias com os moradores locais em um acampamento improvisado, enquanto o cangaceiro Lampião e seu grupo ocupavam e saqueavam a região. Mais tarde a doença se agravou, e na idade madura transformou-se em enfisema pulmonar.

Desde jovem teve diversas atuações na sua cidade, foi professora primária da escola da Paróquia, atuou politicamente a favor de seu município, tornando-se líder política do Partido Liberal e intervindo junto às autoridades locais para melhorias, bem como, também, foi responsável pela formação da Filarmônica que tomou o nome de "Iracema". Dessa maneira, Nicodema Alves foi uma pessoa muito conhecida e admirada em Caiteté.

Preocupada com a instrução dos filhos mudou-se, definitivamente, para a cidade de Salvador, onde realizou um curso de alta costura em um ateliê de estilo francês, dirigido por Madame Lamartine, vindo mais tarde a montar o seu próprio ateliê.

A escritora sempre se dedicou à leitura, atividade que realizava, quando pequena, às escondidas. A sua vasta leitura foi iniciada a partir do contato com a sua professora primária, Jovina Trindade, que a influenciou bastante na leitura de diversos autores ao abrir sua biblioteca particular à jovem.

Ainda adolescente, Nicodema Alves iniciou escrevendo versos e experimentou outros gêneros. Segundo depoimento de sua família, tem-se notícia que a poetisa colaborou em alguns jornais de Caetité, material que ainda se encontra disperso ou perdido, por falta de exemplares nos acervos das bibliotecas.

Nicodema Alves só veio a publicar um livro de versos, intitulado Ocaso (1966), já no fim da vida, porém, não teve a alegria de ver o seu lançamento que ocorreu um ano após a sua morte que se deu em 1967. Neste livro de poemas, ela reúne composições selecionadas por ela e por seus amigos poetas.

Além de Ocaso, a escritora, conforme depoimento de sua filha, Avany Alves, deixou uma grande quantidade de poemas e textos de outros gêneros que ainda se encontram inéditos

Nicodema Alves faleceu em Salvador em 26 de maio de 1967.

Lançado em 1966, em Salvador, pela Fundação Gonçalo Muniz, "OCASO" reúne os poemas da escritora caetiteense. Transcrevemos aqui alguns dos comentários prefaciadores desta obra, dentre os quais o do saudoso professor da Faculdade de Direito da UFBA, Sylvio Santos Faria:

"Poente no Céu... Ocaso na vida...
Na quadra em que nos abeiramos das realidades que a visão anterior nos empolgou em tempos idos, em quadras pretéritas, foi que a poetisa NICODEMA ALVES veio dar-nos à visão deslumbrada, rendida à inteligência, o seu livro de versos - OCASO.

Ela veio comprovar que o talento não envelhece, que o veio, a catra do cérebro traz, ao de sempre, aos garimpeiros do ideal, riquezas fabulosas que abateia do sonho recolhe dos garimpos fecundos.

Bem haja quem, já nessa quadra da vida, faz vibrar as centelhas da inteligência, para a revelação dos sonhos já sonhados que amealhou e, somente agora, os exibe em páginas reveladoras de emotividade e beleza
."

""Ocaso", livro de versos, da autoria da poetiza Nicodema Alves, a bem dizer, não é um livro de estréia. De há muito a sua poesia conheceu o calor e a luz do sol através do privilégio dos que integram o seu vasto círculo de relações e podem se deliciar com a leitura de seus versos. Nessa condição, sem qualquer outra autoridade, venho testemunhar, a par da excelência da forma e do conteúdo, a madureza dos motivos.

Embora variando de temas, uns de inspiração naturalística, outros de profunda abstração, em todos os versos encontra-se presente a projeção de uma sensibilidade artística, que o sofrimento somente fez exasperar.

A Autora, por entre a moldura de seu quarto, divisa, por força essa sensibilidade fora do comum, uma paisagem humana, que passa despercebida a quase todos nós. A tônica da poesia, que analisamos, é o sofrimento, mesmo quando ele se manifesta pelo contraste entre o esplendor naturalístico do ambiente, que inspira o verso, e a condição humana da sua criadora.

Há em "Ocaso" um conteúdo lírico, que toca profundamente as almas bem formadas, provocando a emoção nos que dedicam à Autora sincera amizade
."
Salvador, agosto de 1966 - Sylvio Santos Faria

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

Nicodema Alves (Poesias: Ser Bom - Caetité)

SER BOM

Alguns anos presa ao leito do sofrimento.

Como pode ser bom quem chora na prisão,
Quem mendiga um carinho, um pouco de afeição?
Como pode um cativo exercer a caridade?
Não pode demonstrar, mesmo o intente, a bondade!

Mesmo que fosse um Justo, um paladino, um santo,
Como a chaga curar? Como secar o pranto?
Como sorrir à infância, ao cego dar a mão,
Dar pão para o mendigo, amparo ao ancião?

Sim, é fácil ser bom, mas não no cativeiro!
Preso à cela a chorar, sorrir ao carcereiro?
Dizer palavras que se envolvam de ternura?
Oh! Como falas bem! Não vês essa amargura...

Como o amor demonstrar, a bondade expandir,
Espalhando o sorriso, a vida colorir,
Quem vive ao desamparo, a definhar, sozinho?
Impossível ser flor, só pode ser espinho!

CAETITÉ

Já se finda a madrugada!
Pela insônia torturada,
"Vou cantar a minha terra
E as riquezas que ela encerra!"
Caetité tradicional,
És tu meu berço natal!
Tens passado glorioso,
Que fez teu nome famoso,
Foste princesa adorada,
pela fama bafejada,
Porém, cidade querida,
Vives tão longe, escondida...
Tu guardas nos teus rincões
O ouro todo dos sertões!
Daria pra libertar
Todo o Brasil secular!
Nas areias dos teus rios,
Como a lançar desafios
A quem o queira ir buscar,
Na bateia o peneirar!
Na raiz das tuas gramas
Quais fios de filigranas,
Se o sertanejo as capina,
Ele descobre uma mina!
E os veios grossos que encerras
No seio das tuas serrras?
Minérios em profusão,
Tens debaixo do teu chão!
Tu vives, princesa amada,
Entre as serras debruçada,
Ouvindo o vento cantar,
Entre as palmas estalar,
Na profusão dos coqueiros
Que se contam aos milheiros!
Minha cidade bonita,
Mesmo antiga, és tão catita!
No pensamento a rever,
A saudade faz doer!
Recordo as manhãs brumosas,
Onde neves vaporosas
Levantam de tuas fontes,
Cobrem o cimo dos montes!
Tu foste o berço natal
De César Zama imortal!
Plínio de Lima e João Gumes
Foram chispas dos teus lumes!
Aquele grande poeta
Teve lirismo de esteta!
Anísio, Rodrigues Lima
Nomes que a fama sublima,
E muitos nomes famosos
De filhos teus, valorosos!
No teu seio, sepultados
Estão meus pais muito amados,
Meus irmãos muito queridos,
Jamais serão esquecidos!
Adeus, cidade bonita,
Ó terra minha, bendita!
Com teu passado de glória,
Estás na minha memória
Embora eu viva distante,
Jamais te esqueço um instante,
Tudo o que é teu rememoro,
Ó mater que eu tanto adoro!

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

Plínio de Lima (1847 - 1873)

Plínio de Lima: O Primeiro Poeta de Caetité

O poeta Plínio Augusto Xavier de Lima nasceu em Caetité, aos 17-10-1847, numa casa onde hoje está a residência episcopal, filho do Ten. Cel. Antonio Joaquim de Lima e D. Francelina de Albuquerque Lima. Estudou Direito no Recife, onde travou amizade com Castro Alves, junto a quem fundou uma associação abolicionista, sendo em vida mais popular e conhecido que o confrade. Em trajetória inversa ao colega Ruy Barbosa, migrou da Faculdade do Largo de S. Francisco, em S. Paulo, para Pernambuco, onde formou-se retornando para a terra natal onde adoece, falecendo aos 17 de abril de 1873. Parte de seus poemas, ínfima, foi recuperada por João Gumes e publicada em 1928 pela "Seção de Obras d'O Estado de São Paulo", sob o título de "Pérolas Renascidas".

Quase perdida, com o concurso do Sr. Sylvio Gumes Fernandes, Acadêmico Emérito da ACL, foi reeditada eletronicamente pelo Município, em 2002.

Dr. Plínio Augusto Xavier de Lima, filho legítimo do Tenente Coronel Antonio Joaquim de Lima e de D. Francelina de Albuquerque Lima, nasceu na Cidade de Caetité, no Estado da Bahia, a 17 de Outubro de 1847.

Fez curso primário na terra natal, e iniciou o secundário com o professor Theotonio Soares Barbalho que regia a cadeira pública de latim naquela cidade.

Seguindo para a Capital do Estado, continuou o estudo de preparatórios no Gymnasio Bahiano, do saudoso diretor Dr. Abílio César Borges, Barão de Macaúbas, estudos que foi terminar em S. Paulo e Pernambuco, centros de intensa cultura para o jovem Plínio que assim ilustrara o seu tirocínio colegial e acadêmico.

Em 1867, matriculou-se na Faculdade de Direito de Pernambuco onde, por seu amor ao estudo e peregrinas virtudes, conquistou, por entre a estima geral de mestres e colegas, com aprovações plenas e distintas, o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais, em 29 de Novembro de 1871.

As suas tendências literárias, que se manifestaram desde os bancos escolares, fizeram-no poeta sagrado pelas musas.

Espírito superior, pertenceu a uma geração acadêmica distintíssima e tornou-se, graças às fulgurações do seu belo talento, fortalecido pelo estudo, um cultor primoroso do verso.

Assegura um dos seus contemporâneos - o jovem Plínio de Lima "era uma figura original de sertanejo: de cabeleira aloirada e olhos verdes, apresentando-se sempre com requintes de elegância de um parisiense, e primando por um espírito cintilante, por vezes finamente mordaz, só saindo de seu aspecto expansivo e risonho na hora da luta, em que se transformava num valoroso guerreiro.
Uma compleição de ateniense que fazia lembrar Alcebíades
."

Homem de ciência, poeta e escritor, gozou sempre do alto apreço que dão as prendas do estudo e da inteligência.

Nas teses cientificas e literárias que se apresentavam, nas discussões eruditas que se travaram, a sua palavra eloqüente soava sempre com prestígio singular.

"Múltiplas e superiores foram as manifestações de seu estro nesse último período de sua jornada acadêmica: nos comícios escolares, nas manifestações patrióticas dessa época de guerra, nas solenidades em que se iniciava, pujante, a cruzada emancipadora, a sua voz, de uma sonoridade empolgante, era sempre ouvida com encanto."

Espírito liberal, não foi como já vimos o jovem acadêmico estranho à causa do abolicionismo, em Pernambuco, pois, fundou, em 1867, com Castro Alves, Ruy Barbosa e João Baptista Regueira Costa, uma sociedade abolicionista que tinha a missão generosa de combater a escravidão, numa época em que era um crime não a ação, mas a simples palavra em favor da raça negra no Brasil, sendo seu presidente o glorioso Cantor dos escravos.

Estudioso, inteligente e sempre festejado pela mocidade do seu tempo, publicou Plínio de Lima, no Correio de Pernambuco, versos, sátiras e folhetins, cheios de humor, sobre fatos da vida social ou acontecimentos públicos da época, sob o pseudônimo de Lucio Luz.

Aos 19 anos de idade, prefaciando Lésbia, livro de versos do poeta baiano Antonio Alves de Carvalhal, foi Plínio de Lima, "definitivamente consagrado um dos primeiros literatos em uma legião de 500 acadêmicos".

Quando, em 1871, os doutorandos ofereceram ao Dr. Aprígio Justiniano da Silva Guimarães o seu retrato, foi Plínio aclamado o seu intérprete, missão que desempenhou em um discurso de peregrina eloqüência, publicado na imprensa pernambucana com elogiosas referências.

Não cabe, nos estreitos limites destas linhas singelas, de homenagem à sua memória, o estudo de sua obra literária, na qual figuram versos primorosos suficientes para lhe dar reputação de poeta.

O verso lírico foi a constante preocupação do poeta, cuja morte prematura tanto deploram as letras pátrias.

Faleceu o Dr. Plínio Lima na Cidade de Caetité, a 17 de Abril de 1873, contando apenas 26 anos de idade.

O seu enterro, escreve um contemporâneo, foi uma apoteose porque o Dr. Plínio era muito querido, por seu trato cativante, talento de escol e pelo muito que trabalhara pelo progresso de sua terra natal, a começar pela construção de um bom teatro, para o qual deixou o dinheiro que adquirira em subscrição.

Deixou muitas produções inéditas, entretanto não deixou livro publicado.

Entre suas poesias uma logrou grande popularidade, graças ao sentimento artístico de Xisto Bahia, que a pôs em música. Era a modinha preferida da mocidade e fez época na capital da Bahia.

Com o seu título - Ainda e sempre - é a seguinte:

Quis debalde varrer-te da memória
E o teu nome arrancar do coração!
Amo-te sempre! Que martírio infindo!
Tem a força da morte esta paixão!...

Eu sentia-me atado aos teus prestígios
Por grilhões poderosos e fatais;
Nem me vias sequer, - te amava ainda!...
Motejavas de mim, - te amava mais!...

Tu me vias sorrir. Os prantos d'alma
Só confiam-se a Deus e à solidão!...
Tu me vias passar calmo e tranqüilo,
Tinha a morte a gelar-me o coração!...

Quantas vezes lutei co'o sentimento!
Quantas vezes corei da minha dor!...
Quis até odiar-te... amava sempre
Sempre e sempre a esmagar-me o meu amor!

Em diversos cadernos, deixou o Dr. Plínio de Lima, colecionadas as suas poesias, ainda em grande parte inéditas, em poder de pessoas de sua família, mas devido à bela iniciativa do Dr. Affonso Fraga, ilustre filho de Caetité e conceituado advogado na capital de S. Paulo, foram elas, em parte, editadas à sua custa, no bonito livro, ora publicado que é o justo valor dos méritos do genial poeta Plínio de Lima.

Colaborou nesse generoso empenho, a pedido do Dr. Affonso Fraga, o ilustre professor João Gumes, distinto homem de letras e conhecido jornalista que se desempenhou com louvores da sua honrosa incumbência. O livro em apreço, impresso em papel superior, com capa alegórica, nas oficinas do Estado de S. Paulo, em 1928, recebeu, em falta de um nome dado pelo poeta, o título expressivo Pérolas Renascidas.

Da edição feita, apenas reservou o editor alguns exemplares que distribuiu pela imprensa e escritores de renome, remetendo para a cidade de Caetité os restantes para serem oferecidos, em partes iguais, à Caixa Escolar e à Sociedade das Senhoras de Caridade.

É mais um duplo e valioso serviço prestado pelo benemérito caetiteense à assistência social e às letras pátrias, fazendo ressurgir do olvido a que foi relegado, o nome do laureado poeta, para torná-lo redivivo no Panteão da nossa literatura.

Para julgar a importância da justa homenagem, prestada à memória de um poeta que muito honrou as letras e especialmente a terra do seu nascimento, transcrevemos abaixo o judicioso artigo do Diário Popular, de S. Paulo:

... Plínio de Lima, cujos trabalhos só agora saem a lume devido ao entusiasmo generoso de um admirador póstumo, faz parte daquela plêiade de talentosos rapazes que de 67 a 75 fizeram as delícias da mocidade baiana e pernambucana, irmanada sob as torres de Recife.

Condoreiros ricos de hipérboles, fascinantes de tropos, enchiam, com os seus lundus, com a poesia popular, as ruas de Olinda, as Academias de Recife.

Plínio de Lima, como Castro Alves, fizeram a alegria das raparigas do norte, depois de deixarem um sulco nostálgico na sua terra natal, a Bahia.

Num e noutros, sente-se não a influência da época, a influência do meio, o prestígio de Tobias Barreto que arrebatava as multidões.

Mais feliz, Castro Alves teve como cenário o palco do Santa Isabel com toda a munificência perdulária da cultura e inteligência baiana, de então.

Mais modesto, Plínio de Lima não alcançou o apanágio da glória e nem os prestígios sobre o coração feminino, quanto Castro Alves.

Ambos perlustraram o mesmo caminho: as Faculdades de Recife e de S. Paulo.

Ambos amaram, um em segredo, outro retumbantemente, pelos camarins das estrelas da época.

Mas, nenhum deles morreu de todo.

De Castro Alves a apoteose foi rápida: fê-la Ruy Barbosa, numa festa decenária na capital da Bahia; a apoteose de Plínio de Lima vem de a fazer o Snr. Affonso Fraga.

O entusiasmo do seu patrono é sincero e ainda vem a tempo.

A sua melhor recomendação fizeram-na o fulgor do seu talento, a beleza e o encanto dos seus versos, a delicadeza extrema com que canta os sonhos de moço e traduz os sentimentos dominantes na mocidade da sua época, em suma, tudo quanto a sua imaginação e organização poética produziram de belo e sensível em linguagem rítmica.

Affonso Fraga, que lhe patrocina a entrada nos umbrais gloriosos da popularidade, salvou do olvido um dos 5 cadernos legados pelo poeta, 4 dos quais soçobraram no oceano do tempo.

Daí denominar os preciosos remanescentes - Pérolas Renascidas.

E fê-lo com a sinceridade elegante de quem sabe afirmar:
"No que toca à dedução da harmonia, à propriedade das imagens, à precisão das figuras, à exação da rima, à justa observância dos preceitos da arte poética, enfim, ao merecimento intrínseco dos versos, nada diremos: somos profanos na matéria."

É uma afirmação errônea, porque, emocionado pelo talento de Plínio de Lima, fez-se não só seu divulgador, através do tempo, mas crítico sincero.

Esse pequeno volume que, por sua iniciativa, saiu das oficinas do Estado de S. Paulo, é a consagração do vate baiano.

Poderá a rima antiquada e o lirismo de antanho desagradar aos iconoclastas de hoje, mas a beleza de expressão talhada nos mármores de Paros, com a beleza também helênica da forma, ainda não foram vencidas, mesmo pela violência dos gênios da grandiosidade de um Miguel Ângelo.

Eis uma amostra magnífica:

Eu choro ao recordar estes instantes
de suprema ventura que me davas
Carinhosa e divina...
Eu contava-te a história de meus sonhos,
Tu me contavas - inocente e alegre -
Teus sonhos de Menina
.

Mas a glória é falaz.

Para Castro Alves foi bondosa e rápida; para Plínio de Lima, tardia, posto que igualmente bondosa.

Sua obra não se perdeu de todo; houve um pescador de pérolas que a soube salvar.

Fontes:
Plínio de Lima por Pedro Celestino da Silva (in Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia - n.58 "Notícias Históricas e Geográficas do Município de Caetité - IGHB, Salvador, 1932)
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

Academia Caettiteense de Letras (Bahia)

Caetité: Terra das Letras

Desde o século XIX Caetité assoma como centro cultural, e produz literatos das mais variadas tendências e estilos.

PRÓLOGO

Entre as elevações da Serra Geral, início da Chapada Diamantina, coração do sertão baiano, confluência de três riachos, a mata nativa se fez densa, ilha em meio ao causticante gerais, atraindo para suas terras lindeiras o bravo índio Tapuia.

Tribo nômade? Aventariam empós, os pesquisadores, que tais nativos vieram das margens do São Francisco, povoar estas paragens. Primitivos, ferozes, atrasados, eram os adjetivos que os invasores europeus os qualificaram. Seria verdadeiro? Tudo temos para crer que não. Afinal, onde estão os índios que um dia povoaram este solo? Tal foi sua incorporação genética, que apenas traços restaram na gente caetiteense, em especial do meio rural e que hoje compõem a vida citadina... Não, numa terra tão diferente, haveria um povo indígena também diverso: e as provas eles nos legaram no fantástico monumento visitado ainda no século XIX por João Gumes, nas Vargens.

A cerca de 10 km de onde hoje é o centro da cidade encontramos um conjunto de cavernas, ainda não pesquisado por paleontólogos, que guarda em si um tesouro arqueológico: foram todas elas escavadas pelos nativos, no meio dum morro que se destaca em belíssima planície cortada por um perene regato. Erguendo-se sobre o vale, as lapas têm, em suas paredes, escritos diversos ainda sem a devida proteção do Patrimônio Histórico. Símbolos foram distribuídos em áreas previamente demarcadas, como páginas na parede de pedra. Ali, perdido numa fazenda do distrito de Brejinho das Ametistas, jaz o atestado de que nossos nativos, acima dos estereótipos criados pelos colonizadores, foram também eles escritores.

Aquela mata feraz, a altitude com seu clima ameno, trouxe levas de colonizadores europeus que, já no fim do século XVIII pleiteavam a emancipação à Coroa, algo finalmente conseguido apenas em 1810, após a instalação da Corte no Rio de Janeiro. Caetité viria a cumprir seu destino de pólo cultural sertanejo, trazendo a si uma estrutura administrativa centralizadora de vastíssimo território, e serviria de berço para próceres da nação, no âmbito político e cultural e, como não poderia deixar de ser, no literário.

Aqui se constituíram escolas preparatórias da nova geração que viria, possuindo ensino primário de qualidade que impressionava aos visitantes, como a presença do ensino régio do latim. Mas no que respeita aos escritores, no século XIX o nome de Plínio de Lima assoma como o precursor e maior nome: seus versos do poema Ainda e Sempre alcançaram sucesso inaudito no Estado, além de haver, quando ainda aluno na Faculdade de Direito do Recife, granjeado a simpatia de toda a sociedade para seus escritos publicados nos jornais de então. Vindo para Caetité, falece muito jovem, sem ter publicado os versos que, em sua maioria, vieram a perder-se... a semente, entretanto, fora lançada, e produziria frutos.

O primeiro veio de seu amigo e contemporâneo, Marcelino José das Neves, autor de peças teatrais, como O Designado, e romances de valor ínequívoco, como Lavras Diamantinas (publicado apenas em 1967). As nossas letras ficavam, então, restritas ao público local e familiar: não havia sequer como editar um de nossos autores, até o advento do maior caetiteense de todos os tempos: João Gumes.

Este homem, também ele escritor e jornalista, compreendendo com raro civismo a importância do coletivo e da luta pelo progresso comum, granjeou apoio e fez o Jornal A Penna, introduzindo no alto sertão a imprensa que, antes, vinha das Capitais e metrópoles européias.

Publicou um livro de Plínio de Lima, Pérolas Renascidas, e também livros seus.

Neste afã pioneiro fulgura Joaquim Spínola, fundador da Revista dos Tribunais.

A virada do século XX encontra uma Caetité com homens de nomeada, tal como Cezar Zama, inda hoje homenageado em Salvador e no Rio de Janeiro. Político polêmico, legou-nos memoráveis biografias, artigos em jornais diversos, e um manifesto contundente que o colocam entre as mais lúcidas vozes a erguerem-se contra a chacina de Canudos.

Pelas mãos de João Gumes o Presidente da Academia, Afrânio Peixoto, escreve o seu Sinhazinha.
O século XX seria, portanto, profícuo: dezenas de nomes perlustram nossas letras, desde o genial e premiado Camillo de Jesus Lima, ao incompreendido e ainda desconhecido Mariano Matos; Camillo é Patrono de uma cadeira no silogeu conquistense, e reluz entre os verbetes da enciclopédia Larousse.

E no romance encontramos o jurista Nestor Duarte Guimarães, nome que honra a Bahia e seu Sodalício.

Na Academia Mineira, o Imortal Flavio Neves, que tem em sua obra o Rescaldo de Saudades, sobre a Caetité natal; o tema é recorrente, pois a terra apaixona, como declara Teodoro Sampaio, gênio da raça e aqui passou quatro dias memoráveis em 1880; como atesta Áurea Costa, em seu Luz Entre os Roseirais.

Anísio Teixeira, que dispensa apresentações, teve sua biografia e a vida na Caetité natal retratada pelo Imortal da ABL Hermes Lima.

Nicodema Alves faz relevo no canto feminino baiano, com seu livro de versos Ocaso. Aldovandro Chaves persiste em conquistar espaço pelas letras, legando-nos versos num tempo em que as portas se fechavam.

Outros ficaram calados, mas não Vandilson Junqueira, que agradou a Jorge Amado. Nem a profª Emiliana Nogueira Pita, autora do hino oficial da cidade que, servindo-se do Diário Oficial, publica seus versos, reunidos nos anos 80 no volume Divagando.

Longas estradas haveriam de ser percorridas, alguns perecendo antes do ápice almejado, como foi o caso de Noemi Prisco, contratada novelista da Rede Globo, tolhida por derrame antes de cumprir seu desiderato. Sua parenta Lúcia Prisco, ainda ativa nas letras, publica Arquimimo, romance sertanejo.

A antiga Escola Normal produz professores e amantes das letras, como Irany Castro, professora veneranda, trazendo seus poemas em Nosso Mundo, Nosso Lar.

Feita caetiteense pela Escola Normal Helena Lima torna-se a biógrafa de Caetité, seguida por Bartolomeu Mendes. Maria Teodolina Neves Lobão copila Caetité e o Clã dos Neves. Erivaldo Fagundes, emancipando a Igaporã natal, traz seu profundo estudo Da Sesmaria ao Minifúndio - todos a retratar uma cidade que, mesmo sob o olhar alheio e descompromissado de muitos, merece verdadeiramenten o título ostentado ontem e sempre, qual seja o de terra da cultura.

E Caetité é referida exportando escritores, como Luis Cotrim, e o jornalista seu irmão, Newton; Imortalizada nas Letras, foi carinhosamente retratada nos flashes do historiador Dário Cotrim - fazendo caetiteenses aqueles que por um acaso aqui não nasceram, como a poeta Tânia Martins, com sua Folha Solta.

Surgem entusiastas pela escrita, como o Discurso Poético de Valdelúcio Cunha; o Valmique Alves, Lutando Por Justiça; e João Alípio Santos versejando Lágrimas. Moysés Augusto Torres expõe os versos em seus acrósticos.

Versos solitários em coletâneas expõem Evando Carele, André Koehne e Sônia Silveira.

O jornalismo ressurge, esporádico, veemente, combativo ou meramente informativo: segue em A Penna com Huol, Sady Rútilo e Luiz Gumes, perpassa por O Caetité, dos Drs. Vanni Silveira, Eutrópio Oliveira e Bulhões, nos anos 50; O Jornal da Esquina, de André Koehne e Gilson Bolivar, nos fins da ditadura, seguido pelo ainda existente (mas em Brumado) Tribuna do Sertão, de Mauricio Lima Santos e o ainda caetiteense Imagem, do maranhense 'de Caetité', Antonio Rocha e o boletim da AABB, de Romilton Ferreira e Arnoldo Paes.

Em 1981 a comunicação ganha os ares, com a fundação da Rádio Educadora, que com suas emissões invadem os céus atingindo outros estados com ondas caetiteenses.

As escolas locais têm cumprido seu papel, desde o primeiro Diretor da Escola Normal, dr. Edgard Pitangueiras, passando pelo IEAT, COOPEC, e a rede Municipal de Ensino, jornais e até livros foram editados com textos dos alunos.

Com o advento do computador, da internet, os jovens encorajam-se, como Kalil Santos, Alidéia Rodrigues e Zezito Rodrigues...

ESCRITORES DE CAETITÉ

Mas a História está apenas começando... desta data até o ano de 2003 vieram à luz 3 livros de Galdino Lédo, a revista Encontros reuniu novos autores como Keila Santos, Wbirajara Martins, Jucelma Gomes, Salvador da Silva, Sebastião Pereira e Suzete Silveira Cruz.

Que todo caetiteense, nato ou por eleição, encontre seu espaço para fazer luzir nossa arte literária. Este o papel maior e transcendente da Academia Caetiteense de Letras - e o seu verdadeiro Norte.

Neste breve resumo foram citados mais de 50 nomes, e tantos outros ficaram de fora, quer por já estarem consignados nas demais páginas deste Portal, quer por serem Confrades e Confreiras na ACL - e mesmo assim resta a certeza de que muitos ainda podem aqui estar presentes. Que todos sintamo-nos unidos, embora, representados pelos poetas, romancistas, historiadores, jornalistas, literatos enfim, que perlustram esta imensa plêiade.

Fonte:
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

domingo, 16 de março de 2008

Deusdédti Ramos (Conta de Cabeça - O Sorteio)

CONTA DE CABEÇA
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Sujeito vaidoso sobrevoando a fazenda, em companhia de um amigo, se gabava mostrando a propriedade. Ora uma enorme plantação de café, ora de laranja, ora de outra cultura. Estava de peito estufado e o amigo simplesmente incabulado com as dimensões do patrimônio do amigo, não tecia o menor comentário.

Quando sobrevoaram uma enorme invernada onde uma quuantidade incalculável de gado pastava, o amigo pediu para o piloto fazer um vôo razante sobre os bichos. Ao terminar o vôo razante, que durou uns dez minutos,o amigo exclama exausto: - Puxa! Quinze mil, trezentas e quarenta e oito cabeças?

O outro intrigado, pergunta: - Como é que voce sabe que é este o numero de cabeças?

- Foi fácil. Foi só somar as patas e dividir por quatro.
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O SORTEIO

Durante uma assembléia onde participavam pessoas de ambos os sexos com idade de 10 a 95 anos.

Em um dado momento, para descontrair, um dos organizadores, tomando a palavra, propôs aos participantes um sorteio:
- Atenção, pessoal, quem quiser participar de um sorteio, por favor levante a mão.

No mesmo instante, praticamente 90% dos quase duzentos presentes levantou a mão, mesmo não sabendo o quê seria sorteado.

Uma explicação se seguiu:
- Nós vamos sortear uma barra de chocolate, permaneça com a mão levantada quem quiser ganhar uma barra de chocolate.

Os 90% foi reduzido a mais ou mais de 40%.

Então o interlocutor, para esclarecer disse:
- Pessoal, a barra de chocolate é esta aqui – aí mostrou uma barrinha de Bis.

Houve um breve silêncio e o número de mãos levantadas caiu para pouco mais de trinta.
- Muito bem! Vocês concordam que escolhamos dentre as pessoas de mãos levantadas, a pessoa mais jovem?

Todos concordaram e o prêmio foi entregue a uma garota aparentando ser a mais nova.
- Agora vamos sortear esta caixa com cocô de cavalo. Levante a mão quem deseja ganhar este prêmio.

Houve um tremendo zum-zum-zum e algumas gargalhadas. Quando tudo se acalmou, notou-se um garoto de uns doze anos com a mão levantada. O organizador chamou a atenção de todos para o fato e todos os olhares se convergiram para o ponto, no canto, onde estava o garoto, sério e decidido.

O silêncio foi quebrado com esta pergunta do organizador:
- Meu bom garoto, você entendeu bem o que contém esta caixa? Para que é que você quer este com cocô de cavalo?

A resposta foi breve e inteligente e direta.
- É que gosto de cultivar algumas plantinhas e com certeza isto servirá como esterco. Nada tenho a perder. É um prêmio, não é? Meu avô já dizia: “ Cavalo dado não se olha os dentes”

O organizador para não cometer injustiça, sentindo como se o garoto estivesse adivinhando, resolve perguntar mais uma vez:
- Ninguém mais quer concorrer a este prêmio?

Silêncio geral.

- Bom, meu garoto, então você acaba de ganhar: uma caixa com a bosta do cavalo e o próprio animal que a eliminou. Trata-se de um cavalo da raça Puro Sangue Inglês de dois anos e meio, inteiro, e que vale perto de R$280.000,00, doado por um proprietário de um Haras, aqui da redondeza. Meus parabéns! Aqui está a caixa com seu conteúdo e uma carta/autorização para retirada do magnífico animal, quando você achar melhor.

Fonte:
Sítio do Caipira. Causos. http://eptv.globo.com/

Artur da Távola (Espirro é quase gripe)

Nessa época de verão, dengue e outras gripes, lembro de algo que deve infectar (silenciosamente) muito mais que o famoso mosquito que azucrina o verão de países tropicais.

Você já viajou em ônibus, carro ou avião com um cara a tossir ou espirrar? Há uns muquiranas sentados atrás que chegam a molhar a nuca de quem está no banco da frente com os perdigotos. Há outros que explodem tosses expectorantes e tenebrosas! E a gente ao lado. Ou na frente. Falta de educação? É pouco. Esses pelintras são inimigos públicos, pestes ambulantes. No avião, porém, é mais grave.

As companhias de aviação insistem no hábito de não advertir os passageiros para não espirrar ou tossir fora do lenço. E como se espirra em avião fechado! Ônibus também. Arre!

Vi há anos um filme educativo canadense que mostrava a nuvem de germes e perdigotos, de metro e meio de diâmetro, lançada no ar a cada espirro. Em menor tamanho porém bem mais contaminada é a nuvem de perdigotos e germes espargidos pela tosse.

O avião, quando em vôo, é um sistema fechado. Iguala o espirro no elevador: o que ali se ejeta, ali circula, infecta ao léu. Idem ônibus, carro, sala. Espirrar fora do lenço prova falta de civilidade, higiene e educação. É ruim, hein!...

O espirro é uma cusparada. Só que em fragmentos. Tem a mesma malignidade e idêntico (ou talvez pior) teor de contágio porque se espalha.

Quando eu era criança havia escarradeiras. Era o medo da tuberculose. Que voltou!... Ainda recordo a instrução: "Pise no pedal". As piadas gozavam um político da época, muito ignorante, de quem diziam que para simular cultura, lia a frase como se fosse em inglês, assim: "paise nou pidal"....

Soar, assoar, assolar, espirrar (palavra que em castelhano é ainda mais expressiva: "estornudar"), tossir, perdoem o mau gosto, leitores e leitoras mas quem vai no ônibus ou avião, com um cretino ao lado ou atrás a espirrar e espirrar sem o fazer de modo educado no lenço, expondo-nos a contágios, leva o cronista a esta crônica algo escatológica mas de alerta às companhias de avião que assim como proíbem fumar na subida, na descida e nos banheiros, deveriam também compelir os passageiros a tossir e espirrar no lenço. Em pouco tempo o contaminador teria vergonha de espirrar na nuca dos demais!

Espirro faz tanto estrago quanto dengue.

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Biografia do Autor e Entrevista podem ser encontradas na postagem de 01 de janeiro de 2008
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Fonte:
http://www.arturdatavola.com/

Roberto Protti (1923)

Roberto Protti, nasceu na cidade de São Paulo, em agosto de 1923. Nos seus oitenta anos, guarda muitas recordações preciosas: da infância no bairro tumultuado e alegre, dos tempos de Grupo escolar e Ginásio e de sua atividade como executivo de vendas, que o ajudou a aguçar seu senso de observação. As reflexões que o acompanharam nessa longa caminhada e o hábito de ler bons livros despertaram seu interesse em escrever. Por duas vezes, participou do Concurso "Talentos da Maturidade", promovido pelo Banco Real. Foi convidado a participar de todas as edições seguintes do concurso, mas declinou do convite por estar empenhado na composição da presente obra. O embrulho inédito é seu primeiro livro. "Inédito", portanto, na autoria e não só no conteúdo.
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Sobre o Livro
Embrulho Inédito, O. Editora Novo Século. 2004.

O Embrulho Inédito é um livro diferente da grande maioria dos bons títulos em circulação, por se tratar de assuntos diversos reunidos num só livro. Apresentado em quatro partes distintas, pode agradar o leitor. Na primeira parte, "Contos e humor". Os contos prendem sua atenção e o humor diverte o leitor. Na segunda parte, "Curiosidades, onde o relógio tem algo em comum com muitas pessoas e outras curiosidades, frases e conselhos interessantes. Na terceira parte, "Filosofia mística" ? um assunto sério, porque se tenta provar a existência de Deus e quanto Ele é importante para nós e todo o Universo. A quarta parte, "Ficção Científica" é uma idéia fantasiosa do futuro, mas muito bem colocada para uma vida feliz da humanidade. Em resumo, esta são as razões do título O Embrulho Inédito, um livro original e excêntrico. O Embrulho Inédito é um livro diferente da grande maioria dos bons títulos em circulação, por se tratar de assuntos diversos reunidos num só livro. Apresentado em quatro partes distintas, pode agradar o leitor. Na primeira parte, "Contos e humor". Os contos prendem sua atenção e o humor diverte o leitor. Na segunda parte, "Curiosidades, onde o relógio tem algo em comum com muitas pessoas e outras curiosidades, frases e conselhos interessantes. Na terceira parte, "Filosofia mística" ? um assunto sério, porque se tenta provar a existência de Deus e quanto Ele é importante para nós e todo o Universo. A quarta parte, "Ficção Científica" é uma idéia fantasiosa do futuro, mas muito bem colocada para uma vida feliz da humanidade. Em resumo, esta são as razões do título O Embrulho Inédito, um livro original e excêntrico.

Fontes:
PROTTI, Roberto. O embrulho inédito. Osasco, SP: Novo Século, 2004. ps.239

http://www.planetanews.com/produto/L/53577/embrulho-inedito--o-roberto-protti.html

Roberto Protti (O Enterro do Juventino)

O Juventino morreu. Não se perdeu grande coisa. Passou pela vida só arrumando encrenca. Não fez amigos. Inimigos, ganhou diversos. De gênio difícil, não concordava com nada. Mulheres nunca aturou, e por isso era ferrenho celibatário, e sempre morou sozinho. A bebida e outros excessos complicaram o seu gordo corpo, que o levou para outra melhor, nem tão velho nem tão moço.

Agora a providência era depositar sua carcaça na tumba do cemitério.

O enterro não estava fácil, pois ninguém queria gastar na derradeira viajem do rejeitado morto. Mas foi descoberta no seu quarto, bem enfurnada numa gaveta, uma boa importância – resultado da profissão de sapateiro que exercia – e que daria para o enterro. Com alguma sobra, ainda, para a Igreja ajudar a sua alma no outro lado da vida.

Foi arrumado o velório, com caixão de primeira e todos os paramentos. Na sala, os presentes faziam a guarda do corpo e vez por outra se ouvia alguém dizer:

– O Juventino tinha lá os seus defeitos, mas era um bom homem!

– Não há dúvida! – concordava outro.

Em velório, o defunto sempre vira santo.

E lá se iam comentários transformando Juventino em homem de bem. Quanta falsidade! Havia até aqueles que forçavam o choro, inclusive aquele velha, que nunca se deu com o Juventino e agora se debulhava em lágrimas, como uma carpideira. Até o padre, que veio para encomendar a alma do morto, usava palavras com elogios inexistentes, talvez pelo óbolo recebido.

O tempo ia passando e as cenas aconteciam. Uma vela do paramento tombou e a roupa do morto começou a queimar. Houve corre-corre para apagar as chamas, mas o estrago já estava feito.

Alguém segredou:
– Até depois de morto o Juventino apronta!

Em seguida, uma velha deu um grito, pensaram que era piedade do finado. Antes fosse, pisaram seu calo arruinado.

Chegou a hora do enterro, e o carro fúnebre não aparecia. Eram dois quilômetros até o cemitério. Quando já se passavam trinta minutos da hora combinada, com todo mundo impaciente para se livrar da empreitada, eis que chega a notícia de que o carro estava enguiçado. E agora? O enterro tinha de ser feito no muque.

Candidatos para a proeza não apareciam, e o enterro não saía. Depois de marchas e contramarchas, com muita discussão, foi resolvida a questão. O time do carrega-caixão seria substituído a cada quarteirão. E assim seguiu o cortejo, pela Avenida da Saudade, para a última morada de Juventino. O caixão, com o passageiro, estava pesado. Todos que o carregavam, não viam a hora de seu quarteirão terminar. Até que, em dado momento, um mais fracote não agüentou, e largou a alça que empunhava. O caixão se deslocou, os outros não suportaram e a carga caiu no chão. Com o impacto, o fundo se desprendeu e o Juventino sobrou espalhado na rua.

Situação desperadora: com o fundo quebrado, como o defunto seria levado? Achou-se a solução. O caixão foi virado e a tampa passou a ser o fundo. O Juventino foi ajeitado, com o seu travesseiro na tampa e a cara pro outro lado. Como a nova tampa não parava, passaram em volta do caixão vários cintos amarrados dos homens do cortejo, que tiveram de segurar as calças.

Chegando ao cemitério, outra vez confusão. A campa designada estava lotada e os coveiros não estavam de plantam.

Êta Juventino complicado! Arranjando encrenca até depois de morto.

Ninguém mais aguentava estar em companhia do finado. Apareceram, então, pás e enxadas, fizeram um buraco e meteram o caixão. Cobriram rapidamente e mais que depressa foram embora.

Agora o encrenqueiro do Juventino jazia em paz e deixava os outros também.

Fonte:
PROTTI, Roberto. O embrulho inédito. Osasco, SP: Novo Século, 2004. p.106-107.

Roberto Protti (O Nome)

A cena se passou numa fila do INSS para recebimento do auxílio-doença, igual a muitas que se vêem por este Brasil afora.

– Nome?
– Colosflónio Único da Silva.
– Cavalheiro, não estou aqui para brincadeira! O nome certo? – falou, já meio bravo, o atendente do outro lado do guichê.
– Colosflónio Único da Silva.

E o gajo já foi metendo quase nas fuças do funcionário sua carteira de identidade, para comprovar o seu nome verdadeiro.

– Mas, isso é nome que alguém tenha?
– Mas eu tenho, infelizmente!
– E como é que você se arranja com um nome desses?
– E o que é que eu posso fazer? Matar o meu pai? Ele já está morto há muito tempo! Foi ele quem botou esse nome em mim, e eu, recém-nascido não podia protestar! Meu pai quis que seu filho tivesse um nome inédito no Brasil! E me arranjou esse que só me dá encrenca. Já fui até parar na delegacia por ter esbofeteado uma moça que fez chacota do meu nome. Já apanhei e bati por causa do nome. Não passa um só dia em que não tenha de explicar essa maldita herança que meu pai me deixou. Mas também é tanta praga que eu rogo para ele, que até o seu esqueleto deve dançar no caixão!

Logo atrás do infortunado, um homem “gordo às pampas” ria e falava:

– Isso não é nada! Podia ser pior!

Mas foi logo fulminado com o olhar de “poucos amigos” do proprietário do nome e até a “autoridade” do guichê se pronunciou:

– Cavalheiro, o assunto não lhe diz respeito. Cale-se!

Depois do atendimento ao único dono de tal nome no Brasil, que por sinal tinha de voltar, pois, como sempre, faltava um documento para satisfazer o Instituto, lá se foi ele embora todo chateado.

Murmurou entredentes o funcionário: “Cada nome que me aparece neste guichê!”

– O próximo. Nome?
– Paquiderme Junqueira.

Fonte:
PROTTI, Roberto. O embrulho inédito. Osasco, SP: Novo Século, 2004. ps.75