quinta-feira, 8 de maio de 2008

Educação (Características das Escolas)

Introdução

Nas últimas décadas tem-se debatido, em muitos países do mundo inteiro, duas grandes questões:

1- Quais são as características de escolas eficazes?

2- De que forma se pode aumentar a eficácia das escolas menos eficazes?

A primeira questão é importante para se saber o que devemos implementar nas escolas se queremos que mais alunos aprendam mais.

Mas, respondida esta questão, a segunda mais importante é: quais são as medidas a serem tomadas, dentro da escola e no exterior, para que a implementação se torne um êxito? As respostas a estas perguntas são extremamente significativas para todas as partes envolvidas nos esforços de aperfeiçoamento da qualidade do ensino.

Neste trabalho, vamos oferecer uma descrição concisa da situação atual.

Definição de Escola

Termo usado para designar qualquer estabelecimento de ensino, não importando seu nível ou categoria. Quando não se específica o sentido da palavra, significa escola primária.

A generalização da escola de nível elementar é uma conquista do século XX. Nela, o ensino é gratuito e compulsório até os 14 ou 15 anos de idade. Diversos países consagram tais princípios em suas constituições. A organização da escola sofre, em geral, os efeitos das diferenças raciais existentes, muitas vezes, dentro de uma mesma nação. Também as diferenças de classes determinam a existência de tipos de escolas distintos. É o que acontece, principalmente, com as escolas de nível médio e superior, cuja freqüência, na maioria dos países, constitui privilégio das classes dominantes. A diversidade de localização da escola rural, por exemplo, deve seguir orientação diversa da adotada por um estabelecimento educacional urbano.

A maior parte das escolas primárias pertence ao Estado; mas instituições particulares ou de natureza religiosa e filantrópica também ministram o ensino nesse tipo de estabelecimento, ainda que em menor grau.

Escolas ao Ar Livre: Fundadas no início do século, em alguns países, com o objetivo de auxiliar na recuperação de crianças enfraquecidas. Proporcionam instrução, assistência médica, dieta racional, repouso e trabalho dosados, banhos de sol, etc.. Hoje já existem escolas de ar condicionado, mantidas a temperatura constante, especial para crianças predispostas à tuberculose ou raquíticas.

Escolas Correcionais: Criadas com o fim de reajustar os menores delinqüentes, evoluíram de meros cárceres para instituições em que se procura orientar e recuperar o menor. As melhores escolas desse tipo são as que se localizam no campo, em meio a um ambiente de liberdade vigiada. Ainda existem, entretanto, as escolas de tipo cárcere, que são verdadeiras escolas de crime, onde os jovens delinqüentes adquirem novos vícios, ao invés de corrigir-se. Modernamente, sabe-se que é preciso considerar o menor delinqüente como um enfermo que necessita de tratamento físico, psicológico e pedagógico apropriado.

Escolas Populares Superiores: Fundadas na Dinamarca, em meados do século XIX, pelo bispo N.F.S. Grundtvig e o educador Krister Kold, com o objetivo de “ensinar os jovens a amar a Deus, a seus semelhantes e a seus pais”, exerceram grande influência na elevação do nível cultural do povo. São internatos para jovens de ambos os sexos e funcionam anualmente em períodos de três a cinco meses, na época em que os camponeses estão menos ocupados com suas tarefas agrícolas. Além de disciplinas que ajudem a resolver os problemas econômicos das pequenas granjas, são lecionadas também outras de cultura geral. Estas escolas têm dado grande impulso ao movimento cooperativista da Dinamarca.

Escolas Vocacionais: Essa expressão, usada a princípio nos países saxões, designa na América Latina dois tipos de escolas: as que procuram descobrir as aptidões dos alunos e as escolas profissionais ou técnicas em que as vocações dos alunos já estão definidas. Nas primeiras, os alunos estudam várias disciplinas a fim de escolher aquelas que estejam de acordo com as suas tendências. Nas segundas, são treinados em diversas técnicas, visando à especialização. Algumas empresas industriais mantém as suas expensas escolas vocacionais para seus aprendizes.

Escolas Técnicas Industriais: O progresso da indústria determinou o desenvolvimento desses estabelecimentos de ensino, destinados a preparar operários especializados e técnicos para os diversos ramos das atividades industriais. Apareceram na Europa nas primeiras décadas do século XIX e em meados desse já existiam em quase todos os países do Ocidente. De acordo com a especialização, seu ensino se equipara ao de nível primário, secundário, ou superior. É grande a variedade dos seus programas, uma vez que abrange todas as manifestações de técnica, desde os trabalhos domésticos até à construção de motores e montagem de complicados aparelhos.

Escolas Infantis e Escola Ativa-Direta: Surgiram no princípio deste século, para atender à necessidade de educar e cuidar das crianças de 2 a 7 anos, filhos de pais que passavam o dia trabalhando nas fábricas. Limitavam-se inicialmente a tomar conta das crianças, como ocorria na Inglaterra, quando foram fundadas em 1900. Nos EUA, as primeiras nursery school que surgiram eram destinadas a filhos de pais ricos, a maioria filhos únicos que necessitavam da companhia de outras crianças para melhor se desenvolver e da orientação de professores especializados. Muitas dessas instituições eram patrocinadas também pelas escolas normais e universidades, como centro de estudos experimentais psicopedagógicos. Vários acontecimentos históricos, tais como as duas guerras mundiais e a crise econômica de 1929, determinaram maior desenvolvimento desses centros. Só no ano de 1933, nos EUA, foram fundados 3000 centros infantis públicos para abrigar os filhos de pais pobres. Proporcionavam gratuitamente alimentação, instrução e divertimento sadios às crianças.

Na América Latina, os trabalhos pedagógicos de Maria Montessori trouxeram valiosa contribuição a esse tipo de estabelecimento. Salientando a importância dos primeiros anos na formação integral do homem, Montessori demonstrou que os centros infantis não eram apenas caprichos de pessoas ricas ou obras de caráter assistencial. Mesmo tendo sido comprovada a sua grande importância, a escola infantil ou jardim de infância ainda não faz parte de nenhum sistema público e gratuito. Existem em maior número na França, sob a denominação de escolas maternais.

Muitos pedagogos rejeitam a denominação de “escola” para essas instituições, pois o termo pressupõe aprendizagem metódica, o que não representa o objetivo dos centro infantis, que visam a auxiliar o desenvolvimento harmonioso da criança, mas de forma natural e espontânea. Os princípios por que se regem são os mesmos da escola nova: (a) atmosfera de liberdade vigiada; (b) atividades variadas escolhidas pelo próprio aluno, que deve ser auxiliado, se necessário, na sua execução; (c) em vez de ensino verbalista, ensino pelo método ativo, “aprender fazendo”; (d) substituição dos castigos pelos conselhos e pelo exemplo (e) respeito às peculiaridades de cada criança. Podem-se resumir os objetivos das escolas infantis no seguinte: proporcionar às crianças uma vida física e mental saudável, levá-las a adquirir confiança em si mesmas e nos que as rodeiam, estimular sua iniciativa e capacidade criadora, ensinar-lhes a viver com outras pessoas e criar hábitos e aptidões que auxiliem seu desenvolvimento.

Escolas-Jardins: Uma das experiências mais importantes no âmbito da educação das crianças é, sem dúvida, a escola-jardim, concebida por Froebel, com o objetivo de ensinar a criança através do contato com as coisas da natureza. Ao cultivar as plantas podem observar o ciclo vital do crescimento e aprender geografia ao tomar conhecimento dos métodos de cultivo e do comércio dos produtos. Acompanhado as diversas fases do crescimento, verificam a influência das condições atmosféricas sobre as plantas. Esse método faz com que a criança adquira o hábito da observação.

Escolas no Brasil: O conceito tradicional de escola como instituição encarregada apenas da transmissão de conhecimentos está há muito ultrapassado. As rápidas e incessantes transformações técnico-científica e a complexidade da realidade socio-econômica exigem contínuo ajustamento dos objetivos e métodos de atuação da escola.

É dentro dessa mentalidade e atendendo às necessidades dela decorrentes que se desenvolveram a supervisão pedagógica e a orientação educacional. A primeira, com o objetivo de planejar e adequar as metodologias aos objetivos, suprir as necessidades do corpo docente, rever, avaliar, prover a reciclagem, etc.. A segunda, como responsável pela assistência ao educando no seu desenvolvimento integral, sua aprendizagem, seu relacionamento e seu autoconhecimento, visando a proporcionar-lhes as condições necessárias a um desenvolvimento harmonioso que lhe permita decisões conscientes, tanto na vida em geral como no campo profissional. Atuam simultaneamente e coordenadamente no âmbito da escola, a supervisão pedagógica visando principalmente ao corpo docente, à organização e instâncias da escola, a orientação educacional atuando junto ao aluno, e sua família, mas também junto as fatores pedagógicos e administrativos da escola.

De acordo com a legislação de ensino em vigor no Brasil, o ensino é obrigatório dos 7 aos 17 anos de idade. O ensino de 1º grau abrange oito fases com sondagem, nas séries finais, de aptidões e iniciação para o trabalho. O ensino de 2º grau tem caráter profissionalizante, incluindo as escolas normais, que passam a ser como quaisquer outras escolas de 2º grau, oferecendo mais de uma habitação, uma das quais é a de professores para as quatro primeiras fases do 1º grau e para o 2º grau será feita em nível superior.

O ensino superior é acessível a todos que tenham completado a escola de primeiro e segundo graus ou curso supletivo correspondente, e que sejam classificados nos exames seletivos vestibulares, necessários devido ao pequeno número de lugares disponíveis nos estabelecimentos de ensino superior em relação à massa de candidatos. Polêmicos em sua própria natureza, a estrutura e conteúdo dos vestibulares vêm sendo modificados, tendendo a uma unificação de âmbito nacional.

As Características de Escolas Eficazes

Nume estudo recente, Reynolds e outros autores, (1996:36-56) apresentam uma síntese das características de escolas eficazes.

Escolas eficazes são escolas que conseguem motivar (quase) a totalidade dos seus alunos a aprender, tanto habilidades básicas, quanto habilidades metacognitivas.

A análise de um número considerável de pesquisas sobre eficiência das escolas resulta no seguinte quadro.

É importante que o aluno queira dedicar o maior tempo que lhe seja possível a atividades de aprendizagem, fazendo uso intensivo das oportunidades de ensino oferecidas. Isto evidencia que, no final das contas, o aluno é o fator determinante no processo. Como diz o provérbio americano: “You can bring the horse to the water, but you cannot make it drink”(É possível levar o cavalo à água, mas não se pode obrigá-lo a beber.).

Naturalmente, isto não altera o fato de que é necessário dar aos alunos a chance de despenderem tempo com os estudos. Um currículo sobrecarregado torna impossível a aprendizagem.

Outro fato importante é que é necessário fornecer aos alunos oportunidades concretas de aprenderem: materiais de estudo e livros atraentes e convidativos, por exemplo. O que nos leva automaticamente aos responsáveis por ofertar estas oportunidades de aprendizagem.

Em primeiro lugar, os professores nas salas de aula.

Importantes elementos do currículo são:
• Objetivo e conteúdo das lições claros e explícitos;
• Estrutura e transparência do conteúdo;
• O emprego de planos de aulas;
• A avaliação sistemática dos resultados do aluno, oferecendo o “feedback” positivo e instrução.

Além disso, a forma de agrupamentos dos alunos é importante. Ë preciso lembrar a eficácia dos grupos de trabalho depende, em muito, dos materiais diversificados de que o professores dispõe, da maneira como é feita a avaliação do modo como é dado o feedback e da forma como as informações suplementares são oferecidas.

Porém, o currículo e as formas de agrupamentos, em si mesmos, representam apenas condições. O fator mais importante é o próprio professor, o ser humano à frente da classe.

Em primeiro lugar ele (ou ela) pode influenciar o currículo e as formas de agrupamentos, embora esta possibilidade dependa do sistema de ensino, do país e da escola em questão. Nem todos os currículos realmente envolvem desde o início os seus professores em mudanças educacionais concretas.

E em muitos casos, o grande número de alunos por sala limita as variações nas formas de agrupamento.

No entanto, só o professor pode proporcionar:
• uma organização calma e ordenada da classe;
• uma forma bem planejada de acoplar o trabalho da classe às lições de casa;
• formulação precisa de objetivos, com ênfase em número limitado de metas, com muita atenção para as habilidades básicas e para a aprendizagem cognitiva;
• estruturação dos conteúdos curriculares, baseando-se nos conhecimentos que o aluno já possui;
• apresentações breves e compreensíveis, capazes de cativar a atenção do aluno;
• ênfase especial às perguntas dos alunos;
• após a apresentação de novo conteúdo, introduzir logo exercícios para que a matéria passe a ser praticada e integrada;
• muita atenção para a avaliação, feedback positivo, e instrução adiciona.

O papel do professor é essencial em qualquer forma de ensino onde se pretende que mais alunos aprendam mais. Porém, todas as pesquisas demonstram que, sozinho, o professor não conseguirá este objetivo. Ele precisa da escola.

Na escola são criadas as condições didáticas e organizacionais que permitem um bom desempenho do professor em sala de aula, com seus alunos.

São requisitos educacionais importante:
• consenso entre os membros do corpo docente e a direção da escola em termos de método didáticos, de material de ensino, de formas de agrupamentos, e de atitudes dos professores.;
• um sistema de avaliação dos resultados do aluno que facilite o acompanhamento do aluno durante todo o curso, evitando problemas ou corrigindo-os numa fase inicial.

São requisitos organizacionais importantes:
• uma cultura e uma filosofia na escola, voltadas à melhoria da eficácia do ensino, entre outras medidas, através de coordenação, supervisão (liderança) e profissionalismo;
• um planejamento sistemático e bem concebido das atividades de aprendizagem, combatendo as faltas de alunos e professores;
• muita atenção para estimular um ambiente calmo e ordenado na escola;
• consenso entre a direção e os professores no tocante à “missão” (função) da escola;
• existência, na escola, de um plano de trabalho bem definido;
• acordo acerca da progressão do aluno através do currículo, com atenção especial para a promoção de uma série para outra.

É preciso prestar muita atenção à coerência entre os vários componentes da equipe escolar. Todo o pessoal (tanto a direção como os docentes) deve estar disposto a assumir a responsabilidade pela coerência da escola.

Isto significa que a filosofia da escola não deve ser modificada muito freqüentemente. Os professores e a direção devem ter tempo para se familiarizar com a mudança. Esta realidade colide às vezes com as idéias e os interesses de determinadas partes interessadas no contexto da escola: as autoridades, os Conselhos de Educação, os pais, os empregadores. Outra conseqüência é que os diretores das escolas desempenham um papel muito importante no processo de inovação educacional.

Uma escola (e com certeza uma escola pública) nunca se encontra isolada no bairro, cidade ou região. A escola tem laços com os Conselhos de Educação, com as autoridades, com outras escolas, com empresas e instituições. Chamamos a isto o contexto da escola.

O contexto da escola pode contribuir para sua eficácia mediante;
• uma política da escola pode contribuir para sua eficácia mediante;
• um método sistemático de avaliar e de testar;
• formação e apoio aos docentes e à direção, visando a eficácia;
• financiamento das escolas com base nos resultados dos alunos (levando em conta os antecedentes e o meio social dos alunos).
Além disso, é o contexto que deve dar as diretrizes para lidar com o tempo necessário ao ensino.

E, por fim, o contexto pode promover a eficácia, proporcionando um currículo nacional e recursos a ele associados.

Resumindo, podemos dizer que os professores dispõem de muitas possibilidades para estimular os alunos para que aprendam mais, desde que a escola crie, de forma consistente, as condições didáticas e organizacionais necessárias. Além disso, o contexto pode contribuir, formulando requisitos recursos.

Aumentar a Eficácia das Escolas

Naturalmente, todos querem que as escolas sejam eficazes. Não existe coisa mais triste do que constatar que alunos, depois de anos de escolaridade, ou não aprenderam nada, ou aprenderam coisas erradas. E, em sua maioria, os docentes ficam muito aborrecidos quando, de repente, o aluno nunca mais volta à escola; o professor, cada desistência é uma decepção.

Não obstante, a prática mostra que não é nada fácil concretizar efetivamente uma educação eficaz em grande número de escolas.

Aperfeiçoar escolas é um processo complexo, que envolve muitos agentes que, em diferentes níveis (aula, escola, Conselhos, autoridades) devem colaborar uns com os outros. Estratégias em grande escala, nas quais as escolas e os professores são considerados exclusivamente como agentes executores de uma política com a qual não se identificam, têm acabado em fracasso.

De investigações efetuadas acerca dos êxitos da inovação educacional podemos aprender o seguinte (Van den Berg & Mulder, 1996; Little, 1996; Lagerwey, 1994).
1- Qualquer mensagem de mudança (sobretudo as governamentais) é interpretada por cada pessoa envolvida (respectivamente, professor, diretor, pais, alunos) subjetivamente e à sua própria maneira. Por isso é preciso comunicar claramente, de forma inequívoca e com muitos exemplos concretos. Mas que também fique evidente o que cada um ganhará com a mudança e o que cada um perderá. E especialmente para os professores é importante que tenham tempo suficiente para poder experimental e desfrutar das novidades.

2- Projetos (nacionais) de inovação em grande escala precisam de liderança muito específica e direta em nível da escola para, visando os novos objetivos, conseguir transformar as atitudes estabelecidas e fixas. É preciso organizar discussões profundas sobre os conceitos educacionais subjacentes existentes no corpo docente, para poderem compreender o que realmente significará a inovação. Aproveite todas as qualidades de liderança existentes na escola para estabelecer uma base sólida de apoio.

3- Tente despertar o interesse de todos os docentes para a questão da qualidade da docência. Trata-se do processo primário entre o professor e o aluno, e nada mais. Estimule os professores a aprender, com as qualidades uns dos outros. Que juntos descubram quais são os critérios para um ensino de qualidade na escola. Assegure que a escola se transforme em uma oficina de trabalho.

4- Abordagens estáticas e lineares da inovação educacional são menos viáveis do que abordagens dinâmicas e interativas, se bem que, para os responsáveis pela política educacional, as últimas tenham talvez a desvantagem de serem menos previsíveis. Por isso é melhor limitar os projetos nacionais, formulando-os num quadro de diretrizes globais, dentro do qual as escolas formulam os projetos a curto prazo. Proporcione aos indivíduos e grupos o espaço para experiências. Proporcione igualdade formação e apoio, com realce especial ao problem solving, e menor ênfase à transmissão de conhecimentos. Concentre-se na aprendizagem crítica-reflexiva de professores e diretores.

5- É importante saber que o êxito de uma inovação de grande escala em nível nacional nada mais é que a soma de projetos em pequena escala, de escolas específicas, que alcançaram sucesso.

Conclusão

Podemos afirmar como conclusão que os projetos em grande escala em nível nacional podem contribuir para a inovação educacional, desde que criem um ambiente favorável para os projetos ligados a certo tipo de escola. Mas podem também sufocar qualquer eventual inovação, se forçarem a escola a seguir um rumo de maneira rígida, linear e diretiva. Em projetos de inovação bem sucedidos, são oferecidas aos professores oportunidades de aprender de forma crítica-reflexiva. E para finalizar: a presença de uma liderança estimulante na escola é fundamental.

Fonte:
Biblioteca Eletrônica. Magister Tecnologias. Bandeirantes Industria Gráfica. (CD ROM)



Lázaro Curvêlo Chaves (1808 – Laurentino Gomes [uma resenha])

"Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil"

Depois de uma exaustiva pesquisa em fontes as mais diversas durante mais de 10 anos, Laurentino Gomes nos brinda com esta narração definitiva sobre a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil, sob a escolta da Marinha Britânica.

Antecedentes

Portugal – uma das nações mais atrasadas da Europa em inícios do século XIX – encontrava-se freqüentemente diante da possibilidade concreta, estimulada e aconselhada por muitos a ter a sede de seu governo transferida para o Brasil, colônia da qual se tornara totalmente dependente. A cada crise no Continente Europeu a idéia se renova, mas somente a partir dos ecos da Revolução Francesa, mais particularmente em seu período Napoleônico, a idéia ganhou força e premência. Com maior vigor a partir de 1801 a idéia freqüentemente era cogitada. No entanto o Príncipe Regente D. João era fraco demais – inclusive fisicamente – medroso demais e indeciso demais para adotar medida de tão graves monta e repercussão.

Os monarcas "perdem a cabeça"

O Rei Jorge III, da Inglaterra, tinha ataques constantes de demência, amplamente relatados: trazia ao colo uma almofada que informava ser uma criança; criou uma "Nova Teoria da Santíssima Trindade" incluindo a si mesmo e a um criado, além de Deus; passava por vezes 3 dias sem dormir, tempo durante o qual passava a maior parte do tempo falando sem parar – e poucos compreendiam bem o que exatamente estava ele a dizer.

Em Portugal, D. Maria I, a Rainha Mãe, informava ver o fantasma de seu pai com freqüência, ensangüentado e clamando vingança; seus gritos – talvez a palavra "urros" expresse melhor o volume em que se expressava durante os ataques de demência – eram tão lancinantes que ela foi recolhida a um convento, declarada demente e seu segundo filho, despreparado para assumir o trono, D. João, foi nomeado Príncipe Regente.

Na França e em outros pontos da Europa reis e rainhas eram decapitados. Como bem o enfatiza Laurentino Gomes, "era um tempo em que os monarcas, literal e metaforicamente, perdiam a cabeça"

Decisão às pressas

Somente quando pressionado pelo avanço das tropas napoleônicas do General Junot, em fins de 1807 e pressionado pela Inglaterra, a decisão foi tomada de maneira tão apressada e atabalhoada que muitos bens dos fugitivos para o Brasil ficaram empilhados no cais: bagagem, livros da Real Biblioteca, prataria saqueada de igrejas, etc. Além disso, as embarcações vieram todas apinhadas de gente, sem os cuidados técnicos necessários a uma tão longa travessia (levaria cerca de 3 meses para atravessar o Atlântico nas rústicas naus da época): pelo menos dois navios sequer conseguiram zarpar e o suprimento dos que zarparam no dia 29 de novembro de 1807 mal eram suficientes para 2 ou 3 semanas. Foi sem dúvida uma fuga apressada e decidida às pressas e, sem a escolta britânica a prover quase tudo o que faltava, a viagem estaria fadada a uma tragédia.

Travessia conturbada e escala em Salvador

Enfrentando as saunas em que os navios selados da época se transformavam nos Trópicos, com água e refeições racionadas, condições sanitárias precaríssimas, a Corte e seus inúmeros lacaios e bajuladores – de ministros a clérigos e oportunistas com suas numerosas famílias – penou 3 meses de céu e mar. O escorbuto (falta de vitamina C) e outras moléstias ceifaram vidas, uma infestação de piolhos obrigou a todos a raspar a cabeça, uma tormenta provocou um desvio de rota que a muito custo foi retificada – sempre com o apoio logístico da Marinha Britânica – e finalmente, a 22 de janeiro de 1808 os navios aportaram em Salvador.

Um fato curioso é que a princesa Carlota Joaquina, suas filhas e damas da corte desembarcaram com uns turbantes rústicos enrolados na cabeça para disfarçar a calva a que foram reduzidas pela infestação de piolhos. As damas da sociedade soteropolitana consideraram ser aquela uma moda européia e aderiram com tal entusiasmo que até hoje as Baianas usam a indumentária...

A escala em Salvador proporcionou momentos de repouso após viagem tão longa e penosa e, aconselhado pelos seus ministros, D. João decidiu receber autoridades do Norte-Nordeste Brasileiro para as esquisitas cerimônias de "beijão-mão": filas de fidalgos esperando a vez para oscular as extremidades dos braços do Príncipe Regente – uma constante na vida de D. João, que exigia estas demonstrações de fidelidade e submissão com regularidade enquanto governou. Era preciso fortalecer os vínculos entre as províncias do Brasil colônia que, aos poucos, viria a se transformar numa nação, sede do governo português no exílio.

A chegada ao Rio de Janeiro

No dia 7 de março de 1808 a esquadra de D. João chega à Baía de Guanabara, mas o desembarque ocorre somente no dia seguinte. Os puxa-sacos que sempre cercam esse tipo de acontecimento no Brasil prepararam uma recepção retumbante, com muitos tiros de canhão, fogos de artifício e festas populares para saudar "a chegada do primeiro monarca Europeu a terras americanas".

Portugal foi saqueada pelos fugitivos de Napoleão antes de embarcar para o Brasil, mas mesmo assim os recursos eram insuficientes para sustentar uma das maiores cortes que qualquer monarca da época ousava manter em torno de si. Todos dependentes dos cofres governamentais e sequiosos de um enriquecimento rápido por aqui para uma volta a Portugal à primeira oportunidade.

Casas foram requisitadas pela coroa portuguesa que nelas colava cartazes com as iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente) que a irreverência carioca rapidamente entendeu como "Ponha-se na Rua!" Os impostos foram aumentados a níveis até então inusitados; nada comparável aos 40% que os brasileiros pagam hoje para os mensaleiros e sanguessugas e portadores de cartões corporativos de Lula da Silva, mas uma taxação severa para a época e, tal qual hoje, todos desconfiavam que os impostos não seriam empregados para o bem público e sim para o benefício privado dos dependentes do governo.

Medidas progressistas

Uma vez que a sede do governo português situava-se no Rio de Janeiro, foram necessárias algumas medidas – muitas das quais adrede acertadas com a Inglaterra pela "cortesia" da escolta – progressistas para a época, como a Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto Régio de 28 de janeiro de 2008. "Nações Amigas" eram basicamente Portugal e a Inglaterra. Pelo acordo acertado com antecedência, o Brasil seria o principal escoadouro do excedente comercial britânico e a Inglaterra contava com benefícios alfandegários ainda superiores aos dos portugueses. Em pouco tempo os cais brasileiros estavam atulhados de coisa absolutamente inúteis para nosso clima tropical: patins para gelo, aquecedores de colchões e outras bugigangas caríssimas que muitos acabavam empregando em outras finalidades – um viajante da época informa que percebeu uma maçaneta de uma casa modesta modelada a partir de um patim para gelo, por exemplo...

Foi necessário ainda criar um órgão para cunhar a moeda que circularia por aqui: o Banco do Brasil. Como foi criado na base do compadrio e muita corrupção, teve vida efêmera. Em 1820 teve seus cofres saqueados pela Família Real de volta para Portugal, faliu e acabou sendo liquidado em 1829. Somente em 1835, já no governo de D. Pedro II o Banco do Brasil foi recriado.

Hábitos esquisitos

Havia as esquisitíssimas e regulares cerimônias de beija-mão, acima relatadas.

D. João VI era gordo, flácido e devorador voraz de franguinhos que trazia fritos e desossados nos bolsos de seus uniformes sempre sujos e engordurados. Não conseguia caminhar a pé mais de alguns metros sem sentir extrema fadiga e era, na mais completa acepção do termo, um dos homens mais fracos que já governaram esta nação, mas, surpreendentemente, logrou ser o único a enganar Napoleão Bonaparte e realizou um governo medianamente satisfatório.

Uma vez encontrar-se já em situação de separação definitiva de corpos da princesa Carlota Joaquina, o Autor Tobias Monteiro, apontado por Gomes na obra hora em análise, informa que D. João mantinha relações homossexuais "de conveniência", particularmente com um de seus camareiros, Francisco Rufino de Souza Lobato: recebeu títulos, pensões portentosas e promoções sucessivas.

Numerosas salvas de canhão eram ordenadas a cada entrada de navio na Baía de Guanabara. Um estadunidense surpreso comenta o quanto os portugueses gostavam de gastar sua pólvora, a ponto de se ouvir o troar dos canhões à entrada da Baía ao longo de todos os dias.

Sem esgoto sanitário o lixo era invariavelmente jogado às ruas pelas janelas e, não raro, um passante recebia o "batismo" de dejetos humanos. Classes mais abastadas contavam com escravos encarregados de levar seus dejetos acumulados para despejar na Baía de Guanabara. Ficavam conhecidos como "carijós" pois quando o ácido de urina misturada com fezes caía sobre suas costas deixava em suas peles negras algumas manchas brancas.

Imprensa

Enquanto a Europa se encaminhava a passos largos para a ampliação dos Direitos da Pessoa Humana e do Cidadão, o Brasil recebia um dos mais atrasados representantes do Antigo Regime...

Como a oposição ao governo era um crime gravíssimo, o único jornal com alguns eivores críticos que, mais tarde, contudo, precisou ceder ao governo português, era o Correio Braziliense, que Hipólito da Costa editava em Londres.

Legado

Com todas as fraquezas, todo o medo e covardia, além de toda a corrupção que cercou a fuga da Família Real para o Brasil, devemos o princípio de nossa emancipação política (vulgarmente conhecida como "Independência") a este episódio, a esta travessia de 1808.

Através de brutais repressões e da concentração autocrática o Brasil – ex-colônia portuguesa – manteve sua integridade territorial, lingüística e, em alguns aspectos "cultural", ao contrário do Império Colonial Espanhol que se fragmentou em dezenas de Nações distintas.

Quando as cortes em Portugal, já livres de Napoleão Bonaparte e de seus "protetores" ingleses exigiram a volta da Família Real para o Continente além do juramento a uma constituição com alguns lustros de republicanismo, D. João VI – já então na posição de Monarca Português após o falecimento de D. Maria I, "a louca" – deixou o Brasil a cargo de seu filho D. Pedro com a recomendação de, em caso de revolta ou tentativas mais autonomizantes que o desejavam as cortes portuguesas, D. Pedro tomasse a coroa "antes que algum aventureiro o fizesse". Assim, o Brasil simplesmente passou de pai para filho sem grandes azedumes em 1822. Por incrível que pareça – se é que a palavra "incrível" pode se aplicar a alguma situação no Brasil – os únicos problemas armados envolvendo o episódio conhecido como "Independência", o 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro rompeu com as cortes portuguesas, foram de alguns portugueses e brasileiros nativos que se rebelaram contra a autonomia desejosos de continuar mamando nas tetas de Portugal. Estes foram repelidos, novamente, com a ajuda de mercenários ingleses contratados pois nossa Marinha estava ainda em projeto...

De mais a mais, como Portugal devia 2 milhões de libras esterlinas à Inglaterra, para reconhecer a autoridade de D. Pedro I sobre o Brasil a ex-metrópole exigiu o repasse da dívida para a nova Nação Brasileira, dando o pontapé inicial em nossa interminável dívida externa

Fonte:
http://www.culturabrasil.pro.br/1808-laurentino.htm

Goulart Gomes (100 livros recomendados... e alguns dispensáveis)

Há uma porção de listas de livros e antologias de “100 MELHORES LIVROS”: a da Revista Bravo, a da Folha de São Paulo, a de Alfredo Bosi, a do Clube do Livro da Noruega... Esta NÃO É mais uma delas. Acredito que, em se tratando de Literatura é, no mínimo, temeroso se falar em “MELHORES”. Prefiro falar em “PREFERIDOS”. Instigado pelo colega Denis, elaborei a minha lista. A lista dos meus 100 LIVROS PREFERIDOS, na literatura brasileira e estrangeira.

Claro que muitas faltas serão sentidas. Não procurei me basear no Cânone, mas exclusivamente naquilo que gostei de ler, ou seja: li, gostei e recomendo. É uma lista dinâmica, que será alterada à medida em que eu leia outros livros (espero viver o bastante para ler todos os clássicos que ainda não li!) e preferi destacar minha obra preferida de cada autor; poucos tiveram o privilégio de ter duas obras citadas.

As obras estão classificadas em três grupos e, em cada grupo, por ordem alfabética de título. Simplesmente espero que gostem (dos livros, não necessariamente da lista).

Aperfeiçoamento:
Após o título de cada obra estou acrescentando, entre parênteses, uma letra que identifica se o mesmo faz parte de alguma das célebres listas de “melhores”, de acordo com a seguinte legenda:
A = Alfredo Bosi, 2005
B = Revista Bravo, 2006
C = Clube do Livro da Noruega, 2002
F = Folha de São Paulo, 1999
I = Ítalo Moriconi, no livro Para ler como um escritor, de Francine Prose
L = Revista Logos, Feira de Frankfurt, 2000
M = 1001 livros para ler antes de morrer, org. por Peter Boxall, 2007
N = Prêmio Nobel de Literatura (ao autor)
P = Para ler como um escritor, Francine Prose
S = 101 livros que mudaram a humanidade, Superinteressante, 2005
T = Os 100 melhores romances da língua inglesa 1923-2005, Revista Time

Para um primeiro contato com a Literatura Brasileira, recomendo as coletâneas: Os cem melhores contos brasileiros, Flávio Moreira da Costa (org.), As cem melhores crônicas brasileiras, Joaquim Ferreira dos Santos (org.) e 100 anos de poesia, de Claufe Rodrigues e Alexandra Maia (org.). Para uma visão geral do romance universal: 1001 livros para ler antes de morrer, Peter Boxall (org.).

Incluídas as listas de livros recomendados no livro Para Ler Como um Escritor, elaboradas por Francine Prose (autora) e Ítalo Moriconi (pós-faciador)

NÃO VÁ MORRER SEM LER:

1. A vida como ela é, Nelson Rodrigues, contos, Brasil (B)
2. Cem anos de solidão, Gabriel García Marquez, romance, Colômbia (C,L,F,N,M,P)
3. Crime e Castigo, Dostoiévski, romance, Rússia (C,M,S,P)
4. Dom Casmurro, Machado de Assis, romance, Brasil (B,A,M,S,I)
5. Dom Quixote, Cervantes, romance, Espanha (C,M,S,P)
6. Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa, romance, Brasil (C,B,A,F,M,S,I)
7. Hamlet, Shakespeare, teatro, Grã-Bretanha (C,S)
8. Obra poética, João Cabral de Melo Neto, Brasil (B,A)
9. Obra poética, Manoel de Barros, Brasil
10. 1984, George Orwell, romance, EUA (C,L,F,M,S,T)

LEIA ANTES DE MORRER:

11. A Divina Comédia, Dante Alighieri, poesia, Itália (C,S)
12. A Metamorfose, Kafka, romance, Rep. Checa (C,M,P)
13. A Náusea, Sartre, romance, França (L,F,N,M)
14. A Odisséia, Homero, poesia, Grécia (C,S)
15. A revolução dos bichos, George Orwell, romance, EUA (F,M,T)
16. A terra de Deus, Taylor Caldwell, romance, EUA
17. Amor nos tempos do cólera, O; Gabriel García Marquez, romance, Colômbia (C,N,M)
18. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, romance, Grã-Bretanha (L,F,M)
19. Brás, Bexiga e Barrafunda, Antônio de Alcântara Machado, contos, Brasil (B,A)
20. Carta a um jovem poeta, Rainer-Maria Rilke, epistolário, Rep. Checa
21. Cascalho, Herberto Sales, romance, Brasil (quando o filme for lançado, todo mundo vai querer ler!)
22. Eu e outras poesias, Augusto dos Anjos, poesia, Brasil (B,A)
23. Eu, robô, Isaac Asimov, contos, Rússia (M)
24. Ficções, Jorge Luis Borges, contos, Argentina (C)
25. Fogo morto, José Lins do Rego, romance, Brasil (B,A,I)
26. Fome, Knut Hamsun, romance, Noruega (C,N,M)
27. Germinal, Émile Zola, romance, França (M)
28. Horizonte perdido, James Hilton, romance, Grã-Bretanha
29. Macunaíma, Mário de Andrade, romance, Brasil (B,A,F,M,S,I)
30. Moby Dick, Herman Melville, romance, EUA (C,M,P)
31. Nada de novo no front, Erich Remarque, romance, Alemanha (L,M)
32. Narciso e Goldmund, Hermann Hesse, romance, Alemanha (N)
33. O cavaleiro inexistente, Ítalo Calvino, romance, Cuba/Itália (M)
34. O coronel e o lobisomem, José Cândido de Carvalho, romance, Brasil (B)
35. O cortiço, Aluísio Azevedo, romance, Brasil (B,A,M,S,I)
36. O deserto dos tártaros, Dino Buzzati, romance, Itália (F,M)
37. O estrangeiro, Albert Camus, romance, Argélia (C,L,F,N,M,P)
38. O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, romance, França (M)
39. O perfume, Patrick Suskind, romance, Alemanha (M)
40. Obra poética, Castro Alves, Brasil (B,A)
41. Obra poética, Fernando Pessoa, Portugal
42. Orlando, Virginia Woolf, romance, Irlanda (F,M,S)
43. Os miseráveis, Victor Hugo, romance, França (M)
44. Os ratos, Dyonélio Machado, romance, Brasil (B,A)
45. Otelo, William Shakespeare, teatro, Grã-Bretanha (C)
46. Sagarana, Guimarães Rosa, contos, Brasil (B,A,I)
47. São Bernardo, Graciliano Ramos, romance, Brasil (B,A,I)
48. Shogun, James Clavell, romance, EUA
49. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, Clarice Lispector, romance, Brasil
50. Vidas Secas, Graciliano Ramos, romance, Brasil (B,A,S)

SE NÃO MORRER ANTES, LEIA ESTES, TAMBÉM:

51. A Eneida, Virgílio, poesia, Grécia (C,S)
52. A hora da estrela, Clarice Lispector, romance, Brasil (M,S)
53. A Ilíada, Homero, poesia, Grécia (C,S)
54. A imortalidade, Milan Kundera, romance, Rep. Checa
55. A vida e as extraordinárias aventuras do soldado Ivan Tchônkin, Vladimir Voinóvitch, romance, Rússia
56. Alice nos País das Maravilhas, Lewis Carroll, romance, Grã-Bretanha (M)
57. As aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain, romance, EUA
58. As flores do mal, Charles Baudelaire, poesia, França (S)
59. Auto da compadecida, Ariano Suassuna, teatro, Brasil (F)
60. Canto Geral, Pablo Neruda, poesia, Chile (N)
61. Decameron, Boccaccio, contos, Itália (C,S)
62. Deus lhe pague, Joracy Camargo, teatro, Brasil
63. Farda, fardão, camisola de dormir, Jorge Amado, romance, Brasil
64. Fausto, Goethe, poesia, Alemanha (B)
65. Folhas de relva, Walt Whitman, poesia, EUA (C,S)
66. Frankenstein, Mary Shelley, romance, Grã-Bretanha (M,S)
67. Histórias extraordinárias, Edgar Allan Poe, contos, EUA (C,M)
68. Jubiabá, Jorge Amado, romance, Brasil (A)
69. Longa jornada noite adentro, Eugene O’Neill, teatro, EUA (L,N)
70. Lucíola, José de Alencar, romance, Brasil (B)
71. O ateneu, Raul Pompéia, romance, Brasil (B,A,I)
72. O cão dos Baskervilles, Conan Doyle, novela, Grã-Bretanha (M)
73. O feijão e o sonho, Orígenes Lessa, romance, Brasil
74. O fim da infância, Arthur Clarke, romance, EUA
75. O mágico, Summerset Maugham, romance, França
76. O mez da grippe, Valêncio Xavier, romance (?), Brasil
77. O mulo, Darcy Ribeiro, romance, Brasil
78. O nome da rosa, Umberto Eco, romance, Itália (L,M)
79. O pagador de promessas, Dias Gomes, teatro, Brasil (B)
80. O quinze, Rachel de Queiroz, romance, Brasil (B,A,S)
81. O reduto, Wilson Lins, romance, Brasil
82. O rei da vela, Oswald de Andrade, teatro, Brasil
83. O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, romance, Irlanda (M)
84. Obra poética, Bashô, Japão
85. Obra poética, Cecília Meireles, Brasil (B,A)
86. Obra poética, Cruz e Sousa, Brasil (B,A)
87. Obra poética, E. E. Cummings, EUA
88. Obra poética, Ferreira Gullar, Brasil (B)
89. Obra poética, Gregório de Mattos, Brasil (B,A)
90. Obra poética, Vinicius de Moraes, Brasil (B,A)
91. Os cavalinhos de platiplanto, José J. Veiga, contos, Brasil (B,I)
92. Os lusíadas, Camões, poesia, Portugal (M)
93. Os sertões, Euclides da Cunha, jornalismo literário, Brasil (B,A,M,I)
94. Robinson Crusoe, Daniel Defoe, romance, Grã-Bretanha (M)
95. Rubaiyat, Omar Khayyam, poesia, Irã
96. Satiricon, Petrônio, romance, Itália (Roma)
97 Seis personagens à procura de um autor, Luigi Pirandello, teatro, Itália
98. Sítio do Pica-pau Amarelo, Monteiro Lobato, contos, Brasil (S)
99. Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto, romance, Brasil (B,A,I)
100. Zorba, o grego, Nikos Kazantzakis, romance, Grécia (C,M)

CEDERAM A VEZ (livros que saíram da lista dos 100):

1. Um homem demolido, Alfred Bestler, romance, EUA

Fonte:
Goulart Gomes
http://www.goulartgomes.com/

Poesias Soltas ao Vento II

Maria Petronilho
(Como flor à primavera)

Num círculo se fundem
o mar e o céu
num círculo me vejo eu
pequenina no imenso
derivando

nas gotas de orvalho
orlando os gomos fechados
singeleza que conserva
no cerne a folha e a pétala
esperando a primavera
Sol quente ao raiar da aurora
estendo meus braços na espera
de um amor que me transcenda
em mim se abra e eu contenha

Como a flor à primavera!
*****
Maria Thereza Neves
(Alamedas)

nesta orla de verdes em verdes
no silêncio dos passos-pensamentos
sozinha volto a caminhar na placidez do orvalho
na manhã que em mim desponta
no vício das cores do eterno olhar
ecos que minha alma entoa
na grama que rasga as pedras
na chuva que lava a terra
alamedas do meu sentir
nos sentidos que respira a memória
crio as minhas telas
sinfonias em aquarelas
poemas
gravados nas entranhas
que voam como pássaros
ao espaço como as folhas
livres das minhas mãos
regando outras emoções
como flechas espalhadas pelo chão .
******
Marcial Salaverry
(Chamas que chamam)

Assim são as chamas...
Pela água chamam...
E todos a Deus clamam,
e delas reclamam...
Uma floresta em chamas,
ateadas por alguém,
arde sem destino...
Um coração em chamas,
ateadas pelo amor,
arde em desatino...
***
Marcial Salaverry
(O sonho da folha)

E a folha caindo,
viu assim se esvaindo
seu sonho de ser flor,
e com sua cor,
o mundo embelezar...

Fonte:
Varandas das Estrelícias -
http://www.joaquimevonio.com
Colaboração de Douglas Lara. In
www.sorocaba.com.br/acontece

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Concurso Nacional de Poesias da ALIUBI

ALIUBI - ASSOCIAÇÃO DOS LITERATOS DE UBIRATÃ
CNPJ: 80.881.592/0001-37
Rua Duque de Caxias 657 -
Cx. Postal 24 - Centro
CEP: 85.440-000 - Ubiratã - Paraná
E-mail: aliubinet@ig.com.br - Site: www.aliubi.hpg.com.br
Fones: (44) 3543-5939
Cel: (44) 99964-8380


4º. PRÊMIO “ DINA DI MARTINI” DE POESIAS - CONCURSO NACIONAL DE POESIAS

Organização e Promoção: Associação dos Literatos de Ubiratã - ALIUBI
Apoio Cultural: Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Colaboração: Divisão Municipal de Cultura

REGULAMENTO:
A Associação dos Literatos de Ubiratã - ALIUBI, institui o seu quarto concurso de Poesia, intitulado “Prêmio DINA DI MARTINI”, com a finalidade de incentivar as produções literárias na área da poesia, homenageando a a nossa inesquecível poetisa ubiratanense Dina Di Lurdes Martini.

DO AUTOR:
1- O concurso será aberto a qualquer pessoa residente no Brasil.

2- Cada autor poderá participar com uma (1) poesia inédita, com no máximo quarenta (40) linhas média, digitadas em seis (6) vias de um só lado.

3- O tema do concurso é livre.

4- A autoria deverá ser exclusivamente individual, não será aceita inscrição de co-autores.

DA INSCRIÇÃO:
1- As inscrições estarão abertas até o dia 15/06/2008, sendo que a remessa dos originais à ALIUBI constituirá, por si só, em inscrição no concurso. 2- As poesias deverão ser enviadas para: Associação dos Literatos de Ubiratã, 4º. Prêmio Dina Di Martini de Poesias, Caixa Postal 24, Cep: 85.440-000 - Ubiratã-PR.

Obs. Anexar cópia do Rg e CPF junto à Inscrição.

Obs: quando menor, anexar Rg e CPF do responsável.

DOS ORIGINAIS:
1- Nos originais deverão figurar apenas o titulo da poesia.

DA SELEÇÃO:
1- A comissão julgadora, constituída por representantes culturais e educacionais, escolherá as cinqüenta (50) melhores poesias.

DA PREMIAÇÃO:
Serão classificadas cinqüenta (50) poesias, que, terão assegurada a inclusão na antologia “Poesia Nossa de Cada Dia” publicada anualmente pela Aliubi.
1º. Colocado: Troféu Dina Di Martini e duzentos (200) exemplares da antologia.
2º. Colocado: Troféu Dina Di Martini e cem (100) exemplares da antologia.
3º. Colocado: Troféu Dina Di Martini e cinqüenta (50) exemplares da antologia.
4º. Colocado: Troféu Dina Di Martini e trinta (30) exemplares da antologia.
5º.Colocado: Troféu Dina Di Martini e vinte (20) exemplares da antologia.
6º ao 50º colocados:Certificado Especial Dina Di Martini e cinco (2) exemplares da antologia.

DISPOSIÇÕES GERAIS:
1- A divulgação dos resultados será feita através dos veículos de comunicação do município e a cada classificado através de e-mail. Obs: na falta de e-mail o participante será comunicado através de correspondência postal.

2- A entrega dos prêmios será realizada em Ubiratã, com a presença dos classificados com local e data a serem divulgados junto à comunicação de classificação.

3- As decisões da comissão julgadora são irrecorríveis.

4- Ao se inscrever, o autor cede, automaticamente, os direitos autorais de sua obra para a edição mencionada e a ALIUBI fica isenta de fazer devolução dos originais não procurados junto à secretaria da associação até sessenta (60) dias da realização do concurso.

5- Os casos omissos serão resolvidos pela comissão organizadora do evento.

6- É permitida a tiragem de cópias deste regulamento para efeito de inscrição e divulgação.

Joacir Zen Ranieri
Presidente

MODELO DE FICHA DE INSCRIÇÃO

4º. CONCURSO DE POESIAS “ DINA DI MARTINI”

NOME: .............................

CPF:............................. RG: ........................................

FONE: (...).....................................................................

ENDEREÇO: ..............................................................

CIDADE:............................. UF:....................... CEP: ....................

E-MAIL:........................... MSN: ........................................

TITULO DA POESIA: .......................................................

Assinatura do autor .......................................................

Assinatura do responsável quando menor ...........................

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Gonçalves Dias (1823 - 1864)

Gonçalves Dias (Antônio G. D.), poeta, professor, crítico de história, etnólogo, nasceu em Caxias, MA, em 10 de agosto de 1823, e faleceu em naufrágio, no baixio dos Atins, MA, em 3 de novembro de 1864. É o patrono da Cadeira n. 15, por escolha do fundador Olavo Bilac.

Era filho de João Manuel Gonçalves Dias, comerciante português, natural de Trás-os-Montes, e de Vicência Ferreira, mestiça. Perseguido pelas exaltações nativistas, o pai refugiara-se com a companheira perto de Caxias, onde nasceu o futuro poeta. Casado em 1825 com outra mulher, o pai levou-o consigo, deu-lhe instrução e trabalho e matriculou-o no curso de latim, francês e filosofia do prof. Ricardo Leão Sabino. Em 1838 Gonçalves Dias embarcaria para Portugal, para prosseguir nos estudos, quando faleceu-lhe o pai. Com a ajuda da madrasta pôde viajar e matricular-se no curso de Direito em Coimbra. A situação financeira da família tornou-se difícil em Caxias, por efeito da Balaiada, e a madrasta pediu-lhe que voltasse, mas ele prosseguiu nos estudos graças ao auxílio de colegas, formando-se em 1845. Em Coimbra, ligou-se Gonçalves Dias ao grupo dos poetas que Fidelino de Figueiredo chamou de "medievalistas". À influência dos portugueses virá juntar-se a dos românticos franceses, ingleses, espanhóis e alemães. Em 1843 surge a "Canção do exílio", um das mais conhecidas poesias da língua portuguesa.

Regressando ao Brasil em 1845, passou rapidamente pelo Maranhão e, em meados de 1846, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde morou até 1854, fazendo apenas uma rápida viagem ao norte em 1851. Em 46, havia composto o drama Leonor de Mendonça, que o Conservatório do Rio de Janeiro impediu de representar a pretexto de ser incorreto na linguagem; em 47 saíram os Primeiros cantos, com as "Poesias americanas", que mereceram artigo encomiástico de Alexandre Herculano; no ano seguinte, publicou os Segundos cantos e, para vingar-se dos seus gratuitos censores, conforme registram os historiadores, escreveu as Sextilhas de frei Antão, em que a intenção aparente de demonstrar conhecimento da língua o levou a escrever um "ensaio filológico", num poema escrito em idioma misto de todas as épocas por que passara a língua portuguesa até então. Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do Colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara, com Macedo e Porto Alegre. Em 51, publicou os Últimos cantos, encerrando a fase mais importante de sua poesia.

A melhor parte da lírica dos Cantos inspira-se ora da natureza, ora da religião, mas sobretudo de seu caráter e temperamento. Sua poesia é eminentemente autobiográfica. A consciência da inferioridade de origem, a saúde precária, tudo lhe era motivo de tristezas. Foram elas atribuídas ao infortúnio amoroso pelos críticos, esquecidos estes de que a grande paixão do Poeta ocorreu depois da publicação dos Últimos cantos. Em 1851, partiu Gonçalves Dias para o Norte em missão oficial e no intuito de desposar Ana Amélia Ferreira do Vale, de 14 anos, o grande amor de sua vida, cuja mãe não concordou por motivos de sua origem bastarda e mestiça. Frustrado, casou-se no Rio, em 1852, com Olímpia Carolina da Costa. Foi um casamento de conveniência, origem de grandes desventuras para o Poeta, devidas ao gênio da esposa, da qual se separou em 1856. Tiveram uma filha, falecida na primeira infância.

Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Em 56, viajou para a Alemanha e, na passagem por Leipzig, em 57, o livreiro-editor Brockhaus editou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras, compostos dez anos antes, e o Dicionário da língua tupi. Voltou ao Brasil e, em 1861 e 62, viajou pelo Norte, pelos rios Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de Exploração. Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo logo para a Europa, em tratamento de saúde, bastante abalada, e buscando estações de cura em várias cidades européias. Em 25 de outubro de 63, embarcou em Bordéus para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações de cura em Aix-les-Bains, Allevard e Ems. Em 10 de setembro de 1864, embarcou para o Brasil no Havre no navio Ville de Boulogne, que naufragou, no baixio de Atins, nas costas do Maranhão, tendo o poeta perecido no camarote, sendo a única vítima do desastre, aos 41 anos de idade.

Todas as suas obras literárias, compreendendo os Cantos, as Sextilhas, a Meditação e as peças de teatro (Patkul, Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça), foram escritas até 1854, de maneira que, seguindo Sílvio Romero, se tivesse desaparecido naquele ano, aos 31 anos, "teríamos o nosso Gonçalves Dias completo". O período final, em que dominam os pendores eruditos, favorecidos pelas comissões oficiais e as viagens à Europa, compreende o Dicionário da língua tupi, os relatórios científicos, as traduções do alemão, a epopéia Os Timbiras, cujos trechos iniciais, que são os melhores, datam do período anterior.

Sua obra poética, lírica ou épica, enquadrou-se na temática "americana", isto é, de incorporação dos assuntos e paisagens brasileiros na literatura nacional, fazendo-a voltar-se para a terra natal, marcando assim a nossa independência em relação a Portugal. Ao lado da natureza local, recorreu aos temas em torno do indígena, o homem americano primitivo, tomado como o protótipo de brasileiro, desenvolvendo, com José de Alencar na ficção, o movimento do "Indianismo". Os indígenas, com suas lendas e mitos, seus dramas e conflitos, suas lutas e amores, sua fusão com o branco, ofereceram-lhe um mundo rico de significação simbólica. Embora não tenha sido o primeiro a buscar na temática indígena recursos para o abrasileiramento da literatura, Gonçalves Dias foi o que mais alto elevou o Indianismo. A obra indianista está contida nas "Poesias americanas" dos Primeiros cantos, nos Segundos cantos e Últimos cantos, sobretudo nos poemas "Marabá", "Leito de folhas verdes", "Canto do piaga", "Canto do tamoio", "Canto do guerreiro" e "I-Juca-Pirama", este talvez o ponto mais alto da poesia indianista. É uma das obras-primas da poesia brasileira, graças ao conteúdo emocional e lírico, à força dramática, ao argumento, à linguagem, ao ritmo rico e variado, aos múltiplos sentimentos, à fusão do poético, do sublime, do narrativo, do diálogo, culminando na grandeza da maldição do pai ao filho que chorou na presença da morte.

Pela obra lírica e indianista, Gonçalves Dias é um dos mais típicos representantes do Romantismo brasileiro e forma com José de Alencar na prosa a dupla que conferiu caráter nacional à literatura brasileira.

Obras: Primeiros contos, poesia (1846); Leonor de Mendonça, teatro (1847); Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão, poesia (1848); Últimos cantos (1851); Cantos, poesia (1857); Os Timbiras, poesia (1857); Dicionário da língua tupi (1858); Obras póstumas, poesia e teatro (1868-69); Obras poéticas, org. de Manuel Bandeira (1944); Poesias completas e prosa escolhida, org. de Antonio Houaiss (1959); Teatro completo (1979).

Fontes:
http://www.secrel.com.br/
http://www.algumapoesia.com.br/ (retrato)

Gonçalves Dias (Canção do Exílio)

Kennst Du das Land, wo die Zitronen blühen,
im dunkel die Gold Orangen glühen,
kennst Due es wohl?
Dahin, dahin möchte Ich ziehen!
-- Goethe

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Coimbra - Julho 1843.
==========================
Nota:
Graças a colaboração de nossa leitora, Vânia Serra, a tradução das palavras de Goethe são:

Conheces a terra onde os limões brotam,
as laranjas douradas brilham no escuro,
conheces tu bem?
Para lá, para lá eu desejo me mudar (Goethe)

Fontes:

www.bibvirt.futuro.usp.br
http://georgeyk.wordpress.com (imagem)

Vânia Serra, por e-mail

Cruz e Sousa (1861 - 1898)

João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro [atual Florianópolis], 24 de novembro de 1861 — Estação do Sítio, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro, alcunhado Dante Negro e Cisne Negro. Foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.

Filho de negros alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais.

Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro. Em 1885 lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com o jornal Folha Popular. Em Fevereiro de 1893, publica Missal (prosa poética) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil que estende-se até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem tem quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.

Faleceu a 19 de Março de 1898 no município mineiro de Antônio Carlos, num povoado chamado Estação do Sítio, para onde fôra transportado às pressas vencido pela tuberculose. Teve o seu corpo transportado para o Rio de Janeiro em um vagão destinado ao transporte de cavalos. Ao chegar, foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier por seus amigos, dentre eles José do Patrocínio, onde permanece até hoje.

Foi integrante da Academia Catarinense de Letras, de cuja cadeira 15 é patrono.

Análise da obra

Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos.

Embora quase metade da população brasileira seja negra, poucos foram nossos escritores negros e mulatos. E, entre eles, poucos foram os que escreveram em favor da causa negra. Cruz e Souza, por exemplo, é acusado de ter-se omitido quanto a questões referentes à condição negra. Mesmo tendo sido filho de escravos e recebido a alcunha de "Cisne Negro", o poeta João da Cruz e Souza não conseguiu escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não precede, pois, apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do Simbolismo nem de seu projeto particular, o autor, em alguns poemas, retratou metaforicamente a condição do escravo. Cruz e Souza militou, sim, contra a escravidão. Tanto da forma mais corriqueira, fundando jornais e proferindo palestras por exemplo, participando, curiosamente, da campanha antiescravista promovida pela sociedade carnavalesca Diabo a quatro, quanto nos seus textos abolicionistas, demonstrando desgosto com a condução do movimento pela família imperial.

Quando Cruz e Souza diz "brancura", é preciso recorrer aos mais altos significados desta palavra, muito além da cor em si.

No aspecto de influências do simbolismo, nota-se uma amálgama que conflui águas do satanismo de Baudelaire ao espiritualismo (e dentro desse, idéias budistas e espíritas) ligados tanto a tendências estéticas vigentes como a fases na vida do autor.

Livros

Broquéis (1893, poesia) Faróis (1900, poesia) Últimos Sonetos (1905, poesia) Tropos e Fanfarras (1885, prosa - em conjunto com Virgílio Várezea) Missal (1893, poema em prosa) Evocações (1898, poemas em prosa)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.arnaldogodoy.com.br/ (retrato)

Cruz e Souza (Luz da Natureza)

Luz que eu adoro, grande Luz que eu amo,
Movimento vital da Natureza,
Ensina-me os segredos da Beleza
E de todas as vozes por quem chamo.

Mostra-me a Raça, o peregrino Ramo
Dos Fortes e dos Justos da Grandeza,
Ilumina e suaviza esta rudeza
Da vida humana, onde combato e clamo.

Desta minh'alma a solidão de prantos
Cerca com os teus leões de brava crença,
Defende com so teus gládios sacrossantos.

Dá-me enlevos, deslumbra-me, da imensa
Porta esferal, dos constelados mantos
Onde a Fé do meu Sonho se condensa!

Carlos Drummond de Andrade (Mãos Dadas)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Fontes:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/
http://www.eja.org.br/ (imagem)

Augusto dos Anjos (O Caixão Fantástico)

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,
Cinzas, caixas cranianas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratórias abstrações abstrusas!

Nesse caixão iam, talvez as Musas,
Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!

A energia monística do Mundo,
À meia-noite, penetrava fundo
No meu fenomenal cérebro cheio...

Era tarde! Fazia multo frio.
Na rua apenas o caixão sombrio
Ia continuando o seu passeio!

Artur de Azevedo (As Asneiras do Guedes)

Não é precisamente um conto o que hoje vou escrever.

Voltou do seu passeio a São Paulo o Guedes - o Guedes sabem? - o maior asneirão que o sol cobre, aquele mesmo que respondeu aqui há tempos quando numa roda lhe perguntaram se tinha filhos:

- Tenho uma filha já adúltera.

- Adúltera?!

- Sim, senhor, adúltera; vai fazer 17 anos.

- Adulta quer o senhor dizer...

- Ou isso. E uma boa menina; só tem um defeito: é muito luxuriosa.

- Luxuriosa?!

- Sim, senhor, luxuriosa: gosta muito de luxar.

- Ah!

- Mas lá está minha mulher para lhe dar bons conselhos... sim, porque minha mulher é muito sensual.

- Sensual?!

- Sim, senhor, sensual: tem muito bom senso.

Pois é como lhes digo: tive o prazer de encontrar ontem esse precioso Guedes, cujas asneiras, colecionadas, dariam um volume de trezentas páginas, ou mais.

Eu estava num armarinho da rua do Ouvidor, onde entrava para cumprimentar a minha espirituosa amiga D. Henriqueta, que andava, como sempre, fazendo compras, enchendo-se de caixinhas e pequeninos embrulhos, adquiridos aqui e ali:

O Guedes, mal que me viu, correu a dar-me um abraço, dizendo:

- Li no "O País" a notícia do seu aniversario...

E recuando dois passos, tomou uma atitude solene, deixou cair as pálpebras, e acrescentou:

- Faço votos para que você tenha um futuro tão brilhante como o que passou.

Agradeci comovido essa manifestação de apreço envolvida num disparate, e apresentei o Guedes à minha espirituosa amiga D. Henriqueta, que mordia os lábios para não rir.

- Apresento-lhe, minha senhora, o mais extraordinário reformador da língua portuguesa: o Guedes, o grande Guedes, que acaba de chegar de São Paulo, onde esteve a passeio.

- Era tempo de fazer uma viagem! - explicou ele. - Foi a primeira vez que saí do Rio de Janeiro.

- Eu também não saí ainda desta cidade senão para ir uma vez a Petrópolis e duas a Niterói - disse D. Henriqueta.

- Vejo então que a senhora é cortesã... - acudiu o Guedes curvando os lábios no mais amável dos seus sorrisos.

- Cortesã?!

- Cortesã, sim... filha da Corte...

- Oh! Guedes! - observei baixinho. - Pois você não vê que está dizendo uma inconveniência?

- Tem razão... Atualmente não se deve falar em Corte...

E emendou:

- Vejo então que a senhora é capitalista federalista.

D. Henriqueta desta vez riu-se a perder. É provável que ao leitor não aconteça o mesmo. Paciência.

- Ó Guedes! Vamos lá! Diga-me! Que impressões trouxe de São Paulo?

- Muito boas! Aquilo é uma grande terra!

- Dizem que há lá muita sociabilidade.

- Como?

- Muita convivência...

- Isso há... As famílias visitam-se... Ou moços coabitam tom as moças.

- Ora essa!

- Que entende você por "coabitar"?

- E... é...

- É uma indecência... uma inconveniência... uma coisa que não se diz!...

O Guedes inflamou-se:

- Está você muito enganado... "Coabitar" é...

E voltando-se para um dos caixeiros do armarinho:

- O senhor tem aí um dicionário que me empreste?

- Pois não?

E daí a dois minutos o Guedes tinha nas mãos os dois volumes do Aulete.

- Muito bem! - disse eu. - Procure "coabitar".

Depois de folhear em vão o dicionário durante um ror de tempo, o teimoso exclamou:

- Não dá! Não dá! Vejam...

- Perdão: você está procurando com u: deve ser com o!

- Tem razão, tem razão... Onde estava eu com a cabeça?

E o Guedes pôs-se de novo a folhear o Aulete.

- Não dá! Também não dá com o! Veja: de coa para coação! Não dá com u nem com o!

Valha-o Deus, Guedes, valha-o Deus! Você está procurando sem h? Dê cá o dicionário!

E com um sorriso de triunfo mostrei ao Guedes a significação da palavra.

- Olhe, leia: "Coabitar, habitar, viver conjuntamente".

- Mas isso...

- Agora veja o que o Aulete acrescenta entre parênteses:

"Diz-se particularmente de duas pessoas de diferente sexo".

- Perdão! - bradou o Guedes furioso. - Perdão! Eu não disse particularmente, mas alto e bom som, e só não me ouviu quem não me quis ouvir!

E batendo com a mão espalmada sobre o balcão:

- Eu não sou homem que diga as coisas particularmente!

Fonte:
http://www.biblio.com.br

Jorge Amado (Capitães de Areia)

Em Capitães de Areia temos a "cidade alta" como cenário principal. Pedro Bala é o chefe de um grupo de jovens arruaceiros que roubam para sobreviver. Nunca ninguém havia mencionado em literatura este bando de jovens que engenhosamente desafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos.

Embora claramente uma obra de protesto "Capitães da Areia" não se vale de ocas figuras centrais que se limitem a expor determinadas filosofias, tampouco marcas negativas. Ao contrário todas principais personagens, como as secundárias mais significativas, são bem desenvolvidas, ainda que um tanto sentimentalmente capazes mesmo de combater com excessivo preconceito do narrador onisciente.

Os personagens são em sua maioria masculinos, e dentre eles, Pedro Bala, cuja agilidade sugerida pelo apelido, merece especial atenção - Sem Perna, Pirulito, O Professor são os mais destacados: Ainda temos no grupo João Grande, Volta Seca, Boa Vida muito bem configurados pelos seus apelidos baseados na aparência física.

Dora é a única figura feminina merecedora de destaque, pois ela passa a assumir o referencial feminino da família, a mãe.

Para alguns ela é uma mãe, para outros uma irmã, e para Pedro Bala uma namorada. Voltando a Pedro Bala, suas valentes façanhas de jovem capitão de enjeitados a organizador comunista dão margem a uma curiosa interpretação.

Ele e seu bando vivem e agem como muitos jovens nas mesmas circunstâncias. Estes jovens enfrentam o Governo, moram escondidos e garantem o Pão roubado dos ricos.


Os Capitães da Areia se mostram bastantes envolvidos e respeitadores do folclore e religião da Bahia.

Ao mesmo tempo que eles se relacionam bem com o padre José Pedro, eles se dão bem com a Mãe de Santo D. Aninha. Envolviam-se no candomblé, capoeira e respeitavam a igreja.


A justiça se mostrava indiferente ao Capitães da Areia só se preocupando com eles quando roubavam alguém importante! Aí eles eram perseguidos.


A igreja também não se mostrava preocupada com os Capitães da Areia. Apenas o padre José Pedro se interessava em ajudá-los.

A impressa fazia o papel de porta-voz de problemas relacionados aos Capitães da Areia; mas o espaço era sempre e mais destacados quando o material era para acusá-los.

Personagens

Pedro Bala
Era um jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da Areia, ágil, esperto, respeitador e sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios Maloqueiros em Aracaju, desejando com líder do grupo Barandão. Depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida.

Professor
Era um garoto magro, inteligente, calmo e o único que sabia ler no grupo. O professor era quem planejava os roubos dos Capitães da Areia. Depois de muito tempo aceitou um convite e foi pintar no Rio de Janeiro.

Gato
Era o mais bonito e mais elegante da turma. Tinha em caso com Dalva mulher das noites que todo o dia ia vê-la. Participava dos planos mais arriscados e era muito malandro e esperto. Tempos depois foi embora para Ilheús tentar a sorte.

Sem Pernas
Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se atirando-se do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.

João Grande
Era um negro alto, forte e burro. Era também o defensor dos menino pequenos do grupo. Era figura importante no grupo, e realizava os mais audaciosos furtos ao lado de Bala, seu destino foi se mandar como ajudante num navio.

Pirulito
Era magro e muito alto, um cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer ao Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante.

Boa Vida
Era mulato troncudo e feio, o mais malandro do grupo, e sabia tocar violão, também participava dos principais roubos do grupo. Seu destino foi virar um verdadeiro malandro, que vivia a correr pelos morros compondo sambas.

Volta Seca
Era um mulato sertanejo, afilhado de Lampião que odiava a polícia. Seu destino foi ir para o Nordeste na rabada de um trem, até entrar no grupo de Lampião e virar um cangaceiro destinado.

Dora
Tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Era uma menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o grupo com seus cabelos lisos. Seus pais haviam morrido de alastrine e ela ficou sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais ninguém queria empregar filha de bexiguento. Aí ela encontrou João Grande e professor que a chamaram para morar no Trapiche, e logo ela já era considerada por todos como uma mãe, irmã e para Bala uma noiva. Ela participava dos roubos com os outros meninos. Morreu queimando de febre.

Espaço
A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador mencionado no início da narrativa.

Tempo
A obra apresenta tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e horas conforme exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5 anos. Hoje tem 15 anos. Há dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia."
O tempo psicológico correspondente às lembranças e recordações constantes na narrativa.
A fala de Zé Fuinha (...) "Quando terminaram, o preto bateu as mãos uma na outra, falou:
- Teu irmão disse que a mãe de você morreu de bexiga...
- Papai também...
- Lá também morreu um...
- Teu pai?
- Não. Foi Almiro um do grupo
."

Foco Narrativo
A obra "Capitães da Areia" é narrada na terceira pessoa, sendo o autor, Jorge Amado, o narrador apenas o expectador. Ele se comporta, durante todo o desenvolvimento do tema, de maneira indiferente, criando e narrando os acontecimentos sem se envolver diretamente com eles.

Fontes:
http://www.detetivez.hpg.ig.com.br/literatura/resumo_livro/capitaesdaareia.htm
http://www.iep.uminho.pt/ (imagem)

domingo, 4 de maio de 2008

Moisés Neto

O primeiro poema de Moisés Neto foi publicado em março de 1980, no Jornal do Commercio e sua estréia em teatro como ator se deu quatro meses depois, com o espetáculo infantil "Dona Patinha vai ser Miss", dirigido por Buarque de Aquino. Outra peça infantil se seguiu : "Mudanças no Galinheiro, Mudam as Coisas por Inteiro", sob a direção de Manoel Constantino. Em 1981, integrou o elenco de "Muito pelo Contrário", peça de João Falcão, sucesso que ficou um ano em cartaz e percorreu a maioria das capitais brasileiras, participando também de diversos festivais. Naquela época Moisés cursava Antropologia na UFPE. O teatro falou mais alto e nos anos 80 recebeu de Moisés uma dedicação quase que exclusiva, desviada somente por sua segunda maior paixão: A Literatura.

Foram inúmeras peças como ator: "Romeu e Julieta" (direção José Francisco Filho), "Punhal", do dramaturgo pernambucano Henrique Amaral sob a direção de Carlos Carvalho; "A Noite dos Assassinos" do cubano José Triana, vencedor do prêmio Casa de las Americas; "Viva o Cordão Encarnado", de Luiz Marinho, com direção de Luís Mendonça (o mesmo diretor que lançou as atrizes cantoras Elba Ramalho e Tânia Alves);e "Hamlet", interpretando o personagem título da peça de Shakespeare em adaptação musical-pop, entre muitos outros espetáculos.

Em 1983, editou seu primeiro romance "A Incrível Noite", uma história de humor negro passada no Recife. Em 85 estreou como autor teatral com a peça "Verdades e Mentiras - O Diário secreto de Janis Joplin" . Seguiram-se "Draculin e o Circo no Espaço", "Um Certo Delmiro Gouveia" (prêmio de melhor texto dramático, dado pelo Governo de Pernambuco em 1985), "Cleópatra" (prêmio de Melhor Comédia no concurso "Exponha- se"), "Prazeres da Revolução"(1986), "Com a Víbora no Seio" (que contou com a presença do hoje cineasta Heitor Dhalia no elenco), "Um Tostão para Isabelita", "O Bolo", "O Horror de Frankenstein"(1989) e "A Maior Bagunça de Todos os Tempos"(espetáculo infantil). Além disso, Moisés produziu, através da Ilusionistas Corporação Artística, vários shows e um curioso teatro alternativo nos anos 80 no Recife, sempre na companhia de Simone Figueiredo, sua atriz favorita e musa. Escreveu roteiros para espetáculos experimentais de dança contemporânea para a bailarina Beth Marinho( profissional de formação clássica que participou por muitos anos do Balé Stagium de São Paulo). O resultado foi a construção de "Comunhão" e "Orgasmo" (1987) , "Coração Bandido" (1989) e "Ketchup Opera" (1990).Em 1999, seu texto "Para 1 Amor no Recife" foi encenado sob a batuta do experiente diretor Carlos Bartolomeu e recebeu da Associação de Produtores os prêmios de Melhor Diretor, Melhor Ator (Gustavo Lago), Melhor Iluminação e Melhor Trilha Sonora ( DJ Dolores).

Formado em Letras e Pós-Graduado em Literatura Brasileira, Moisés continua desenvolvendo trabalho com as Letras e vivendo no Recife. Publica regularmente contos, crônicas, críticas e artigos em jornais e revistas.


Moisés teve a sorte de conhecer pessoalmente alguns de seus autores preferidos, como Ionesco - que visitou o Recife em 1982 e a quem Moisés perguntou se valia a pena publicar um livro num lugar como Recife, no caso seu romance "A Incrível Noite", ao que o dramaturgo respondeu :"Sempre, sempre" -, Ariano Suassuna, Raimundo Carrero, Gore Vidal, Fernando Gabeira ( sobre quem Moisés já desenvolveu pesquisa) Plínio Marcos, Ignácio de Loyola Brandão, Roberto Freire e Moacyr Scliar, entre outros.

Participando de diversos encontros nacionais sobre Literatura e Teatro ou mesmo viajando pelo mundo, a sua vida é um aprendizado constante

A praia do Janga, litoral norte de Pernambuco, serve de moradia e inspiração para Moisés desde 96. Lá ele escreve a maior parte de sua obra.

Ele acaba de dirigir O Rico Avarento de Ariano Suassuna e escreveu uma adaptação em forma de musical para Quincas Borba, de Machado de Assis.

Moisés Neto ensina Literatura Brasileira desde 1990 em dois grandes colégios do Recife. Ao concluir o Mestrado em Teoria da Literatura pela UFPE, pôde se dedicar melhor à revisão dos livros que pensa em publicar em breve. Escreveu e dirigiu o musical infantil Sonho de Primavera.

Fonte:
http://www.moisesneto.com.br

Peças infantis vistas por Moisés Neto

Emocionantes e supergostosas, desde os anos 70, as peças infantis levam adultos e crianças ao teatro no Brasil. Não precisam ser didáticas, basta que entretenham sadiamente os cidadãos de amanhã. Eis as peças infantis.

O teatro para crianças versus texto-educação: é a ficção que está em cena.

UM POUCO DE HISTÓRIA: Desde a China do século III AC, havia teatro de bonecos para crianças e mulheres ricas.

E se avançarmos mais no tempo, veremos que a Commedia dell´ Arte (século XV a XVII) com seu teatro profissional, também é raiz do teatro para criança. Estes tais comediantes pediam dinheiro ao público depois do espetáculo. Viviam disso. Eram ambulantes. Aprimoraram sua arte assim. Eram improvisos e acrobacias em cima de um roteiro que inspiraram artistas de teatro dos séculos seguintes (XVIII e XIX). Deboche, modos grosseiros, temperamento insolente e desrespeito às instituições, eram características de personagens como Polichinelo (ou João Redondo, em português, ou o Punch, inglês).

A violência na literatura infantil se justifica, se pensarmos que antigamente não havia literatura feita especificamente para criança (os medos, as ansiedades geram reações violentas que se unem a instintos violentos).

Na França do século XIX, um personagem virou estilo: o Guignol, meio Polichinelo, ele era cheio de exageros, mas agradava bastante, mas deixou de satisfazer certos interesses quando o teatro ficou moralizante.

O teatro de sombras de Seraphin foi o primeiro dirigido às crianças. Ele morreu em 1800.
A Bélgica tem tradição em teatro de bonecos. Dom Bosco (1815-1888), fundador da Ordem dos Salesianos, cuidou de fazer teatro (encenação, música, biblioteca dramática, cenários, figurino, etc.) educando com qualidade técnica através da cena. No século XX, Maria Montessori, respeitando a criança, criou móveis em tamanhos e observou as necessidades específicas da infância.

Andersen, Grimm e Maeterlinck são escritores que dedicaram bastante atenção aos “pequenos”. E na URSS surge em 1918 (um ano depois da Revolução) tinha supervisão de um comitê de educadores e artistas, formado por cidadãos socialistas tudo também em tamanho reduzido (à altura dos baixinhos): poltronas, banheiros, etc., estimulando deste modo, a autonomia das crianças. Além de jogos, havia peças de caráter fantástico e representações do folclore russo.

Após a segunda guerra mundial surgem vários espetáculos par criança na Europa. O teatro é indicado então como instrumento educativo.

Aparece a dramaturgia especializada e profissionalização das companhias.

Na Austrália de 1938, havia o Theatre for children, com temas como escola e família. Na Finlândia também houve algo similar (o Teatro de Turku). No México em 1947 houve a montagem de Dom Quixote para crianças. Em Londres, 1946, vários grupos se dedicaram a montagens assim.

Alguns acham que neste teatro deve haver luz na platéia para a criança ver os outros espectadores e ter assim o conforto e sensação de experiência em comum. Realiza-se então o 1º Congresso Internacional de Teatro Infantil (Brasil, Cuba, Bélgica, África do Sul, EUA, Dinamarca, França, Bélgica, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça) em Paris de 7 a 9 de abril de 1952. Assuntos como formação de platéia e reciclagem dos artistas foram objetos de discussão.

NO BRASIL: a origem do teatro para a infância em terras brasileiras está ligada aos bonecos. No século XVIII, um homem só com armação nos ombros manipulava fantoches, rodava o chapéu depois. Às vezes os bonecos se exibiam nas janelas ou nas portas abertas pela metade. Mas é já no século XX que se pode falar de teatro infantil por aqui: Coelho Neto e Olavo Bilac são pioneiros, mas pecam pelo didatismo de suas obras. Durante um bom tempo, vemos as crianças sendo tratadas como adultos em miniaturas, mas condenadas à passividade e falta de iniciativa. Olavo Barros mostra espetáculos como “A gata borralheira”, um texto cheio de moralismos. Valdemar de Oliveira, no Recife lança suas idéias. O governo começa a apoiar tais iniciativas e surgem outras idéias.

“A revolta dos brinquedos” (1949) é um marco de Pernambuco de Oliveira, “Pluft”, de Maria Clara Machado (1955) é outro.

Em muitos casos surgem narradores e outros recursos da narrativa oral. Mas sempre o mal sendo castigado, ou se convertendo, às vezes apelando para soluções sobrenaturais como fadas, por exemplo.

Em 1950, no Rio de Janeiro, surge o 1º Concurso Nacional de dramaturgia infantil. Em 1951 o 1º Congresso Brasileiro de Teatro lança as bases psicológicas, técnicas e estéticas de forma repensada. Destacava-se o subconsciente das crianças. Júlio Gouveia, numa palestra, disse: “teatro para criança e adolescente, só pode ser pensado como educativo (...) o treino das emoções (...) sempre mediante ingresso adquirido” (LOMARD 1994:48). Dá vontade de rir destes detratores da bilheteria que dizem que o aspecto comercial deve ser ignorado e só se deve pensar na moral. Para eles uma peça infantil sem “ensinamentos” seria de má qualidade. Criança tem que ficar ligada, calada na platéia e bitolada.

Em 1951, Maria Clara Machado funda o Tablado, sua escola de teatro. Ela, autora e diretora, especializou-se em textos infantis. Geralmente suas tramas giram em torno de recuperar “algo que se perdeu”, como diz a crítica Flora Sussekind (ibid. 53). Outro destaque na área infantil é a dramaturgia de Oscar von Pful (“Dom Chicote Mula Manca”), Tatiana Belinki (“A Sopa de Pedra”) e Stella Leonardos. Estes tentam romper o tom explicativo de um narrador. Um bom texto, hoje, tem que valorizar aas diferenças e não as convenções, como no caso do pernambucano “Hipopocaré”, do psicanalista Antônio Guinho, montado em Recife nos anos 80/90.
Eu mesmo tive três textos infanto-juvenis de minha autoria encenados no Recife: “Draculin e o Circo no Espaço”, “A Maior Bagunça de Todos os Tempos” (ambos com direção de Buarque de Aquino) e “A Ilha do Tesouro” (direção de Carlos Bartolomeu) e tendo como co-produtora Simone Figueiredo, nos três os heróis titubeiam entre o convencional e a contravenção. Alguns críticos ficam irados com tal atitude, mas fiquei firme e os três tiveram ótimos públicos, ficando em cartaz durante meses e meses. Abaixo os pseudo-maniqueísmos!

Em 1962, o Serviço Nacional de Teatro (SNT), inaugura o curso de teatro infantil, em Porto Alegre também.

A partir de 1970 o prêmio Molière, pra os melhores no teatro no Rio de Janeiro e São Paulo, passa a ser entregue também ao teatro infantil. A partir de 79 a Fundação Teatro Guairá, de Curitiba, promove o Encontro Nacional de Teatro Infantil. Artistas e outros profissionais se reúnem para debater.

Vladimir Capela, Ilo Krugli, Ronaldo Ciambroni são outros autores que fizeram história no teatro infantil brasileiro. Em Pernambuco destacamos o trabalho de José Francisco Filho, Paulo de Castro e Marco Camarotti.

TEORIAS: Em arte-educação há duas fortes correntes:

1)Arte para atingir outros fins (não artísticos): Contextualismo.
2)Arte em função de si mesma: Esencialismo (como faz Viola Spolin).

Outra questão importante é a participação da platéia. Por exemplo: quanto tempo deve durar um espetáculo que não “inquiete” os baixinhos? Resposta: 50 minutos, de acordo com o professor Camarotti (UFPE).

Há também que se considerar que a classe média alta forma em grosso o público do teatro convencional, a não ser que haja um trabalho de responsabilidade social, que é imprescindível hoje em dia e foi feito na Ilha do Tesouro, por exemplo. Outro fator que devemos analisar brevemente é o tal “projeto escola”, desenvolvido no Recife há 20 anos por Paulo André: crianças são levadas às centenas, da escola para o teatro, sem a família. Isto arruína as temporadas de fim de semana das outras companhias, mas tem é claro, ou deve ter, algum aspecto positivo. Porém, perde-se o hábito de debater com os pais.

Questões que poderiam aparecer em peças infantis hoje: o tema do meio ambiente, relacionamento de família, mídia.

O lúdico é outra questão a ser resolvida, já que criança exige o jogo, constantemente.

Mas teatro para criança tem que ser sempre divertido? A maioria dos intelectuais diz que sim. E emocionante, ágil. Temos que contar com as crianças mais “antenadas” que querem mais do que histórias com bichinhos e ternurinhas.

Ousadias. Uma tal de Adriana Maia, eixo Rio-São Paulo, já apresentou um espetáculo chamado “Cabaré Infantil” (ibid. p. 85). Algo bem difícil de se conceber se imaginarmos que a produção para crianças está ligada a instituições como escola e família.

A criança é um ser de linguagem, leis próprias e específicas que devem ser trabalhados com cuidado tanto a forma quanto o conteúdo, um “duplo inseparável e inerente à historicidade do fenômeno artístico”, como afirma Sonia Khéde.

A recepção do público, o marketing, a percepção da criança na sociedade brasileira/ recifense, são outras questões que abordaremos posteriormente.

Gostaríamos de destacar artistas recifenses como Ulisses Dornelas (Palhaço Chocolate), José Francisco Filho, Marco Camarotti, Buarque de Aquino, José Manuel, Manuel Constantino que a partir dos anos 70, deram, de modos diversos, suas contribuições ao espetáculo feito para crianças. Alguns foram um pouco anacrônicos em seus posicionamentos, é claro e outros não apresentavam a “cor local”.

Se o Modernismo decretou a morte do sujeito, os anos 90 trouxeram de volta o respeito às diferenças.

LINGUAGEM PRÓPRIA: A comunicação com a criança poderá ser feita através de associações, personagens com os quais ela se identifique. “Um personagem poderá se apresentar fragmentariamente porque representa a crise de identidade, a busca de um (novo) papel, o desconcerto diante de valores velhos e novos” (KHÉDE, 1986: p. 56), sem que seja mal construído, é claro.

O lúdico, o humor e o nonsense se entrelaçam num intercâmbio entre conotação e denotação, buscando driblar o autoritarismo, tão presente na cultura brasileira como a malandragem (e na relação adulto-criança a questão do autoritarismo é de fundamental importância). Por isso um personagem que quer mandar na brincadeira deve, por exemplo, ser mostrado como um chato.

É bom lembrar a criança que ela pode pelo menos tentar mudar as situações que lhe são impostas no mundo. Ela pode interferir.

Devemos fazer o espectador, criança ou não, avaliar sua identidade no confronto com
outras vozes e começar o intercâmbio com o universo da arte.

Quanto aos pais e professores, é bom que não mergulhem muito na nostalgia ou na idealização da infância. Como já dissemos, os espetáculos devem se distanciar do pedagogismo e do moralismo.

Deseroicizar os personagens é uma saída.

VIOLÊNCIA: E falar do amor e da violência? Primeiro colocando os verbos no presente, sempre que possível. Mostrar que a solidariedade é fundamental para o ser humano. A cooperação, a justiça social (sem clichês!).
Os filmes americanos que exaltam a violência devem ser evitados, com seu lucrativo comércio de armas e de guerras “criando o hábito da violência (...) técnicas de eliminação da vida (...) torturas”, como sugere Antonieta Moraes.

“Muitos intelectuais, principalmente aqueles dedicados à produção cultural para a criança e jovens, não assumem posição definida e proclamam que não existe literatura para adulto, para criança, pra jovem; a literatura é uma só: não ensina nem informa” (op. cit. p. 85).

“Não se pode fazer boa literatura com maus sentimentos”, dizia Sartre. Isso não significa entronizar os detentores do poder que exploram os trabalhadores ou os pais que tratam os filhos com grosserias ou vice-versa.
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Fonte:

Moisés Neto (Ode ao Livro)

Luar solidificado, fogo congelado, dor que murmuro
Barcos em estranhos mares de vinho escuro
Que me fazem Deus no quarto e me crucificam na sala
Maravilhas e perigo: loucura breve
Com água de serpente ou com sangue se escreve
A teia de homens, truques da alma em animal e flor
Sonho da vida de sonho-monstro feito de olhos e dor
Paperback, pulp fiction, luxo: melodia que não posso traduzir
Que me leva de volta às fontes e ao porvir
Velho-moço aprendendo e errando
Corvo e pomba branca casando
Senti-lo sem lê-lo, tateá-lo penetrando-o
Buquê jogado no espaço, vento despetalando-o
Fantasma atravessando meu último recôndito
Cascavel celestial que me deixa atônito
Papel, tinta, luz na minha memória
Vários dias e noites numa só história
Que faz os vencedores se curvarem
Paraísos de leite e mel, secarem
Pavão perder suas cores, desnudando-se até a essência
Necessário pecado, nossa arrependida convivência
Tentativa e erro, retorno à pátria e desterro
Que me faz sombra e candeeiro
Sonho em claro labirinto-frio ou quente
Espelho temeroso, livre metáfora, inverdade
Alusão às inatingíveis estrelas no fim da tarde
Inrrompível cadeia (criação/ imitação)
On line ou na minha mão...