segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Angelo Batista


Nascido na cidade de Mandaguari, no interior do Paraná, criado na lavoura, enfrentando todas as dificuldades da vida pobre na companhia dos 11 irmãos, mas com toda a garra herdada de seus pais Francisco e Laura.

Angelo encontrou sempre na família o escopo da sua formação humana. Lição aprendida dos pais, Angelo fortalece a sua família, juntamente com a sua esposa Sônia, dando o melhor exemplo de virtude para seus 4 filhos: Ana Paula, Marcos Elvécio, Angelo Júnior e Guilherme Luís. Tem larga experiência como homem público pela dedicação dos seus quase 40 anos trabalhando no ramo farmacêutico.

Angelo trabalhou com afinco na defesa dos interesses da classe, conjuntamente aos demais membros do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná - SINDIFARMA.

Além da efetiva atuação como membro sindical, Angelo sempre se destacou pela força de sua ação comunitária nos bairros de Curitiba, especialmente no bairro Uberaba. Prestando auxílio como conselheiro comunitário nas igrejas, ministrando palestras, colaborando com escolas e outras entidades onde a cidadania é exercida, Angelo sempre personificou a honestidade e perseverança do cidadão.

Grande conhecedor da história brasileira e mundial é compositor, poeta e escritor com 4 livros publicados - além de outros ainda inéditos. Angelo, além de participar da União Brasileira de Trovadores- UBT/Curitiba, do Centro de Letras do Paraná, da Academia Paranaense da Poesia (Cadeira 37) e da Academia de Cultura de Curitiba, fez parte da Comissão Municipal de Incentivo a Cultura da Cidade de Curitiba, contribuindo assim para arte e expressão cultural genuínas de nossa cidade.

Foi Juiz vogal da 18ª Vara do Trabalho de Curitiba. Por insistentes pedidos de amigos, familiares e da população, Angelo candidatou-se ao cargo de Vereador na eleição municipal de Curitiba no ano de 2000, sagrando-se mandatário da confiança popular, sendo então eleito pela primeira vez Vereador de Curitiba.

Foi reeleito para mais um mandato consolidando sua posição de defesa dos interesses da população curitibana. Na Câmara Municipal de Curitiba, além das suas atribuições como vereador presidiu a Comissão Permanente de Educação, Cultura, Bem Estar Social e Ecologia nos anos de 2001 e 2002.

Atualmente é membro da Comissão de Legislação, Justiça e Redação, da Comissão de Educação e Cultura e da Comissão do Eixo-Metropolitano, da CPI das Invasões, do Comupa e da Comissão de Revisão da Lei Orgânica de Curitiba, além de participações anteriores na Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização, da CPI da Telefonia, da CPI das Águas, da CPI das Funerárias e da CPI dos Combustíveis.

Eis a relação de Obras já publicadas pelo:

No Universo das Rimas - Poemas, Versos, Temas
Poetas da Feira e da Pátria Brasileira
Remediando Com Pílulas de Poesia
Contos do Balcão
Livreto Comemorativo - Bodas de Ouro de Francisco e Laura, Uma História de Amor

Fonte:
http://www.angelobatista.com.br/

Reinoldo Atem (Aquarelas Marinhas)


Prefácio

Após umas férias de um mês, há uns dez anos atrás, encantei-me pelo lugar e, a partir de então, tenho ido todos os anos com a família.
As paisagens marinhas e praias desertas, tendo ao fundo os recortes azuis da Serra do Mar, o trabalho dos pescadores, as dificuldades da pesca, as salgas do camarão, o temperamento afável do povo local, tudo isso nos faz querer retornar sempre.

As conversas de balcão de bar entre os pescadores, o perigo das águas-vivas numerosas, que vêm dar à praia e queimam nossa pele, podendo causar febre e vômito.
A graça dos sirizinhos garoçás, correndo enfiar-se em seus buraquinhos, a qualquer aproximação, erguendo as garrinhas brancas para defender-se.

As gaivotas numerosas voando em bandos nas alturas ou rasante sobre a água para agarrar algum peixinho. Os golfinhos que acompanham a movimentação dos barcos.
A maresia cheirosa e acolhedora, o vai-e-vem das marés.
Todos esses aspectos, em seu conjunto, formam um ambiente admirável, para quem vive nas cidades grandes.

Os animais endêmicos: o mico-leão-da-cara-preta e o papagaio chauá, o jacaré do papo-amarelo.
As moças caiçaras, bonitas e tímidas, habitando lugarejos variados, ao pé da serra, à beira d'água, escondidos nos recantos da Baía de Paranaguá, tão cheia de ilhas habitadas por gente do mar.

A Ilha de Superagüi, que antes era uma península, foi comprada toda, por volta de 1850, pelo cônsul geral da Suíça, em São Paulo, para planos de colonização da Ilha. Juntos vieram italianos, franceses, alemães.
Anteriormente, foi por lá que começou o povoamento do Paraná, pois, para quem vinha ao sul pelo mar, era o primeiro pedaço de terra paranaense encontrado.

Hoje é uma vila de pescadores artesanais, que sofrem concorrência das traineiras profissionais de fora, que lhes tiram o pescado, sem qualquer preocupação dos poderes públicos com a saúde e a sobrevivência daquela população afável e carente.

Reinoldo Atem

Radicou-se no Paraná aos quatro anos de idade, já tendo virado curitibano. Começou a interessar-se por literatura bem cedo, antes dos quinze anos de idade, lendo e escrevendo, principalmente poesia. Em Londrina, onde morava na época.

De volta a Curitiba, por volta dos vinte e cinco anos de idade começou a publicar por conta própria poesias e contos. Tem um livro de contos intitulado "Eterna Primavera". E vários de poesia: "Urbe Urge", "O Sopro de Tudo", "O Aprendizado da Vida", "Sob o Céu do País. Tendo também participado de várias coletâneas de prosa e poesia. Tem uma novela sobre a época da ditadura militar, intitulada "1971", uma metáfora sobre a repressão.

Naquela época, ainda, fundou em Curitiba, com alguns amigos escritores, a Editora Cooperativa de Escritores, que teve participantes de vários estados, em âmbito nacional. Mais tarde, fundou também em Curitiba, com outros amigos, de várias áreas das artes, o Movimento ZéBlue, que publicou revistas culturais abrangentes, expondo o trabalho de músicos, fotógrafos, escritores.

Editou por conta a revista cultural Outras Palavras, antes que Caetano Veloso lançasse o disco de mesmo nome. Foi elogiado, na Gazeta do Povo, em artigos de Miguel Sanches Neto e Wilson Martins, pelo seu trabalho de poesia.

Agora, volta à prosa com o livro Aquarelas Marinhas, retratando uma parte distante e desconhecida do Paraná, contando sua história e a vida dos pescadores artesanais.

FONTE:
http://reinoldoatem.com.br/

Folclore Japonês (Tanabata)


Através do céu estrelado de uma noite de verão, é possível avistar duas estrelas, em lados opostos: Altair e Vega. Dizem que estas duas estrelas foram, há muito tempo, um homem e uma mulher, que agora só se encontram um vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês, 7 de julho. A lenda a seguir é a história dos dois.

Era uma vez um homem, chamado Mikeram. Um dia, quando voltada do trabalho e andava perto de um lago, avistou uma manto preso a uma árvore. Era feito de tecidos finos, muito bonito e brilhante. “Que lindo manto! Deve valer uma fortuna”, pensou o rapaz. Ele pegou o manto e guardou consigo.

“Com licença senhor”, ouviu alguém dizer enquanto se preparava para ir embora. “O senhor viu o meu manto, ele estava aqui, sobre esta árvore?” Mikeram mentiu, “não, não vi nada parecido com um manto aqui”. “Ai, como voltarei agora para o meu reino, acima das nuvens, sem meu manto eu não consigo.”, disse a jovem mulher.

Ela se chamava Tanabata. Mikeram apaixonou-se pela linda mulher à primeira vista e tinha medo que, ao devolver o manto, ela partisse para longe. “Venha comigo, você pode ficar na minha casa enquanto não encontra seu manto sagrado”.

Eles se casaram e viveram juntos por alguns anos. Mas Tanabata olhava para as estrelas todas as noites, ela tinha muita saudade de seu reino. Todos os dias Mikeram saía para trabalhar e Tanabata ficava em casa, com os passarinhos. Um belo dia, ela viu um passarinho bicando algo no telhado e logo percebeu que era o seu manto.

“Então foi Mikeram que pegou meu manto, ele sabia o tempo todo”. Preparou-se para partir, vestiu seu manto e ia subindo, quando ouviu Mikeram gritando. “Você encontrou seu manto, me perdoe, não vá, eu te amo”. Tanabata gritou, “Se realmente me ama, faça mil pares de chinelos e enterre-os perto de um broto de bambu. Assim nós nos encontraremos novamente, eu estarei esperando”. E partiu voando.

Assim, dia após dia e noite após noite, Mikeram produziu chinelos e mais chinelos. Quando finalmente conseguiu juntar mil pares, correu para um broto de bambu e os enterrou. De repente, o bambu cresceu e cresceu. Sem perder tempo, Mikeram subiu até as nuvens. Mas, quando chegou perto do topo, percebeu que não havia mais árvore para subir e ainda faltava um pouco para chegarão topo. Na verdade, ele havia errado na conta, construíra somente 999 pares de chinelo.

“Tanabata, Tanabata, me ajude a subir, sou eu, Mikeram”. Tanabata ouviu os gritos do marido e correu para ajuda-lo. Quando ele finalmente conseguir subir, os dois se abraçaram. Mas de repente, ouviram um grito, “quem é você?”, perguntou o pai de Tanaba a Mikeram.

“Ele é meu marido e eu o amo”, disse Tanabata. O pai não gostou nada de Mikeram, ele era de outro reino e não servia para sua linda filha. “Para ficar aqui, meu rapaz, você terá que cumprir algumas tarefas. Está vendo aquelas cestas, eu quero que você plante todas as sementes que estão nelas”. “Sim, senhor, farei isso.”, respondeu timidamente Mikeram.

Havia milhares de sementes e ao final de três dias, Mikeram plantara todas. “Mas, o que significa isso? Você plantou as sementes no campo errado”, disse o pai, enfurecido. “Você terá que plantar todas novamente e rápido”, ordenou. Pobre Mikeram, levaria anos para achar todas as sementes e planta-las novamente.

Felizmente, Tanabata teve uma grande idéia: chamou seus pássaros de estimação e pediu para que eles achassem e replantassem todas sementes, juntos com outros pássaros amigos. Assim, o céu ficou coberto de pássaros, que cumpriram a tarefa.

O pai de Tanabata mal pode acreditar no que viu. Logo pensou em outra tarefa difícil para Mikeram: ele deveria cuidar da plantação de melancias por três dias e três noites, sem comer ou beber nada. “Tome muito cuidado, Mikeram, melancias são frutas sagradas no meu reino”, advertiu Tanabata, “não coma uma sequer.”

Após dois longos e cansativos dias, Mikeram estava exausto, como muita fome e sede. Ele não resistiu e abriu uma das milhares de melancia. De repente, uma enorme quantidade de água jorrou da melancia, como um rio turbulento, arrastando Mikeram para longe, muito longe do reino das estrelas e de Tanabata.

A partir deste dia, Tanabata e Mikeram se encontram somente uma vez por ano, no dia 7 de julho. Nesta data, o pai de Tanabata convoca todos os pássaros do reino para formar uma grande ponte, que leva Mikeram a Tanabata.
(autor desconhecido)
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O Festival Tanabata, ou Festival das Estrelas, combina tradição chinesa com crenças japonesas. Tanabata celebra o encontro de dois amantes míticos simbolizados pelas estrelas: Kengyu (a estrela Altair) e Shokujo (Vega). Estão separados pela Via Láctea, mas reúnem-se uma vez por ano, nos princípios de Julho. Muito famoso, o Festival Tanabata efetua-se de 6 a 8 de Agosto em Sendai, no distrito de Miyagi. Cada família local ergue um poste de bambu, profusamente decorado com tiras de papel colorido. As decorações mais elaboradas são colocadas ao longo das ruas do comércio. Dos tetos dos centros comerciais pendem centenas de decorações em papel, cada uma com mais de dez metros de altura. Na véspera do Festival Tanabata de Sendai, os organizadores montam uma fantástica exibição de mais de 10 mil peças de fogo de artifício para os dois milhões de turistas que assistem. O Tohoku Shinkansen (comboio rápido) leva-os de Tóquio a Sendai em pouco mais de duas horas
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Fonte:
Imagem = http://painandpower.blogger.com

domingo, 8 de novembro de 2009

Carlos Leite Ribeiro (O Papel)


O papel, tal como o conhecemos hoje, teve origem na China, misturando cascas de árvores e trapos de tecidos. Depois de molhados, eram batidos até formarem uma pasta. Esta pasta, depositada em peneiras para escorrer a água, depois de seca em superfícies planas, tornava-se uma folha de papel.

Na Europa, no final do século XIII, começa uma outra revolução no mundo da escrita: a substituição do pergaminho pelo papel. No entanto, a história do papel como suporte da escrita remonta ao ano 105 depois de Cristo e tem como protagonistas os chineses.

Dados históricos mostram que o papel foi muito difundido entre os árabes, e que foram eles os responsáveis pela instalação da primeira fábrica de papel na cidade de Játiva, Espanha, em 1150 após a invasão da Península Ibérica.

No final da Idade Média, a importância do papel cresceu com a expansão do comércio europeu e tornou-se produto essencial para a administração pública e para a divulgação literária. Johann Gutenberg inventou o processo de impressão com caracteres móveis.

Antes da invenção do papel, o homem se utilizava de diversas formas para se expressar através da escrita. Na Índia, eram usadas as folhas de palmeiras. Os esquimós utilizavam ossos de baleia e dentes de foca. Na China escrevia-se em conchas e em cascos de tartaruga. As matérias primas mais famosas e próximas do papel foram o papiro e o pergaminho. O primeiro, o papiro, foi inventado pelos egípcios e apesar de sua fragilidade, milhares de documentos em papiro chegaram até nos. O pergaminho era muito mais resistente, pois se tratava de pele de animal, geralmente carneiro, bezerro ou cabra e tinham um custo muito elevado.

Os Maias e os Astecas guardavam seus livros de matemática, astronomia e medicina em cascas de árvores, chamadas de "tonalamatl".

A palavra papel é originária do latim "papyrus". Nome dado a um vegetal da família "Cepareas" (Cyperua papyrus). A medula dos seus caules era empregada, como suporte da escrita, pelos egípcios, há 2 400 anos antes de Cristo. Entretanto foram os chineses os primeiros a fabricarem o papel como o actual, começando a produção de papel a partir de fibras de bambu e da seda.

A invenção do papel feito de fibras vegetais é atribuída aos chineses. A invenção teria sido obra do ministro chinês da agricultura Tsai-Lun, no ano de 123 antes de Cristo. A folha de papel fabricada na época seria feita pela fibra da Morus papyrifer ou Broussonetia papurifera, Kodzu e da erva chinesa "Boehmeria", além do bambu. Por volta do ano 610 depois de Cristo., os monges coreanos Doncho e Hojo, enviados à China pelo rei da Coreia disseminaram o invento pela Coréia e também pelo Japão. Entre os prisioneiros que chegaram a Samarkand (Ásia Central), havia alguns que aprenderam as técnicas de fabricação. O papel fabricado pelos samarkandos e coreanos, mais tarde, passaram a ser feitos com restos de tecidos, desprezando-se os demais materiais fibrosos.

Por volta de 795 instalou-se em Bagdad (Turquia) uma fábrica de papel. A indústria floresceu na cidade até o século XV. Em Damasco (Síria), no século X, além de objectos de arte, tecidos e tapetes, se fabricava o papel chamado "carta damascena", que se exportava ao Ocidente.

O Papiro: muito da História do Egipto nos foi transmitido pelos rolos de papiro encontrados nos túmulos dos nobres e faraós. Foram os egípcios que, por volta de 2200 antes de Cristo, inventaram o papiro, espécie de pergaminho e antepassado do papel.

Papiro é uma planta aquática existente no delta do Nilo. Seu talo em forma piramidal chega a ter de 5 a 6 metros de comprimento. Era considerada sagrada porque sua flor, formada por finas hastes verdes, lembra os raios do Sol, divindade máxima desse povo. O miolo do talo era transformado em papiros e a casca, bem resistente depois de seca, utilizada na confecção de cestos, camas e até barcos.

Para se fazer o papiro, corta-se o miolo do talo - que é esbranquiçado e poroso - em finas lâminas. Depois de secas em um pano, são mergulhadas em água com vinagre onde permanecem por seis dias para eliminar o açúcar. Novamente secas, as lâminas são dispostas em fileiras horizontais e verticais, umas sobre as outras. Esse material é colocado entre dois pedaços de tecido de algodão e vai para uma prensa por seis dias. Com o peso, as finas lâminas se misturam e formam um pedaço de papel amarelado, pronto para ser usado.

De papiro, deriva-se a nossa palavra papel. O seu uso na escrita vem de 3000 antes Cristo, era o Pergaminho, que é pele de animal, curtida e polida utilizada na escrita. Vem dos primórdios da era Cristã.

A palavra Bíblia, que quer dizer livro, deriva do nome do porto de Biblos, no Líbano, que era o principal porto de exportação de rolos de papiro. Na literatura egípcia de 2.500 antes de Cristo, já se encontram tratados científicos de medicina, textos religiosos, manuais e mesmo obras de ficção científica! Em particular, a história das aventuras do faraó Snofru, pai de Quépis, é um verdadeiro romance de antecipação de invenções extraordinárias, de monstros e máquinas.

Em 2200 antes de Cristo, usava-se para pinturas e registos da época, algo como pergaminhos: o papiro. Na verdade o papiro é uma planta aquática, originária do Delta do Nilo. Sua família científica é Cyperus Papyrus. Os antigos egípcios extraiam a casca da planta e a usavam para artesanatos, camas e barcos. O miolo era cortado em finas tiras que, depois de secas em um pano, eram mergulhadas em água com vinagre, permanecendo ali por seis dias.

Existe um antigo papiro egípcio escrito por volta de 2000 antes de Cristo, que nos conta da existência de um mágico chamado Dedi. O relato, nos conta à história de sua incrível performance perante a corte do faraó Queops. Dizia-se que era capaz de colocar a cabeça de volta em corpos decapitados fazendo-os voltar à vida, entre outros truques. De seu número perante a corte, diz-se que lhe trouxeram um ganso decapitado, o qual ele pôs do lado oeste da sala, e com algumas palavras mágicas fez com que a cabeça voltasse ao sítio.

O primeiro jogo de adivinhação inventado pelo ser humano, e também o provável primeiro jogo de palavras da História, faz parte do folclore oral da maioria dos povos desde tempos imemoriais, assim como as lendas e os mitos. O Livro dos Recordes, o mais antigo quebra-cabeças matemático também é uma adivinha, encontrada num papiro egípcio datado por volta de 1650 antes de Cristo.

Na história da origem da anatomia, o mais antigo tratado anatômico existente é um papiro egípcio escrito por volta de 1600 antes de Cristo . Ele demonstra que o coração, fígado, baço, rins, ureteres e vesícula já eram conhecidos. Os egípcios acreditavam que a causa da dor estava na possessão de deuses ou espíritos. A história da prática médica egípcia está descrita em sete papiros, entre os quais o papiro de Georg Ebers de 1550 antes de Cristo é o mais extenso e que contempla descrições de varias doenças, os tratamentos médicos, encantamentos e feitiços. Há evidências de que os egípcios também buscaram outras explicações além das causas divinas para a causa das doenças.

Outro papiro Egípcio importante é o de Ebers, que relata casos que envolvem a causa orgânica do esquecimento, depressão e outras condições clínicas importantes. A prática Cirúrgica e as Civilizações Sul-Americanas. A história do cérebro e dos comportamentos, sempre esteve intimamente relacionada com praticas de abertura cirúrgica do cérebro e procedimentos neurocirúrgicos de craniotomia. Essa cirurgia, extremamente difícil, tem sido feita desde o período paleolítico até os dias actuais. Importante notar que nem todas craniotomias foram feitas por problemas de traumatismo cranianos, e que evidências de cérebros que passaram por trepanação. Os instrumentos mais antigos encontrados, para tais cirurgias eram compostos de pedras, mas com o advento de novas tecnologias começam a serem empregados instrumentos feitos de ferro e bronze.

Voltando ao papel, o seu fabrico é a madeira, a sua obra-prima mais importante. Até um passado recente foi utilizada, principalmente, a madeira das coníferas, com predomínio do pinheiro e do abeto, mas actualmente emprega-se cada vez maior quantidade a madeira de árvores caducifólias, com maior incidência para o álamo, a bétula e o eucalipto.

Definitivamente aceite, com relativa exatidão, a data da invenção do papel, no ano de 105 da era Cristã, na China. O seu inventor, Ts’ai Lun, apresentou ao imperador Ho Ti informação sobre o seu processo baseado no emprego de cascas de árvores, Cânhamo, trapos e velhas redes de pesca como principais matérias primas. O segredo do fabrico do papel foi ciosamente guardado durante cerca de sete séculos, tendo o isolamento e as dificuldades de comunicação ajudando a impedir a propagação do invento.

O fabrico do papel foi introduzido, porém, no Japão, onde já era conhecido no ano 611 e, mais tarde, viria a estender-se a outras regiões em desenvolvimentos históricos. O papel chegou à Península Ibérica, após a invasão árabe tornou possível a primeira fábrica, em 1150, em Xativa (Valência), que foi a primeira fábrica na Europa.

Em Portugal é aceite que a utilização do papel remonta ao reinado de D. Dinis. Quanto ao seu fabrico, os primeiros engenhos foram levantados no arredores da cidade de Leiria, junto ao rio Lis, por Gonçalo Lourenço de Gomide, escrivão da puridade de D. João I, que em 1411 recebeu dois moinhos em ruínas por escambo celebrado com as freiras de Santa Clara de Coimbra. Posteriormente aparecem as fábricas da Batalha em 1514, de Fervença (perto de Alcobaça) em 1537 e de Alenquer em 1565. Portugal, porém, não era auto-suficiente, e continuava a importar papel, nomeadamente de França e de Itália.

A fundação da fábrica da Lousã, em finais de XVII, provocou a expansão da industria do papel, aumentando a produção e a qualidade. Em 1802, Moreira de Sá fundou a fábrica de Vizela, segundo alguns estudiosos a primeira do mundo a fabricar pasta de madeira, pois até então era feita de trapos. No ano de 1863, existiam 52 fábricas produtoras de papel em Portugal.

Para o fabrico do papel, as matérias-primas, ou o conjunto de produção necessário ao seu fabrico, são a água, as diferentes pastas (mecânica, química, semimecânica, semiquímica, etc.), os papéis velhos, as cargas e os produtos auxiliares, cuja função é conferir ao papel qualidades complementares ou especiais, como a resistência, coloração, impermeabilidade, etc.

As pastas e os papéis velhos são desintegrados e libertos das impurezas grosseiras. Após as operações de depuração de refinação, a suspensão é diluída. As cargas e os produtos auxiliares são geralmente incorporados no decurso destas operações. As cargas utilizam-se essencialmente em papéis de escrita e de impressão para lhes aumentar os graus de opacidade e de brancura, embora lhes diminua o grau de resistência. As principais cargas utilizadas ao longo das várias épocas e para diferentes finalidades são constituídas por caulino, talco, carbonato de cálcio. Ultimamente, começou a ser utilizado, com vantagens qualitativas, carbonato de cálcio, farinha cálcio e magnésio, óxido e sulfureto de zinco.

Fonte:
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal. Portal CEN.

Walter Galvani (Mal Rompe a Manhã...”)

Amanhecer em Alcafache (pintura em pastel s/cartolina)
de Eduardo Soares Pereira Leitão
Por força das circunstâncias e uma longa atividade jornalística, acabei formatando (como diriam os viciados em informática) um estilo que se caracterizava por deitar tarde e levantar tarde. Depois a corrupção de costumes foi completada com o trabalho em um vespertino (sonho e glória de muitos jornalistas, mas hoje quase completamente expurgado do mercado pelo advento das televisões e as confusões do trânsito) que me propiciava a chance de dormir cada vez menos e misturar cada vez mais os horários.

O tempo foi fazendo seus habituais estragos, ventos de mais de cem quilômetros passaram a se tornar presentes em nossas vidas e meus relógios revolutearam também enlouquecidos. Hoje, levanto na hora em que antes ia deitar... E então, depois de um bom café à moda dos hotéis brasileiros, sento-me diante do computador. Tomo conhecimento do correio eletrônico, recebo e respondo as mensagens mais urgentes ou mais caras e começo a dedilhar em busca do primeiro texto ou da continuação do que venho transacionando comigo mesmo.

Como diria o velho e insubstituível Drummond: “A luta com as palavras/ é luta vã/ No entanto lutamos/ mal rompe a manhã!”

Hoje um texto curto, amanhã um artigo para uma revista, depois o romance, ah sim, o romance, desafiador, que ressurge sempre, estocado na memória do computador e que a um simples toque deixa seu esconderijo virtual e perpassa minha tela à espera da continuidade, ou para sofrer pacientemente as retificações. Entusiasmo-me e levo adiante, aproveitando o momento propício que se criou e que se repete todo o santo dia, menos aquele que sou obrigado a excluir para devotá-lo integralmente à incineração diante das necessidades prosaicas de vida bancária ou profissional jornalística, algo que me dá um prazer sofrido e condenado.

Certa vez, perguntaram a Pablo Picasso se ele acreditava em inspiração. “Sim, claro - foi sua resposta imediata. Sempre que ela chega me encontra trabalhando”.

E assim é, como foi hoje mesmo e como será amanhã. Cercado por livros, amigos e necessários apoios, com os dicionários alinhados à minha espera, e as fotos da minha mulher e das minhas filhas, como ícones capazes de me garantirem a tranqüilidade, sigo martelando com vigor datilográfico (velhas máquinas Remington e Olivetti) o teclado onde deveria pousar levemente a polpa dos dedos, num exercício de balé eletrônico. Minha digitação acompanha com o seu ritmo o progresso do meu pensamento, que, naturalmente por vezes ultrapassa a velocidade da sua conversão em matéria.

Vá lá, vá lá, ando para trás e para diante, retomo e súbito, um gesto desastrado destrói o que já se acumulava, é preciso recomeçar e eis que o telefone toca.

O recomeço é sempre mais difícil, é como descer um patamar do sonho, é um recuo e aos poucos vou deixando a minha identificação com o vôo. Os cães latem. Há uma nova retomada. Agora reviso o que fiz, retoco, reescrevo, ponho a dourar, reservo e estoco no fundo do misterioso computador. Amanhã, quando a manhã começar, descongelo e retomo o ritmo, procurando rapidamente acertar o passo, antes do mergulho.

Durante o restante do dia, viajo. Entrego-me a outras atividades, sinto que preciso fazer algumas anotações, faço exercícios de memória, mas o texto está lá, distante, ainda não o imprimi para que possa senti-lo, cheirá-lo e mostrá-lo quem sabe a alguém que possa perceber o que estou pretendendo dizer e confirmar-me que recebeu a mensagem, totalmente.

Perco minhas lembranças durante o dia, envolvido na movimentação, nos contatos, nos telefonemas, no trabalho e nas leituras. Os jornais, com textos tão dispersos e tão pouco inspiradores, ou os artigos retirados e reservados para leitura posterior. Há, sim, os livros que estão sendo lidos, religiosamente. Salto de um para o outro, vejo pouquíssima televisão, um pouco mais antes de preparar o sono, e diante de mim, outra vez a manhã.

E puxo então novamente da memória do computador o texto que dormiu o sono justo do esquecimento e lá está ele, implacável, a me cobrar a continuidade. Não, hoje não, ainda não está maduro, a digitação só vai perturbar o que está consolidado, mando-o de volta para sua caverna eletrônica.

Quando termino aquela jornada, alinho a nítida impressão de que desperdicei um dia de minha vida e com este sentimento venenoso faço todo o giro habitual, novamente o sono e outra vez o despertar com a expectativa de que, hoje sim, farei ressurgir do poço fundo do esquecimento, em todo o seu esplendor o que estou buscando botar de pé. Vejo e revejo os erros, hoje mais claros do que anteontem. Refaço, registro, faço o salvamento necessário para que seja aproveitado e sigo adiante. Outra vez o mesmo sofrimento, mal rompe a manhã...”
Portanto, de hoje em diante, “nenhum dia sem uma linha”.
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Fonte:
http://www.escritoresdosul.com.br/

Erros Mais Comuns da Lingua Portuguesa (Parte IV)



61 – A moça estava ali “há” muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.)

62 – Não “se o” diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc.

63 – Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas.

64 – Fique “tranquilo”. O u pronunciável depois de q e g e antes de e e i exige trema: Tranqüilo, conseqüência, lingüiça, agüentar, Birigüi.

65 – Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

66 – “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto.

67 – Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores.

68 – Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia.

69 – Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos mesmos”).

70 – Vou sair “essa” noite. É este que desiga o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 21).

71 – A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora.

72 – A promoção veio “de encontro aos” seus desejos. Ao encontro de é que expressa uma situação favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa condição contrária: A queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria.

73 – Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu.

74 – Se eu “ver” você por aí… O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos.

75 – Ele “intermedia” a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio.

76 – Ninguém se “adequa”. Não existem as formas “adequa”, “adeqüe”, etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc.

77 – Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pessoas em que depois do d vêm e e i: Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”, substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “precavenho”, “precavenha”, “precaveja”, etc.

78 – Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”, etc.

79 – Disse o que “quiz”. Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos.

80 – O homem “possue” muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue.

Fonte:
http://www.culturatura.com.br/

Walter Galvani (1934)



Escritor e jornalista brasileiro, nascido em 1934 em Canoas (RS) tem 55 anos de carreira como jornalista e 39 como escritor.

Walter Galvani, cujo sobrenome se completa com “da Silveira”, o que denota um costado açoriano em suas raízes, tem também ascendentes alemães (Henemann), italianos (Galvani), indígenas (Santos), resultado de uma mestiçagem, tipicamente brasileira. Nasceu em Canoas, 1934, então modesta cidade da região metropolitana de Porto Alegre, capital e centro regional de comércio, indústria e prestação de serviços do estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. Canoas hoje tem mais de 300 mil habitantes e é um grande pólo industrial e comercial.

Foi aluno do Centro Educacional La Salle, em sua terra natal, onde fez seus estudos básicos e deu os primeiros passos na carreira jornalística, atuando no órgão interno “Ecos de São Luiz”, sob a égide do Irmão Henrique Justo. Ali mesmo fez curso de Artes Gráficas e mais tarde, em Canoas, iniciou sua carreira jornalística, no jornal “Expressão”, em setembro de 1954.

Sua formação é de autodidata mas tem vários cursos de aperfeiçoamento em jornalismo e em línguas, como espanhol, italiano e inglês.

Em fevereiro de 1955 transferia-se para a redação do “Correio do Povo”, então o maior jornal do Rio Grande do Sul, iniciando sua atividade na seção de Esportes, setor em que permaneceu por doze anos, saltando em 1958 para a redação da “Folha da Tarde”.

Desde então percorreu todos os postos imagináveis numa redação de jornal, passando a atuar também no rádio, na Rádio Guaiba AM de Porto Alegre, a partir de 1960 e mais adiante na Rádio Pampa, depois retornando para a Guaíba.

Teve várias seções especiais na Imprensa: “Sua Alteza o Esporte”, na Folha da Tarde; “Preto no Branco”, sobre atividade social, cultural e promocional no mesmo jornal e “Área Verde”, seção pioneira para tratar de ecologia e defesa dos interesses comunitários, encerrada num gesto insólito de violência da censura exercida na própria redação pela direção da empresa na “Folha da Tarde”.

Foi o iniciador do projeto de aproveitamento de jovens jornalistas, através do Estágio Profissional, a partir de 1966, na Cia. Jornalística Caldas Júnior e que redundou em grande sucesso com aproveitamento de 46% dos estudantes de jornalismo dos cursos de comunicação de Porto Alegre.

Ao longo deste mais de meio século de carreira, exerceu sua atividade nos seguintes veículos: Expressão, Correio do Povo, Folha da Tarde, Folha Esportiva, Folha da Manhã, O Momento, O Timoneiro, Jornal da Semana, Revista do Globo, revista “Rua Grande” de São Leopoldo, Jornal da Semana, rádios Pampa (1986) e Guaíba (de volta em 1991) e jornais Diário de Canoas, ABC DOMINGO, colaborando ainda com outros jornais do interior, como “A Razão” de Santa Maria, “Diário Popular” de Pelotas e “Folha do Pampa” de Caçapava do Sul, revistas como “Porto&Vírgula” (Porto Alegre), “Tópicos” (Berlim, Alemanha) e Cadernos de Literatura da AJURIS (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul).

Foi repórter, redator, subchefe de reportagem, chefe de reportagem, subsecretário e secretário de redação, e finalmente diretor de redação, nesse caso, no jornal “Folha da Tarde” de 1981 a 1984. Hoje é colunista de diversos veículos, entre os quais o ABC DOMINGO e o Diário de Canoas, ambos do Grupo Editorial Sinos, o jornal “A Razão”, de Santa Maria, e o diário mais antigo do Rio Grande do Sul, sem nenhuma interupção desde 1884, o “Diário Popular”, da gloriosa cidade de Pelotas.

Durante três anos (1972 a 1975) editou a revista “Signo Comunicação”, dedicada a temas da área de comunicação social, com redação em Porto Alegre.

Durante o ano de 1998 dedicou-se à investigação histórica em Portugal, Espanha, Italia e França, junto às fontes primárias, de temas relativos ao descobrimento do Brasil e que valeram a informação e a experiência para escrever “Nau Capitânia”, a primeira biografia de Pedro Álvares Cabral em 500 anos de história, conforme registrou o jornal “O Estado de São Paulo”.

Sua carreira garantiu-lhe inúmeros prêmios, honrarias e o reconhecimento da comunidade. Prêmio ARI de Jornalismo da categoria Crônicas (1968 e 2001), Troféus Amigo do Livro, Amigo do Teatro, Destaque em Cultura e Jornalismo, Troféu Imortal da Cultura em 2007.

É Comendador da Ordem de Santos Dumont, conferida pelo Ministério da Aeronáutica (1983); tornou-se Comendador da Ordem de “El Leon de San Marco”, Veneza (1987); sócio benemérito da Associação Riograndense de Imprensa (1992); no ano de 1999 foi eleito para a Cadeira 25 da Academia Riograndense de Letras; recebeu o título de “Cidadão Emérito de Porto Alegre”, atribuído pela Câmara Municipal a 21 de março de 2000; recebeu o Prêmio Literário “Erico Verissimo”, da Câmara Municipal de Porto Alegre (ano 2000); Prêmio Clio de História do Brasil para o livro “Nau Capitânia” em outubro de 2000; Prêmio Jônatas Serrano, da Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores, (História) para o livro “Nau Capitânia” (novembro de 2000); pelo livro “Nau Capitânia” recebeu o Prêmio “Casa de Las Américas” de Cuba, a 31 de janeiro de 2001; recebeu a “Medalha Cidade de Porto Alegre” a 26 de março de 2001.

Foi patrono da Feira do Livro nas cidades de Canoas (1994) , Guaiba (2000), Caí (2006) e Porto Alegre. (Em 2003, na 49a. Feira do Livro da capital gaúcha.)

Publicou até aqui os seguintes livros: “Brasil por linhas tortas”, duas edições, 1970 e 1971; “Informação ou… morte” (1972); “Andanças e Contradanças” (1974); “A Noite do Quebra-Quebra”, uma novela, editora Mercado Aberto, (1993) “Um Século de Poder – Os bastidores da Caldas Júnior” (duas edições, 1994 e 1995); “Olha a Folha – amor, traição e morte de um jornal” (1996), e “Nau Capitânia – Pedro Álvares Cabral, como e com quem começamos” – cinco edições (Record, Rio de Janeiro, 1999 e subseqüentes) e uma edição em Portugal, Gradiva, ano 2000 em Cuba e México, em espanhol, 2001. O romance “Anacoluto do princípio ao fim” (2003) Editora Record e “A Feira da Gente” (2004), comemorando o cinquentenário da Feira do Livro de Porto Alegre e “Crônica – o vôo da plavra”, pela Editora Mediação em 2006, aliás premiado como livro do ano em não ficção no RGS” pela AGES (Associação Gaúcha de Escritores). “O Prazer de Ler Jornal”, Editora Unisinos, São Leopoldo, 2008 e “Dolly mudou a minha vida”, editora Age, entrevista com Christiane Campello Costa.

Tendo-se dedicado à pesquisa histórica com vários trabalhos em andamento tem apresentado artigos, comunicações e palestras em diversas oportunidades e eventos, como na 9ª Jornada de Literatura de Passo Fundo, onde falou sobre “leitores do futuro” (2001).

Participou de uma antologia de crônicas sobre Porto Alegre, premiada com o Prêmio Açorianos de 1994, denominada “A Cidade de Perfil”, coordenada por Sérgio Faraco e de uma antologia “Brasil: receitas de criar e cozinhar”, organizada por Patrícia Bins, edição da AGE Editora, 2001. Pela editora Casa Verde participou de três antologias de mini-contos.

É considerado um dos maiores incentivadores da indústria turística no Rio Grande do Sul pelo seu trabalho permanente no setor e pelo que fez especialmente pela Região das Hortênsias, agrupando Gramado e Canela. Recebeu o título de “Comendador das Hortênsias” pelo município de Gramado (2001).

Exerce ainda as funções de consultor para a área de Comunicação Social, tendo passado por grandes instituições e empresas como o Hospital Moinhos de Vento, Zivi-Hércules, Sindicato das Indústrias Mecânicas e Metalúrgicas de Canoas, Iriel Indústrias Elétricas e Urano Indústria de Balanças e Equipamentos Eletrônicos de Canoas.

Eventualmente tem colaborado com grandes órgãos de comunicação da imprensa mundial como o jornal “Clarín”, de Buenos Aires, Argentina.

Atualmente, está atuando no Conselho Estadual de Cultura, como conselheiro.

Durante quatro anos, de 2003 a 2007, atuou como integrante do Conselho Estadual de Cultura do estado do Rio Grande do Sul.

Desenvolveu trabalho como assessor cultural da Pró Reitoria de Extensão da PUCRS durante três anos, de março de 2005 até o final de 2007.

Atualmente fala às quintas-feiras dando “Dicas de Literatura”, na rádio Guaíba AM de Porto Alegre, no programa apresentado por Jurandir Soares, “Guaiba Revista” levado ao ar às 14h30min.

Está trabalhando em mais duas pesquisas que, provavelmente, renderão novos livros.

Na gaveta, um romance pronto e um livro de contos, aguardando oportunidade na fila, para publicação.

Lecionou, já para duas turmas da Unisinos, a cadeira de “Biografia e Autobiografia”, no Curso de Formação de Autores e Agentes Literários.

Está realizando oficinas na área de Biografia e Autobiografia.

Fontes:
http://www.waltergalvani.com.br/
http://www.escritoresdosul.com.br/

Poesias Gauchescas


Adão Carrazzoni de Jesus
SAUDADE DA QUERÊNCIA

Tamanho da fonte
Sou um gaúcho perdido
no turbilhão da cidade
e vivo, assim, entristecido,
carregando esta saudade.

Esta dor comigo eu trago
bem dentro do coração:
- Saudade lá do meu pago,
da querência, do rincão...

da chinoca endiabrada,
do cavalo alazão,
do pouso à beira da estrada,
do amargo chimarrão...

Do meu velho chiripá,
das botas e do facão,
do clarão do boitatá,
do quero-quero gritão...

De tudo saudades tenho,
de tudo o que é do Rio Grande
e nesta tristeza me embrenho,
minha alma não se expande!..
=========================

Adenir Paz da Silva
CRIA DE BAGÉ

Não bebo na orelha dos outros
nem gasto pólvora em chimango.
Na vida eu mesmo me mando,
não nasci pra virar padre,
não levo ninguém pra compadre
e nem desaforo pra casa
sou ferrão de mamangava,
azedo que nem vinagre.

Veneno de cascavel,
sou liso, agüento o repuxo,
não nego que eu sou gaúcho,
já quebrei muito corincho,
sou arisco que nem capincho,
estou sempre em prontidão,
nunca afrouxei o garrão,
sou valente e não me micho.

Pago com fio de bigode,
não devo vela pra santo,
se caio já me levanto,
se prometo já está feito,
sou xucro, este é o meu jeito,
fui criado abagualado,
meio atirado pros lados,
ser grosso é o meu defeito.

Grudo mais que carrapicho
no lombo de um cavalo,
pinguancha é o meu regalo,
na vida esse é meu vício,
peleando sou estrupício,
derrubo mais que cachaça,
dançando sou pé-de-valsa,
gritando faço um comício.

Sou um índio de respeito,
mas logo viro tormento
pra quem me puxar o lenço
sem a minha permissão,
já tiro satisfação
para cobrar o prejuízo,
com tenência e com juízo
ninguém me tira a razão.

Desmamado em tempo certo
cresci lindaço no más,
preocupação pros meus pais
tenteando no campo a eguada,
guri, não temia nada,
o tempo era só meu,
que vida que Deus me deu!,
tranqüilo e dando risada...

Nasci no Rio Grande do Sul,
pêlo duro de fronteira,
comigo não tem tranqueira,
só em Deus eu levo fé,
gosto de chimarrão e mulher,
sou orelhano sem marca,
sou livre, sou um monarca.
Eu sou cria de Bagé!
====================
Adilza Laydner de Castro
COLCHA DE RETALHOS

Um por um vou cozendo, na memória,
os retalhos que a vida vai deixando
nessa nesga fugaz e transitória
que a gente vai, aos poucos, remendando...

Celestes, róseos, rubros de vitória,
garços, níveos quais lírios despontando...
Depois negros - velada luz marmórea...
Depois cores ao tempo desbotando...

Faço, agora, os debruns, acabrunhada,
com pespontos de seda machucada
e matizes de brumas nos entalhos...

Velozes vão cruzando por meus dedos
as tramas, os urdumes, os enredos
dessa colcha bem pobre de retalhos!
==================

Albeni Carmo de Oliveira
A AGONIA DE UM RIO

Velho rio que certo dia
Serviu de praia p'ra mim.
Velho rio que está no fim
Atirado ao abandono.
Quantas noites perco o sono
Pensando na ingratidão,
Pois a tal poluição
Já te desbanca do trono.

Velho rio que ainda reflete
O mais lindo pôr-do-sol,
Lembro um caniço, um anzol
E eu pescando pintado,
Velho rio, que no passado
Era largo, era bonito.
Mas que depois aos pouquitos
Foste ficando apertado.

Velho rio que sempre foi
Orgulho do bom gaúcho.
Velho rio que deu-se ao luxo
De ver crescer ao teu lado,
A Capital do Estado
Com um progresso crescente
Também vizinho de frente
Guaíba tem prosperado.

Velho rio, quanta saudade
Que dor que meu peito sente.
Por que será que esta gente
Não pára para pensar?
Que não dá mais para agüentar
Esta injusta covardia,
Ao notar que a cada dia
Alguém manda te aterrar.

Pois de aterro em aterro
Já mudaram o teu leito,
E agora querem um jeito
Para curar a ferida
Do propalado inseticida
Nas lavouras aplicado,
Pois água contaminada
Não faz bem p'ra nossa vida.

Se tu pudesses falar
Tu dirias com certeza:
- De que adianta riqueza
Para uma cidade que cresce,
Se a população esquece
Entre a farra e a bebida
Que a água fonte da vida
Aos poucos desaparece.

É, velho Guaíba estuário,
Teus dias estão no fim!
E eu sinto que seja assim
Que o velho rio vá morrer,
Pois não posso entender
O que será de uma comunidade
Vivendo numa cidade
Sem água para beber…
==================

Ângela Gomes/Anelise Severo
CAMPESINA

Volto em silêncio pra beber das velhas fontes,
Molhar os pés naquela sanga cristalina.
E logo ali vai desbravar os horizontes,
Pra libertar os teus anseios de menina.
Cabelos longos fustigados pelo vento,
Sons de dialetos, vozeiril dos parreirais.
Um rio inquieto, com nostálgicos lamentos,
A imitar o santo chão dos ancestrais.

Tudo me chama no verdor dessas ramagens,
Vales e montes, terras férteis e entrevais.
Adolescente os meus sonhos tem paisagens,
E vida afora, não me deixarão jamais.

Junto às encostas meus avós plantaram fundo,
As esperanças pra colher mundo melhor.
Descortinaram o nascer de um novo mundo,
Feito de luta, de trabalho e muito suor.
Meu canto tem a mansidão de lamparinas,
Nasceu liberto sem maneia nem buçal.
Mas não renega sua origem campesina,
Mesclando raças no sonoro madrigal.

Tudo me chama verdor dessas ramagens,
Vales e montes, terras férteis e entrevais.
Adolescente os meus sonhos tem paisagens,
E vida a fora, não me deixarão jamais.
==================

Anita Ramos Gonzales
A SESTA

Desencilha o cavalo, está na hora,
o sol a pino à sesta nos convida!
E o gaúcho termina a sua lida
- começada, bem cedo, antes da aurora.

Lá na campanha há toda calma agora:
tudo dorme na terra estremecida!
Ruminam bois na sombra em paz ungida.
Ao longe...um cordeirinho baba e chora.

Os pássaros se escondem no arvoredo,
em sussurros, parece de segredo,
respeitando o silêncio do rincão.

Mas...à sombra do umbu na soalheira,
a gente ouve a cigarra cantadeira
que na hora da sesta faz...serão.
-----------------

Isaac Asimov (Tempo Para Escrever)



- Conheci uma pessoa que era um pouco parecida com você – disse George.

Estávamos almoçando em um pequeno restaurante, em uma mesa perto da janela, e George olhava para fora com ar pensativo.

- Estou surpreso – disse eu. – Pensei que eu fosse único.

- E é. O homem a que me refiro só se parecia um pouco com você. Ninguém mais no mundo possui essa sua capacidade de escrever, escrever, escrever sem colocar nenhuma idéia no papel.

- Acontece que eu uso um processador de texto.

- Usei a palavra “escrever” no sentido figurado. Qualquer escritor de verdade compreenderia isso – declarou, parando de comer a mouse de chocolate para dar um suspiro dramático.

Eu conhecia o sinal.

- Vai me contar mais uma daquelas histórias fantasiosas a respeito de Azazel, não vai, George?

Ele me dirigiu um olhar de desprezo.

- Você vem inventando mentiras há tanto tempo que não sabe mais reconhecer um relato verdadeiro. Mas não tem importância. A história é triste demais para ser contada.

- Mesmo assim, você vai me contar, não vai?

George suspirou de novo.

Foi aquela parada de ônibus lá fora [disse George] que me fez lembrar de Mordecai Sims, que ganhava modestamente a vida produzindo laudas e mais laudas de lixo variado. Não tantas quanto você, nem tão imprestáveis, e é por isso que eu disse que só se parecia um pouco com você. Para ser honesto, às vezes o que ele escrevia chegava a ser razoável. Sem querer ferir seus sentimentos, você jamais chegou a esse ponto. Pelo menos pelo que me contaram, porque ainda não baixei meus padrões a ponto de ler pessoalmente o que você escreve.

Mordecai era diferente de você em outra coisa: era terrivelmente impaciente. Mire-se naquele espelho, se é que não se importa de ser cruelmente lembrado de sua aparência, e veja como está sentado displicentemente, com um braço jogado nas costas da cadeira e o resto do corpo em total abandono. Olhando para você, ninguém diria que está preocupado em entregar a tempo sua cota diária de caracteres digitados ao acaso.

Mordecai não era assim. Vivia preocupado com os prazos, que pareciam estar sempre para vencer. Naquela época, eu almoçava com ele toda terça-feira, mas ele tirava toda a graça da refeição com suas lamúrias.

- Tenho de colocar este artigo no correio amanhã de manhã, o mais tardar – dizia ele -, mas primeiro tenho de rever outro artigo, e simplesmente não vai dar tempo. Quando é que vai chegar a comida? Por que o garçom não aparece? O que eles estão fazendo na cozinha? Batendo papo?

Ele se mostrava particularmente irrequieto na hora de pagar a conta, e mais de uma vez temi que fosse embora, deixando para mim a triste incumbência. A bem da verdade, isso nunca aconteceu, mas a simples possibilidade era suficiente para me estragar o apetite.

Olhe para aquele ponto de ônibus. Estive a observá-lo durante os últimos quinze minutos. Não passou nenhum ônibus, e hoje é um dia frio e ventoso. O que vemos são casacos abotoados, mãos nos bolsos, narizes vermelhos ou arroxeados, pés se arrastando no chão em [1]busca de calor. O que não vemos é nenhum sinal de revolta, nenhum punho cerrado levantado para o céu. As injustiças da vida tornaram aquelas pessoas totalmente passivas.

Mordecai Sims não era assim. Se estivesse naquela fila de ônibus, ficaria no meio da rua para espreitar o horizonte à procura do primeiro sinal de um veículo; estaria resmungando, rosnando e agitando os braços; comandaria uma passeata em direção à prefeitura. Seu sangue, para resumir, estaria carregado de adrenalina.

Mais de uma vez, ele me procurou para se queixar, atraído, como tantos outros, pelo meu ar sereno de competência e compreensão.

- Sou um homem ocupado, George – afirmava, atropelando as palavras. Ele sempre atropelava as palavras. – É uma vergonha, um escândalo e um crime a forma como o mundo conspira contra mim. Tive de passar no hospital para alguns exames de rotina, só Deus sabe por quê. Acho que meu médico resolveu justificar o dinheiro que eu lhe pago. Disseram-me para me apresentar na sala de espera às 9:40.

“Cheguei lá exatamente às 9:40, é claro, e havia um cartaz na parede que dizia: “Aberto a partir das 9:30.” Era exatamente isso que o cartaz dizia, George, para quem quisesse ver. Na mesa da recepcionista, porém, não havia ninguém.

“Consultei o relógio e disse para uma faxineira que passava: “Onde se encontra a funcionária relapsa que devia estar atrás dessa mesa?”

“”Ainda não chegou”, respondeu a faxineira.

“”Aqui diz que o lugar funciona a partir das 9:30.”

“”Mais cedo ou mais tarde, alguém vai aparecer”, observou a faxineira, com irritante indiferença.

“Afinal de contas, eu me encontrava em um hospital. Podia estar à morte. Alguém se importava com isso? Não! Eu tinha prazo para entregar um trabalho importante, que me havia custado muito esforço e me renderia dinheiro suficiente para pagar a conta do médico (supondo que eu não tivesse uma forma melhor de gastá-lo, o que não era provável). Alguém estava se incomodando? Não! A recepcionista só apareceu às 10:04, e quando me aproximei da mesa, aquela maldita retardatária olhou para mim de cara feia e disse: “Vai ter de esperar a sua vez!

Mordecai vivia contando histórias como aquela; falava de edifícios nos quais todos os elevadores estavam subindo ao mesmo tempo, parando em todos os andares, enquanto ele esperava na portaria; de pessoas que almoçavam do meio-dia às 15:30 e começavam o fim de semana na quarta-feira sempre que precisava falar com elas.

Não sei por que alguém se deu o trabalho de inventar o tempo, George – dizia para mim. – Não passa de um artifício para tornar possível a formação de novos métodos de desperdício. Se eu pudesse transformar as horas que passei esperando esses imbecis em tempo de trabalho, minha produção aumentaria de dez a vinte por cento. O que, apesar da sovinice criminosa dos editores, resultaria em um aumento substancial da minha renda… a comida vai chegar ou não?

Eu não podia deixar de pensar que ajudá-lo a aumentar a renda seria uma boa ação, principalmente porque ele tinha o bom gosto de gastar parte dela comigo. Além disso, costumava escolher os melhores restaurantes para jantarmos juntos, o que me deixava comovido… Não, não como este aqui, amigo velho. Coisa muito melhor. O seu gosto deixa muito a desejar, o que combina, pelo que ouço dizer, com o que você escreve.

Comecei, portanto, a dar tratos à bola para encontrar uma maneira de ajudá-lo.

Não me lembrei imediatamente de Azazel. Naquela época, ainda não estava acostumado com ele; afinal de contas, um demônio de dois centímetros de altura é uma coisa relativamente incomum.

Afinal, porém, ocorreu-me que talvez Azazel pudesse fazer qualquer coisa para aumentar o tempo de que meu amigo dispunha para escrever. Não parecia provável e talvez eu o estivesse fazendo perder tempo; para que serve o tempo para uma criatura de outro mundo?

Passei pela rotina de antigos feitiços e encantamentos que uso para invocá-lo, e ele chegou dormindo. Seus olhinhos estavam fechados e emitia um som agudo e desagradável que devia ser o equivalente a um ronco humano.

Eu não sabia ao certo como acordá-lo, e finalmente decidi pingar um pouco de água no seu estômago. Ele tem abdome perfeitamente esférico, você sabe, como se tivesse engolido uma bilha. Não tenho a menor idéia se isso é comum no planeta dele, mas quando falei no assunto, ele fez questão de saber o que era uma bilha. Quando expliquei, disse que estava com vontade de me zapulniclar. Não sei o que é isso, mas pelo seu tom de voz não deve ser nada agradável.

A água realmente o acordou, mas também o deixou muito aborrecido. Disse que eu quase o havia afogado e começou a explicar, com detalhes irrelevantes, como se fazia para acordar alguém no seu mundo. Tinha algo a ver com danças, pétalas de rosa, instrumentos musicais e o toque dos dedos de lindas donzelas. Eu lhe disse que no nosso mundo éramos mais práticos e ele nos chamou de bárbaros ignorantes antes de se acalmar o suficiente para que eu pudesse lhe explicar o que queria.

Contei-lhe o meu problema, convencido de que, na melhor das hipóteses, ele me daria algum conselho trivial antes de ir embora.

Estava enganado. Azazel olhou para mim, muito sério, e disse:

- Escute aqui, você está me pedindo para interferir nas leis das probabilidades?

Fiquei satisfeito por ele ter compreendido tão depressa a questão.

- Exatamente.

- Mais isso não é nada fácil!

- Claro que não. Se fosse fácil eu pediria a você? Se fosse fácil eu mesmo faria. Só quando não é fácil é que tenho de recorrer a um ser superior como você.

Nauseante, é claro, mas essencial quando se está lidando com um demônio que se envergonha do seu tamanho e de sua barriga em forma de bilha.

Ele pareceu gostar do meu argumento e disse:

- Bom, eu não disse que era impossível.

- Ótimo.

- Eu teria de ajustar o contínuo psicalóbico do seu planeta.

- Tirou as palavras da minha boca.

- O que vou fazer é introduzir alguns nós na ligação entre o contínuo e o seu amigo, esse que tem prazos a cumprir. A propósito: que são prazos?

Quando tentei explicar, ele observou, com um suspiro fundo:

- Ah, sim, temos coisas parecidas em nossas demonstrações mais etéreas de afeição. Se você deixa um prazo passar, as adoráveis criaturinhas não o perdoam. Lembro-me de uma vez…

Mas vou poupar-lhe os detalhes sórdidos da vida sexual de Azazel.

- O único problema – disse ele, afinal – é que depois que eu introduzir os nós não poderei mais desfazê-los.

- Por que não?

- É teoricamente impossível – declarou Azazel, em tom deliberadamente casual.

Não acreditei nele. Para mim, aquele demônio incompetente simplesmente não sabia como. Entretanto, já que ele era competente o bastante para tornar a vida impossível para mim, não lhe revelei o que estava pensando, mas disse, simplesmente:

- Você não vai ter de desfazer nada. Mordecai precisa de mais tempo para escrever, e quando o conseguir ficará satisfeito para o resto da vida.

- Nesse caso, vou começar.

Ficou fazendo passes durante muito tempo. Parecia um mágico no palco, exceto pelo fato de que de vez em quando eu tinha a impressão de que suas mãos ficavam invisíveis. Entretanto, eram tão pequenas que às vezes era difícil dizer se estavam ou não visíveis, mesmo em circunstâncias normais.

- Que está fazendo? – perguntei, mas Azazel sacudiu a cabeça e seus lábios se moveram como se estivesse contando.

Depois, ele se apoiou na mesa e suspirou.

- Terminou? – perguntei.

Ele fez que sim com a cabeça e disse:

- Espero que você compreenda que eu tive de reduzir o quociente de entropia do seu amigo de forma mais ou menos permanente.

- Que significa isso?

- Significa que a partir de agora as coisas serão mais regulares nas proximidades do seu amigo do que costumavam ser.

- Não há nada de errado com a regularidade – disse eu. (Você talvez não acredite, amigo velho, mas sempre gostei de organização. Tenho um registro de todo o dinheiro que lhe devo, até o último centavo. As quantias estão anotadas em pedaços de papel, aqui e no meu apartamento. Se quiser, posso mostrar-lhe…)

Azazel disse:

- Claro que não há nada de errado com a regularidade. Só que é impossível violar a segunda lei da termodinâmica. Para manter o equilíbrio, as coisas serão um pouco menos regulares longe do seu amigo.

- De que forma? – perguntei, verificando se o meu zíper estava aberto.

- De várias formas, quase todas difíceis de notar. Espalhei o efeito por todo o sistema solar, de modo que haverá um número um pouco maior de colisões entre asteróides, um número um pouco maior de erupções vulcânicas etc. O maior efeito, porém, será sobre o sol.

- Que vai acontecer com o sol?

- Calculo que ele ficará quente o bastante para tornar a vida impossível na Terra dois milhões e meio de anos mais cedo do que se eu não tivesse introduzido os nós no contínuo.

Dei de ombros. Que importam uns poucos milhões de anos quando é uma questão de arranjar alguém para pagar de boa vontade as minhas refeições?

Só voltei a jantar com Mordecai uma semana depois. Ele parecia muito animado ao entrar no restaurante, e quando chegou à mesa onde eu o esperava pacientemente com o meu drinque, sorriu para mim.

- George, tive uma semana incrível! – exclamou. Estendeu a mão sem olhar e não pareceu nem um pouco surpreso quando alguém lhe passou um cardápio. Logo naquele restaurante, em que os garçons eram tão prepotentes que exigiam um requerimento em três vias, assinado pelo gerente, para entregar um cardápio!

“George, parece que estou no paraíso! Disfarcei um sorriso.

- Verdade?

- Quando entro no banco, há sempre um guichê vazio e um caixa sorridente. Quando entro no correio, há sempre um guichê vazio e… bem, acho que esperar um sorriso de um funcionário dos correios seria demais, mas pelo menos eles registram minhas cartas sem fazer cara feia. Chego no ponto de ônibus e há sempre um à minha espera. Outro dia, na hora de maior movimento, levantei a mão e imediatamente um táxi encostou para me pegar. Quando disse que queria ir para a esquina da Quinta com a Quarenta e Nove, ele me levou até lá pelo caminho mais curto. E falava a minha língua! Que é que você vai querer, George?

Uma consulta rápida ao cardápio foi suficiente. Parecia que tudo estava arranjado para que ninguém pudesse atrasar o meu amigo. Mordecai pôs o cardápio de lado e fez os pedidos para nós dois. Observei que não se deu o trabalho de levantar os olhos para ver se havia um garçom à espera. Já se acostumara a esperar que houvesse.

E havia.

O garçom esfregou as mãos, fez uma mesura e nos atendeu com presteza, cortesia e eficiência.

Eu disse a ele:

- Você parece estar passando por uma fantástica maré de sorte, Mordecai, meu amigo. Como explica isso? (Devo admitir que por um momento tive a tentação de revelar a ele que eu em o responsável. Afinal, se soubesse disso, não teria vontade de me cobrir de ouro, ou, em nossos dias prosaicos, de papel?)

- É muito simples – disse ele, pendurando o guardanapo no pescoço e agarrando a faca e o garfo como se quisesse estrangulá-los, porque Mordecai, com todas as suas qualidades, não é exatamente o que se chamaria de um homem refinado. – Não tem nada a ver com a sorte. É a conseqüência inevitável das leis das probabilidades.

- Das probabilidades? – repeti, com indignação.

- Claro! Passei a vida inteira tendo de suportar a série mais revoltante de atrasos fortuitos que já ocorreu neste planeta. De acordo com as leis das probabilidades, é preciso que esta seqüência infeliz de eventos seja compensada. E o que está acontecendo agora, e espero que continue a ocorrer durante o resto de minha vida. Espero, não, tenho certeza. As coisas têm de se equilibrar. – Inclinou-se na minha direção e espetou o dedo no meu peito. – Acredite nisso. É impossível desafiar as leis das probabilidades.

Passou o resto do jantar discorrendo sobre as leis das probabilidades, a respeito das quais, tenho certeza, conhecia tão pouco quanto você.

Afinal, eu perguntei:

- Agora você não tem mais tempo para escrever?

- Claro que tenho. Calculo que o meu tempo para escrever deve ter aumentado uns vinte por cento.

- E a sua produção aumentou na mesma proporção, imagino.

- Ainda não – disse ele, parecendo meio constrangido. – Ainda não. Naturalmente, preciso me adaptar. Não estou acostumado com tanta facilidade. Fui apanhado de surpresa.

Na verdade, ele não parecia nem um pouquinho surpreso. Levantou a mão e, sem olhar, tirou a conta dos dedos de um garçom que se aproximava cora ela. Examinou-a rapidamente e devolveu-a, com um cartão de crédito, ao garçom, que, para meu espanto, tinha ficado esperando e, ao recebê-la, levou imediatamente à caixa.

O jantar inteiro tinha levado pouco mais de trinta minutos. Não vou esconder de você o fato de que teria preferido um jantar civilizado de duas horas e meia, precedido por champanha, seguido por conhaque, cora um ou dois vinhos finos separando os pratos e uma conversa civilizada preenchendo todos os interstícios. Entretanto, consolei-me com o fato de que Mordecai havia economizado duas horas que poderia passar ganhando dinheiro para si mesmo e, até certo ponto, para mim também.

Depois daquele jantar, passei três semanas sem me encontrar com Mordecai. Não me lembro por quê; acho que nós dois viajamos em semanas diferentes.

Seja como for, certa manhã eu estava saindo de uma lanchonete onde às vezes como um ovo mexido com torrada quando vi Mordecai de pé na esquina, cerca de meio quarteirão de distância.

Tinha acabado de nevar e estava tudo molhado. Era o tipo de dia em que os táxis vazios se aproximam de você apenas para jogar respingos de neve suja nas pernas das suas calças antes de baixarem o sinal de livre e se afastarem rapidamente.

Mordecai estava de costas para mim e acabava de levantar a mão quando um táxi vazio reduziu a marcha e se aproximou dele. Para minha surpresa, Mordecai olhou para outro lado. O motorista esperou um pouco e depois foi embora, desapontado.

Mordecai levantou a mão pela segunda vez e, aparentemente surgido do nada, um segundo táxi apareceu e parou para ele. Meu amigo entrou no carro, mas, como pude ouvir claramente, embora estivesse a uma distância de uns quarenta metros, brindou o motorista com uma torrente de impropérios que fariam corar uma pessoa de respeito, se ainda houvesse alguma em nossa cidade.

Telefonei para ele naquela mesma manha e marquei um encontro para mais tarde em um bar que costumávamos freqüentar, que oferecia uma “Happy Hour” após outra durante o dia inteiro. Eu mal podia esperar pela explicação de Mordecai.

O que eu queria saber era o significado dos palavrões que ele havia usado. Não, amigo velho, não estou me referindo à definição desses vocábulos no dicionário, se é que eles constam de algum dicionário. Estou falando da razão pela qual ele ofendera o motorista de táxi. Pela lógica, deveria agradecer-lhe efusivamente por haver parado.

Quando ele entrou no bar, não parecia muito satisfeito. Na verdade, tinha um ar preocupado.

Disse para mim:

- George, quer chamar a garçonete para mim?

Era um desses bares em que as garçonetes se vestem sem nenhuma preocupação de se manter aquecidas, o que, naturalmente, ajudava a me manter aquecido. Chamei uma delas com todo o prazer, embora soubesse que interpretaria meus gestos simplesmente como representando o desejo de pedir um drinque.

Na verdade, ela não interpretou coisa alguma, pois me ignorou totalmente, mantendo-se de costas para mim.

Eu disse para o meu amigo:

- Mordecai, se você quer ser atendido, é melhor chamá-la pessoalmente. As leis da probabilidade ainda não começaram a agir a meu favor, o que é uma pena, porque já era mais do que tempo de o meu tio rico morrer e deserdar seu único filho, deixando toda a fortuna para mim.

- Você tem um tio rico? – perguntou Mordecai, com uma ponta de interesse.

- Não! O que torna as coisas ainda mais injustas. Peça um drinque para nós, está bem, Mordecai?

- Por que a pressa? Deixe que eles esperem – resmungou Mordecai, de cara feia.

Eu não tinha nenhum interesse em deixá-los esperando, é claro, mas minha curiosidade foi maior que a minha sede.

- Mordecai, você parece infeliz. Hoje de manhã, você não me viu, mas eu o vi. Você ignorou um táxi vazio em um dia em que eles valem seu peso em ouro e depois, quando tomou um segundo táxi, xingou o motorista.

- É mesmo? Acontece que estou farto desses filhos da mãe. Os táxis me perseguem. Eles me seguem em longas filas. Não posso nem olhar para a rua sem que um deles pare. Quando chego a um restaurante, sou cercado por hordas de garçons. Lojas já fechadas são abertas por minha causa. No momento em que entro em um edifício, todos os elevadores estão no térreo. Salto em um andar, e eles esperam pacientemente por mim. Quando marco uma consulta médica, sou atendido imediatamente. Se preciso de um documento em uma repartição pública…

Àquela altura, porém, eu tinha recuperado a voz.

- Mordecai – protestei -, não compreende que isso é ótimo para você? As leis das probabilidades…

O que sugeriu que eu fizesse com as leis das probabilidades é totalmente impossível, é claro, já que elas não passam de abstrações.

- Mordecai – insisti -, tudo isso lhe dá mais tempo para escrever.

- Está muito enganado. Parei de escrever.

- Por quê?

- Porque não tenho mais tempo para pensar.

- Como assim?

- O tempo que eu passava esperando, nas filas de banco, nos pontos de ônibus, nas salas de espera… era esse o tempo que eu usava para pensar, para planejar o que eu iria escrever quando chegasse em casa. Essa preparação era essencial para o meu trabalho.

- Eu não sabia disso.

- Nem eu, mas agora já sei.

- Pensei que você passasse todo o tempo de espera reclamando, xingando e se aborrecendo.

- Parte do tempo eu passava assim. O resto do tempo, passava pensando. E mesmo o tempo que eu passava me queixando das injustiças do universo era útil, porque eu me exaltava, a adrenalina no meu sangue ia lá em cima e quando eu finalmente chegava em casa usava o teclado da máquina de escrever para descarregar todas as minhas frustrações. Meus pensamentos forneciam a motivação intelectual e minha raiva a motivação emocional. Juntos, faziam com que os fogos sombrios e infernais de minha alma despejassem grandes blocos de excelente literatura. E agora? Como vou fazer? Observe!

Estalou os dedos e imediatamente uma garçonete sumariamente vestida estava a seu lado, perguntando:

- Que posso fazer pelo senhor?

Eu podia imaginar várias coisas, mas Mordecai se limitou a pedir drinques para nós dois.

- Pensei que precisava apenas me acostumar com a nova situação, mas agora compreendo que não é tão simples assim.

- Pode se recusar a tirar vantagem das facilidades que os outros oferecem a você.

- Posso mesmo? Você me viu esta manhã. Se recuso um táxi, logo aparece outro. Se eu recusar cinqüenta vezes, haverá um qüinquagésimo primeiro esperando por mim na primeira esquina. Eles me vencem pelo cansaço.

- Nesse caso, por que não reserva uma hora ou duas por dia para pensar, no conforto do seu escritório?

- Exatamente! No conforto do meu escritório! Só consigo pensar direito quando estou roendo as unhas em uma fila de banco, sentado no banco duro de uma sala de espera ou morrendo de fome em uma mesa de restaurante. É a revolta que me dá inspiração para escrever.

- Mas você não está revoltado no momento?

- Não é a mesma coisa. Posso me revoltar com uma injustiça, mas como posso me revoltar com as pessoas que me tratam com tanta consideração? Não, não estou revoltado; estou apenas triste, e quando estou triste não consigo escrever. Acho que nunca passei uma “Happy Hour” tão infeliz como naquele dia.

- Juro para você, George – disse Mordecai -, que tenho a impressão de que fui amaldiçoado. Acho que alguma fada madrinha, aborrecida por não ter sido convidada para o meu batizado, descobriu finalmente alguma coisa pior do que ser forçado a esperar em filas. É a maldição de se poder fazer imediatamente tudo que se deseja.

Ao ouvir aquele triste relato, meus olhos ficaram úmidos, pois me dei conta de que a fada madrinha a que ele se referia era na verdade a minha pessoa, e talvez um dia ele viesse a descobrir esse fato. Se Mordecai soubesse a verdade, poderia muito bem, em um ato de desespero, tirar a própria vida, ou, pior ainda, tirar a minha.

Mas o pior ainda não tinha chegado. Depois de pedir a conta e, naturalmente, recebê-la sem demora, examinou-a sem interesse, passou-a para mim e disse, com voz rouca:

- Tome, pode pagar. Vou para casa.

Paguei. Que remédio? Mas isso me deixou uma ferida que ainda me incomoda quando o tempo está para mudar. Afinal, é justo que eu tenha encurtado a vida do sol em dois milhões e meio de anos e acabe tendo de pagar, não só o meu drinque, mas também o do meu amigo? É justo?

Nunca mais tornei a ver Mordecai. Ouvi dizer que deixou o país e se tornou um vagabundo de praia nos Mares do Sul.

Não sei exatamente o que faz um vagabundo de praia, mas desconfio que eles não ficam ricos. Seja como for, tenho certeza de que se ele estiver na praia e quiser uma onda, ela não demorará a aparecer.

- Então você não vai fazer nada por mim?

- Não.

- Ótimo. Então eu pago a conta.

É o mínimo que você pode fazer – disse George.

Aquela altura, um garçom já havia trazido a conta e a colocara entre nós, enquanto George a ignorava com a desenvoltura de sempre.

- Você não está pensando em pedir a Azazel para fazer alguma coisa por mim, está? – perguntei.

- Acho que não – disse George. – Infelizmente, amigo velho, você não é o tipo de pessoa em que a gente pensa quando sente vontade de fazer boas ações.

Fonte:
ASIMOV, Isaac. Azazel. RJ: Record, 1988

Hans Christian Andersen (O Trigo Mourisco)



Muitas vezes, após uma trovoada, ao passar-se por um campo de trigo mourisco, pode ver-se como ficou todo chamuscado. É como se o fogo tivesse passado por ele e o camponês dá-nos a explicação seguinte: “Foi um raio!” Mas porquê? Pois vou contar-lhes o que disse a um pardal um velho salgueiro que se encontrava perto dum campo de trigo mourisco e ainda lá está. É um salgueiro grande e venerável, mas enrugado e velho, um pouco rachado ao meio, com uma fenda onde crescem ervas e sarças. A árvore está um pouco tombada para a frente, e os ramos pendem para o solo, como se fossem uma longa cabeleira verde.

Em toda a volta havia campos de cereal, de centeio, de cevada e de aveia, a bela aveia que, quando está sazonada, parece um enorme bando de pequeninos canários amarelos pousados num ramo. Os cereais são assim uma bênção de Deus e quanto mais pesados estão, mais baixos se inclinam em humildade.

Mas havia também um campo de trigo mourisco, bem perto do velho salgueiro, que não queria nunca inclinar-se como os outros cereais; sempre se mantinha direito, orgulhoso e altivo.

— Sou tão rico como a espiga de trigo — disse ele. — Sou, além disso, mais bonito. As 15 minhas flores são tão belas como as da macieira, e é um regalo olhar para mim e para a minha floração. Conheces algo de mais belo, velho salgueiro? O salgueiro abanou a cabeça, como quem diz “pois claro que conheço”, mas o trigo mourisco inchou de orgulho e exclamou: — Árvore estúpida, tão velha estás que te crescem ervas na barriga!

Então rebentou uma terrível trovoada. Todas as flores dobraram as folhas ou inclinaram as cabeças, enquanto passava a trovoada sobre elas. Só o trigo mourisco continuava com a cabeça erguida, no seu orgulho.

— Abaixa a cabeça, como nós! — disseram as flores.

— Não tenho nenhuma necessidade disso! — respondeu o trigo mourisco.

— Abaixa a cabeça como nós! — gritou o trigo. — Vem aí o Anjo da Tempestade! Tem asas e com elas alcança tanto o céu lá em cima como a terra cá em baixo. Pode ceifar-te sem teres sequer tempo de pedir-lhe mercê.

— Está bem, mas eu não vergo! — retorquiu o trigo mourisco.

— Anda, fecha as flores e dobra as folhas! — disse o velho salgueiro. — Não olhes para cima, para os raios, quando as nuvens rebentam. Nem os próprios homens o podem fazer, pois que por eles é possível olhar para dentro do Céu, mas isso é bastante para os cegar. E o que nos aconteceria a nós, plantas da terra, se o ousássemos fazer, nós que somos muito menos?

— Muito menos? — disse o trigo mourisco. — Pois vou mesmo olhar para dentro do Céu! E foi isso que fez, com presunção e orgulho. Caiu então uma faísca tão grande que parecia que toda a terra ardia em chamas.

Quando o mau tempo passou, sentiram-se as flores e os cereais numa atmosfera calma e pura, refrescada pela chuva; mas o trigo mourisco ficara completamente queimado, reduzido a carvão pelo raio. Era agora uma erva inútil e morta no campo.

O velho salgueiro agitava os ramos ao vento e deixava tombar grandes gotas de água das suas folhas verdes, como se chorasse. Os pardais perguntaram-lhe:

— Porque estás a chorar? Não é tudo maravilhoso? Repara como brilha o sol e deslizam as nuvens. Não sentes o perfume das flores e dos arbustos? Porque choras, pois, velho salgueiro?

Então, o salgueiro falou-lhes do orgulho e da presunção do trigo mourisco e do seu castigo. É sempre assim. Eu, que escrevi este conto, ouvi-o duns pardais. Contaram-mo uma tarde em que lhes pedi uma história.

Fonte:
ANDERSEN, Hans Christian. Historias do Cisne. Companhia das Letrinhas.

Paulo V. Pinheiro (À espera da primavera)

A Primavera (Monet)
Assim, num círculo, como um te, espero, nesta sala, algo para ouvir.
O silêncio é ensurdecedor.
Procuro algo para fazer, com o insucesso, volto a me sentar.
Quantos anos mais?
Já não conto, como houve perceber, os minutos.
Há quanto tempo não ouço uma palavra ou vejo um sorriso!
A chuva e o frio vento vêm me visitar e hoje já não choro.
Bom dia quem chega! eu amo o que me vem.
A minha vantagem é já não mais sentir dores.
Vocês não imaginam como isso é bom.
A contar os dias e calcular o presente vejo a promessa chegar.
Nunca me senti tão menino.
Não sei mais quantas primaveras terei.
Sei que esta que chega será minha, é minha.
No futuro... que futuro? não sei.
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Fonte:
Colaboração do autor

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte IV


II. — Sentido sacro e iniciático

1. — Esoterismo e Magia

O esoterismo é subjacente em muitos de nossos atos. A religião católica não pode se livrar dos ritos de religiões antigas e os círios e o incenso provam a sobrevivência das oferendas, bem como a tonsura do padre indica o sítio da espiritualidade.

O coroamento é uma cerimônia esotérica: os braceletes tornam o rei prisioneiro de seu povo, o cetro é a vara mágica, e a coroa o emblema da flor ritual de mil pétalas. Th. Briant deu: Le goéland, n.o 108 (A gaivota) preciosas informações sobre o coroamento da rainha Elisabete da Inglaterra que, vestida com sua roupagem de linho, está ritualmente nua para a unção real.

Os povos da África, com seus conhecimentos sobre magia, se aproximam de uma verdade transcendente que nos escapa. Os ritos esotéricos eram, porém, muito mais empregados em tempos passados e Victor Emile Michelet: Le secret de la chevalerie (O segredo da cavalaria) escreveu: “Os construtores de catedrais inscreveram no secular silêncio da pedra o eco da palavra perdida que os predestinados ouvirão.” Se os mitos sagrados fossem divulgados seriam profanados e com isso perderiam suas virtudes místicas, diz Lévy-Bruhl: La mythologie primitive (Mitologia primitiva, 1935). Assim é que o sentido profundo e a virtude eficaz são revelados somente aos iniciados, os não iniciados só encontram nesses mitos um divertimento. Os contos da Nova Guiné expõem essa eficácia mágica.

Ora, todos os povos fizeram uso da magia. No evangelho assistimos aos fenômenos da levitação, à multiplicação dos pães e dos peixes; se o alcance das palavras de encantamento nos escapa, não deixamos de sentir que esses ritos se destinam a manter a coesão de uma civilização (Van Gennep). Saintyves: Les contes de Perrault (Os contos de Perrault, 1923), definiu as provações e as tentações com suas encenações prestigiosas que são ritos de iniciação.

Este elemento sobrenatural requer uma explicação a qual tentaremos evidenciar no estudo de algumas lendas. Pois esses costumes de iniciação, provindo de um conhecimento profundo e de um ritual desenvolvido estão tão alterados que perderam o seu sentido original. O símbolo do casamento, em que a bênção coloca os eleitos sob a proteção de um poder superior; o elo sem princípio nem fim, cadeia indissolúvel que une dois esposos romanos; o elo deve ser de ouro puro pois que a mulher é acorrentada pelo mérito e pelas qualidades sólidas de seu noivo; mas esse elo liga a vontade do operador ao gênio benfazejo personificado pelo fluido invisível.

O simbolismo do casamento é muito vasto, mas o ritual da morte — freqüentemente tido como uma espécie de sortilégio — mereceria também ser estudado. A magia popular deveria ocupar-se do modo de conquistar o poder com Fausto e D. Juan. Surgiram então os feiticeiros, as invocações, os filtros, os remédios e os venenos; essa magia natural penetrou nos contos.

O sistema cabalista — de origem esotérica e de espírito iniciado — serviu para a construção das catedrais. A constituição da sociedade — que teve seu apogeu no reinado de São Luís — a música dos gregos de Eleusis, o cantochão provêm da Cabala que serviu para estabelecer os monogramas árabes, as estátuas da Índia, as regras para a seção do ouro. Este ensinamento profundo, freqüentemente insuspeitado, constitui um precioso patrimônio da inteligência humana.

Os próprios jogos têm origem esotérica (jogos de cartas, buena-dicha, de xadrez, de damas, gamão, dominó, jogo do ganso, roleta, marelinha, esconde-esconde, etc.). As canções populares, muitas vezes, são iniciáticas (Les compagnons de la Marjolaine, la tour prends-garde, Cadet Roussel).

O valor dos algarismos é nesse caso muito importante. O texto pode ser dividido em livros, capítulos, versículos, alíneas, cujo número é ditado, (poema em doze cantos, tragédia em cinco cantos). Às vezes é o número de personagens, o número de anos de sua existência, o número de seus combates. O escritor multiplica os algarismos para não se dar a conhecer e os acontecimentos descritos ultrapassam, dessa forma, a realidade. As profecias entram nessa categoria. O número 3, emblema sexual em Freud, é a base do princípio divino que reaparece em todos os cultos, culto de Mitra, triade teológica céltica, ternário de Pitágoras. São três as penitências e existem três etapas essenciais no aperfeiçoamento individual; as fadas, como no teatro, dão três golpes com a varinha; dez, número de Adão e Eva, falo e ovo, são a base da filosofia pitagórica.

Os ritos podem derivar para a superstição, o fetichismo, mas a interpretação desse simbolismo é sempre delicada.

2. — Religião e origem sacra

As teses religiosas são numerosas. O Pe. Banier, com sua Escola bíblica, via nos mitos pagãos, a revelação divina; Bérard, na sua tese religiosa, explica as cerimônias rituais.

Lenormant e Gladstone interpretam as personalidades dos deuses a partir de personagens bíblicas.

O Apocalipse de São João é uma obra esotérica cujas palavras-chave servem a religiões e ordens assaz diferentes. As religiões empregam palavras de encantamento que devem produzir o máximo de efeito além de processos na aparência muito simples; eis aí uma forma de magia (Anne Osmont). Diz o conde de Larmandie a esse respeito: “Esses ritos que nada mais são do que a realização de símbolos, têm poder natural sobre o mundo astral, que contém em potencial e germe todo o desabrochar do mundo físico. A palavra símbolo significa, principalmente, resumo, quintaessência; atingimos, pois, completando-o, a causa segunda na órbita de nossa vontade: desencadeamos o dinamismo produtor do fenômeno.” F. Ch. Barlet (A iniciação, janeiro de 1897), diz que “a religião nas suas manifestações exteriores torna-se apenas uma alta magia cerimonial”.

Se Lévy-Bruhl afirma que o homem primitivo não tem o sentimento do divino, parece que para Piobb: Formulaire de haute-magie (Formulário de alta magia) ele está presente em toda parte mas suas leis são difíceis de discernir; são muitos os véus que encobrem esses segredos que só se exprimem por meio de símbolos. Contudo, toda essa ciência que provém dos colégios iniciáticos, não está perdida. O cristianismo não soube se eximir de leis anteriores; as idéias jurídicas em curso formaram o direito canônico; as vestes sacerdotais provêm de Bizâncio.

3. — A arte sagrada da Índia

Estas lendas, encontradas na Índia, pertencem à mitologia hindu que compreende os Vedas (hinos), os Bramanas (comentários), as Sutras e Upanichads (manuais de devoção) e finalmente as compilações de lendas Puranas.

Mallarmé: Les dieux antiques (Os deuses antigos) fala desse berço misterioso, os Arias, situado no centro da grande Ásia, no vale do Oxo e do qual temos poucas referências. Suas tribos nômades emigraram para os países eslavos e depois para a Pérsia, a Índia, a Grécia e a Itália. A mitologia persa, no seu falar Zenda, devia influir sobre a mitologia norse para criar a epopéia escandinava.

Varuna, autor do mundo, exprime o instinto monoteísta dos cantos védicos. Não é absurdo afirmar que os três deuses da Índia (Varuna, Agni e Indra) representam diferentes aspectos do Ente Infinito. Eis porque Deus, falando com Moisés, diz nós e não eu. Outros três deuses sucedem aos três deuses antigos: o deus da criação Brama, o deus da conservação Vichnu e o deus da destruição Civa, portador do terceiro olho: R. Fougère, Contes et légendes de l’Inde (Contos e lendas da Índia). Quanto a Buda, seria apenas um dos mais recentes avatares do Vichnu e o próprio Jesus Cristo seria o reflexo desse Deus. Um livro curioso e inspirado, La vie de maîtres (A vida dos mestres), de Baird T. Spalding (Ed. Leymarie, 1946), retoma esse tema.

É digno observar que a crença na transmigração é reencontrada na literatura céltica; é que a religião druídica, de uma amplidão esquecida, estendia-se até a Grécia e com toda certeza se achava em comunicação com a Ásia. Desta forma, depois da morte, a alma se reencarna tomando nova forma, ora superior, ora inferior, relativamente à vida anterior. Essa sucessão de existências pode ser humana ou animal e ter lugar neste ou em outros mundos. A sociedade bramânica é estabelecida em castas, cujos grupos são hereditários e hierarquizados; em seu pináculo reinam os brâmanes, os padres.

No século VI antes da era cristã, porém, o bramanismo se transforma sob a impulsão de Gotama, o Buda. Depois de reencarnações sucessivas, o indivíduo chega ao aniquilamento total, o Nirvana. Por suas concepções mais amplas e mais sociais, todo homem tem acesso à via religiosa.

Lotus de Paini observa que o Tao seria uma força oculta ao redor da qual todos os valores morais evoluiriam. Esse dinamismo cósmico seria produzido por elementos eletrizantes Iang e Iin que se aparentam ao próton e ao eléctron. Essa sabedoria espiritual se obtinha por meio da meditação realizada sobre regras precisas; a formação dos órgãos da clarividência só podia se produzir após as duas fases impostas: a purificação do corpo astral e a iluminação.

Langlois (Monuments littéraires de l’Inde, 1827) analisou essa literatura sânscrita cujos Vedas (4500 a. C.) são os livros do conhecimento e os Vidia, os da ciência. As quatro obras Upanichad tratam da natureza de Deus, os Upavedas são relativos à vida corrente. Valmiki escreveu o Ramaiana, as aventuras do deus Rama e Viasa (1000 a. C.) e é o autor de Maabarata que descreve as desgraças de uma família real. O Bagavad-Gita é um episódio desse trabalho: o deus revela ao seu favorito Ardjuna a origem e a natureza do universo.

Essa literatura é escrita em sânscrito, língua dos padres e da alta sociedade mas entremeada de dialeto Pracrit, linguagem de classes inferiores. Sob o efeito das invasões o sânscrito foi esquecido e só em alguns santuários é encontrado. Observemos os recentes estudos de Jones, Wilkins, Colebrooke, Wilson, e Langlois.

Quanto ao grande livro hindu, o Pantchatantra, foi traduzido do sânscrito para o phlvi por ordem do rei Choroés, no século VI. A importância desse livro é considerável uma vez que foi traduzido em antigo persa e em sírio (Calila e Diná); traduzido em árabe (século VIII) em hebraico (século XII), passou pela Espanha e sua tradução latina data do século XIII, quando chegou à França e à Alemanha. Paralelamente a esse eixo, sua tradução árabe penetra na Grécia (Stéphanit et Ikhnilate) e na língua eslava (XII e XIII) para alcançar, enfim, a Rússia.

Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores