sexta-feira, 22 de abril de 2011

Marcelo Spalding (História da leitura) V: o Livro na Era Digital

Kindle (Amazon)
Atravessar o milênio foi como atravessar a fronteira entre o presente e o futuro, chegando finalmente ao tal futuro das roupas cinzas e naves espaciais. É verdade que a frustração foi grande para a maioria das pessoas, não estamos pilotando carros voadores, sendo teletransportados para lugares distantes nem foi descoberta a fórmula da juventude (sem falar que não foram dizimadas a fome, a miséria, a desigualdade, a opressão, as ditaduras), mas a era pós-2000 traz consigo uma revolução rápida e silenciosa, a revolução dos bits.

Nicholas Negroponte, em livro de 1995, já afirmava que a melhor maneira de avaliar os méritos e as consequencias da vida digital era refletir sobre a diferença entre bits e átomos. Ele lembra que à época, apesar de já estarmos numa era da informação, a maior parte das informações chegavam até nós em forma de átomos. Aos poucos, porém, previa o pesquisador, "todas as indústrias, uma após a outra, olham-se no espelho e se perguntam sobre seu futuro; pois bem, esse futuro será determinado em 100% pela possibilidade de seus produtos e serviços adquirirem forma digital". Assim, como não seria mais física, a informação em bits poderia ser transmitida em um tempo e espaço cada vez menores, ultrapassando os limites da informática e estando ainda mais presentes na vida das pessoas.

No campo cultural, foi a partir do desenvolvimento da internet e suas múltiplas possibilidades que a era digital popularizou-se e revelou todo o seu poder transformador, ainda que já houvesse alguns experimentos com a técnica digital nas mais variadas linguagens: na arte visual, por exemplo, a exposição Luz e Movimento, organizada por Frank Popper em 1967, na França, trouxera obras que se utilizavam de meios tecnológicos; na música, Karlheinz Stockhausen abrira em 1953 o que seria o mais famoso estúdio de música eletrônica do mundo em Colônia, Alemanha, berço da Elektronische Musik; no cinema, George Lucas, em 1977, lançara Star Wars, transformando os efeitos visuais em principal atração de Hollywood e criando o blockbuster.

Com a internet, entretanto, não apenas a produção dos bens culturais mudou, como também seu consumo e distribuição. Emblemática nesse sentido foi a revolução causada pela troca de arquivos no mercado da música a partir do MP3, que fez a venda de CDs nas lojas despencar, ainda que, como bem salienta Chris Anderson, nunca se tenha ouvido tanta música. Hoje, além da venda de CDs, existe a venda de músicas em formato digital por sites autorizados pelas gravadoras e, claro, a própria troca de arquivos, que estimula o consumo da música e, o mais importante, abre espaço para uma enormidade de músicos e bandas que não teriam acesso aos meios de distribuição tradicionais, criando o que Anderson chama de "cauda longa".

É natural, diante desse quadro, que pensemos no que a era digital pode fazer com o livro e seu respectivo mercado, o mercado editorial, ainda que por muito tempo se tenha pensado que o livro fosse "como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura: uma vez inventados, não podem ser aprimorados", palavras deUmberto Eco. Ocorre que, embora desde meados do século o mercado editorial tenha se utilizado das tecnologias digitais para desenvolver sua produção, com avanços gráficos que permitiram livros de melhor qualidade e significativamente mais baratos, até o início do terceiro milênio, dos anos 2000, parecia que o livro enquanto objeto permaneceria incólume a essa revolução dos bits. Pesquisando mais a fundo, porém, veremos que ainda no século XX havia instituições preocupadas em digitalizar livros impressos para conservá-lo nos novos formatos, e empresas que vislumbraram no livro o produto ideal para vendas online.

Comecemos pelo nobre projeto de conservação. Já em 1971 foi criado por Michael Hart, um estudante da Universidade de Illinois, o Projeto Gutenberg, um esforço voluntário para digitalizar, arquivar e distribuir obras culturais através da digitalização de livros. O primeiro texto digitalizado foi uma cópia da Declaração de Independência dos Estados Unidos e hoje são mais de 33 mil livros eletrônicos digitalizados para leitura online ou nos leitores digitais. O catálogo é composto basicamente de livros em domínio público, e há uma versão em inglês e outra em português, acessível em http://www.gutenberg.org/wiki/PT_Principal.

O Projeto Gutenberg lançou uma tendência de digitalização e disponiblização de diversos livros em domínio público ao redor do mundo. No Brasil, o governo brasileiro lançou em 2004 o Portal Domínio Público, inicialmente com 500 obras, incluindo a obra completa de Machado de Assis e José de Alencar, por exemplo, além de documentos importantes para a história nacional. Hoje são 186.740 obras cadastradas na forma de textos, sons, imagens e vídeos, um acervo que recebe em torno de 500 mil visitas por mês, segundo estatísticas disponibilizadas pelo próprio site.

O Google, porém, foi além desse projeto de digitalização de obras em domínio público e em outubro de 2004 lançou o Google Books, com o objetivo de digitalizar em massa acervos inteiros de bibliotecas, como a da Universidade de Michigan, Harvard, Stanford, Oxford e da Biblioteca Pública de New York, disponibilizando em uma década 15 milhões de volumes para acesso e transformando-se em uma verdadeira Biblioteca de Alexandria da era digital. Robert Darnton, em A questão dos livros, revela parte dos bastidores dessa negociação do Google com as bibliotecas:

Embora sofra alguns processos por monopólio e quebra de direitos autorais, especialmente na comunidade europeia, o projeto segue a pleno vapor, disponibilizando milhões de livros, revistas, trabalhos acadêmicos, entre outros, nas mais variadas línguas. A maioria dos livros são escaneados usando uma câmera Elphel 323 que permite um ritmo de mil páginas por hora, tornando possível, se não do ponto de vista comercial, pelo menos do ponto de vista técnico, a realização do sonho borgeano de uma Biblioteca universal contendo todos os livros em todas as línguas.

Afora a experiência do Google, a digitalização de livros logo mostrou-se, também, um negócio extremamente rentável para a maior vendedora de livros do mundo, a loja eletrônica Amazon.com. Jeff Bezos fundou a Amazon em 1995 com o intuito de vender livros pela internet. O grande diferencial da empresa, com sede de Seattle, era poder vender livros de nicho, já que não havia necessidade de ter todos os livros expostos numa prateleira física, o que a tornou a maior livraria do planeta. Dois anos depois, a companhia abriu capital na bolsa de valores NASDAQ, e, em 1999, Bezos foi eleito a "Personalidade do Ano" pela revista Time por popularizar a compra online.

A Amazon, apesar do sucesso comercial, ainda era uma empresa que vendia átomos, ou seja, o usuário comprava via internet um livro (posteriormente a loja passou a vender CDs, DVDs e outros produtos eletrônicos), a empresa postava esse livro e o cliente o recebia em casa. Com o objetivo de transferir o livro de forma digital e praticamente zerar os custos de distribuição, a Amazon lançou em 19 de novembro de 2007 o Kindle, primeiro leitor de livros digitais a se tornar popular no mundo tudo, embora já houvesse outros leitores utilizando o chamado "papel eletrônico" no mercado.

O Kindle pode ser definido como um hardware, um software e uma rede que utiliza conexão sem fio para que os usuários comprem, baixem e leiam livros, jornais, revistas ou blogs. Seu grande diferencial, já na primeira versão, foi a utilização do chamado papel eletrônico, uma tecnologia que torna a leitura em sua tela muito mais agradável do que nos microcomputadores.

Além do papel eletrônico, o modelo de negócios adotado pela Amazon foi fundamental para popularizar o aparelho e o transformar num grande negócio para a empresa: o usuário compra o aparelho por um valor relativamente baixo (hoje ele está anunciado a US$ 139,00 na versão wi-fi e US$ 189,00 na versão 3G + wi-fi) e tem acesso livre à rede, sem precisar contratar um plano de telefonia. Na loja virtual, o usuário encontra mais de 630 mil livros, como best-sellers a US$ 9,90 e uma grande quantidade de clássicos disponíveis gratuitamente.

Além de acessar a loja, a rede mundial gratuita permite que o usuário faça backup (cópia de segurança) dos livros adquiridos nos servidores da Amazon para o caso de perda ou dano no aparelho. Também é possível acessar a Wikipedia, ler blogs, jornais e revistas.

A leitura em si é como a de um livro tradicional, com páginas exibidas sequencialmente e botões para avançar ou retroceder. Nas configurações, o usuário pode escolher o tamanho da fonte, o contraste e a rotação da tela. Também é possível fazer anotações, assinalar trechos do livro e visualizar quais foram os trechos mais assinalados pelos leitores daquele livro. Além disso, a função Text-to-Speech transforma textos escritos em textos falados, ou seja, lidos em voz alta pelo aparelho para o leitor.

Na terceira versão do aparelho, lançada após o surgimento dos tablets, em julho de 2010, o Kindle tornou-se ainda mais fino e leve, melhorou seu contraste, criou a possibilidade de o usuário reproduzir um trecho de sua leitura nas redes sociais (Facebook ou Twitter), incorporou novos tipos de fontes, integrou um dicionário para os textos em inglês, ampliou seu armazenamento para até 3500 livros e a autonomia da bateria para até cinco dias, reforçando a ideia de que um leitor de livros digitais deve ser extremamente portátil, rápido e capaz de carregar toda uma biblioteca em poucas gramas. Há projetos, ainda, de criar uma rede social entre os leitores, permitindo que se divida com amigos as impressões sobre as obras lidas no Kindle e se acesse observações e destaques feitos por eles.

Embora num primeiro momento o leitor habituado com o livro tradicional estranhe a espessura e a forma de passar as páginas com cliques desse tipo de e-reader, estudiosos como Robert Darnton afirmam que é uma questão de treino: "se você foi treinado a guiar uma caneta com seu indicador, observe a maneira como os jovens usam o polegar em seus celulares e perceberá como a tecnologia penetra o corpo e a alma de uma nova geração".

Com o sucesso do Kindle, outras grandes livrarias passaram a adotar um modelo de negócios semelhante em busca desse mercado digital. A tradicional livraria nova-iorquina Barnes&Noble, maior livraria varejista dos EUA, lançou em 30 de novembro de 2009 o Nook, e um ano mais tarde o Nook Color, leitor de livros digitais com tela sensível ao toque, visor colorido e capacidade de armazenamento de 6000 livros. Diferentemente do Kindle, que só suporta arquivos adquiridos na Amazom (e posteriormente arquivos em PDF), o Nook é compatível com os formatos PDF e EPUB, sendo este último um formato de arquivo de livro digital que tem se tornado o preferido do mercado.

O formato EPUB (Electronic Publication) é um padrão aberto para livros digitais instituído pela IDPF - International Digital Publishing Forum. O ePub foi desenvolvido para que o conteúdo se adapte a qualquer aparelho, o que significa que a visualização do texto pode ser otimizada para diferentes modelos. Hoje diversos leitores de e-books são compatíveis com o EPUB, a Sony inclusive abandonou seu formato proprietário (o BBeB) para ficar só no padrão ePub. Diferentemente do PDF, que é lido pelos aparelhos como uma imagem fechada, um arquivo EPUB tem cada letra reconhecida, o que permite ao leitor configurar tipo e tamanho da fonte, fazer anotações, copiar um texto, consultar determinada palavra no dicionário ou fazer buscas dentro do livro. O autor, por sua vez, pode criar um livro com texto, imagens e hiperlinks, abrindo um enorme leque de possibilidades.

No Brasil, as Livrarias Saraiva e Cultura, que saíram na frente na comercialização de livros digitais, optaram por vender os livros nos formatos EPUB e PDF com DRM, não ficando vinculadas a um ou outro aparelho. Ainda assim o grupo Positivo lançou, em meados de 2010, o Positivo Alfa, primeiro leitor de livros digitais brasileiro. O Alfa é aberto, assim como o Nook, tem 8,9 milímetros de espessura, pesa 240 gramas, tem tela sensível ao toque e memória para 1500 livros.

É nesse cenário de consolidação do livro digital como possibilidade de negócio, com editores reunidos em Frankfurt preocupados com o avanço da tecnologia, escritores consagrados publicando versão impressa e digital, livrarias tradicionais pedindo falência e grandes grupos de mídia anunciando projetos de publicação de e-books que a Apple entra no mercado com seu iPad, lançado em 27 de janeiro de 2010. Mas o iPad já inaugura outro capítulo dessa história.

Fonte:
Colaboração de Marcelo Spalding (Artistas Gaúchos)

Grupo Projetos de Leitura participa com a Caravana da Leitura no Festival Literário de Votuporanga – FLIV


O município de Votuporanga vive grande expectativa para celebração do Festival Literário, organizado pela Secretária da Educação, Cultura e Turismo, que acontecerá de 25 de abril a 1º de maio, na Praça Santa Luzia, Centro.

Na ocasião a cidade abrirá suas portas para um amplo evento cultural que irá reunir muitas atrações, dentre elas a presença de consagrados escritores e artistas que prometem torna o Festival inesquecível.

Dentre as importantes atrações, destaca-se a Caravana da Leitura, que montará sua “tenda” na cidade, de 26 a 28 de abril, e, irá disponibilizar diversas obras literárias por R$ 1.00. O projeto que é coordenado pelo escritor Laé de Souza conta com o patrocínio da ZF do Brasil e não possui fins lucrativos. A ideia da tenda é aproximar as pessoas de forma livre e sem compromisso, permitindo que elas sintam-se parte integrante desse grande movimento em prol da leitura.

Na tenda da Caravana da Leitura uma equipe multidisplinar auxilia os leitores na escolha das obras e fornece informações sobre os projetos de leitura do grupo.

Palestra para professores

Além de passar com a Caravana da Leitura pela cidade disponibilizando as suas obras por valor simbólico, o escritor Laé de Souza é um dos palestrantes do FLIV. O autor fará a sua palestra no dia 27, às 15h, no no auditório da Paróquia Santa Luzia e trará como tema, “Experiências no Incentivo à Leitura”, no qual irá abordar sua trajetória de 13 anos a frente do grupo de incentivo a leitura “Projetos de Leitura” e ainda traçar um panorama de como criar mecanismos que estimulam estudantes a ter intimidade com os livros e prazer pela literatura. “ A FLIV representa uma oportunidade para que os alunos tenham acesso a diversas obras, além de fomentar a troca de ideias entre profissionais da educação. O Festival Literário de Votuporanga, com certeza, trará muitas novidades e oportunidades a população”, acredita Laé de Souza

Sobre a Caravana da Leitura

O projeto é aplicado desde 2004, em parceria com as prefeituras, apoio do Ministério da Cultura, patrocínio da ZF do Brasil, parceiros e envolvimento de professores. Em 2011 a Caravana da Leitura deverá passar por mais de 40 cidades com previsão de distribuição de cerca de 120 mil livros.

Interessados podem conhecer outros projetos de incentivo à leitura, de Laé de Souza e o roteiro da Caravana da Leitura, em "Agenda", no site http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 192)


Uma Trova Nacional

A liberdade é bandeira
sempre erguida em mãos de um bravo,
que lhe entrega a vida inteira
para não morrer escravo!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Enquanto a ambição nos traça
um caminho amargo e velho,
Jesus nos legou de graça
os tesouros do Evangelho!
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada

1982 - Niterói/RJ
Tema : SILÊNCIO - M/H

O mundo, às vezes, parece
a cela escura e sem grade
onde, em silêncio, padece
um grito de liberdade!!!
–IZO GOLDMAN/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

A glória dos homens brilha
com fulgor de eternidade,
toda vez que uma Bastilha
tomba aos pés da Liberdade!
–WALDIR NEVES/RJ–

Simplesmente Poesia

Quando eu curvo o joelho aos pés da cruz,
vejo o quanto Jesus Cristo sofreu,
eu pergunto a mim mesmo, por que foi,
que este filho inocente, assim morreu?

Peço a Deus, rogo a Deus, vertendo pranto,
que não deixe eu na vida sofrer tanto,
sendo um bom pecador como sou eu.
PROF. GARCIA/RN–

Estrofe do Dia

A quaresma é período de preparo
para a Páscoa bendita do Senhor,
penitência é a prática de louvor
que renova o espírito e dar-lhe amparo,
quem rezar e viver no mundo claro
por Jesus vai ser sempre abençoado,
tem um novo caminho iluminado
por um facho de fé que brilha aceso
-Na quaresma o jejum é contrapeso
que enfrenta os repuxos do pecado.
PEDRO ERNESTO FILHO/BA–

Soneto do Dia

–ALICE DE PAULA MORAIS/SP–
Os Olhos de Maria

Eram azuis os olhos de Maria!
Eram dois pedacinhos de turquesa
cheios de luz e plenos de beleza
mansa e sutil do declinar do dia...

Quando ao meigo Jesus ela sorria
tinha uns fundos toques de tristeza
e a clara transparência da pureza
e um misto de amargura e de poesia.

Lembravam os miosótis debruçados
junto à margem dos lagos sossegados,
doce Mãe do Senhor, Santa Judia!

E as lágrimas de dor dos vossos olhos
transformaram em flores os abrolhos
pelos caminhos que Jesus seguia.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XVI – João Esperto


Havia um casal muito pobre, que tinha um filho de nome João, bastante espertinho; mas apesar disso sua mãe, mulher de beiço rachado e muito má, não gostava dele. João vivia só, sem ter com quem brincar. Seu único amigo era uma cachorrinha que sua avó lhe dera — a Pita.

Quando ficou moço, João saiu um dia a passear longe de casa. Pelo caminho encontrou um viajante com quem puxou prosa. Soube que no reino das Três Princesas, que era perto, ia haver o casamento de uma das moças. Para isso estava o rei dando uma festa de quinze dias, a fim de que os pretendentes à mão da princesa lhe propusessem uma adivinhação. Se ela adivinhasse, o pretendente ia para a forca; mas se não adivinhasse, então o felizardo se casaria com ela. Nas forcas já estavam pendurados diversos pretendentes que apareceram com adivinhações que a princesa adivinhou num instantinho.

João ouviu tudo aquilo e ficou a pensar. Quem sabe se ele venceria a princesa e se casaria com ela? Voltou para casa com um plano na cabeça.

— Meu pai, quero sair pelo mundo para ganhar a vida.

O pai consentiu, mas a mãe, que era a pior bisca das redondezas, preparou-lhe uma peça: deu-lhe um pão envenenado, imaginem! João arrumou a trouxa e partiu acompanhado da cachorrinha.

Mas onde era o caminho para o reino das Três Princesas? Não sabia. Nem havia por ali ninguém que pudesse informá-lo. João foi andando ao acaso, com a trouxinha ao ombro. Subiu uma montanha, desceu do outro lado, numa campina, onde pousou.

No dia seguinte continuou a caminhar até onde havia um grande rio. Ficou à margem olhando para a água. Viu um burro morto, de barriga inchada, que vinha descendo rio abaixo. Em cima dele uma porção de urubus. Botou reparo naquilo e continuou a viagem.

Quando caiu a tarde João sentou-se debaixo duma figueira para jantar o pão que sua mãe lhe dera, mas qualquer coisa lhe disse que o não comesse antes de fazer uma prova com a cachorrinha — e ele deu a ela um pedaço do pão. Foi tiro e queda. Assim que a pobre Pita engoliu o primeiro bocado, tremeu e morreu.

João ficou muito triste da maldade de sua mãe, e também por ter perdido sua única amiguinha. Enterrou-a. Mas vieram três urubus que a desenterraram e a comeram — e também morreram. Imaginem que veneno forte a peste da mulher tinha inventado!

João botou às costas os urubus mortos e seguiu caminho. Chegou a uma estalagem onde não havia ninguém. Entrou. Lá nos fundos viu sete homens armados de espingardas, todos a morrerem de fome. Dando com o novo hóspede que entrava com aquelas aves negras ao ombro, os famintos avançaram e tomaram--lhe os urubus. Devoraram-nos — e morreram.

João escolheu a melhor das sete espingardas e lá se foi pelo caminho afora. Saiu numa extensa campina onde se sentou debaixo dum pé de árvore. Seu estômago dava torcidas medonhas, tanta era a fome. De repente viu uma perdiz mexer-se no capim. Disparou um tiro. Errou. O chumbo foi acertar numa rolinha que ele não tinha visto. Para quem erra perdiz, rolinha serve.

João depenou a rolinha — mas não viu lenha para fazer fogo. Olhou. Havia perto uma cruz muito velha. Foi lá, tirou umas lascas, fez fogo, assou a rolinha e comeu-a. E água? Como obter água para matar a sede?

Teve uma idéia. Montou num cavalo que andava pastando por ali e o fez galopar até que suasse em bicas; recolheu o suor e bebeu. E assim, matada a fome e a sede, pôde continuar a viagem.

Pouco adiante encontrou uma caveira em que um enxame de maribondos havia feito colmeia. Viu também um burro amarrado a uma árvore, a escarvar o chão com o pé. Indo investigar o que havia naquele chão, encontrou uma botija de dinheiro. Pôs-se novamente a caminho e afinal avistou o reino das Três Princesas. Tinha chegado.

Indagou das festas. "Tudo corre bem, informou-lhe um sujeito, mas não aparece pretendente nenhum com adivinhação que a princesa não adivinhe. As forcas estão engordando."

João dirigiu-se ao palácio, onde declarou ao porteiro que era pretendente à mão da princesa adivinhadeira.

O porteiro mandou-o entrar, mas todos riram-se daquele pobre diabo com cara de matuto, mal vestido, de trouxinha às costas.

— Suma-se daqui, moço, se tem amor à vida. Rapazes dos mais distintos já falharam, e estão neste momento com as línguas de fora, nas forcas. Se é lá possível que um bobo como você consiga inventar uma adivinhação que a melhor adivinhadeira do mundo não adivinhe! Suma-se, enquanto é tempo.

João, porém, tanto insistiu que foi levado à presença do rei.

— Sabes que arriscas a vida? — disse o rei.

João declarou que sim, mas que estava disposto a tudo.

— Bem — exclamou o rei. — Nesse caso, apresente a sua adivinhação — e chamou a princesa.

João foi e falou assim:

Sai de casa com massa e pita;
a massa matou pita,
a pita matou três,
os três mataram sete
e das sete escolhi a melhor.
Atirei no que vi
e matei o que não vi.
Com madeira santa
assei e comi,
bebi água sem ser do céu;
vi o morto carregando os vivos
e o burro sabendo
o que os homens não sabem.
Resolva agora, princesa,
ou me dê cá sua mãozinha.

A princesa pensou, pensou e não foi capaz de adivinhar. Pediu-lhe que repetisse a história. João repetiu-a três vezes, e a moça nada. Por fim, já com dor de cabeça, confessou ao rei:

— Impossível, meu pai. Esta eu não adivinho.

— Pois então abrace e beije o seu noivo — respondeu o rei.

E mandou que preparassem o reino para o grande casamento.
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— Gostei, gostei! — exclamou Emília. — Não tem nada de boba essa historinha. É uma luta de esperteza contra esperteza, em que o mais esperto saiu ganhando. Pedrinho sabe o que isto significa em linguagem científica. Diga lá, Pedrinho.

E o menino, que era um darwinista levado da breca, veio logo com a sua cienciazinha.

— Isso significa a vitória do mais apto. O mais apto é o mais esperto.

— A história que vocês acabam de ouvir — disse dona Benta — pertence ao tipo das engenhosas. Reparem que está muito engenhosamente arranjada. Na adivinhação o matuto começa falando em massa e pita — massa é pão, e Pita, o nome da cachorrinha; e vai por ai além, contando toda a sua viagem em termos simbólicos.

— Então símbolo é isso? — perguntou Narizinho.

— Símbolo é palavra grega, com significado de sinal que indica uma coisa. Tudo na língua são símbolos. Todas as palavras são símbolos. A palavra "Emília", por exemplo, que é senão um símbolo da criaturinha mais pernóstica e sabida destas redondezas?

— Destas redondezas só? — protestou Emília. — Da redondeza da terra, isso sim, porque outra como eu ainda está para nascer...

Dona Benta piscou para tia Nastácia, como quem diz: "Já se viu como está ficando vaidosa?"
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Continua… XVII – o Caçula
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 191)


Uma Trova Nacional

Na primavera, cheguei...
Neste inverno, te aqueci...
No outono, te desfrutei,
veio o verão... Te esqueci.
ESTER FIGUEIREDO/RJ–

Uma Trova Potiguar


Mulher, és como se fosse
um destempero total!
No teu suco não tem doce
na comida não tem sal.
–ZÉ DE SOUSA/RN–

Uma Trova Premiada


2006 - Curitiba/PR
Tema: JOVEM - Venc.


Somos jovens… desenhistas…
E também somos atores…
Somos loucos cientistas,
Somos jovens trovadores!
LUIZA PORTELA ROSA/PR
8a. Série A – Esc. Munic. Papa João XXIII


...E Suas Trovas Ficaram

A lua, mulher formosa,
espera a noite chegar,
mirando-se presunçosa
no espelho verde do mar.
–ZENÍLIA PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

–OLAVO DRUMMOND/MG–
Poemeiro

Poemeiro em lua nova
Nos autos do amor bastante.
Poemeiro é sempre réu
Canta a treva com ternura,
Prisioneiro da amargura,
Enquanto a lua inconstante
Troca de roupa no céu...

Estrofe do Dia

Avistei um pequenino
subindo de déu em déu,
quando chegou lá no céu
quis falar com Deus divino,
gritaram: pese o menino
pra saber se é pecador,
Jesus disse, não senhor,
pode guardar a balança;
no coração da criança
não pode existir rancor.
SEVERINO FERREIRA/RN–

Soneto do Dia

–RENATO ALVES/RJ–

Nascimento.


Brilha ao longe uma luz no fim da estrada
em que deslizo em contrações, cativo,
vou migrando da bolha para o nada
do destino refém, ou fugitivo.

Era bem calma há pouco esta morada,
um ninho acolhedor, convidativo,
eu – grão imerso em água abençoada –
percorrendo o processo evolutivo.

Mas, de repente, rompe-se o meu ninho,
lançado longe, tinto, mais que o vinho,
sou carregado, assim, de afogadilho...

Descerro os olhos: Há luz na saída!...
Os pulmões doem... Sorvo o ar da vida...
E ouço afinal a voz que diz: "Meu Filho!”

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

terça-feira, 19 de abril de 2011

Paulo Leminski (Razão de Ser)


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Antonio Botto (As Tres Peneiras)


O pequeno Raul saiu da escola a correr, chegou a casa muito excitado, e, depois de beijar a mãe, exclamou:

- Já sabes o que dizem do António?

- Espera um pouco, tem paciência. Antes de principiares, lembra-te das três peneiras...

- Mas quais peneiras, minha mãe?

- Sim; vais ouvir e saberás. A primeira chama-se verdade. Tens a certeza de que é certo o que me queres dizer?

- Não; se é certo, não sei.

- Vês?... E a segunda chama-se benevolência. Será benevolente, será boa, essa notícia?

- Não, minha mãe, não é boa.

- E a terceira chama-se necessidade. Será necessário respeitares tudo isso que te contaram desse teu camarada e amigo?

- Não, minha mãe.

- Pois se não é necessário nem benevolente, e talvez nem seja verdade, entendo que é preferível, meu filho, calares a tua boca.

Fonte:
Os Contos de Antonio Botto. Marginalia, s/d

António Botto (1897 - 1959)


António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português.

António Botto nasceu em Concavada, freguesia do conselho de Abrantes, Portugal, às 8h00[1], filho de Maria Pires Agudo e de Francisco Thomaz Botto. O seu pai trabalhava como "marítimo" no rio Tejo. Em 1908 a sua família mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e foi funcionário público. Em 1924 - 25 trabalhou em Santo António do Zaire e Luanda, na então colônia de Angola.

António Botto tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos.

Era visitante regular dos bairros boêmios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues.

Em 9 de Novembro de 1942 António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) por fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna.

Ao ler o anúncio publicado no Diário do Governo, Botto ficou profundamente desmoralizado e comentou com ironia: "Sou o único homossexual reconhecido no País..."

Para se sustentar passou a escrever artigos, colunas e crítica literária em jornais, e publicou vários livros, entre os quais "Os Contos de António Botto" e "O Livro das Crianças", uma coleção de sucesso de contos para crianças (que seria oficialmente aprovada como leitura escolar na Irlanda, sob o título The Children’s Book, traduzido por Alice Lawrence Oram). Mas tudo isto se revelou insuficiente.

A sua saúde deteriou-se devido a sífilis terciária que ele recusava tratar e o brilho da sua poesia começou a desvanecer-se. Era alvo de troça quando entrava nos cafés, livrarias e teatros. Por fim, cansou-se de viver em Portugal e em 1947 decidiu emigrar para o Brasil. Para juntar dinheiro para a viagem organizou, em maio desse ano, recitais de poesia em Lisboa e no Porto, que resultaram em grandes sucessos, com elogios por parte de vários intelectuais e artistas, entre os quais Amália Rodrigues, João Villaret e o escritor Aquilino Ribeiro.

A 17 de Agosto partiu finalmente para o Brasil com a sua mulher.

No Brasil residiu em São Paulo até 1951 quando se mudou para a cidade do Rio de Janeiro. Sobreviveu escrevendo artigos e colunas em jornais Portugueses e Brasileiros, participando em programas de rádio e organizando récitas de poesia em teatros, associações, clubes e, por fim, botequins.

A sua vida foi-se degradando de dia para dia e acabou por viver na mais profunda miséria. A sua megalomania agravada pela sifílis era gritante e não parava de contar histórias delirantes das visitas que André Gide lhe teria feito em Lisboa ("Se não foi o Gide, então foi o Marcel Proust..."), de ser o maior poeta vivo e de ser o dono de São Paulo. Em 1954 pediu para ser repatriado, mas desistiu por falta de dinheiro para a viagem. Em 1956 ficou gravemente doente e foi hospitalizado por algum tempo.

Em 4 de Março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por um automóvel do governo. 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto expira, abraçado pela sua inconsolável mulher.

Em 1966 os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa e, desde 11 de Novembro do mesmo ano, estão depositados no Cemitério do Alto de São João.

O seu espólio seria enviado do Brasil pela sua viúva Carminda Rodrigues a um parente, que o doara, em 1989, à Biblioteca Nacional.

A obra poética

"A vasta obra poética de Botto, em parte ainda dispersa ou não-recoligida, apesar de e também pelo muito que ele publicou, republicou, reorganizou em volumes dispersos ou suprimia de volumes anteriores, etc., poderá repartir-se em quatro fases: a juvenil, em que continua o tom da quadra dita popular, conjugando-o com aspectos da dicção simbolista que poetas como Correia de Oliveira, Augusto Gil, e sobretudo Lopes Vieira haviam introduzido nela; a simbolistico-esteticista, em que a juvenilidade tradicionalizante se literaliza dos requebros esteticísticos que marcaram, nos anos 20, muita poesia simultaneamente da tradição saudosista e modernista (é a das primeiras edições das Canções e breves plaquetes seguintes, em que todavia a personalidade do poeta já figura inteira em diversos poemas); a fase pessoal e original, nos anos 30, desde as edições de 1930-32 das Canções (em que ele ia incorporando seleções de coletâneas anteriores) até a Vida Que Te Dei e Os Sonetos (fase que é também a dos seus excepcionais contos infantis que tiveram realmente as edições estrangeiras que se julgava ser uma das mentiras megalomaníacas do poeta, da «novela dramática» António, e da peça Alfama); e a última fase, nos anos 40 e 50, até à morte que é a de uma longa e triste decadência, com poemas desvairadamente oportunistas, revisões desastrosas afetando nas reedições alguns dos melhores poemas anteriores [...]" em Líricas Portuguesas, de Jorge de Sena.

A tempestade desencadeada por Canções e por "Sodoma Divinizada", bem como por outras obras e artigos que apareciam nas livrarias e jornais da época de que importa destacar "Decadência" de Judite Teixeira, foi tremenda, e a Federação Acadêmica de Lisboa, tendo como porta-voz Pedro Teotónio Pereira, denuncia no jornal "A Época", em fevereiro de 1923, a "vergonhosíssima desmoralização, que sob os mais repugnantes aspectos, alastra constantemente".

A Federação Acadêmica de Lisboa estaria com grande probabilidade apenas a servir de face pública das vontades do poder instituído da época porque pouco depois, em Março, é ordenada pelo Governo Civil de Lisboa a apreensão dos já mencionados livros de Botto, Raul Leal e Judite Teixeira.

Fernando Pessoa e Álvaro de Campos protestam contra o ataque dos estudantes a Raul Leal: "Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível". Mas com pouco efeito. O impulso censório, moralista, obscurantista e homofóbico, ganha força com o regime do Estado Novo e a revista "Ordem Nova" declara-se "antimoderna, antiliberal, antidemocrática, antibolchevista e antiburguesa; contra-revolucionária; reaccionária; católica, apostólica e romana; monárquica; intolerante e intransigente; insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da informação". António Botto acaba por se ver forçado a emigrar para o Brasil e Raul Leal será vitíma de espancamentos e deixará de escrever para jornais durante 23 anos.

Obras

Poesia

Trovas (1917)
Cantigas de Saudade (1918)
Cantares (1919)
Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932) (eBook)
Canções do Sul
Motivos de Beleza (1923)
Curiosidades Estéticas (1924)
Pequenas Esculturas (1925)
Olimpíadas (1927)
Dandismo (1928)
Ciúme (1934)
Baionetas da Morte (1936)
A Vida Que te Dei (1938)
Sonetos (1938)
O Livro do Povo (1944)
Ódio e Amor (1947)
Fátima - Poema do Mundo (1955)
Ainda Não se Escreveu (1959)

Ficção

António (1933)
Isto Sucedeu Assim (1940)
Os Contos de António Botto (1942) - literatura infantil
Ele Que Diga Se Eu Minto (1945)

Teatro

Alfama (1933)

Esgotada desde há muitos anos, a obra completa de António Botto começou a ser reeditada, em 2008, pelas Quasi Edições (Lisboa), a cargo do crítico literário e escritor Eduardo Pitta.

Homenagens

Prémio António Botto = Prémio atribuído pela Câmara Municipal de Abrantes a autores de literatura infantil, desde 1996.

José Régio = Em 1938 é publicado no Porto o ensaio António Botto e o Amor da autoria de José Régio, considerado como uma arrojada análise psico-poética do poeta das Canções.

Fonte: Wikipedia

Vicência Jaguaribe (Com o Toque da Campainha)


O primeiro toque da campainha acordou-a. Afinal, o seu quarto era o segundo aposento da casa, com duas portas de correspondência para a sala de visitas, as quais ficavam sempre abertas durante a noite. E nada separava a sala de visitas da rua, a não ser o nível do chão. Das duas varandas da sala até a calçada distava talvez um metro e meio.

Acordou é maneira de dizer. Ficou naquele estado de semi-inconsciência, e não podia determinar com certeza se estava vivendo um sonho ou se começava a emergir para a realidade.

O segundo toque da campainha fê-la abrir os olhos e sentar-se na cama. Mas, pelo amor de Deus, quem acionava aquela bendita campainha a uma hora daquelas, em pleno sábado? Vestiu o robe por cima do pijama e abriu a janelinha que dava da sala para a área aberta que corria em toda a lateral da construção e pela qual quem chegava tinha acesso ao interior da casa. Olhou para o portão, meio aberto, e não viu ninguém. Se alguém realmente acionara a campainha, quisera fazer uma brincadeira fora de hora. Já fechava a pequena janela quando viu uma caixa, colocada do lado de dentro do portão. Aliás, fora mais uma impressão do que uma visão. Abriu novamente a janela e estirou o pescoço para fora. Não, não se enganara, era realmente uma caixa, e relativamente grande. A curiosidade, mais do que qualquer outra coisa, levou-a a dar a volta pela sala de jantar e abrir a porta desaída. Por aquela porta passava-seà varanda, que emendava com a área descoberta e desembocava na calçada.

De perto, ela viu que a caixa estava aberta. Dentro, divisou uns panos brancos, que não paravam de se mexer. Já meio desconfiada do que continha aquela caixa — mais do que desconfiada, quase certa —, arredou os panos, que agora percebia serem cobertas, e tremeu. Tremeu antes de ver. E viu. Viu um bebê de poucos dias, de pele morena e cabelos negros, que a encarou como se dissesse cheguei.Ela já ouvira de mais de uma pessoa a descrição do que se sente num momento como aquele, mas nunca supusera que fosse tudo tão intenso. Seu corpo tremia como se estivesse atacado pela maleita. As lágrimas, sem pedir licença e sem se importar com sua reação, não caíram de duas em duas, comportadamente, não. A impressão é que uma torneira fora aberta e não fora fechada. Fez força para controlar-se e tirou o bebê de dentro da caixa. Ele continuava caladinho, como se tivesse medo de causar má impressão àquele colo quente e confortável.

A mulher dirigiu-se ao interior da casa e esbarrou com uma parte da família, que também achara estranho o toque da campainha tão cedo, num sábado. A mãe, idosa, aproximou-se e pegou a criança, que, quando se sentiu em uns braços menos confortáveis, abriu o berreiro. E o que se falou ali, o que se perguntou, não pode ser repetido, já que todos falavam de uma vez e queriam ter, todos ao mesmo tempo, o bebê nos braços. Mas algumas perguntas se distinguiam, porque partiam da boca de todos. Quem era aquele menino? Sim, já se descobrira o sexo do bebê. De onde viera? Quem o trouxera? As perguntas eram dirigidas à mulher que recolhera a criança. Mas ela não podia dar-lhes nenhuma resposta, pelo simples motivo de que não sabia de nada. Só contou o pouco de que participara.

A situação era óbvia. Não havia mistério. Estava ali uma criança enjeitada, que precisava de uma família. E alguém achara que aquela era a família certa: pessoas de princípios, boa situação financeira, quase todos os filhos casados, com uma filha solteira ainda dentro de casa, que podia ajudar os pais já idosos naquela missão que — agora estava claro — desafiava-os. O irmão da dona da casa, que passava as férias ali, foi o primeiro a falar. Era totalmente contra. Não se podia exigir da irmã, uma mulher de mais de setenta anos, mãe de doze filhos, que, àquelas alturas da vida, se responsabilizasse pela educação de mais uma criança. Os três ou quatro sobrinhos presentes acharam que deveriam ponderar. Não se rejeita uma criança assim, principalmente uma criança que já fora abandonada pela mãe.

Enquanto uma parte da família discutia sobre a possibilidade de adoção, a mulher que recolhera a criança, agora mais calma, tratava de coisas mais imediatas. Mandou alguém à farmácia comprar fralda, leite e mamadeira. Telefonou ao cunhado médico e pediu que ele fosse ver a criança. Será que era saudável?Examinou-lhe o corpinho em busca de feridas ou de marcas de maus tratos. Mandou a empregada lavar uma bacia e amornar água, para banhá-lo. Para efeitos legais, aquele menino seria filho de seus pais, no entanto sabia, mais, sentia, seria ela a mãe de fato.

No segundo momento, os outros filhos do casal, os que moravam em outros estados, foram contatados: os pais exigiam um compromisso. Eles adotariam aquela criança, mas todos seriam responsáveis por ela. Deviam comprometer-se a assumir as despesas com sua educação e a cuidar dele, caso os velhos morressem antes de cumprir a nova missão que alguém — Quem? Deus? O destino? O acaso? — achara que eles ainda podiam cumprir. Restava, agora, mergulhar nos trâmites legais.

Dentro de casa, a mulher que seria chamada de mãe, terminava de banhar a criança e recebia de uma das irmãs a mamadeira com o leite que o menino esvaziou com rapidez. Quando terminou, já estava de olhos fechados. A mãe, então, improvisou com os travesseiros de sua cama um recanto seguro onde agasalhou a criança. A sua criança. Sim, alguém lhe mandara aquele presente. E ela iria cuidar dele com desvelo.

Fontes:
Texto enviado pela autora
Imagem = http://www.eletrocompany.com/materiais-eletricos/materias-eletricos

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XV – A Formiga e a Neve


Uma vez uma formiga, que andava pelos campos, ficou com as perninhas presas na neve.

— Ó neve valente que meus pés prende! — exclamou a formiga, e a neve respondeu:

— Sou valente mas o sol me derrete. A formiga voltou-se para o sol:

— Ó sol valente que derrete a neve que meus pés prende! — e o sol respondeu:

— Sou valente mas a nuvem me esconde.

A formiga voltou-se para a nuvem:

— Ó nuvem valente que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a nuvem respondeu:

— Sou valente mas o vento me desmancha.

A formiga voltou-se para o vento:

— Ó vento valente que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o vento respondeu:

— Sou valente mas a parede me pára. A formiga voltou-se para a parede:

— Ó parede valente que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a parede respondeu:

— Sou valente mas o rato me fura. A formiga voltou-se para o rato:

— Ó rato valente que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o rato respondeu :

— Sou valente mas o gato me come. A formiga voltou-se para o gato:

— Ó gato valente que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o gato respondeu:

— Sou valente mas o cachorro me pega.

A formiga voltou-se para o cachorro:

— Ó cachorro valente que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o cachorro respondeu :

— Sou valente mas a onça me devora. A formiga voltou-se para a onça:

— Ó onça valente que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e a onça respondeu:

— Sou valente mas o homem me caça. A formiga voltou-se para o homem:

— Ó homem valente que caça a onça que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende! — e o homem respondeu:

— Sou valente mas Deus pode comigo. A formiga voltou-se para Deus:

— Ó Deus valente que pode com o homem que caça a onça que devora o cachorro que pega o gato que come o rato que fura a parede que pára o vento que desmancha a nuvem que esconde o sol que derrete a neve que meus pés prende!

Deus respondeu:

— Formiguinha, acaba com essa história e vai furtar.

É por isso que a formiga vive sempre na maior atividade, furtando, furtando.
====================
— Ora até que enfim ouvi uma história que merece grau dez! — gritou Emília. — Está muito bem arranjada, e sem rei dentro, nem príncipes, nem olho furado, nem burro bravo. Ótima! Meus parabéns a tia Nastácia.

— Também gostei bastante — disse Narizinho. — Só que não concordo com o fim. A formiga não furta. As coisas que há no mundo são tão dela como nossas e de todos os outros animais. Por que considerar gatuninha a formiga?

Dona Benta explicou:

— A gente vê aí o dedo das contadeiras de histórias. São em geral donas de casa, ou amas, ou cozinheiras, criaturas para as quais as formigas não passam dumas gatuninhas, porque vivem invadindo as prateleiras e guarda-comidas para furtar açúcar. Se fosse escrita por um filósofo, a história não teria esse fim, porque os filósofos nem sabem que há guarda-comidas no mundo. Só enxergam o céu, as estrelas, as leis naturais, etc. Mas as tias Nastácias sabem muito bem das. formiguinhas que furtam açúcar.

— E é mesmo, sinhá — confirmou a preta. — Outro dia esqueci de tampar a terrina de doce de laranja, e quando foi de manhã estava pretinha de formigas. As bobas se deixam grudar na calda e morrem afogadas. Bem feito! Quem manda serem gatuninhas?

— Então você também é gatuna — disse Emília — porque furta as laranjas da laranjeira para fazer doce.

— Mas a laranjeira é da gente, Emília, é da casa, é ali de dona Benta. Quem tira o que é seu não furta.

— E onde está a escritura da Natureza que deu a laranjeira a dona Benta? — gritou Emília pregando um soco na mesa.
–––––––––––––
Continua… XVI – João Esperto
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 190)


Uma Trova Nacional

Tua alma desperta em mim
tanta calma e tanto ardor,
que, se o amor não for assim,
eu mudo o nome do amor!
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova Potiguar

...Mas que ironia a da rima
na ponte que a rua cobre:
o carro do rico em cima,
em baixo a casa do pobre!!!
–LUIZ DUTRA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Bandeirantes/PR
Tema: AUDÁCIA - Venc.

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão caro?!
–CAROLINA RAMOS/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Segue, filho, a tua estrada
sem entrar pelos desvios,
pois só vence a caminhada
quem enfrenta os desafios!
–MARIA DOLORES PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE.
Cada passo é mais um sonho
Ao longo do caminhar.

GLOSA:
Esteja alegre ou tristonho
O poeta enxerga a vida
Tal a terra prometida...
Cada passo é mais um sonho.
Chega ao destino, risonho,
Pelo prazer de rimar
Antes mesmo de apear
Em pensamentos, imerso,
Olha pra trás, vê seu verso
Ao longo do caminhar.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Estrofe do Dia

Viver com independência,
renúncia e simplicidade,
sentindo a dignidade
no íntimo da cosciência,
presevar sua decência
no início, meio e fim,
discordar do que é ruim,
ser por Deus compreendido,
ter um lar constituído
felicidade é assim.
–PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Soneto do Dia

–DARLY O. BARROS/SP–
Detalhe

Com movimentos leves, elegantes,
pousou no parapeito da sacada,
a me fitar de olhinhos penetrantes,
feito escultura – estática, parada...

“ Deixa que eu te contemple, por instantes,
não fujas!”, supliquei-lhe, extasiada,
“ beleza assim, confesso, eu não vi, antes,
trazes o sol nas asas, és dourada!”

“ E, tu, poeta, se me vês assim,
sou mera borboleta, isso sim,
é o sol brilhando que me faz tão bela;

não fora, do astro-rei seu brilho farto,
e, na sacada agora, do teu quarto,
eu não seria mais do que amarela...”

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Paulo Leminski (Vim pelo Caminho Difícil)


Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
--------
Montagem com imagens
Agulha e linha = http://paulinhannina.blogspot.com

Letras = http://studiomzo.com.br

Ivan Martins (Desculpe, Não me Lembro de Você)


É chato ouvir isso, mas acontece – e não mata.

Todos nós somos inesquecíveis, claro. Mas algumas pessoas, estranhamente, se esquecem de nós. E nós também nos esquecemos de pessoas. Se a vida fosse simples, não haveria problema. “Desculpe, eu não me lembro de você”. Diante dessa frase, perfeitamente compreensível, a pessoa explicaria, rapidamente, onde e quando vocês se conheceram – e que tipo circunstância compartilharam. Foi trabalho, lazer ou prazer? Mas a vida está longe de ser simples. Diante de um sorriso de intimidade num rosto estranho, a maior parte de nós mergulha em pânico social. Em vez de admitir ignorância, somos levados a agir como tontos. Sorrimos de forma mecânica, entabulamos uma conversa sem sentido, esperamos que o cérebro – o mesmo que acaba de nos deixar na mão – encontre uma saída para a enrascada. A quem pertence esse rosto, meu deus? De quem é essa voz que se dirige a mim com tanta naturalidade? Todos já passamos por esse pesadelo.

Faz muito tempo eu vi um filme francês no qual havia uma cena desse tipo, deliciosa. O sujeito entra no bar, senta-se em frente da garçonete e faz cara de criança feliz. A moça olha, estranha a atitude dele e, afinal, pergunta: você e eu nos conhecemos? O rapaz balança a cabeça afirmativamente. Ela faz cara de brava, afasta-se, mas volta, minutos depois, curiosa. “Nós transamos?”, pergunta. O rapaz assente, com entusiasmo. Na cena seguinte, estão os dois na cama, com cara de que deu tudo errado. Ela diz uma única frase: “Agora me lembrei de você”.

Afinal, o que nos torna esquecíveis ou inesquecíveis?

Minha impressão é que isso nada tem a ver com qualidades inerentes, como beleza, charme e habilidades. É uma questão de circunstância. Às vezes estamos tão agitados ou tão distraídos que a mais bela mulher do mundo pode passar sem deixar marcas. Diante do cenário em movimento, torna-se um rosto ou um corpo sem identidade. Outro. Há fases da vida dos homens e das mulheres em que isso tende a acontecer. Pela quantidade, pela repetição, pela ausência de relevo emocional. A tristeza provoca esse tipo de sensação. Ou a euforia. Tudo fica mais ou menos igual. As coisas e pessoas vão se sucedendo e todas elas ficam parecidas. É provável que alguém que passe pela vida do sujeito – ou da moça – num período desses, seja posto de lado na memória, logo em seguida. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Uma vez, anos atrás, estava com meus filhos na Fnac e avistei uma namorada de adolescência que foi, para mim, da maior importância. Ela estava na faculdade, eu no colégio. Ela era culta e bem informada, eu, louco para aprender. Longas conversas, sexo desengonçado, política, filmes e passeios no Bom Retiro. Jamais me esqueci dela. Como poderia? Pois nesse dia, na Fnac, minha ex-namorada demorou uma eternidade para lembrar-se de mim. Eu lá, sorrindo, emocionado, exibindo as minhas crias, e ela me fitando como se eu fosse de Marte. Longos minutos depois, quando eu, de tanto explicar, consegui que ela recordasse alguma coisa, a reação foi ainda pior. Ah, sim, Ivan... com uma expressão de quase indiferença no rosto. Fiquei desconcertado. Ela fora importante na minha vida, mas a recíproca, obviamente, não era verdadeira. Recolhi minha alegria sem contexto e fui embora, explicando aos meus filhos sobre a arte do desencontro. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Agora que inventaram o Facebook, essas coisas estão acontecendo em escala muito maior, planetária. Na vida de todo mundo. Eu não sou o cara mais popular da cidade, nunca fui, e, mesmo assim, vira e mexe aparece alguém no meu perfil, se reapresentado: então, lembra de mim? Às vezes eu não me lembro de nada e deixo por isso mesmo. A memória deve ter suas razões. Em outras ocasiões eu quase lembro, quase sei quem é a pessoa, e isso me deixa curioso. O que terá havido que eu borrei na memória?

Outro dia aconteceu algo assim. Apareceu um nome, um rosto e uma alegria gostosa em me reencontrar, depois de uns 10 anos. Como não era uma conversa frente a frente, o embaraço foi menor. Eu pude, delicadamente, fazer perguntas. De onde a gente se conhece mesmo, quem nos apresentou, você era a moça que alugava aquela casa na praia? Eu estava com medo de repetir a cena do filme francês - esquecer de alguém com quem eu tinha transado - mas não foi o caso. Melhor assim. Já me aconteceu de apagar esse tipo de evento íntimo e a sensação é muito ruim. A gente se sente ao mesmo tempo promíscuo e desmemoriado.

Como eu disse no início, todos nós somos intrinsecamente inesquecíveis. Únicos mesmo. E eu acredito nisso. Se alguém pudesse, como nos filmes, entrar na nossa mente, por um segundo que fosse, perceberia a corrente de sentimentos, memórias e sensações totalmente originais que forma cada um de nós. Mas não vivemos assim, não é? Passamos rapidamente pela vida dos outros, que passam pela nossa, sem verdadeiramente nos tocar. Somos muitos, não deixamos marcas e tampouco nos deixamos marcar. Nessas circunstâncias, a memória fraqueja. Cria embaraços, mas abre, também, novas oportunidades. “Desculpe, eu não me lembro de você”, não é necessariamente um insulto. Pode ser apenas um recomeço.

Fontes:
Colaboração do Autor
Imagem = http://sorisomail.com

Academia Brasileira de Trova (Solenidade de Posse de Silvia Araujo Motta)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 189)


Uma Trova Nacional

Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova Potiguar


A grande nau do Divino,
nas vagas do mar do além,
tem sempre um rumo, um destino,
traçando a vida de alguém!
–FABIANO DE CRISTO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Ribeirão Preto/SP
Tema : CIGANO - 4º Lugar.

Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

...E Suas Trovas Ficaram

Ninguém acreditaria
neste amor extraordinário:
você é a Ave-Maria
das contas do meu rosário!
–LATOUR ARUEIRA/RJ–

Simplesmente Poesia

–RAYMUNDO DE SALLES BRASIL/BA–
Que não Morram os Sonhos

A luz brilhava na estrada
Por onde, jovem, passei,
Por sonhos iluminada...
E afoitamente viajei.

Na ânsia desta jornada,
Muitas rampas escalei,
Espinhos de ponta afiada
Com os pés descalços pisei.

Hoje chego ao fim da estrada;
Não quero flores nem festa.
Só quero sonhar, mais nada,

Ver em pequenos tamanhos,
Na pouca luz que me resta,
Ainda luzindo os meus sonhos.

Estrofe do Dia


Não precisa de energia
só basta o sol e a lua,
ele despido, ela nua,
um de noite, outro de dia,
na hora que a tarde esfria
Deus faz a transformação,
o sol apaga o clarão
a lua desfila acesa;
tudo que o há de beleza
Deus colocou no sertão.
–VALDIR TELES/PB–

Soneto do Dia

–DAMIÃO METAMORFOSE/RN–
Corpos e Copos

Entre copos e corpos me envolvi,
Entre corpos e copos mais um trago;
Foram copos e corpos, hoje eu pago!
Nesses corpos e copos sucumbi.

Noutros copos e corpos eu bebi
O suor do pecado, em copo pleno.
Consumi gota a gota esse veneno
E assim pouco a pouco eu me perdi.

Os meus copos se encheram de amargura,
O meu corpo tombou na vala escura
Sem os copos e corpos senti frio.

Mas seu corpo me trouxe ao apogeu
Ao brindar copo e corpo com o seu
O meu corpo deixou de ser vazio.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Marcelo Spalding (História da leitura) IV: A Ascensão do Romance


Chegamos no alvorecer da era das máquinas, símbolo central do período histórico que ficou conhecido como Revolução Industrial, fenômeno observado especialmente na Inglaterra no meio do século XVIII, com o surgimento da indústria têxtil (entre 1760-1780), a invenção da máquina à vapor (1769) e as primeira aplicações industriais com a produção de ferro de boa qualidade (1780).

No campo social, a Revolução Industrial aos poucos criou uma massa de trabalhadores, muitos dos quais foram alfabetizados e escolarizados para atender às demandas industriais. São esses trabalhadores, tranformados em leitores, que transformaram as narrativas em prosa em um gênero comum entre as camadas populares, e por isso mesmo até então considerado menor diante da tradição épica. Conta-nos Antonio Candido que, quando o rei da Inglaterra quis dar a Walter Scott (escritor inglês que viveu entre 1771 e 1832) o título de baronete, houve dificuldade em encontrar a justificativa oficial de praxe, pois o motivo era obviamente a glória trazida pelos seus romances, mas estes saíam anônimos e o autor não quis aparecer como tal na cédula honorífica, por se tratar de atividade incompatível com as de um gentleman bem-posto. A solução foi alegar a sua qualidade de poeta, aceita tradicionalmente, pelo establishment; deste modo preservou-se o segredo de Polichinelo, e o romancista mais estrepitosamente famoso do tempo foi agraciado a pretexto de poemas da mocidade, que havia assinado e cuja autoria não o vexava..

O século seguinte, o XIX, não por acaso seria o século do romance, um gênero próprio da era Industrial, da era Burguesa, em detrimento às epopeias classicistas. É o século, além de Walter Scott, de Charles Dickens, Jane Austen, Stendhal, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Victor Hugo, Dostoievski, Lewis Carrol, Mark Twain, Julio Verne, nomes basilares no cânone ocidental, e Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, nomes fundamentais no cânone da língua portuguesa.

A produção do livro alcançou escala industrial, o público consumidor se fortaleceu, os gêneros populares, sobretudo o romance, se consolidaram e assim como havia ocorrido quando do surgimento dos tipos móveis, novamente a leitura passou a ser malvista tanto pelos detentores do poder quanto pelos pensadores, conforme sintetizou Schopenhauer em Parerga y paralipómena, de 1851:

(.) não se deve ler demais, para que o espírito não se acostume com a substituição e desaprenda a pensar, ou seja, para que ele não se acostume com trilhas já percorridas e para que o passo do pensamento alheio não provoque uma estranheza em relação ao nosso próprio modo de andar (.) Após essas considerações, não nos espantará o fato de aquele que pensa por si mesmo e o filósofo livresco serem facilmente reconhecíveis já pela maneira como expõem suas ideias. O primeiro, pela marca da seriedade, do caráter direto e da originalidade, pela autenticidade de todos os seus pensamentos e expressões; o segundo, em comparação, pelo fato de que tudo nele é de segunda mão. Trata-se de conceitos emprestados, de toda uma tralha reunida, material gasto e surrado, como a reprodução de uma reprodução. (2005, p. 48-49).

No campo da ficção, Flaubert, no clássico Madame Bovary, de 1857, criou uma protagonista que, seguindo a tradição de Quixote, deixa-se seduzir por más leituras e condiciona sua vida real de acordo com os mundos inventados da ficção. Devido à temática do livro, Flaubert chegou a ser levado aos tribunais, acusado de ofensa à moral e à religião, num processo contra o autor e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, onde a história foi publicada pela primeira vez, em episódios e com alguns pequenos cortes.

O surgimento da imprensa comercial, diária e popular, aliás, ao lado da escolarização obrigatória e consequente alfabetização em massa, tem papel fundamental na popularização do livro nessa época. O The Times, de Londres, é de 1785; o The Guardian, um dos jornais mais vendidos no Reino Unido até hoje, surge em 1821; o New York Sun, vendido a um centavo de dólar, é de 1833; no Brasil, o Correio Braziliense é de 1808, mesmo ano do lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro, publicação oficial editada pela imprensa régia.

Com os jornais de massa, surgia um novo gênero literário, o conto moderno, que passou a ser tão malvisto como fora o romance no século anterior. Edgar Allan Poe, nos "Excertos da Marginalia", faz associação direta entre o progresso realizado em alguns anos pela imprensa e a afirmação do conto, dizendo que tal progresso não é uma decadência do gosto ou das letras americanas, como queriam alguns críticos, e sim um sinal dos tempos: "o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação".

Do ponto de vista dos livros, esta mecanização não chegou, num primeiro momento, a mudar sua técnica de impressão, que seguia seu formato de códice há cerca de mil anos, mas acelerou sobremaneira a produção, multiplicou o número de exemplares e de escritores, forjou o estudo da literatura e entregou para o século XX um objeto tradicional, capaz de suscitar medo e apreensão entre os poderosos, como bem representa Markus Zusak no romance A menina que roubava livros, sobre o período nazista, mas perfeitamente adaptado à lógica comercial e capitalista, com um sistema literário, como diria Candido, formado por autores, leitores e editores.

Neste século, o livro irá conviver com outras formas de arte e outros meios de comunicação de massa, como o cinema, o rádio e a televisão, que conquistam em pouco tempo enorme apelo popular e comercial. Nada, porém, muda a forma física do livro, até que com o surgimento da microinformática e da internet começam a surgir suportes digitais para a leitura em que não existe propriamente um objeto, e sim uma tela sobre a qual o texto eletrônico é lido, provocando uma uma revolução que Roger Chartier considera "com poucos precedentes tão violentos na longa história da cultura escrita".
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continua... V - O Livro na Era Digital
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Fontes:
Colaboração do autor, in Artistas Gauchos.

Imagem = htttp://manualdosfocas.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 188)


Uma Trova Nacional

Não há fronteira na vida
que separe um grande amor,
quando a ponte foi erguida
pelas mãos do Criador.
–OLGA AGULHON/PR–

Uma Trova Potiguar

Contra o perigo do mal
já não há quem se previna
porque, do gênio do mal
há um clone em cada esquina!
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Caicó/RN
Tema : ESTRADA - 10º Lugar.

Caminho, mantendo acesa
a chama da sensatez,
na estrada em que, com certeza,
não passarei outra vez!
–THEREZINHA BRISOLLA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Eu te quero às escondidas
– e, se esta espera durar,
te esperarei quantas vidas
for necessário esperar!
–EUGÊNIA MARIA RODRIGUES/MG–

Simplesmente Poesia

–VICENTE DE CARVALHO/SP–
Desiludida

Sou como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante.

Bem sei que já me não ama,
E sigo, amorosa e aflita,
Essa voz que não me chama,
Esse olhar que não me fita.

Bem reconheço a loucura
Deste amor abandonado
Que se abre em flor, e procura
Viver de um sonho acabado;

E é como a corça ferida
Que vai, sedenta e arquejante,
Gastando uns restos de vida
Em busca da água distante.

Só, perdido no deserto,
Segue empós do seu carinho:
Vai se arrastando... e vai certo
Que morre pelo caminho.

Estrofe do Dia

Eu espero uma carta mas não vem,
só aumenta o amor que tenho a ela,
e pra botar outro alguém no lugar dela
eu prefiro morrer sem ter ninguém,
hoje estou padecendo sem meu bem
como um cego padece sem visão,
ou Jesus vai de mim ter compaixão
ou do mal da saudade eu morrerei,
se eu pudesse encontrar quem mais amei
livraria da dor, meu coração.
–ENEVALDO HIPÓLITO/PI–

Soneto do Dia

–Vinicius de Moraes/RJ–
SONETO DE FIDELIDADE.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XIV – A Rainha que Saiu do Mar


Houve um rei que encasquetou casar--se com a moça mais bonita que houvesse. Seus oficiais já tinham percorrido todas as cidades, e esmiuçado todas as casas, sem que descobrissem a beleza que contentasse. Só faltava serem apresentadas ao rei as filhas dum lavrador, as únicas que ele não tinha visto.

Estavam as coisas nesse pé quando entrou na igreja um rapaz de ar abobado, que olhou para a imagem duma santa e pôs-se a chorar. Perguntaram-lhe o que era, se estava sentindo alguma dor.

— Não sinto dor nenhuma — respondeu o rapaz — mas é que olhei para aquela imagem ali e senti grandes saudades de minha irmã, que é o retrato da santa.

Todos comentaram aquelas palavras, uns caçoando, outros a sério, e de tanto fala-fala o caso chegou aos ouvidos do rei, o qual fez vir o moço à sua presença e lhe perguntou se era verdade oJustificar que dissera na igreja.

— É, sim — respondeu o rapaz — tenho uma irmã muito linda, o retrato daquela santa da igreja.

— E onde mora?

— Nas grotas do monte Escarpado, a dez mil léguas daqui, por terra, ou cinco mil por mar.

O rei mandou preparar uma esquadra que levasse os seus mensageiros ao pai da moça, a fim de pedi-la em casamento — e o rapaz que dera a informação seguiu junto.

Quando a esquadra chegou à terra do monte Escarpado, os mensageiros desceram, seguindo para a tal grota. A moça estava à janela. Oh, que maravilha! Todos ficaram tontos diante de sua beleza. Os mensageiros entregaram a carta do rei e o pai concordou em dá-la em casamento. Feitos os preparativos, a linda criatura entrou num dos navios e a esquadra partiu.

Em certo ponto da viagem o mar ficou tão bravo que os emissários resolveram descer com a moça em terra, por algum tempo. Recolheram-se à casa duma velha que morava por ali. Mas a velha não passava da pior das pestes, pois, tendo ouvido a história da moça, convidou-a a um passeio pela horta, e lá zuct! — jogou-a dentro dum poço.

Quando chegou a hora do embarque a velha levou à esquadra uma filha sua, muito feia, com a cara coberta por um véu, de modo que os emissários não perceberam a troca. A esquadra partiu.

Assim que os navios desapareceram ao longe, a peste foi ao poço e pescou a moça, cortou-lhe o cabelo, furou-lhe os olhos e botou-a dentro dum caixão, que lançou ao mar. Esse caixão foi parar no reino do rei ante» que os navios chegassem, sendo recolhido por um pescador.

Mas alguém que viu o pescador recolhendo o caixão deu denúncia ao rei, o qual mandou investigar. As autoridades vieram,, abriram o caixão e muito se assombraram de ver dentro uma tão linda moça, de olhos furados e cabelos cortados.

Lá levaram a cega para o palácio, mas por esse tempo também os navios já tinham chegado e os emissários iam entrando com a filha da velha. O chefe do grupo, muito desapontado, declarou ao rei:

— Fui alegre, senhor, e volto triste. Muito esperei e pouco alcancei, e se nisto há culpa minha, pronto estou para sofrer o castigo que Vossa Majestade haja por bem impor-me.

O rei, entretanto, era homem de bem. Apenas disse:

— Ninguém tem culpa de nada. Prometi, cumpro. Casar-me-ei com esta moça feia.

E casou-se na maior tristeza, vestido de luto. Só depois disso é que lhe apresentaram a moça de olhos furados. Mas o irmão dela, que estava presente, reconheceu-a de pronto e contou ao rei o desembarque no meio do caminho, a ida à casa da velha, o passeio da velha pela horta e por fim falou da substituição da sua irmã pela filha da velha.

O rei mandou trazer a velha à sua presença. A peste negou tudo e até renegou a própria filha, dizendo que nunca tinha visto semelhante feiúra. Mas a parecença de traços entre a mãe e filha era muito grande para que alguém pudesse ter a menor dúvida, e o rei deu ordem para que cortassem os cabelos e furassem os olhos da velha.

Assim que isso foi feito, os olhos da moça ficaram perfeitinhos, e sua cabeleira cresceu num instante. Virou uma criatura ainda mais formosa do que havia sido. Estava tudo salvo. As duas embusteiras foram lançadas ao mar e o rei viu--se, finalmente casado com a criatura mais linda que havia.
–––––––––––––
— Grau 5 — gritou Emília.

— Eu nem dou nota — disse Narizinho. — Acho que não vale a pena. História mais fraca ainda não ouvi. Vamos ver outra.

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Continua… XV – A Formiga e a Neve
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995. Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 187)


Uma Trova Nacional

Mandou fazer a bandida
cartões que a todos quer dar,
tornou-se a mulher perdida
mais fácil de se encontrar...
PEDRO ORNELAS/SP– Uma Trova Potiguar

Vendo os dotes de Jussara
no seu biquíni miúdo,
morro de inveja do cara
que é dono daquilo tudo!!!
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

1980 - Sete Lagoas/MG
Tema :VEXAME ; 7º Lugar


Cheinho o bar, lá na praia,
que vexame deu a Iara:
– o seu “tomara-que-caia”
não ficou só no... tomara...
–WALDIR NEVES/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Eu bem que desconfiava
desse jeitão de Maria,
o segredo que eu guardava,
todo bairro já sabia.
–P. DE PETRUS/SP–

Simplesmente Poesia

MOTE: Você já não me procura...
Também...Você não se esconde!


GLOSA:
Em noite bastante escura,
ouvi “Zefa” reclamando:
Eu já nem sei desde quando
você já não me procura.
A vista ficou escura
procurei chão, não sei onde,
mas o poeta responde
com seu jeito bonachão
dando outra explicação:
Também...Você não se esconde!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia

Quem casa com mulher feia
vive muito descansado,
vai almoçar sem receio,
vai trabalhar sem cuidado
porque não corre perigo...
Só não tem é muito amigo
nem é muito visitado!
–ROGACIANO LEITE/PE–

Soneto do Dia

–LISINDO COPPOLI/SP–
Sociologia


Resolvido a lutar contra a indigência,
Hoje, cheio de nobres intenções,
Cuida o governo das populações
Com a sociologia, a nova ciência.

SESC, SENAI, seguro, previdência
E muitas outras boas instituições
São, em nosso país, inovações
Que ao povo suavizam a existência.

Nada disso existia antigamente;
O pobre era animal desprotegido:
Trabalhava e comia, unicamente.

Hoje em dia é outra coisa! Não se come.
Mas existe o sociólogo incumbido
De estudar e medir a nossa fome.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo