quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Humberto Rodrigues Neto /SP (Sonetos Avulsos I)


SAUDADE
(a minha esposa, in memoriam)

 Teu desencarne fez-me descontente,
 com a alma e o coração sempre em quebranto;
 do nosso lar foi embora o antigo encanto
 que tu levaste assim... tão de repente!

 Do alto onde estás podes sentir o quanto
 por ti pranteio ao te sentir ausente,
 e nada existe que tão fortemente
 me incline à solidão e ao desencanto!

 Não mais teus lábios, nem os teus abraços
 tentei buscar noutros alheios braços,
 preso à paixão que só por ti nutria!

 E hoje vergado a esta infelicidade,
 a Dor se fez a esposa do meu dia,
 e à noite faço amor com a Saudade!

 AGORA...

 Agora que o meu sonho está desfeito,
 e enfim sepultos os meus ideais;
 agora que, ao invés de madrigais,
 choram dobres de réquiens no meu peito;

 agora que me foge até o direito
 de imaginar-te em sonhos irreais;
 agora que ilusões não me vêm mais
 ao coração magoado e insatisfeito;

 que eu siga só, o meu trágico caminho,
 onde da sorte a aguda e acerba foice
 ceifou-me as dádivas do teu carinho;

 que por ti meu coração não mais baloice...
 ah... deixa-me esquecer-te, aqui sozinho,
 soprando o pó de um grande amor que foi-se!

 MIGALHAS

 Que mais desejas, afinal, que eu faça
 pra ter por meu o que de ti não tenho,
 se já cansado estou de tanto empenho
 de haurir de ti a mais suprema graça?

 Há quanto tempo mendigando eu venho
 um pouco mais que esta ventura escassa!
 Do amor apenas pingos pões-me à taça
 que eu sorvo ao jugo de pesado lenho!

 Somente a um outro, nas liriais toalhas
 da mesa de Eros serves tua paixão,
 mesa em que, pródiga, teus bens espalhas!

 E ali enjeitado, a farejar o chão,
 o meu amor vive a lamber migalhas
 que tu lhe atiras qual se fora a um cão!

MÃE!

Tu foste, mãe, na treva a claridade,
 na dor meu riso e na tormenta o norte,
 a doce companheira e a consorte
 das minhas horas de infelicidade!

 Que anjo não foste, toda vez que a sorte
 não me sorriu! E com que imensidade
 de amor, desvelo e angelical bondade
 tu me ensinaste a ser paciente e forte!

 E hoje a alegria anda a sorrir nos ares...
 é o “Dia das Mães” numa porção de lares
 e eu vou fingindo que inda o comemoro!

 Finjo, mãezinha, até que em doce jeito
 vens doer tão tristemente no meu peito,
 que eu cerro os olhos, pendo a fronte... E choro!

O AMANHÃ

 Acreditemos, poetas, no amanhã
 que está chegando após tardia demora,
 quando todos os seres, de alma sã,
 serão mais puros do que são agora.

 Se unirmos forças nesse nobre afã,
 todos os vícios hão de ir embora;
 e a idéia de uma sociedade irmã
 propaguemos, ó vates, mundo afora!

 Ter nalma o brilho que arde nas estrelas
 não são lucubrações de mero acaso
 e até na Terra é fácil concebê-las.

 Se à perfeição nós, vates, dermos azo
 no céu seremos endeusados pelas
 argivas nove musas do Parnaso!

RESGATE DAS CORES

 Aquarelas do amor há, que descoram
 se expostas a um desejo insatisfeito.
 Se presas a um anseio contrafeito,
 em vez de rir todas as cores choram!

 Janelas fecham-se e jardins desfloram,
 vazios de flores no deserto leito,
 qual se chorassem o ideal desfeito
 em findas ilusões que se evaporam!

 Talvez por força de fatais adágios
 jamais os tons da cor e da emoção
 conservam para sempre iguais estágios.

 Mas reverte o sol de um sim a situação:
 ordena lave a chuva os maus presságios,
 e em riso e cores ri-se o coração!

CILADAS DA VIDA

 Ao marulho das vagas que separam
 este imenso Brasil de Portugal,
 dois seres, num destino desigual,
 em dois sonetos seu amor declaram.

 Se amam demais, porém seria fatal
 o malogro dos bens com que sonharam;
 talvez nem um, nem outro cogitaram
 de não chegar tal sonho a um bom final.

 Ah... quanto almejariam, pessoalmente,
 trocar um beijo apenas, frente a frente,
 pra consumar o amor que hoje os seduz!

 Porém, a sorte, alheia a tais instantes,
 coloca o Atlântico entre os dois amantes
 e os crucifica sobre a mesma cruz!

TÉDIO

 A mesma dor, o mesmo nada em tudo,
 uma ânsia funda de morrer, chorar;
 na alma engasgado um sentimento mudo,
 e em tudo o nada de um vazio lunar...

 A fronte baixa... nas feições o agudo
 vinco das rugas, a testemunhar
 que o sofrimento anda afinal desnudo
 na dor que franze-me o semblante e o olhar...

 olhar há tanto, acostumado ao pranto,
 e à dor há tanto tempo acostumado,
 que nem teus nãos me causam medo ou espanto!

 E já nem sei, a este martírio atado,
 se o que mais dói é ter te amado tanto,
 ou se dói mais o não ter sido amado!

Fontes:
Bernardo Trancoso. http://www.sonetos.com.br/meulivro.php?a=40

Humberto Rodrigues Neto (1935)


Humberto Poeta

Nasceu em São Paulo - Capital, no dia 11 de novembro de 1935, no bairro da Lapa.

Aposentado da Eletropaulo, antiga Light; fez o curso de Técnico de Contabilidade, e alguma cultura que adquiriu deve ao autodidatismo face à paixão que sempre teve pela leitura.

Dedica-se à poesia desde os 14 anos, quando passou a ler quase todos os grandes poetas brasileiros e portugueses, além de traduções dos franceses, ingleses, italianos, etc. E o que mais lhe agradava era ver com que técnica tais poetas, em especial lusos e brasileiros, compunham seus sonetos! Chegava mesmo a sentir inveja deles, por aquelas coisas magníficas que escreviam, verdadeiras gemas literárias engastadas no magnífico acervo de nossas letras.

Ficava frustrado quando recorria a um editor para editar seus poemas e ele lhe pedia uma remuneração, motivo por que nunca publicou livro nenhum, exceto três e-books expostos ao público na Net poética: “Rabiscando Rimas” e “Metrificando Sonhos”, editados, respectivamente, por Olga Kapatti e Teka Nascimento, detentoras de sites poéticos, além de “Solfejando Sonetos”, em conjunto com a poetisa Regina Coeli, constante exclusivamente de duetos, num trabalho elaborado pela “Del Nero”.

Participou, com outros poetas, da VI Antologia “Palavras de Poetas”, da editora “Physis".

Premiado no I e II Concurso Nacional de Poesia ”Menotti Del Picchia”, bem assim no XI Certame Cultural de Poesias da Secretaria de Educação de Guarulhos – SP, e no Concurso de Poesias do C.T.A., de São José dos Campos – SP.

Fora da poesia tem alguns contos, diversas crônicas, estudos comparativos que faz entre as demais religiões, e duas peças teatrais: “Extorsão” e “Sempre Há Sol Depois da Chuva”.

Fonte:
Reino da Poesia.

Eça de Queiros (O Mandarim) Parte 9, final


Camilloff

– Não! nunca! – rugi com furor, amarrotando a carta, monologando a largas passadas pelo melancólico claustro. – Não, por Deus ou pelo Demónio! Ir de novo bater as estradas da China? Jamais! Oh sorte grotesca e desastrosa! Deixo os meus regalos ao Loreto, o meu ninho amoroso de Paris, venho rolado pela vaga enjoadora de Marselha a Xangai, sofro as pulgas das bateiras chinesas, o fedor das vielas, a poeirada dos caminhos áridos – e para quê? Tinha um plano, que se erguia até aos Céus, grandioso e ornamentado como um troféu: por sobre ele cintilavam, de alto a baixo, toda a sorte de acções boas: e eis que o vejo tombar ao chão, peça a peça, numa ruína! Queria dar o meu nome, os meus milhões e metade do meu leito de oiro a uma senhora Ti Chin-Fu – e não mo permitem os prejuízos sociais de uma raça bárbara! Pretendo, com o botão de cristal de mandarim, remodelar os destinos da China, trazer-lhe a prosperidade civil – e veda-mo a lei imperial! Aspiro a derramar uma esmola sem fim por esta populaça faminta – e corro o perigo ingrato de ser decapitado como instigador de rebeliões! Venho enriquecer uma vila – e a turba tumultuosa apedreja-me! Ia enfim dar a abundância, o conforto que louva Confúcio, à família Ti Chin-Fu – e essa família some-se, evapora-se como um fumo, e outras famílias Ti Chin-Fu surgem, aqui e além, vagamente, ao sul, a oeste, como clarões enganadores... E havia de ir a Cantão, a Kao-Li, expor a outra orelha a tijolos brutais, fugir ainda pelos descampados, agarrado às crinas de um potro? Jamais!

Parei: e de braços erguidos, falando às arcadas do claustro, às árvores, ao ar silencioso e fino que me envolvia:

– Ti Chin-Fu! – bradei. – Ti Chin-Fu! Para te aplacar, fiz o que era racional, generoso e lógico! Estás enfim satisfeito, letrado venerável, tu, o teu gentil papagaio, a tua pança oficial? Fala-me! Fala-me!...

Escutei, olhei: a roldana do poço, àquela hora do meio-dia, rangia devagar, no pátio: sob as amoreiras, ao longo da arcaria do claustro, secavam em papel de seda as folhas de chá da colheita de Outubro: da porta meio cerrada da aula vinha um sussurro lento de declinações latinas: era uma paz severa, feita da simplicidade das ocupações, da honestidade dos estudos, do ar pastoril daquela colina, onde dormia, sob um sol branco de Inverno, o burgo religioso... E com aquela serenidade ambiente, pareceu-me receber na alma, de repente, uma pacificação absoluta! 

Acendi com os dedos ainda trémulos um charuto, e disse, limpando na testa uma baga de suor, esta palavra, resumo de um destino:

– Bem, Ti Chin-Fu está contente.

Fui logo à cela do excelente padre Giulio. Ele lia o seu Breviário à janela, debicando confeitos de açúcar, com o gato do convento no colo.

– Reverendíssimo, volto à Europa... Algum dos nossos bons padres vai por acaso em missão, para os lados de Xangai?...

O venerável superior pôs os seus óculos redondos: e folheando com unção um vasto registo em letra chinesa, ia assim murmurando:

– Quinto dia da décima Lua... Sim, há o padre Anacleto para Tien-Tsin, para a novena dos Irmãos da Santa Creche. Duodécima Lua, o padre Sanchez para Tien-Tsin também, para a obra do Catecismo aos Órfãos... Sim, caro hóspede, tem companheiros para leste...

– Amanhã?

– Amanhã. É dolorosa a separação nestes confins do mundo, quando as almas se compreendem bem em Jesus... O nosso padre Gutierrez que lhe faça um bom farnel... Nós já o amávamos como irmão, Teodoro... Coma um confeito, são deliciosos... As coisas estão em feliz repouso quando se acham no seu lugar e elemento natural: o lugar do coração do homem é o coração de Deus: e o seu está nesse asilo seguro... Coma um confeito... Que é isso, meu filho, que é isso?

Eu estava colocando sobre o seu Breviário, aberto numa página do Evangelho de Pobreza, um rolo de notas do Banco de Inglaterra; e balbuciei:

– Meu reverendíssimo, para os seus pobres...

– Excelente, excelente... O nosso bom Gutierrez que lhe faça um farnel copioso... Amen, meu filho... In Deo omnia spes...

Ao outro dia, entre o padre Anacleto e o padre Sanchez, montado na mula branca do convento, desci o burgo, ao repique dos sinos. E aí vamos para Hiang-Hiam, vila negra e murada, onde atracam os barcos que descem a Tien-Tsin. Já as terras ao longo do Pei-Hó estavam todas brancas de neve: nas enseadas baixas já a água ia gelando: e embrulhados em peles de carneiro, em roda do fogareiro, à popa do barco, os bons padres e eu íamos conversando de trabalhos de missionários, de coisas da China, por vezes dos interesses do Céu – passando em redor sem cessar o grosso frasco da genebra...

Em Tien-Tsin separei-me daqueles santos camaradas. E daí a duas semanas, por um meio-dia de sol tépido, passeava, fumando o meu charuto e olhando a azáfama dos cais de Hong-Kong, no tombadilho do «Java», que ia levantar ferro para a Europa. 

Foi um momento comovente para mim, aquele em que vi, às primeiras voltas do hélice, afastar-se a terra da China.

Desde que acordara, nessa manhã, uma inquietação surda recomeçava a pesar-me na alma. Agora, punha-me a pensar que viera àquele vasto império para acalmar pela expiação um protesto temeroso da Consciência: e por fim, impelido por uma impaciência nervosa, aí partia, sem ter feito mais que desonrar os bigodes brancos de um general heróico, e ter recebido pedradas pela orelha numa vila dos confins da Mongólia.

Estranho destino, o meu!...

Até ao anoitecer estive encostado sombriamente à borda do paquete, vendo o mar liso, como uma vasta peça de seda azul, dobrar-se aos lados em duas pregas moles: pouco a pouco grandes estrelas palpitaram na concavidade negra, e o hélice na sombra ia trabalhando em ritmo. Então, tomado de uma fadiga mole, fui errando pelo paquete, olhando, aqui e além, a bússola alumiada; os montões de cabrestantes; as peças da máquina, numa claridade ardente, batendo em cadência; as fagulhas que fugiam do cano, num rolo de fumaraça negra; os marinheiros de barba ruiva, imóveis à roda do leme; e as formas dos pilotos, sobre o pontal, altas e vagas na noite. Na cabina do capitão, um inglês de capacete de cortiça, cercado de damas que bebiam conhaque, ia tocando melancolicamente na flauta a ária de «Bonnie Dundee»...

Eram onze horas quando desci ao meu beliche. As luzes já estavam apagadas: mas a Lua que se erguia ao nível da água, redonda e branca, batia o vidro da cabina com um raio de claridade: e então, a essa meia-tinta pálida, lá vi, estirada sobre a maca, a figura pançuda, vestida de seda amarela, com o seu papagaio nos braços!

Era ele, outra vez!

E foi ele, perpetuamente! Foi ele em Singapura e em Ceilão. Foi ele erguendo-se dos areais do deserto ao passarmos no canal de Suez; adiantando-se à proa de um barco de provisões quando parámos em Malta; resvalando sobre as rosadas montanhas da Sicília; emergindo dos nevoeiros que cercam o morro de Gibraltar! Quando desembarquei em Lisboa, no Cais das Colunas, a sua figura bojuda enchia todo o arco da Rua Augusta; o seu olho oblíquo fixava-me – e os dois olhos pintados do seu papagaio pareciam fixar-me também...

VIII

Então, certo que não poderia jamais aplacar Ti Chin-Fu, toda essa noite no meu quarto ao Loreto, onde como outrora as velas inumeráveis das serpentinas davam aos damascos tons de sangue fresco, meditei sacudir de mim, como um adorno de pecado, esses milhões sobrenaturais. E assim me libertaria talvez daquela pança e daquele papagaio abominável! 

Abandonei o palacete ao Loreto, a existência de nababo. Fui, com uma quinzena coçada, realugar o meu quarto na casa da Madame Marques: e voltei à repartição, de espinhaço curvo, a implorar os meus vinte mil réis mensais, e a minha doce pena de amanuense!...

Mas um sofrimento maior veio amargurar os meus dias. Julgando-me arruinado – todos aqueles que a minha opulência humilhara cobriram-me de ofensas, como se alastra de lixo uma estátua derrubada de príncipe decaído. Os jornais, num triunfo de ironia, achincalharam a minha miséria. A Aristocracia, que balbuciara adulações aos pés do nababo, ordenava agora aos seus cocheiros que atropelassem nas ruas o corpo encolhido do plumitivo de secretaria. O Clero, que eu enriquecera, acusava-me de «feiticeiro»; o Povo atirou-me pedras; e a Madame Marques, quando eu me queixava humildemente da dureza granítica dos bifes, plantava as duas mãos à cinta, e gritava:

– Ora o enguiço! Então que quer você mais? Aguente! Olha o pelintra!...

E apesar desta expiação, o velho Ti Chin-Fu lá estava sempre à minha ilharga, obeso e cor de oca – porque os seus milhões, que jaziam agora estéreis e intactos nos bancos, ainda de facto eram meus! Desgraçadamente meus!

Então, indignado, um dia subitamente reentrei com estrondo no meu palacete e no meu luxo. Nessa noite, de novo o resplendor das minhas janelas alumiou o Loreto: e pelo portão aberto, viram-se como outrora negrejar, nas suas fardas de seda negra, as longas filas de lacaios decorativos.

Logo, Lisboa, sem hesitar, se rojou aos meus pés. A Madame Marques chamou-me, chorando, «filho do seu coração». Os jornais deram-me os qualificativos que, de antiga tradição, pertencem à Divindade: fui o Omnipotente, fui o Omnisciente! A Aristocracia beijou-me os dedos como a um tirano: e o Clero incensou-me como a um ídolo. E o meu desprezo pela humanidade foi tão largo – que se estendeu ao Deus que a criou.

Desde então uma saciedade enervante mantém-me semanas inteiras num sofá, mudo e soturno, pensando na felicidade do não-ser...

Uma noite, recolhendo só por uma rua deserta, vi diante de mim o Personagem vestido de preto com o guarda-chuva debaixo do braço, o mesmo que no meu quarto feliz da Travessa da Conceição me fizera, a um ti-li-tim de campainha, herdar tantos milhões detestáveis. Corri para ele, agarrei-me às abas da sua sobrecasaca burguesa, bradei:

– Livra-me das minhas riquezas! Ressuscita o Mandarim! Restitui-me a paz da miséria! 

Ele passou gravemente o seu guarda-chuva para debaixo do outro braço, e respondeu com bondade:

– Não pode ser, meu prezado senhor, não pode ser...

Eu atirei-me aos seus pós numa suplicação abjecta: mas só vi diante de mim, sob uma luz mortiça de gás, a forma magra de um cão farejando o lixo.

Nunca mais encontrei este indivíduo. – E agora o mundo parece-me um imenso montão de ruínas onde a minha alma solitária, como um exilado que erra por entre colunas tombadas, geme, sem descontinuar...

As flores dos meus aposentos murcham e ninguém as renova: toda a luz me parece uma tocha: e quando as minhas amantes vêm, na brancura dos seus penteadores, encostar-se ao meu leito, eu choro – como se avistasse a legião amortalhada das minhas alegrias defuntas...

Sinto-me morrer. Tenho o meu testamento feito. Nele lego os meus milhões ao Demónio; pertencem-lhe; ele que os reclame e que os reparta.. 

E a vós, homens, lego-vos apenas, sem comentários, estas palavras: «Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!»

E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta ideia: que do norte ao sul e do oeste a leste, desde a Grande Muralha da Tartária até às ondas do mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!

Angers – Junho de 1880.

FIM

Fonte:
http://leituradiaria.com 

Mitos e Lendas (O Marido da Estrela)


Zapalo quis um dia casar-se com uma estrela. 

Ela desceu à terra e casou-se com ele. Mas como na terra não havia alimento próprio para a estrela, ela fez o marido subir num pé de bacaba e subiu com ele. 

Depois, a árvore começou a crescer e cresceu até chegar ao céu. 

Ela queria que seu marido ficasse com ela no céu. Mas no céu não havia alimentos próprios para o homem e ele quis voltar à terra. 

Então fizeram um grande pote e amarraram nele uma longa corda. Zapalo entrou no pote e começaram a descê-lo pela corda. Quando estava perto da terra, largaram a corda. 

O pote caiu e quebrou-se. Os pedaços do pote viraram jabutis e cágados e a corda transformou-se em cobra. 

E foi assim que apareceram os jabutis, os cágados e as cobras, que antes não existiam. 

Fonte:
Colhido por Jerônimo B. Monteiro e publicado em sua coluna Lendas, mitos e crendices
Jangada Brasil. Setembro 2010 - Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário

Clássicos do Cancioneiro Popular (O Tatu)


 Eu vim pra contar a história
 Dum – tatu – que já morreu
 Passando muitos trabalhos
 Por este mundo de Deus

 O tatu foi muito ativo
 Pra sua vida buscar
 Batia casco na estrada
 Mas nunca pôde ajuntar

 Ora pois, todos escutem
 Do tatu a narração
 E se houver quem saiba mais,
 Entre também na função

 - Anda a roda
 O tatu é teu;
 Voltinha no meio
 O tatu é meu! - 

 O tatu foi homem pobre
 Que apenas teve de seu
 Um balandrau muito velho
 Que o defunto pai lhe deu!

 O tatu é bicho manso
 Nunca mordeu a ninguém
 Só deu uma dentadinha
 Na perninha do seu bem

 O tatu é bicho manso
 Não pode morder ninguém
 Inda que queira morder
 O tatu dentes não tem

 O tatu saiu do mato
 Vestidinho, preparado
 Parecia um capitão
 De camisa de babado!

 O tatu saiu do mato
 Procurando mantimento
 Caiu numa cachorrada
 Que o levou cortando vento!

 O tatu me foi à roça
 Toda a roça me comeu
 Plante roça quem quiser
 Que o tatu quero ser seu!

O tatu é bicho chato
 Rasteiro, toca no chão
 Inda mais rasteiro fica
 Quando vai roubar feijão

 O tatu de rabo mole
 Faz guisado sem gordura
 Ele é feio mas gostoso
 O que lhe falta, é compostura

 Depois de muito corrido
 Nos pagos em que nasceu
 O tatu alçou o poncho
 E proutras bandas se moveu

Eu vi o tatu montado
 No seu cavalo picaço
 De bolas e tirador
 De faca, rebenque e laço

 Onde vai, senhor tatu
 Emtamanha galopada?
 – Vou pra Cima da Serra
 Dançar a polca mancada! - 

 O tatu subiu a Serra
 No seu cavalo alazão
 De barbicacho na orelha
 Repassando um redomão

O tatu subiu a serra
 Pra serrar um tabuado
 Levou mala de farinha
 E um porongo de melado

 O tatu subiu a Serra
 Com ganas de beber vinho
 Apertaram-lhe a garganta
 Vomitou pelo focinho!

 Depois de grande folia
 Em que o tatu se meteu
 Deram-lhe muito guascaço
 E o tatu ensandeceu!

E logo desceu pra baixo
 Mui triste da sua vida
 Co’a casca toda riscada
 De orelha murcha, caída!

 O tatu foi encontrado
 No serro de Batovi
 Roendo as unhas, de fome
 Ninguém me contou, eu vi!

 O tatu foi encontrado
 Pras bandas de São Sepé
 Mui aflito e muito pobre
 De freio na mão, a pé

O tatu depois foi visto
 No serro de Viamão
 Com seu lacinho nos tentos
 Repassando um redomão

 O tatu foi encontrado
 Lá nos serros de Bagé
 De laço e bolas nos tentos
 Atrás dum boi jaguané!

 O tatu foi encontrado
 Na serra de Canguçu
 Mais triste que um socó
 E sujo como urubu

Ao chegar à sua casa
 Veio alegre e mui contente
 Por ver a sua tatua
 E quem mais era parente

 Minha comadre tatua
 Adeus, como tem passado?
 – Tenho passado mui bem
 Porém com algum cuidado - 

 Tatua, minha tatua
 Acuda, senão eu morro!
 Venho todo lastimado
 Das dentadas de um cachorro

Até chegar nesta idade
 Remédio nunca tomei
 Tatua, estou mui doente
 Faz remédio, eu tomarei

 Ela deu folhas d’umbu
 Co’a raiz de pessegueiro
 Mas coitado do tatu
 Morreu inda mais ligeiro!

 A tatua e os tatuzinhos
 Puseram-se a cavoucar
 Pra fazer a funda cova
 Pra o seu tatu enterrar

A tatua está viva
 O seu tatu já morreu
 Ela agora quer marido
 Travesso como era o seu

 A tatua está mitrada
 Quer marido doutro jeito
 Que não viva longe dela
 E seja tatu de respeito

 E se algum dos meus senhores
 Quer ser tatu preferido
 A tatua está viva:
 É só fazer seu pedido!

 O tatu desceu a Serra
 Com fama de laçador
 Bota laço, tira laço
 Bota pealos de amor

 Meu tatu de rabo mole
 Meu guisado sem gordura
 Eu não gasto meu dinheiro
 Com moça sem formosura

 Dei graças a Deus achar
 Uma toca já deixada
 Pois que vinha um caçador
 Co’ uma grande cachorrada

 O tatu foi encontrado
 No passo do Jacuí
 Trazendo muitos ofícios
 Para o general David

 O tatu subiu no pau!
 É mentira de você:
 Só que o pau fosse deitado
 Isso sim, podia sê

 O tatu caiu na roça
 Pelo cheiro da banana
 Também eu quero cair
 Nos braços de dona Ana

Fonte:
Lopes Neto, J. Simões. Cancioneiro guasca. Porto Alegre, Editora Globo, 1954. (Coleção Província, 6). Disponível em Jangada Brasil. Setembro 2010 - Ano XII - nº 140.Edição Especial de Aniversário

Tatiana Belinky (História do Folclore Paulista Recontada: Viola no Saco)


Vocês sabem por que quando alguém perde uma discussão, ou coisa assim, e tem de se calar, se diz que "fulano meteu a viola no saco"? Pois eu vou contar. 

Há muito tempo, quando os bichos falavam e muitas coisas eram diferentes, havia muita festança no mundo. Um dia houve uma festa no céu e todos os bichos foram convidados. Entre eles, um dos mais esperados era o Urubu, porque as danças dependiam das músicas que ele tocava na viola. 

No dia da festa, o Urubu enfiou sua viola no saco e, antes de iniciar a viagem, foi beber água na lagoa. Lá encontrou o Sapo Cururu, que se secava ao sol. Enquanto o Urubu bebia, o espertalhão do Cururu, que também queria ir à festa, se escondeu dentro da viola para viajar de carona. 

Quando o Urubu chegou ao céu, foi muito bem recebido, pois todos esperavam por ele para começar a dançar o cateretê e a quadrilha. Mas antes o chamaram para beber umas e outras. 

O Urubu foi, deixando a viola encostada num canto. O Cururu aproveitou para pular da viola sem ser visto e foi se empanturrar com os quitutes da festa. O Urubu também comeu e bebeu até não poder mais e não viu que o Cururu, aproveitando uma distração sua, se escondera de novo dentro da viola para tornar a tirar uma carona na volta para a terra. 

Quando chegou a hora de voltar, o Urubu guardou a viola no saco e saiu voando de volta para casa. Durante o vôo, estranhou que a viola estivesse tão pesada. "Na vinda foi fácil, mas na volta está difícil. Será que fiquei fraco de tanto comer e beber?", pensou ele. Por via das dúvidas, examinou o saco com a viola e acabou descobrindo o malandro do Sapo Cururu agachado lá dentro. Furioso por ser usado desse jeito, o Urubu começou a sacudir o saco com a viola, para despejar o Cururu lá do alto e se ver livre dele. 

O Cururu, com medo de se esborrachar no chão pedregoso lá em baixo, recorreu à sua proverbial esperteza e começou a gritar: "Urubu, Urubu, me jogue sobre uma pedra, não me jogue na água, que eu morro afogado!".

O Urubu, tolo, querendo se vingar do Sapo, viu lá de cima uma lagoa e tratou logo de despejar o Sapo dentro d’água, que era pra ele se afogar. O espertalhão do Cururu, que só queria era isso mesmo, saiu nadando, feliz da vida. O bobão do Urubu só não ficou "a ver navios" porque não havia navios naquela lagoa. E é por isso que, quando alguém perde a partida e tem de sair quieto e calado, dizem que "fulano teve de meter a viola no saco"...

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

Coelho Neto (Mano) Parte I


A INSPIRAÇÃO DO LIVRO

Tendo perdido os primeiros filhos, que foram tantos quantos os que sobreviveram, “como se a Vida apostasse com a Morte em lhe não ceder uma só vitória, tirando de cada túmulo uma ressurreição”, Coelho Netto desistiu do aperreado sistema, tão mal sucedido, de encerrar e atabafar em lãs os pequeninos, decidindo-se pelo da liberdade e dos exercícios físicos. E os outros sete medraram. Emmanuel, o Mano, era o mais velho. Robusto, culto, modesto e bom, ele simbolizava o tipo de atleta perfeito que Coelho Neto, sempre eqüidistante das competições partidárias, idealizou na sua campanha pelo aprimoramento da juventude brasileira.

No Fluminense Football Club, Mano integrou o mais famoso conjunto de amadores da história do football carioca, conquistando o tri-campeonato da cidade em 1917-1918-1919. Sua morte, em conseqüência de séria contusão que sofreu num jogo do Fluminense, ocorreu a 30 de Setembro de 1922, quando contava 24 anos de idade.

Depois da maior desgraça da sua vida, Coelho Neto, como forçado das letras, tendo de escrever sem cessar para manter a subsistência da família, quando tomava lugar à mesa, para começar o trabalho diário, só trazia um pensamento:

“Falando ou escrevendo esquecem-me as expressões, faltam-me os termos. Só tu ficaste, tu só, tudo mais se esvaiu”.

E, procurando derivativo sua imensa desventura, fez da pena um rosário e desfiou em lágrimas, dia a dia, o Livro da Saudade – “Mano”.

Paulo Coelho Neto 
Setembro de 1956

CAPELAS

Ele era bom. Tinha a serenidade dos fortes. A juventude do seu corpo de atleta guardava uma alma antiga, de orgulhosa origem, mas sempre alegre por perdoar e esquecer. Nunca lhe saiu da boca uma queixa. Acostumara os lábios ao ritmo do louvor.

Sabia admirar. Sabia amar.

Mano!

Quem o apelidou assim, de pequenino, adivinhou que, depois de grande, quando olhasse, de olhos abertos, a vida, havia de ser o que foi: o irmão... o Mano, mais moço ou mais velho, dos outros homens que o conheceram, os amigos da sua intimidade e aqueles que, junto de Coelho Netto e da companheira admirável desse nobre artista, aprenderam o culto da beleza e da bondade.
Álvaro Moreyra.

ÚLTIMA VITÓRIA

A Coelho Neto.

Era uma forte e meiga criatura,
Alma infantil em corpo de gigante;
E n'arena o julgáreis sempre ovante,
Da Grécia antiga olímpica figura.

Mas como cá na terra a desventura
Apunhala o valor a cada instante,
Chega-se a Morte ao moço triunfante
P'ra tocá-lo co'a ponta d'asa escura.

Preces da aflita mãe, que a dor crucia,
Prantos do pobre pai, que era um poeta,
Tudo o supremo transe lhe angustia.

Mas tinha o lutador crenças de asceta,
Rompe-se em luz o nimbo da agonia...
Sorri... Mais uma vez vencera o atleta.
Carlos de Laet

A MORTE DO SOL
A Coelho Neto

Rubro clarão no poente...
Desce abrasado o Sol... Por um momento,
Dir-se-ia
Que em sua marcha lenta se detém...
Contempla, a última vez, no firmamento
A estrada percorrida, desde o Oriente,
Numa larga passagem triunfal.

Vai mergulhar no Além,
Penetrar na Agonia,
Perder-se no seu próprio sangue - a Luz...
Sabe que vai morrer... Olha o declive
Que ao túmulo conduz;
Lança depois o último olhar
De saudade final
Sobre a terra distante, sobre o mar,
E rola no horizonte... - É a noite que se eleva...
É a Treva.
Parece que na terra nada vive,
Nada existe
Tudo se esvaiu: a forma, a cor,
Que são a alma das coisas no Universo...
Tudo agora é diverso
No cenário do mundo
Que vai viver sem luz e sem calor.
O sol partiu e o céu, pálido e triste,
Tornou-se mais profundo.

Para que serve a treva? Que razão
A faz surgir assim, tão bruscamente,
Após a fulgurante luz do dia?
Por que a noite, senão para melhor
Destacar o fulgor
Longínquo das estrelas?
Por que a noite, senão
Para aos homens dizer que todas elas
São outros tantos sóis, iguais ao Sol
Que vemos apagar-se no ocidente
Para se erguer de novo no arrebol?
Sóis que não morrem, que desaparecem
Somente ao nosso olhar e, quando descem
No horizonte, à mesma hora da descida,
Que é apenas ilusória,
Estão surgindo em plena glória
E em plena vida
Para outras regiões do espaço infindo...
Porque tudo que é lindo,
Perfeito e forte
Não pode aniquilar-se pela morte.

A existência nos mostra cada dia
Que o fluido da Beleza ou da Energia
Jamais se exala
Para perder-se; apenas se transforma,
Se aperfeiçoa e sobe numa escala
Em que se purifica a essência ou a forma
Das coisas... Vida é apenas harmonia.
Só na aparência alguma coisa ofusca
Esta ascensão contínua. Nada existe
Que, em verdade, a perturbe e a morte não seria
A única exceção
Para a parada brusca
Na evolução fatal da Natureza.
O espírito da Força e da Beleza
Não se dilui: persiste,
Segue em demanda de outra perfeição,
E, se escapa a visão dos nossos olhos,
Deixa d'alma nos íntimos refolhos
Tênues fios de viva claridade
Que, pelo pensamento, e elas nos unem
Por todo o sempre e que, talvez, um dia
Nos servirão de guia
No mistério que envolve a Eternidade,
E onde, vestindo novas existências
As parcelas das coisas, nas essências
De um mesmo todo extinto, se reúnem...

- Por isto quando o Sol desaparece
E o clarão do seu rastro empalidece
E se extingue na sombra, esse repouso
De morte transitória
É o início apenas de uma nova glória!
Octávio Ribeiro da Cunha

AGONIA
A GABY

Se o amor nos aproximou mais fez ele unindo-nos inseparavelmente. Vendo-o, era como se nos víssemos, aos dois, em um só reflexo - tu e eu, e, com tal visão, vivíamos felizes contemplando-a debruçados sobre a correnteza da vida.

Hoje!...

Em vez do espelho límpido, no qual nos mirávamos sorrindo, vejo apenas a água triste das lágrimas que transbordam dos teus e dos meus olhos, água fúnera, turvada pela saudade, limo que assenta no fundo do coração.

Pior que o Letes do esquecimento é, sem dúvida, a memória, fonte onde nasce o rio da saudade, corrente lúrida, toldada de lembranças. E é nesse rio que nos debatemos, tu e eu, descendo juntos para o oceano ilimitado, com esperança de ainda o encontrarmos, como se fosse possível achar no fundo da água morta a sombra que flutuou na sua superfície.

DOR

A alegria dispersa; a dor concentra.

É na dor que, em verdade, sentimos que um filho é carne da nossa carne.

Ao vê-lo sofrer vibramos doloridamente e, se ele geme, o seu gemido ressoa-nos no coração.

Os ais que lhe escapam do martírio são frechas que nos lancinam e, se baixam do clamor à queixa humilde, doem-nos ainda mais, como a punção de uma lanceta aguda que se nos crava paulatinamente.

Se o enfermo sara esquecem-se tais vozes, se elas, porém, se calam suspensas pela morte, então represam-se-nos no íntimo, e nunca mais o coração as esquece e os gemidos nele perduram como fica eterno nas conchas o marulho soturno do mar.

INSONE

A casa não dormia. Era a única na rua sossegada que se mantinha aberta e acesa durante a noite toda e, ainda que silencioso, ensurdecido pelos cuidados, o movimento nela era contínuo. Falava-se aos cochichos, e, volta e meia, no quarto em que ele sofria, vígilo, soava a exclamação angustiosa:

“Se eu dormisse uma hora!”

O sono, que enchia a casa, acabrunhando aos que o desvelavam - tantas noites despertos! - só não lhe chegava, a ele.

Os enfermeiros revezavam-se-lhe à cabeceira e, por toda a parte, em desordem, eram pacotes de algodão, ampolas, rolos de gaze, frascos.

De quando em quando alguém chegava-se à luz com o termômetro.

Em todo o caso havia esperança e, quando os pássaros começavam a cantar nas árvores e o céu desensombrava-se em rosicler e ouro, mais se animavam os corações.

“Se eu dormisse uma hora...!” arquejava, cansado, o pobrezinho.

O sol entrava a jorros. Era o dia e começava na rua o movimento.

Todos contavam vê-lo, de repente, sorrir, anunciando o alivio desejado e ele, rolando aflitamente os olhos, agitando-se no leito, ansioso, insistia nas palavras tristes:

“Se eu dormisse uma hora...!”

E, assim, passaram-se nove dias e nove noites, dias de tortura, noites em claro, longas, exaustivas, sem sono, gemidas, até que, ao fim da tarde décima, ao lento soar das sete horas, abriram-se-lhe muito os olhos, encheram-se-lhe de lágrimas e, entre nós dois, ela e eu, ele começou a aquietar-se, deixou de gemer para dormir, e adormeceu, enfim, não por uma hora, mas para não acordar mais, nunca mais!

–––––––––continua

Fonte:
http://leituradiaria.com