sábado, 28 de novembro de 2015

Olympio Coutinho (1940)




  OLYMPIO da Cruz Simões COUTINHO, nasceu em na zona da Mata mineira, em 9 de outubro de 1940. Em Ubá, fez o primário e o secundário, tendo exercido diversas atividades esportivas como atleta da Praça de Esportes (natação e basquete), do Tabajara Esporte Clube (basquete e vôlei) e do Esporte Clube Aimorés (futebol). 
Já fazia trovas e mantinha correspondência com trovadores como J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Aparício Fernandes, Rodolfo Coelho Cavalcanti e muitos outros. Em 1962, foi para Belo Horizonte para estudar Jornalismo, tendo se formado em 1965: trabalhou na edição mineira da Última Hora, Folha de Minas, Jornal de Minas, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrou como repórter em 1967 e saiu como editor em 2003). Ainda em 1965 ingressou na Academia Mineira de Trovas e assumiu a cadeira nº 11 (patrono Casimiro de Abreu), tornando-se o mais novo acadêmico.
Em 1966, lançou a primeira edição de Festival de Trovas, que reunia 101 trovas feitas durante sua adolescência em sua terra natal, livro que ganhou como prefácio trecho de comentário de J. G. de Araújo Jorge, publicado no Jornal Feminino, suplemento literário de O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1961:“Minas é a grande ilha no arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores.
Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como o grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estas palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá”…
Já Rodolfo Coelho Cavalcante, em carta, escreveu: “O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um bom trovador! Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”. Fazia tempo que eu não ria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei”.
Em 2003, Olympio criou e edita até hoje um jornal de bairro, o Jornal Sion: atualmente, edita ainda outros dois jornais de bairro (Lourdes e Lagoa Notícias), dirigidos por sua filha.
Em junho de 2007, foi convidado para trabalhar na Assessoria de Imprensa do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), onde permanece.
Tendo interrompido sua produção literária em 1968, voltou a fazer trovas em 2008. Em 2009, ingressou na União Brasileira de Trovadores (UBT), seção de Belo Horizonte.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Isabel Furini (Comadres)

Janine sempre fora uma mulher bonita. Sabia agradar e seduzir, mas os anos passaram e ela – como uma flor – foi perdendo a louçania, mas parecia não tomar conhecimento disso, ao contrário de Ângela.

Ângela, 65 anos, é uma mulher alegre e brincalhona. Rechonchuda, a pele clara, o cabelo preto e as bochechas sempre vermelhas. No dia 15 de Fevereiro, dia do aniversário do neto, a família estava reunida em volta do bolo. Ângela deliciava-se com os brigadeiros. De repente, a campainha toca várias vezes, com um som longo e agudo. Quem será? pensou. 

Seu filho, Daniel, correu até a porta e abriu. Janine, a sogra, entrou correndo, os olhos esbugalhados e respirando com dificuldade. 

– Onde está minha filha? – perguntou.

Marli colocou as empadinhas sobre a mesa e correu ao lado de sua mãe.

– O que aconteceu, mamãe?

– Filha... filhaaaa... – repetiu a Janine quase chorando – desci do ônibus e um homem me seguiu. Não sei o que queria... não sei o que queria.

– Mamãe! – gritou a filha, abraçando-a – você esteve em perigo? Ele disse alguma coisa?

– Não, não falou, mas olhava para mim, com um olhar... e ao descer do ônibus vi que ele desceu atrás de mim, e começou a seguir-me. Você entende?.. Ele tinha um olhar sensual.

Dona Ângela, pegou mais um brigadeiro e olhou a Janine de cima para baixo – o rosto enrugado, a barriga volumosa, as pernas com varizes e, ocultando um riso malvado, falou. 

– Fique tranquila!. Ele ia a querer o quê? Quando uma mulher é jovem, nunca se sabe... um homem que a segue pode querer sua bolsa ou pode estar pensando em outra coisa, mas, na sua idade?!!! Sejamos honestas, dona Janine, ele ia querer o quê?.. Só sua bolsa, mulher, só sua bolsa.

Minutos depois, outra vez, o som da campainha. A festa de aniversário era um êxito. Daniel correu de novo para a porta e abriu. Boa tarde, disse o homem de camisa listrada.

– É ele... é ele... – gritou dona Janine, escondendo-se atrás da filha.

– Olá, Geraldo... – disse a filha, um pouco encabulada com a atitude da mãe- mamãe, esse é o nosso vizinho, o pai do Albertinho.

– Ah!... é sua mãe mesmo. Pegamos o mesmo ônibus e achei que era ela... mas como não tinha certeza.... não falei nada. 

– Ah!... Ah!... meu pai disse que sua avó olhava assustada. A velha é medrosa, né? – perguntou o Albertinho, o filho do Geraldo.

– Ela é –disse o netinho rindo – ela é bem medrosa...

– É assim mesmo, pessoal – afirmou Ângela, quando se é tão linda e sexy quanto dona Janine, qualquer olhar fixo pode ser considerado assédio sexual.

Fonte:
Conto obtido no blog da escritora. isabelfurini.blogspot.com.br

Thalma Tavares (Sonetilhos)



 
Sonetilho I
(Da vingança)
-
Eu quis trocar um dia minha ida
– a de poeta errante e sonhador -
por outra mais prosaica, parecida
-
à de um burguês rotundo, poupador.
E em vez de “ouvir estrelas” dar guarida
a algum futuro gênio investidor.
-
No início tudo bem!… Mas, sem cautela,
perdi na bolsa tudo de uma vez.
-
E assim, jogando ações pela janela,
o poeta vingou-se do burguês.
-
Sonetilho IV
(Dos estigmas)
-
Árvore de espantos, ó figueira brava!
São teus velhos ramos braços sepulcrais.
O teu fruto amaro fere a boca e trava,
-
como fere o fio de cruéis pinhais.
Seguirás na vida sendo eterna escrava
carregando, triste, maldições e ais.
-
Pois que a natureza, que de ti se esquiva,
fincou-te as raízes entre as rudas.
-
E ao passar por perto, ver-te ainda altiva,
sem querer me lembro do estertor de Judas.
-
Sonetilho X
(Da condição)
-
Este “olá” que me dás com tanta graça
mata de inveja os bonitões da praça
e deixa enfurecido um certo alguém.
-
Mas se esta deferência me embaraça,
me envaidece e a sensação me passa
de que em verdade tu me queres bem.
-
É bom saber que sou o teu eleito,
que é uma vitória ser teu escolhido…
-
Mas devo confessar que só te aceito
se deixas de uma vez o teu marido.
-
Sonetilho XIV
(Para quem ama)
-
O amor será sempre um ato
de renúncia e de ternura,
que não exige aparato,
nem heroísmo ou bravura.
-
Quem gosta e ama de fato,
ama o valor da criatura,
porque o amante sensato
não ama só a figura.
-
Quem ama com o coração
separa o amor da paixão
muda a dúvida em certeza.
-
E quem ama de verdade,
com toda sinceridade,
não faz questão de beleza.
-
Sonetilho XVI
(Do perdão)
-
O teu perdão não tem preço,
se vem do teu coração.
Eu só não sei se mereço
o preço do teu perdão.
-
Mas, meu amor, te conheço
tão bem quanto a minha mão.
Por isso eu não estremeço
nem penso em desilusão.
-
Tu sabes quanto te quero!
Bem por isso é que eu espero
que não me deixes assim.
-
Sei que vais me perdoar
porque não vais aguentar 
viver tão longe de mim!