terça-feira, 23 de maio de 2023

Machado de Assis (Folha rota)

Tinham dado Ave-Marias; a Sra. D. Ana Custódia saiu para ir levar umas costuras à loja que era na Rua do Hospício. Pegou das costuras, entrouxou-as, pôs um xale às costas, um rosário ao pescoço, deu cinco ou seis ordens à sobrinha e caminhou para a porta.

— Venha quem vier, não abras, disse ela com a mão no ferrolho; já sabes o costume.

— Sim, titia.

— Não me demoro nada.

— Venha cedo.

— Venho, que a chuva pode cair. O céu está preto.

— Oh! Titia, se roncar trovoada!

— Reza; mas eu volto já.

D. Ana persignou-se e saiu.

A sobrinha fechou a rótula, acendeu uma vela e foi sentar-se a uma mesa de costura.

Luísa Marques tinha dezoito anos. Não era um prodígio de beleza, mas não era feia; pelo contrário, as feições eram regulares, as maneiras gentis. O olhar meigo e cândido. Mediana de estatura, delgada, naturalmente elegante, tinha proporções para vestir bem e primar pelos adornos. Infelizmente, não tinha adornos nem os vestidos eram bem cortados. Pobres, já se vê que deviam ser. Que outras coisas seriam os vestidos de uma filha de operário, órfã de pai e mãe, condenada a coser para ajudar a sustentar a casa da tia! Era um vestido de chita grossa, cortado por ela mesma, sem arte nem inspiração.

Penteada com certo desleixo, parece que isso mesmo lhe dobrava a graça da fronte. Encostada à mesa velha de trabalho, com a cabeça inclinada sobre a costura, os dedos a correrem pela fazenda, com a agulha fina e ágil não excitava a admiração, mas despertava a simpatia.

Logo depois de sentar-se, Luísa ergueu-se duas vezes e foi até à porta. De quando em quando levantava a cabeça, como a prestar atenção. Continuava a coser. Se a tia chegasse achá-la-ia a trabalhar com uma tranquilidade verdadeiramente digna de imitação. E beijá-la-ia como costumava e lhe diria alguma coisa graciosa, que a menina ouviria com agradecimento.

 Luísa adorava a tia, que lhe servia de mãe e pai, que a educara desde os sete anos. Por outro lado, D. Ana Custódia tinha-lhe afeto verdadeiramente maternal; uma e outra não possuíam outra família. Havia certamente dois parentes mais, um correeiro, cunhado de D. Ana, e um filho deste. Mas não se frequentavam; havia até motivos para isso.

Vinte minutos depois de sair D. Ana, sentiu Luísa um rumor na rótula, como que um som leve de bengala que por ali roçasse. Estremeceu, mas não se assustou. Levantou-se devagarinho, como se a tia pudesse ouvi-la e foi até à rótula.

— Quem é? disse em voz baixa.

— Eu. Está cá?

— Não.

Luísa abriu um pouquinho a janela, uma curta fresta. Estendeu a mão por ela, e apertou-lhe um rapaz que estava do lado de fora.

O rapaz era alto, e se não fosse noite fechada podia ver-se que tinha uns bonitos olhos, sobretudo um porte airoso. Eram graças naturais; artificiais não possuía nenhuma; vestia modestamente, sem pretensão.

— Saiu há muito tempo? – perguntou ele.

— Há pouco.

— Volta já?

— Disse que sim. Não podemos hoje falar muito tempo.

— Nem hoje, nem quase nunca.

— Que quer você, Caetaninho? – perguntou a moça tristemente. – Eu não posso abusar; titia não gosta de me ver à janela.

— Há três dias que te não vejo, Luísa! – suspirou ele.

— Eu, há um dia só.

— Viste-me ontem?

— Vi: quando você passou de tarde às cinco horas.

— Passei duas vezes; de tarde e de noite: sempre fechado.

— Titia estava em casa.

As duas mãos tornaram a encontrar-se e ficaram presas uma à outra. Correram assim alguns minutos, três ou quatro.

Caetaninho tornou a falar, a queixar-se, a gemer, a maldizer da sorte, enquanto Luísa o consolava e confortava. Na opinião do rapaz, não havia ninguém mais infeliz do que ele.

— Queres saber uma coisa? – perguntou o namorado.

— Que é?

— Penso que papai desconfia...

— E então?...

— Desconfia e não aprova.

Luísa empalideceu.

— Oh! mas não faz mal! Eu só espero poder arranjar a minha vida; depois se queira ou não queira...

— Isso não, se titio não aprova, parece feio.

— Desprezar-te?

— Você não me despreza, emendou Luísa; mas desobedecerá a seu pai.

— Obedecer em tal caso, era feio da minha parte. Não, não obedecerei nunca!

— Não digas isso!

— Deixa-me arranjar a vida, verás: verás.

Luísa estava silenciosa alguns minutos, mordendo a ponta do lenço que tinha ao pescoço.

— Mas por que motivo é que você pensa que ele desconfia?

— Penso... suponho. Ontem soltou-me uma indireta, lançou-me um olhar de ameaça e fez um gesto... Não tem dúvida, dá-lhe para não aprovar a escolha de meu coração, como se eu precisasse consultá-lo...

— Não fale assim, Caetaninho!

— Também não sei por que motivo ele não se dá com titia! Se se dessem, tudo caminhava bem; mas é a minha desgraça, é a minha desgraça!

Caetano, filho do correeiro, lastimou-se ainda durante uns dez minutos; e sendo já longo o tempo da conversa, Luísa pediu-lhe e alcançou que ele se retirasse. Não o fez o moço sem um novo aperto de mão e um pedido que Luísa recusou.

O pedido era um... ósculo, digamos ósculo, que é menos cru, ou mais poético. O rapaz pedia-o invariavelmente, e ela invariavelmente o negava.

— Luísa, disse ele, no fim da recusa, espero que muito breve estaremos casados.

— Sim; mas não faça zangar seu pai.

— Não: farei tudo de harmonia com ele. Se recusar...

— Peço a Nossa Senhora que não.

— Mas, diga você; se ele recusar, que devo eu fazer?

— Esperar.

— Pois sim! Isso é bom de dizer.

— Vá; adeus; titia pode vir.

— Até breve, Luísa!

— Adeus!

— Passarei amanhã; se você não puder estar à janela, ao menos espie por dentro, sim?

— Sim.

Novo aperto de mão; dois suspiros; ele seguiu; ela fechou de todo o postigo.

Fechado o postigo, Luísa foi sentar-se outra vez à mesa de costura. Não ia alegre, como era de supor em uma moça que acabava de falar ao namorado; ia triste. Mergulhou toda no trabalho, ao que parece para esquecer alguma coisa ou aturdir o espírito. Mas não durou muito o remédio. Daí a pouco tinha levantado a cabeça e olhava fitamente o ar. Devaneava naturalmente; mas não eram devaneios azuis, senão negros, bem negros, mais negros que seus grandes olhos tristes.

O que ela dizia consigo era que tinha duas afeições na vida, uma franca, a da tia, outra encoberta, a do primo; e não sabia se tão cedo poderia mostrá-las juntas ao mundo. A notícia de que o tio desconfiasse alguma coisa e desaprovava talvez o amor de Caetano desconsolava-a e fazia-a tremer. Talvez fosse verdade; era possível que o correeiro destinasse o filho a outra. Em todo o caso as duas famílias não se davam — não sabia Luísa por que motivo —, e este fato podia contribuir para tornar difícil a realização de seu único e modesto sonho. Essas ideias, ora vagas, ora medonhas, mas sempre tingidas da cor da melancolia, abalavam seu espírito durante alguns minutos.

Depois veio a reação; a mocidade readquiriu seus direitos; a esperança trouxe a sua cor viva aos sonhos de Luísa. Ela olhou para o futuro e confiou nele. Que era um obstáculo momentâneo? Nada, se dois corações se amam. E haveria esse obstáculo? Dado que houvesse, ele seria o ramo de oliveira. No dia em que o tio soubesse que o filho a amava deveras e era correspondido, não tinha mais do que aprovar. Talvez mesmo a fosse pedir à tia D. Ana, que a estremecia, e recebê-lo-ia com lágrimas. O casamento seria o vínculo de todos os corações.

Nesses sonhos passaram ainda uns dez minutos. Luísa reparou que a costura estava atrasada e voltou de novo a atenção para ela.

D. Ana voltou; Luísa foi abrir-lhe a porta, sem hesitação porque a tia convencionara um modo de bater, a fim de evitar surpresas de gente má.

Vinha um pouco amuada a velha; mas passou logo depois do beijo à sobrinha. Trazia o dinheiro da costura que fora levar à loja. Tirou o xale, descansou um pouco; foi ela própria cuidar da ceia. Luísa ficou cosendo algum tempo. Ergueu-se depois; preparou a mesa.

Tomaram um pouco de mate as duas, sozinhas e silenciosas. Era raro o silêncio, porque D. Ana, sem ser palradora, estava longe de ser taciturna. Tinha a palavra alegre. Luísa reparou naquela mudança e receou que a tia houvesse visto o vulto do primo de longe, e, não sabendo quem fosse, naturalmente ficara molestada. Seria isso? Luísa fez esta pergunta a si mesma e sentiu corar de vergonha. Criou algumas forças, e interrogou diretamente a tia.

— Que tem, que está tão triste? perguntou a moça.

D. Ana limitou-se a levantar os ombros.

— Está zangada comigo? – murmurou Luísa.

— Contigo, meu anjo? – disse D. Ana apertando-lhe a mão –  Não, não é contigo.

— É com outra pessoa. – concluiu a sobrinha. – Posso saber quem é?

— Ninguém, ninguém. Fujo sempre de passar pela porta do Cosme e passo por outra rua; mas por desgraça, escapei ao pai e não escapei ao filho...

Luísa empalideceu.

— Ele não me viu, – continuou D. Ana - mas eu bem o conheci. Felizmente era noite.

Seguiu-se um longo silêncio, durante o qual a moça repetia as palavras da tia. Por desgraça! dissera D. Ana. Que havia pois entre ela e os dois parentes? Tinha vontade de a interrogar, mas não se atrevia; a velha não continuou; uma e outra refletiam caladamente.

Foi Luísa quem rompeu o silêncio:

— Mas por que foi desgraça encontrar o primo?

— Por quê?

Luísa confirmou a pergunta com um gesto de cabeça.

— Contos largos, – disse D. Ana - contos largos. Um dia te contarei tudo.

Luísa não insistiu; ficou acabrunhada. O resto da noite foi sombrio para ela; fingiu ter sono e recolheu-se mais cedo do que costumava. Não tinha sono; velou ainda duas longas horas a trabalhar com o espírito, a beber uma ou outra lágrima indiscreta ou impaciente de lhe retalhar a face juvenil. Dormiu finalmente; e como de costume acordou cedo. Tinha um plano feito e a resolução de o executar até o fim. O plano era interrogar a tia outra vez, mas então disposta a saber a verdade, qualquer que ela fosse. Foi depois do almoço, que se lhe ofereceu a melhor ocasião, quando as duas se sentaram a trabalhar. D. Ana recusou a princípio; mas a insistência de Luísa foi tal, e ela amava-a tanto, que não lhe recusou dizer o que havia.

— Tu não conheces teu tio, disse a boa velha; nunca viveste com ele. Eu conheço-o muito. Minha irmã, que ele tirou de casa para perdê-la, viveu com ele dez anos de martírio. Se eu te contasse o que ela sofreu não havias de acreditar. Basta dizer que, se não fosse o abandono em que o marido a deixou, o pouco caso que fez da moléstia, talvez ela não tivesse morrido. E daí pode ser que sim. Creio que ela estimou não tomar remédios, para acabar mais depressa. O maldito não deitou uma lágrima; jantou no dia da morte como costumava jantar nos mais dias. O enterro saiu e ele continuou a vida de antes. Coitada! Quando me lembro...

Neste ponto, D. Ana interrompeu-se para enxugar as lágrimas, e Luísa não pôde também reter as suas.

— Ninguém sabe para o que veio ao mundo! – exclamou sentenciosamente D. Ana - Aquela era a mais querida de meu pai; foi a mais infeliz. Destinos! destinos! O que te contei é já bastante para explicar a inimizade que nos separa. Acrescenta-lhe o gênio mau que ele tem, os modos grosseiros, e a língua... oh! a língua! Foi a língua dele que me feriu...

— Como?

— Luísa, tu és inocente, nada sabes deste mundo; mas é bom que aprendas alguma coisa. Aquele homem, depois de fazer morrer minha irmã lembrou-se de gostar de mim, e teve o atrevimento de vir declará-lo na minha casa. Eu então era outra mulher que não sou hoje; tinha cabelinho na venta. Não lhe respondi palavra; levantei a mão e castiguei-o no rosto. Vinguei-me e perdi-me. Ele recebeu o castigo calado; mas tratou de vingar-se também. Não te contarei o que disse e trabalhou contra mim; é longo e triste; basta saber que cinco meses depois, meu marido me pôs pela porta fora. Estava difamada; perdida; sem futuro nem reputação. Foi ele a causa de tudo. Meu marido era homem de boa-fé. Queria-me muito e morreu pouco depois de paixão.

Calou-se D. Ana, calou-se sem lágrimas nem gestos, mas com um rosto tão pálido de dor, que Luísa atirou-se a ela e abraçou-a. Foi esse gesto da moça que fez romper as lágrimas da velha. Chorou-as D. Ana longas e amargas; ajudou a chorá-las a sobrinha, que de envolta com ela lhe disse muita palavra consoladora. D. Ana recobrou a fala.

— Não terei razão em odiá-lo? perguntou ela.

O silêncio de Luísa foi a melhor resposta.

— Quanto ao filho nada me fez, continuou a velha; mas, se é filho de minha irmã também é filho dele. É o mesmo sangue, que eu odeio.

Luísa estremeceu.

— Titia! disse a moça.

— Odeio, sim! Ah! que a maior dor da minha vida seria... Não, não há de ser assim. Luísa, eu, se te visse casada com o filho daquele homem, morria decerto, porque perderia a única afeição, que me resta no mundo. Tu não pensas nisso; mas juras-me que em nenhum caso farás semelhante coisa?

Luísa empalideceu; hesitou um instante; mas jurou. Esse juramento foi o golpe último e mortal de suas esperanças. Nem o pai dele nem a mãe dela (D. Ana era quase mãe) consentiriam em fazê-la feliz. Luísa não se atreveu a defender o primo, a explicar que ele não tinha culpa nos atos e vilanias do pai. Que adiantaria isso, depois do que ouvira? O ódio estendia-se do pai ao filho; havia um abismo entre as duas famílias.

Naquele dia e no outro e no terceiro, chorou Luísa, nas poucas horas em que podia estar só, as lágrimas todas do desespero. No quarto dia já não tinha mais que chorar. Consolou-se como se consolam os desgraçados. Viu ir-se o único sonho da vida, a melhor esperança do futuro. Só então compreendeu a intensidade do amor que a prendia ao primo. Era o seu primeiro amor; estava destinado a ser o último.

Caetano passou ali muitas vezes; deixou de vê-la duas semanas inteiras. Supô-la doente e indagou da vizinhança. Quis escrever-lhe, mas não havia meio de entregar uma carta. Espreitava as horas em que a tia saía de casa e ia bater à porta. Trabalho inútil! A porta não se abria. Uma vez viu-a de longe à janela, apertou o passo; Luísa olhava para o lado oposto; não o viu vir. Chegando ao pé da porta, parou ele e disse:

— Enfim!

Luísa estremeceu, voltou-se e dando com o primo fechou o postigo com tanta pressa que um pedaço de manga do vestido ficou preso. Cego de dor, Caetaninho tentou empurrar o postigo, mas a moça havia-o fechado com o ferrolho. A manga do vestido foi puxada violentamente e rasgada. Caetano afastou-se com o inferno no coração; Luísa foi dali atirar-se ao leito lavada em lágrimas.

As semanas, os meses, os anos passaram. Caetaninho não foi esquecido; mas nunca mais se encontraram os olhos dos dois namorados. Oito anos depois morreu D. Ana. A sobrinha aceitou a proteção de uma vizinha e foi para casa dela, onde trabalhava dia e noite. No fim de catorze meses adoeceu de tubérculos pulmonares; arrastou uma vida aparente de dois anos. Tinha quase trinta quando morreu; enterrou-se por esmolas.

Caetaninho viveu; aos trinta e cinco anos era casado, pai de um filho, negociante de fazendas, jogava o voltarete e engordava. Morreu juiz de uma irmandade e comendador.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 10/1878.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Vanda Fagundes Queiroz (Trovando) “06”

 

Olavo Bilac (Como a pescada)

Casados há três meses, — já o arrufo, já o ciúme, já a resigna... E Clélia quer que o marido, o Álvaro, lhe ponha já para ali toda a verdade: se foi de fato noivo de Laura, e porque é que foi expulso da casa de Laura, e porque não casou com Laura, e porque é que a família de Laura lhe tem tanta raiva...

— Mas, filhinha, sê sensata; Não nos casamos? Não somos felizes? Não te amo como um louco? Que queres mais? Beijemo-nos que me importa a mim a lembrança de Laura, se é a ti que amo, se te pertenço, se sou o teu maridinho carinhoso? — suspira Álvaro, procurando com os lábios ansiosos os lábios da arrufada Clélia...

— Não, senhor! Não, senhor! — diz a teimosa, repelindo-o — Não, senhor! quero saber tudo! vamos a isso! Foi ou não foi noivo de Laura?

— Ai! — geme o marido — Já que não há remédio... fui, queridinha, fui...

— Bem! E porque não casou com ela?

— Porque... porque o pai preferiu casá-la com o Borba, comendador Borba, sabes? Aquele muito rico e muito sujo, sabes?

— Sei... Mas isso não explica o motivo porque o pai de Laura tem tanto ódio ao senhor...

— É que... é que, compreendes... tinha havido tanta intimidade entre mim e a filha dele...

— Que intimidade? Vamos, diga tudo! O senhor costumava ficar sozinho com ela?

— Às vezes, às vezes...

— E abraçava-a?

— Às vezes...

— E beijava-a?

— Às vezes...

— E chegava-se muito para ela?

— Sim, sim... Mas não falemos nisso! Que temos nós com o passado, se nos amamos, se estamos casados, se...

— Nada! Nada! — insiste Clélia — Quero saber tudo, tudo! Vamos! E depois?

— Depois? Mais nada, filhinha, mais nada...

Clélia, porém, com um brilho singular da curiosidade maliciosa nos grandes olhos azuis, insiste ainda:

— Confesse! Confesse! Ela... ela não lhe resistiu? Não é assim?

— ...

— Diga-o! Confesse! — e abraça o marido, adulando-o...

— Pois bem! É verdade! — responde ele — Mas acabou, passou... Que importa o que houve entre mim e Laura, se nesse tempo ainda eu não te conhecia, a ti, tão pura, a ti, tão boa, a ti que, enquanto foste minha noiva, nem um só beijo me deste?

Clélia, muito séria, reflete... E, de repente:

— Mas, escuta, Álvaro! Como foi que o pai soube?

— Por ela mesma, por ela mesma! A tola contou-lhe tudo...

— Ah! Ah! Ah! — e Clélia ri como uma louca, mostrando todas as pérolas da boca — Ah! Ah! Ah! Então foi ela quem... que idiota! Que idiota! Ah! Ah! Ah! Ora já se viu que pamonha? Aí está uma coisa que eu não teria feito! — Uma asneira em que não caí nunca...

— Como? Como? — exclama o marido, aterrado — Uma asneira em que não caíste?!

— Mas, certamente, queridinho, certamente! Há coisas que se fazem, mas não se dizem...

E, enquanto Álvaro, acabrunhado, apalpa a testa — lá fora, na rua, ao luar, um violão tange o fado e a voz do fadista canta:

"Homem que casa não sabe 
Qual o destino que o espera... 
Há gente como a pescada, 
Que antes de o ser já o era...”

Fonte:
Disponível em domínio público.
Olavo Bilac. Contos para velhos. Publicado originalmente em 1897.
(Quando publicado, o autor utilizou o pseudônimo "Bob").

George Abrão (Poemas Avulsos) 3

ARCO-ÍRIS

Assim como o belo arco-íris
que após a chuva enfeita o céu,
igual faz a lindíssima saíra
que com as suas penas coloridas
e também com sete cores,
enfeita as árvores do litoral
como se fosse uma joia preciosa
constantemente a dançar.
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BEM-ME-QUER?

Quanta ingenuidade havia
nos bons tempos de outrora
quando ainda se imaginava
que uma flor tinha poder.
E as pobres e belas margaridas
eram a todo dia, pelas moças, 
romanticamente despetaladas
num afã de quererem saber
se seus pretendidos as amavam.
E era: mal-me-quer, bem-me-quer,
estraçalhando a tão bonita flor.
E eram gritos de felicidade e alegria
se a última pétala era bem-me-quer,
ou de tristes muxoxos se dizia não.
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CIRANDA DOS MUNDOS

Pendentes no espaço sideral
lá vamos nós perdidos
em meio à ciranda dos mundos.
Mundos maiores, menores,
que em enorme velocidade
e em perfeito sincronismo
não se cansam do seu giro eterno.
Em meio a planetas como o nosso,
estrelas, satélites, outras astros,
e cometas que velozmente passam.
E onde nos levará esta viagem?
Onde aportaremos ao final dela?
Quem é o exímio coordenador de tudo?
Questionamentos infundados
quando a resposta para tudo
resume-se a uma só Palavra: Deus!
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DECEPÇÃO

O belo pássaro frutívoro,
que passava voando alto,
viu um belo almoço servido
e ao seu encontro desceu
pousando sobre as frutas.
Mas quando deu a bicada,
quanta decepção...
eram frutas artificiais,
tão belas e perfeitas
que o conseguiram enganar!
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OLHAR DE MULHER

Ah! O olhar feminino
rutilante como a estrela,
plácido como um lago,
profundo como o oceano,
complicado como um teorema,
melancólico como crepúsculo,
misterioso como a noite,
ou veemente como uma fera.
O olhar feminino tudo revela:
o seu vigor espiritual,
a sua tranquilidade de ser,
a complexidade de sentimentos,
a dificuldade em se fazer entender,
a sua tristeza indefinida,
os segredos da sua alma,
ou a sua fúria às vezes incontida.
Mas se penetrarmos no seu olhar,
em sua profundidade encontraremos
uma  mulher que quer amar e ser amada.
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SAUDADE I

Que imensa e dorida saudade
guarda tão pequeno gesto:
o beijo na bela rosa rosada.
Saudade do que já se foi;
saudade da feliz infância;
saudade do amor perdido;
saudade da grande felicidade;
saudade dos entes queridos;
saudade da vida que passou;
saudade do que nunca viveu.
Porque sempre há lembranças,
e lembranças trazem saudade!
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SAUDADE II

E se saudade não existisse?
Não a palavra “saudade”
que só existe no português,
mas do profundo sentimento,
que nos golpeia a alma
ou que nos traz felicidade.
Da saudade do que passou;
da saudade alegre, divertida;
da saudade triste, dolorida;
da que nos faz rir ou faz chorar;
da saudade de alguém ou de algo
que nos faz voltar no tempo;
das festas com muita alegria,
ou de encontros com amigos;
saudade dos bancos escolares
e dos colegas/amigos de classe;
saudade dos carinhos dos pais,
e essa é a saudade que dói mais;
saudade dos irmãos/amigos;
das coisas que deixamos passar;
de tudo o que eu deixamos de fazer.

Fonte:

Artur de Azevedo (contos em versos) Um passeio de bonde

(Produção dos 17 anos)

— Psiu! Para onde
Segue este bonde? —
O cocheiro interrogado
— Para a Estação — me responde;
A tabuleta não vê? —
— Muito obrigado.
— Não há de quê.

Era um bonde fechado.

Sentei-me, carrancudo,
Pensando em nada ou em tudo,
Que tudo ou nada vem a dar no mesmo,
E eu penso em tudo e em nada
Todas as vezes que passeio a esmo,
Por dar alívio à mente atribulada.

O bonde parte. Eu estava só. Ninguém
Me fazia
Companhia.
Porém
Alguém
Lá vem:
Uma moça e uma velha entram no carro,
E eu, por ser cavalheiro,
Renuncio a fumar o meu cigarro inteiro,
E deito fora a ponta do cigarro.

A moça não é feia nem bonita.
Modesta no trajar, traz um vestido
De ramalhuda chita,
E um chapéu já muitíssimo batido.

A velha é magra, é alta,
E parece que chora quando ri.
Os dentes lhe fizeram muita falta...
Uma velha mais feia nunca vi!

Aquela hedionda cara
Muito pé de cabelo e muita ruga
Me depara,
Sem falar na verruga,
Coisa rara,
Que não sara,
No nariz,
De pingos de tabaco chafariz.

Pente descomunal, de tartaruga,
Lhe adorna a cabeleira, que tresanda
Ao tal sebo de Holanda.
Enquanto a velha enxuga
O pingo eternamente pendurado,
A moça o verbo namorar conjuga

Co’um janota caolho,
Que entrara há pouco e lhe piscara um olho,
O único olho que possui — coitado!

Fica a velha de orelha
Em pé, e logo enruga
A branca sobrancelha,
E incha, como incha a negra sanguessuga
Que o Zeferino aluga.

A moça não se importa,
E dirige ao rapaz, leviana e franca,
Pecaminoso olhar de enchova morta,
Que o enleva e transporta,
E suspiros estrídulos lhe arranca.

Mas as damas chegaram
Ao seu destino. Ambas se levantaram.
A moça faz um sinal
Ao condutor, que repara,
E, com o choque especial
Que produz sempre o bonde quando para,
Cai o moço sobre a velha,
Que estava olhando de esguelha;
Cai a velha sobre o moço;
Cai o moço sobre mim!
Que alvoroço!
Que chinfrim!

Saíram todos três. Fiquei pisado,
E ansioso por saber se o resultado
Daquela barafunda
Seria um casamento ou uma tunda.

Um casamento foi. Passado um mês,
Encontrei o caolho namorado
Na rua do Alecrim, de braço dado
À moça, e a tal velhota desta vez
Tinha em casa ficado.

(Maranhão, 1872)

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Arthur de Azevedo. Contos em verso (contos maranhenses). Publicado originalmente em 1909.

domingo, 21 de maio de 2023

Isabel Furini (Poema 44): Expressão

Fonte: Isabel Furini. Flores e Quimeras. 2017. Ebook. 

Fábio Siqueira do Amaral (O Relógio)

Fato não inédito... mas, verdadeiro 
como os outros que o antecederam...

Fora meu presente de aniversário, isso lá pelos idos de 1986. Jamais parou, nunca atrasou nem um minuto sequer. Rigoroso no horário. Implacável no momento de estrilar sua campainha pela manhã, fazia-me saltar da cama com os olhos ainda semicerrados e a boca toda babada...

Segundo as informações do Vicentinho, naquela tarde – logo após o festivo almoço de comemoração –, o relógio funcionava sem corda e sem pilha... Bastaria agitá-lo por uns momentos, de um lado para o outro, para pô-lo em movimento.     Caso acontecesse esquecer-me dessa norma, e ele cessasse de “trabalhar” – sem problemas! –, que sacudisse mais um pouco o artefato e pronto... Silencioso... Não se ouvia nenhum tic-tac... Se apertasse aquele botãozinho preto, a luzinha azul acenderia e era possível ver o horário no escuro do quarto.

Casei-me, mudei de emprego, deixei minha pacata cidade, meus pais, meus amigos, fui para a Capital e o relógio foi junto, trazendo as lembranças do meu grande amigo.

Por telefone, mantinha contato com o Vicentinho.

Abandonou-me a mulher, quando, pela recessão, fui demitido, e alguns meses depois consegui novo ofício numa pequena firma, ganhando menos da metade do antigo ordenado. Ela levou tudo o que pôde... Só deixou meu relógio.

Vi-me obrigado a sair do ótimo apartamento, meu ninho de felicidade por alguns tempos. Aluguei a minúscula kitchenette com telefone, porém, miseravelmente mobiliada, num prédio decrépito, sujo e maltratado, numa das ruas mais do que vagabunda e mal falada da bela São Paulo.

Meus velhos, por várias cartas, chamaram-me de volta... Vicentinho, eterno amigo prestativo, muito querido, sincero e devotado, exigiu que voltasse... Ele conseguiria melhor ocupação para mim, na empresa dos pais dele.  Agradeci muito, mas não retornaria. Não queria depender nem dever obrigação a ninguém.  

O tempo foi passando. As ligações telefônicas foram rareando de minha parte por contenção de despesas. Vicentinho também deixou de ligar, acreditando, talvez, no meu desinteresse pela nossa antiga amizade. 

Hoje, domingo, acordei antes do toque de despertar com muita saudade desse meu amigo. Uma nostalgia pesava-me, por assim dizer, quase sufocante. Poderia dormir mais, não era dia de trabalho mesmo. Vi pelas frestas da basculante que já raiara o sol. Peguei o relógio. O horário marcava três horas e treze minutos. Fui até a janela e a abri. A claridade ia alta... Eu dormira demais e o relógio estava parado. O relógio de pulso indicava ser quinze para o meio dia... Sacudi o relógio, presente de meu aniversário. Ele não funcionou... Sacudi com força e demoradamente... Nada...

Achei que àquela hora de almoço era apropriada para fazer surpresa ao Vicentinho.

Liguei para ele.

A demora ao atendimento causou-me alguma frustração. Finalmente a voz estranha deu o ar da graça:

— Alô...

— Alô... Quem fala? – perguntei.

— É a Nancy...

A Nancy, prima do Vicentinho.

— Oi, Nancy... Como vai...? Gostaria de falar com o Vicentinho...

— Infelizmente não será possível... Ele morreu nessa madrugada...

— Como?! Morreu?!

— Sim... Na última sexta-feira, Vicentinho sofreu um acidente de carro... Estava internado em estado gravíssimo. Hoje, às três e treze da madrugada, ele deixou de respirar.

Não respondi nada mais, ou, se respondi não me lembro... Desliguei o telefone e chorei como nunca havia chorado por um amigo.

O relógio – recordação do Vicentinho –, cristalizado naquele fatídico horário – 3h13min – nunca mais voltou a funcionar.

Fonte:

Baú de Trovas LXIV



Ah, se o amor fosse comprado
tal como se compra um pão,
se eu não fosse afortunado,
seria um grande ladrão!...
A. A. DE PAULA
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Treinando, o punguista Zeca,
enquanto dança uma valsa,
consegue tirar a cueca
sem antes despir a calça!...
APARICIO FERNANDES
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Se há noites frias, escuras,
também há noites formosas;
há riso nas amarguras,
entre espinhos nascem rosas.
AUTA DE SOUZA
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Bem pouca gente procura
aceitar esta verdade:
— antes ser bom sem ventura,
que ser feliz sem bondade.
BATISTA NUNES
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O mérito da questão
foi por demais discutido,
e durante a confusão
o juiz tinha dormido...
BENTO VIEIRA DE MOURA
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Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
pois a velha é minha sogra...
CARLOS GUIMARÃES
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Um anjo veio e deu vida
ao peito de amores nu;
Minha alma agora remida
adora o anjo — que és tu!
CASIMIRO DE ABREU
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Não te deixes deslumbrar
pelo brilho da cidade;
podes ferir teu sonhar,
pois nem tudo é de verdade,..
DINA MARCHETTI ABAD
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É inverno… mas que me importa?
Estou sempre à tua espera…
Quando chegas e abro a porta
entra junto a Primavera!
DÉSPINA ATHANÁSIO PERUSSO
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Dona do maior afeto,
minha amiga doce e terna!
Eu vou baixar um decreto:
- toda mãe vai ser eterna!
DEYSE GOTTARDELLO
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Criança, crescida és,
vives de sonhos, também,
Tu, que tens o mundo aos pés,
serás o mundo de alguém!
DILCEU AMARAL
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Nosso abismo mais profundo,
que no universo se espalma,
são as tristezas do mundo
nas profundezas da alma.
DILMA SUERO
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Quando a mulher o encontrou
atracado na empregada,
o cara-de-pau berrou:
— Me larga, negra tarada!
ÉLTON CARVALHO
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Jornalista dá notícia
sem fazer dela mistério.
E se é linguagem fictícia
usa seu melhor critério.
EMÍLIO SOARES DA COSTA
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Tem tudo; fortuna imensa,
honras, prestígio, nomeada,
Com o amor… indiferença,
Pobre rico! Não tem nada!…
ESMERALDO SIQUEIRA
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Não tenho televisão,
mas tenho "televizinha"...
E numa programação
que vai a noite inteirinha!
ENÉAS NUNES DE BARROS
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No universo da poesia
desejei veredas novas,
e encontrei o que eu queria,
ao lançar o anzol nas trovas.
ENIVALDO BORGES DA SILVA
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É nas horas do langor,
quando o sonho faz-se extinto,
que se troca um grande amor
por um cálice de absinto!
ÉRICO MAGALHÃES DO AMARAL
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Nesta casa, que é só minha,
onde eu mesmo sou a lei,
obedeço a uma rainha,
muito embora eu seja o rei...
ERNÂNI RUSHEL
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Ajuda aos pobres, amigo,
sem mesquinhez ou ambição.
— O pobre, ao cruzar contigo,
é Deus que te estende a mão!...
GALDINO ANDRADE
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No momento da partida
deixaste por maldição,
uma saudade dorida
dentro do meu coração.
ISAIAS TEVES
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Esquecendo a Lei Divina,
aquele padre — essa é boa! —
Abandonou a batina,
mas... conservou a coroa!
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
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A morte é o triste momento
de uma dívida assumida.
É o dia do vencimento
das quatro letras da vida!
LAMARTINE BABO
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Eis que o destino descobre
a sorte que Deus me deu:
- Ninguém na vida é mais pobre
e nem mais feliz que eul
LATOUR AROEIRA
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Sonhando novas auroras,
no meu viver sem ninguém,
me embala a dança das horas
pelo amanhã que não vem..,
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA
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Fim da estrada... hoje tristonho
eu constato e a voz se cala;
a mão que agarrava o sonho,
hoje segura a bengala…
LEDA BECHARA
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Sei que o Inferno é muito grande,
cabe mais um ou mais dois.
— Se por acaso eu for antes,
tu poderás ir depois...
OZIEL PEÇANHA
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Da morte ninguém escapa,
por isso não tenho medo.
Só peço que ela não venha
me procurar multo cedo...
ROBERTO FERNANDES
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Lágrimas em meu rosto
Demonstram dor, fraqueza.
Só as paredes do meu quarto
Sabem minha tristeza.
SOLANGE COLOMBARA
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Seis horas... Vem a Saudade...
Rio antigo... Praça Onze...
Os sinos, pela cidade,
choram lágrimas de bronze...
VASCO DE CASTRO LIMA
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Na demanda da ternura,
motivo... meus sonhos lassos,
indo de encontro à ventura
na curva dos teus abraços...
VANDA ALVES DA SILVA
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Aprecio o casamento,
mas num plano secundário.
Casou? Deu festa? Eu frequento,
mas fico celibatário...
ZEDANOVE TAVARES
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Jaqueline Machado (Quincas Borba humano / cão)

No romance Quincas Borba, de Machado de Assis, o leitor recebe uma cartilha, quase uma enciclopédia sobre o jogo de interesses humanos. 

Rubião queria que sua irmã, Piedade, casasse com Quincas, que era um homem rico, assim, poderia ele se favorecer em parte, da vida luxuosa do amigo, que passaria a ser seu parente, mas a moça era muito tímida e rejeitou o matrimônio.

Rubião levava uma vida simples de professor. No entanto, apesar do golpe não ter dado certo, ficou rico. E vestido em seu chambre, de frente para uma janela de um imenso apartamento no Botafogo, orgulhava-se de si. Entusiasmava-se ao lembrar da vida simplória de seu passado recente e de tudo o que agora podia desfrutar, sendo bem servido pelos seus serviçais.

Rubião tinha um amigo chamado Cristiano Palha, também muito interesseiro, que o ensinava como ser um rico de verdade, que o aconselhou a contratar um novo serviçal que fosse estrangeiro e branco. ( Aqui a narrativa enfatiza a cruel questão do racismo de um Brasil que acabava de sair de um período escravocrata).

Mas afinal, por qual meio Rubião, que era um homem de vida simples, teria ficado rico?

Quincas era um mendigo filósofo, que estava para morrer de uma doença pulmonar. Tinha consigo um cãozinho que levava o seu nome. Rubião era o amigo que ouvia sobre as ideias de Humanitas de Quincas.

Humanitas é um sistema filosófico criado por Quincas para explicar o sentido da existência. A filosofia de Quincas Borba afirma que a substância da qual emanam e para a qual convergem todas as coisas é Humanitas. Portanto, Humanitas é o princípio único de tudo o que existe. E se esse princípio está em tudo, está também no seu cãozinho de estimação, que terá como herança o seu nome. 

Humanitas, segundo sua filosofia, também significa que essa substância não se esvai com a morte do corpo. É uma espécie de célula da imortalidade, portanto, o fenômeno (matéria) se desfaz, mas a essência fica. Os que morrem em batalha, nas disputas pelas batatas na sobrevivência da vida, permanecem vivos em um outro estado de existência.

Quincas propôs a Rubião o seguinte: caso ele aceitasse cuidar do seu cãozinho, se tornaria seu herdeiro universal. Rubião, bajulador e interesseiro, aceitou. Logo que o velho morreu, tomou posse da herança e do cachorro. 

Ele não conseguia nutrir muita estima pelo animal, que uma hora era cuidado, e instantes depois, desprezado por ele. 

Rubião passou a desfrutar da chamada “Vida boa”. Vida essa a qual não conseguiu se adaptar, pois eram muitas normas e requintes a seguir para ser considerado um bom rico. 

Ele era um homem atrapalhado, se apaixonou pela mulher do seu melhor amigo, e emprestava dinheiro para todo mundo que o enxergava como um bobo da corte. 

Não suportando a falta de adaptação exigida pela sociedade e perdido de amor por uma mulher que o ignorava, aos poucos, foi enlouquecendo. 

Ao ser dominado pelos sintomas da loucura, perdeu a herança. Com isso, os amigos sumiram e ele terminou seus dias sem família, sem amor, sem amigos, com fome e sozinho. 

Fonte:
Texto enviado pela autora.

Ismael Garcia (Três elementos essenciais para o sucesso literário do novo escritor)

Em 2017, compartilhei o texto abaixo com milhares de escritores e muitos deles foram beneficiados em seus resultados de lá para cá.

Isso ocorreu porque esses escritores entenderam o recado por meio de uma experiência que eu vivi e que também me trouxe (e ainda me traz) excelentes resultados (E são mesmo excelentes!).

O texto é um pouquinho longo, mas como os benefícios que ele pode proporcionar são satisfatórios, o compartilho com você também, na expectativa de que você também compreenda que o seu livro realmente pode te trazer muitas realizações.

TRÊS ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O SUCESSO LITERÁRIO DO NOVO ESCRITOR

Eu não acredito que a simples publicação de um livro seja a realização de um sonho, pois, na minha opinião, para que o sonho se realize completamente, é necessário algo mais. Além de ser publicado, o livro tem que causar algum resultado, tanto na vida das pessoas que o compram quanto na vida do próprio escritor. Porém, para que esse resultado (seja ele qual for, desde que seja algo bom) possa realmente acontecer, é necessário que o escritor aprenda definitivamente a integrar os três elementos essenciais do sucesso literário, sendo que, o terceiro, é o mais importante de todos.

Para explicar quais são esses poderosíssimos elementos, vou usar um exemplo pessoal:

Quando meu primeiro livro estava em processo de publicação, eu sentia a euforia e a ansiedade que permeia o coração de todo novo escritor. Minha mente imaginava as mais diversas situações e, para mim, era como se um novo mundo estivesse para existir. Foram semanas de espera para que fossem realizados todos os serviços editoriais e, por fim a impressão. Até que, certo dia, fui surpreendido por um empregado de uma empresa de correio expresso italiana, a Bartolini, que tocava o interfone da minha casa na Itália, dizendo: “Spedizione per il signor Garcia”. Desci as escadas apressadamente, recebi aquela encomenda e voltei para a casa com as caixas, sabendo que eram meus lindos e maravilhosos livros. Fiquei muito feliz… Contudo, foi uma felicidade que durou apenas alguns minutos. Logo, essa felicidade foi sucumbida por uma pergunta que eu fiz a mim mesmo, para a qual, naquele momento, não havia nenhuma resposta: Quem vai comprar esses livros se os únicos que sabem da existência dele é você e a sua família?

Numa questão de segundos, percebi que, se realmente quisesse ter sucesso com aquele meu livro, precisaria fazer com que as pessoas passassem a saber da existência dele. E foi ali a partir dali que eu comecei a cultivar o 

PRIMEIRO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
A DIVULGAÇÃO.

Para mim, passou a ser de extrema importância que o meu livro fosse conhecido ou, pelo menos, visto pelo maior número de pessoas possível. Então, passei a divulgá-los por todos os meios imagináveis: facebook, site, marcadores, folhetos, boca a boca, revistas, jornais, blog e tudo mais o que encontrasse pela frente. Como a cidade onde eu morava era pequena, por onde as pessoas passassem elas tinham a possibilidade de almenos visualizar qualquer coisa a respeito do meu livro.

Ao mesmo tempo, surgiu o 

SEGUNDO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
OS CANAIS DE VENDA. 

Eu imaginava que, se algumas daquelas pessoas que vissem meu livro quisessem comprá-lo, então ele deveria estar disposto para a venda em algum lugar, além de simplesmente no site da editora, visto que, sendo uma editora nova, que estava nascendo com a publicação daquele livro, era totalmente desconhecida. As ações que pratiquei foram: visitei pessoalmente cada uma das livrarias da cidade pedindo que eles vendessem meu livro (muitas não aceitaram, mas a maioria concordou em firmar uma parceria comigo, mesmo sabendo que eu era um escritor desconhecido). Fiz parceria com uma instituição e consegui colocar meu livro à venda nos principais distribuidores onlines da Itália (Fazendo uma busca no google - Le lacrime della felicita, Ismael Garcia - ainda é possível encontrar alguns canais que vendem meu livro, mesmo tendo já passado 13 anos). Intensifiquei a divulgação do site, onde o livro estava sendo vendido. Coloquei o livro à venda em diversas bancas de revistas. Lembro que teve até um restaurante que aceitou vender meus livros ao seus clientes!!! E ainda, fiz acordo com algumas pessoas para que vendessem meu livro no boca a boca em troca de uma comissão.

OBS: Hoje, para auxiliar neste ponto crucial, que é o segundo elemento essencial para o sucesso do escritor, estamos tendo a oportunidade de conceder a alguns escritores a possibilidade de divulgar o seu livro não só no Brasil, mas também no exterior, em 24 países.

Fazendo a divulgação de uma forma ampla e tendo vários canais de vendas, o meu desejo era que ele agora fosse vendido na maior quantidade possível. De alguma forma eu entendia que para isso era necessário algum impulso a mais. Foi então que identifiquei o 

TERCEIRO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
O INTERESSE DO LEITOR PELO LIVRO.

Um leitor só compra um livro quando o acha interessante, mas no conteúdo do meu livro não tinha nada de interessante que pudesse convencer alguém a comprá-lo. Não desanimei porque sabia que existiam outros livros que também não tinham conteúdo interessante, mas que eram bem vendidos. E fui perceber que eram bem vendidos porque, de alguma forma, os leitores se interessavam por eles, ou por causa da editora que era famosa, ou por causa do escritor que era influente, ou por causa da capa e por vários outros motivos.

E, pelos comentários das primeiras pessoas que compraram meu livro, notei que, o que o tornava interessante, era o fato dele ter sido escrito diretamente em italiano, por um brasileiro, e por ter sido publicado pela minha editora que, na concepção da maioria, era uma coisa impossível de acontecer, visto que eu era um estrangeiro.

Então comecei a divulgar amplamente essa situação, despertando curiosidade nas pessoas, que por sua vez se dirigiam aos diversos canais de venda, comprando meu livro, dando assim, início ao sucesso da editora Garcia.

Portanto, o meu conselho é:

1) Divulgue amplamente o seu livro, por todas as formas imagináveis. Nunca se canse de fazer isso, pois o maior número de pessoas possível precisa saber que seu livro existe.

2) Coloque seu livro à venda no maior número de canais de venda possível: livrarias, bancas de revista, lojas, distribuidores e livrarias online, facebook, Instagram, marketplaces, etc. Onde você souber que vende livros, tente colocar seu livro lá. Vai por mim, você não vai se arrepender pelo esforço realizado.

Os canais de venda que estão á nossa disposição no momento é uma excelente oportunidade para isso. Leia a página com calma, reflita e entenda os benefícios.

3) Acima de tudo, descubra você primeiro o que torna seu livro interessante. Faça-se a pergunta: Por que alguém se interessaria pelo meu livro? E divulgue isso. Pare de perder tempo divulgando o que não vai despertar os interesses nos leitores.

INTERESSE DO LEITOR - DIVULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS 
INTERESSE DO LEITOR - DIGULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS
INTERESSE DO LEITOR - DIGULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS

É um ciclo que se repete.

Se faltar um desses elementos, o trabalho é todo perdido!

Faça acontecer e realize seu sonho!
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SOBRE O AUTOR/EDITOR:
Ismael Garcia atua há mais de 10 anos no mercado editorial como escritor, editor e empresário de sucesso. É consultor editorial para novos escritores e editores iniciantes e idealizador de diversos projetos editoriais. Já assessorou diretamente mais de 2000 escritores e apoiou indiretamente (por meio da realização de serviços editoriais, impressão e venda de livros) mais de 5000 obras.

Viveu na Itália por 10 anos, onde formou-se em Economia Empresarial pela Università degli Studi di Torino (Itália). Formado em Direito pelas Faculdades Doctum de Juiz de Fora (Brasil). Faz MBA em Gestão Empresarial.

Fonte:
Enviado pelo autor, proprietário da Garcia Editorial Ltda, em Juiz de Fora/ MG. https://www.editoragarcia.com.br, em 26 fevereiro de 2023.