segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LXVIII


 AMARGA PROFECIA

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MOTE
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Profetizaste, é verdade,
que o nosso amor findaria
mas  esqueceste a saudade
nessa amarga profecia.
Alonso Rocha
Belém/PA, 1926 – 2011

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GLOSA
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Profetizaste, é verdade,
numa certeza que grita,
o fim da felicidade
de nossa história bonita!
 
Previste com muito afã,
que o nosso amor findaria.
Não restaria amanhã,
nem sombra dessa alegria!
 
Falaste com suavidade:
do fim – da separação,
mas esqueceste a saudade
que machuca o coração!
 
Depois do adeus, que é tão triste,
sobrará só nostalgia...
que, na verdade, omitiste
nessa amarga profecia.
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EU QUISERA...
 
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MOTE
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Eu quisera ser feliz,
ser feliz como ninguém,
como ninguém, sempre eu quis,
ser feliz com outro alguém!
Dalvina Fagundes Ebling
Cruz Alta/RS, 2020+

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GLOSA
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Eu quisera ser feliz,
nesse mundo sofredor
e ser eterna aprendiz
na  faculdade do amor!
 
Viver somente alegrias,
ser feliz como ninguém,
e nessas minhas poesias
levar esse amor, além!
 
Quisera um novo matiz
pra minha realidade,
como ninguém, sempre eu quis,
achar a felicidade!
 
Sempre estarás  junto a mim,
pois o meu sonho contém
o desejo de, em meu fim,
ser feliz com outro alguém!
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CHORO AMORES...
 
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MOTE
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Choro meus sonhos perdidos
e os meus desejos frustrados,
pelos anos mal vividos
entre amores fracassados!
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS

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GLOSA
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Choro meus sonhos perdidos
porque os sonhos que sonhei,
sempre em nadas, convertidos,
foi o tudo que ganhei!
 
Meu pranto se faz mais triste,
e os meus desejos frustrados,
me mostram que não existe
nenhum sonho em meus guardados!
 
Meus cantos, viram gemidos
em dorida nostalgia,
pelos anos mal vividos
que entristecem o meu dia!
 
Eu vivo sem emoção.
Tenho os olhos já cansados.
Soluça o meu coração
entre amores fracassados!
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VELHICE... AO VENTO...
 
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MOTE
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Nas curvas do desalento
quando a paixão me convida
eu largo a velhice ao vento
e bebo o sopro da vida!
Eduardo Toledo
Pouso Alegre/MG

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GLOSA
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Nas curvas do desalento
eu procuro desviar
para ver,  se assim aguento
o tempo triste a passar!
 
Mas fico atento e feliz
quando a paixão me convida
a fazer tudo que eu quis,
numa emoção comovida.
 
Sentindo esse doce alento,
me apegando de verdade,
eu largo a velhice ao vento
e vivo a felicidade!
 
Vivo, agora, o meu depois,
junto à quimera esquecida,
no cálice de nós dois,
e bebo o sopro da vida!
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RI, PALHAÇO...
 
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MOTE
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Ri, palhaço, que o teu riso
vai, à dor, dar acolhida,
transformando em paraíso
teu picadeiro da vida.
Giselda Medeiros
Fortaleza/CE

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GLOSA
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Ri, palhaço, que o teu riso
tem sempre um eco profundo
quando te ouço, idealizo
um sorriso para o mundo!
 
O teu riso, diferente,
vai, à  dor, dar acolhida,
diminuindo a dor da gente,
curando qualquer ferida!
 
Em teu gargalhar, diviso,
tudo o que de bom existe,
transformando em paraíso
este nosso mundo triste!
 
Faze, então, doce palhaço
dessa alegria nascida,
sobreviver, sem fracasso,
teu picadeiro da vida.

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CUMPLICIDADE
 
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MOTE
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É quando a noite se aquieta
que eu sinto a cumplicidade,
do amor que me faz poeta,
com a dor que me faz saudade!
João Paulo Ouverney
Pindamonhangaba/SP

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GLOSA
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É quando a noite se aquieta
na languidez das estrelas
que a minha visão de esteta
me deixa feliz, por vê-las!
 
É sempre em noite silente,
que eu sinto a cumplicidade,
pareço um adolescente,
sonhando em profundidade!
 
Encontro na estrada reta,
os pedacinhos de sonhos,
do amor que me faz poeta,
que faz meus dias risonhos!
 
Me identifico também,
com a dor e a ansiedade
e sofro, como ninguém,
com a dor que me faz saudade!

Fonte> Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XI. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Setembro de 2003.

Arthur Thomaz (Futebol no Olimpo)

Zeus organizou um evento para resgatar o glamour do esporte, visto que estava bastante abalado pelo comportamento dos atuais jogadores. 

O meu estimado leitor poderá verificar no livro Mirabolantes, em minha última viagem com Pegasus para visitar as mulheres mais esplendorosas do mundo, na qual ele me confidenciou que Zeus, o deus máximo do Olimpo, era apaixonado pelo futebol soccer jogado em várias partes do planeta.

Surgiu, então, a ideia de um jogo épico entre deuses, semideuses, monstros mitológicos e outras personagens contra jogadores brasileiros de outras épocas. Enviei uma anacrônica carta solicitando hospedagem para nossa delegação e um campo para treinamento. 

Na resposta, zombeteiro, escreveu que o Olimpo não era para simples mortais, mas como os brasileiros eram considerados os “deuses” do futebol, ele abriria uma exceção e os hospedaria com prazer.

Tratamos cada um de elencar os jogadores dos dois times. Zeus convocou Hércules, que demorou a ser convencido. Em razão dos 12 trabalhos, queria ocupar as 12 posições no time. Ficou esclarecido que só existiam 11 posições e que cada jogador poderia ocupar uma delas.

Uma das cláusulas pétreas do contrato firmado para o evento era que os jogadores não poderiam olhar para a torcida organizada feminina do Olimpo F.C, pois lá estariam as mulheres mais lindas do universo, vestidas de Cheerleaders.

Chronos queria jogar e controlar o tempo da partida simultaneamente. Éolo foi convencido a não se agitar para a bola rolar. Pegasus não participou, pois teria que usar quatro chuteiras.

Netuno também não aderiu ao jogo porque inundaria o gramado, transformando-o em polo aquático. Hermes revelou-se um bom entregador de bola, ocupando o meio de campo. Zeus, sem questionamentos, escalou-se titular absoluto, capitão do time e sem posição definida.

Aquiles foi escalado na ponta-direita, por ser forte e guerreiro. Zeus exclamou ao ver a composição do time canarinho que isto não é uma escalação, e sim uma oração:

Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos.

Zito e Didi. Garrincha, Pelé, Vavá e Zagalo.

Pressentindo o desastre esportivo, Zeus argumentou que nós iríamos escalar monstros sagrados do futebol, portanto, ele também escalaria monstros mitológicos para substituir alguns deuses que estavam em missões pelo cosmo.

Na falta de um deus para ficar no gol, transformou temporariamente Octopus em um ser mitológico. Recrutou Golias para centroavante cabeceador. Um coro de bacantes entoava com emoção o hino do clube Olímpio FC.

No vestiário brasileiro, antes da peleja, o sistema tático foi o de cada um pegar a sua camisa e jogar o que sabe. 

Garrincha e Baco, já no corredor de entrada ao gramado, estabeleceram cordiais relações, graças ao néctar dos deuses bebido pelos dois. Nereidas e ninfas atuavam como gandulas.

Iniciado no horário exato, o jogo transcorreu magnificamente com Garrincha e Pelé infernizando a defesa adversária, colocando bolas entre os tentáculos de Octopus, quase causando um nó entre eles.

Aquiles corria pela ponta-direita com a marcação do elegantérrimo Nilton Santos, quando Éolo soprou em suas costas, dando-lhe uma velocidade maior. Ao perceber que não o alcançaria correndo, Nilton tentou com um carrinho tirar a bola de Aquiles, acertando-o no tendão . Eis aí a verdadeira origem da lenda do calcanhar de Aquiles.

Diferentemente do que a história relata, Nilton Santos não deu um passo para fora da grande área, o que ensejou a marcação do pênalti.

Zeus dirigiu-se até a marca da penalidade e mostrou que, como cobrador de pênaltis, ele era um excelente deus, chutando a bola no topo da montanha vizinha, o Everest.

Gilmar, Djalma Santos, Bellini e Orlando jogavam animadamente uma partida de truco na pequena área. 

No único lance de perigo ao gol canarinho, David colocou uma bola na testa de Golias, que atordoado cabeceou sobre o travessão. Octopus reservou dois de seus tentáculos para pegar as bolas no fundo de suas redes. O marcador eletrônico não possuía dois dígitos, portanto, o placar final foi 9 X 0, mas testemunhas dizem que beirou os 50 gols brasileiros.

Para o alívio do time local, soaram as sete trombetas, anunciando o fim da peleja.

Garrincha e Baco trocaram as camisas e saíram abraçados diretamente para a noitada.

Zeus reverenciou Pelé e até hoje são amigos, tendo ordenado a construção de um trono ao lado do seu, mostrando ao Universo que o Deus do futebol só houve e só haverá um, e que seu nome é Pelé.

PS: Nove meses depois do evento, três nereidas deram à luz três bebês com as perninhas tortas.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

Hinos de Cidades Brasileiras (Porto Alegre/RS)


Letra: Breno Outeiral

Refrão:
Porto Alegre Valerosa
Com teu céu de puro azul
És a joia mais preciosa
Do meu Rio Grande do Sul

Tuas mulheres são belas
Têm a doçura e a graça
Das águas, espelho delas,
Do Guaíba que te abraça

Refrão:
Porto Alegre Valerosa
Com teu céu de puro azul
És a joia mais preciosa
Do meu Rio Grande do Sul

E quem viu teu sol poente
Não esquece tal visão
Quem viveu com tua gente
Deixa aqui o coração.

Refrão:
Porto Alegre Valerosa
Com teu céu de puro azul
És a joia mais preciosa
Do meu Rio Grande do Sul

OBS: "Valerosa" segundo o dicionário Aurélio significa "valorosa", corajosa, ativa, enérgica.

O nosso português de cada dia (Erros de português que você não pode mais cometer) = 2

por Universidade Veiga de Almeida

14. Em vez de / Ao invés de

Para indicar apenas uma coisa no lugar de outra, usa-se "em vez de". 

Para mostrar opostos, vá de "ao invés de", como no exemplo: "Ao invés de ser o primeiro, ele foi o último".

15. Onde / Aonde

"Onde" é o lugar em que alguém ou alguma coisa está. 

"Aonde" está relacionado a movimento. Por isso, quem vai, vai "a" algum lugar: "vai aonde".

16. Demais / De mais

Na maior parte dos casos, emprega-se o advérbio "demais", que significa excessivamente, muito. 

A locução "de mais" é comparável à expressão "a mais", como em "nem sal de mais, nem de menos". "De mais" também é associada a estranheza: "Não vejo nada de mais naquilo".

17. Em princípio / A princípio

"Em princípio" assemelha-se a "em tese". 

"A princípio" é como "no início".

18. Uso do hífen

O prefixo terminado por vogal é separado por hífen se a palavra seguinte começar com a mesma vogal ou H. Caso contrário, sem hífen. Exemplos: autoescola, micro-ondas, semianalfabeto, autoestima.

19. Tachar / Taxar

"Tachar" significa "denominar, chamar de, considerar". 

"Taxar" é impor uma taxa ou imposto. Portanto, contextos diferentes.

20. Através de / Por meio de

Expressões com significados distintos. "Através de" expressa a ideia de atravessar, indica um movimento físico. 

"Por meio de" é semelhante a "por intermédio de" e se relaciona a "instrumento para a realização de algo". Portanto, ao começar um e-mail, por exemplo, o correto é "Venho por meio deste", e não "Venho através deste".

21. Vírgula entre sentenças

Quando as duas frases possuírem sujeitos diferentes, usa-se a vírgula antes da conjunção "e".

Errado: A mãe demorou para chegar e o filho ficou desesperado.

Certo : A mãe demorou para chegar, e o filho ficou desesperado.

22. Eu / Mim

O pronome reto "eu" é utilizado apenas na posição de sujeito do verbo. 

Nas demais situações, usa-se o pronome oblíquo "mim".

Errado: Não há mais nada entre eu e você.

Certo : Não há mais nada entre mim e você.

23. Haver / Fazer

Ambos os verbos, quando indicam passagem de tempo, não ganham plural: "Não conversávamos havia três anos" e " Faz três anos que não nos vemos".

24. Haver / Existir

No sentido de "existir", o verbo "haver" não vai para o plural. 

O verbo "existir" pluraliza normalmente: "Na reunião, existiam cerca de 60 pessoas".

Errado: Na reunião, haviam cerca de 60 pessoas.

Certo: Na reunião, havia cerca de 60 pessoas.

25. Assistir ao / Assistir o

Quando usado no sentido de "ver", o verbo "assistir" rege a preposição "a": "Assistiu ao programa". 

No sentido de "ajudar" ou "prestar auxílio", o verbo vem sem a preposição: "O técnico assistiu o cliente durante a instalação do equipamento".

Fonte: Universidade Veiga de Almeida, 03  dezembro 2019  in O Globo. 

domingo, 28 de janeiro de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “09”

 

Mensagem na Garrafa = 91 =


Charles Chaplin
Londres/Inglaterra (1889 - 1977) Corsiersur-Vevey/Vaud/ Suiça

A VIDA

Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.
Já abracei para proteger,
Já dei risada quando não podia,
Já fiz amigos eternos.

Já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado,
Já fui amado e não soube amar.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já vivi de amor e fiz juras eternas, mas “quebrei a cara” muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
Já liguei só para escutar uma voz,
Já me apaixonei por um sorriso,
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade e…
…tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas sobrevivi!
E ainda vivo!

Não passo pela vida…
e você também não deveria passar. Viva!!!

Bom mesmo é ir a luta com determinação,
Abraçar a vida e viver com paixão,
Perder com classe e vencer com ousadia,

Porque o mundo pertence a quem se atreve
E A VIDA É MUITO, para ser insignificante.

Cantigas Infantis de Roda (Balaio)


Composição: Barbosa Lessa / Paixão Cortes.

Eu queria se balaio, 
balaio eu queria “sê”
Pra ficar dependurado, 
na cintura de “ocê”

Balaio meu bem, balaio sinhá
Balaio do coração
Moça que não tem balaio, sinhá
Bota a costura no chão

Eu mandei fazer balaio, 
pra guardar meu algodão
Balaio saiu pequeno, 
não quero balaio não

Balaio meu bem, balaio sinhá
Balaio do coração
Moça que não tem balaio, sinhá
Bota a costura no chão

Lima Barreto (A carroça dos cachorros)

Quando de manhã cedo, saio da minha casa, triste e saudoso da minha mocidade que se foi infecunda, na rua eu vejo o espetáculo mais engraçado desta vida.

Amo os animais e todos eles me enchem do prazer da natureza.

Sozinho, mais ou menos esbodegado, eu, pela manhã, desço a rua e vejo.

O espetáculo mais curioso é o da carroça dos cachorros. Ela me lembra a antiga caleça dos Ministros de Estado, no tempo do Império, quando eram seguidas por duas praças de cavalaria de polícia.

Era no tempo da minha meninice e eu me lembro disso com as maiores saudades. 

- Lá vem a carrocinha! - dizem.

E todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros. 

Diz D. Marocas a D. Eugênia:

- Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi!

E toda a "avenida" se agita e os cachorrinhos vão presos e escondidos. Esse espetáculo tão curioso e especial mostra bem de que forma profunda nós homens nos ligamos aos animais.

Nada de útil, na verdade, o cão nos dá; entretanto, nós o amamos e nós o queremos. Quem os ama mais, não somos nós os homens; mas são as mulheres e as mulheres pobres, depositárias por excelência daquilo que faz a felicidade e infelicidade da humanidade - o Amor.

São elas que defendem os cachorros das praças de policia e dos guardas municipais; são elas que amam os cães sem dono, os tristes e desgraçados cães que andam por aí à toa.

Todas as manhãs, quando vejo semelhante espetáculo, eu bendigo a humanidade em nome daquelas pobres mulheres que se apiedam pelos cães.

A lei, com a sua cavalaria e guardas municipais, está no seu direito em persegui-los; elas, porém, estão no seu dever em acoitá-los (acolhe-los).

(Publicado na Careta, 20-setembro-1919).

Fonte: Lima Barreto. Marginália. Publicado originalmente em postumamente 1953. Disponível em Domínio Público.

Caldeirão Poético LXXVII


Cecy Barbosa Campos
Juiz de Fora/MG

ÁLBUM

Desfolhando o velho álbum de retratos,
que jazia abandonado em alguma prateleira,
relembrei pessoas, que estavam esquecidas,
e não reconheci imagens que eram minhas.

O tom amarelado esmaecia
sorrisos jovens que ficaram tristes:
tirava o viço de vidas tão distantes
e que, um dia, foram parte de minha vida.

Entre as velhas amizades retratadas,
revi amigos dos quais eu lembro os nomes
e outros, dos quais, nada mais resta,
porque ficaram perdidos pelo tempo.

Ao contemplar aquelas fotos desbotadas,
vou rejuntando, aos poucos, os pedaços
de uma história que nem sei se já vivi.
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Francisco José Pessoa
(Francisco José Pessoa de Andrade Reis)
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

GATU’S BAR 

Tira gosto é cajarana
Para Pitú, Ypióca,
Mas eu prefiro paçoca
Sempre que vou a Santana
Eu tomo uma boa cana
Para poder me esquentar…
Sem saber onde parar
Vou seguindo pelo faro
Você sabe aonde paro?
Eu paro no GATU’S BAR.

Voltando liso, sem grana,
Deixo esta bela cidade
No bolso levo saudade
Quando saio de Santana
Bom boêmio não se engana
Quando é noite de luar…
Eu sei que vou viajar
Nesta estrada traiçoeira
Pra tomar a saideira
Eu paro no GATU’S BAR.
= = = = = = = = = 

Júlia da Costa
(Júlia Maria da Costa)
Paranaguá/PR, 1844 – 1911, São Francisco do Sul/SC

SONHOS AO LUAR

Quem és tu, bardo noturno
Que me fazes meditar?...
Serás por acaso o eco
De meu triste cogitar?...

Eu também amo a saudade
Que me inspira a solidão;
Amo a lua que me fala
Do passado ao coração.

Como tu choro uma noite
De luar que se ocultou;
Como tu choro a esperança
De uma aurora que passou.

Quem és tu, bardo noturno
Que me fazes meditar?...
Quem és tu que na minh’alma
Vens de manso dedilhar?...

Serás inda a sombra errante
De uma noite que morreu?...
Meigo raio de ventura
Que em meu seio se escondeu?...

Quem és tu? Dize quem és
Branca sombra lá do céu!
Dize o nome do teu canto
Que eu dirte-ei quem sou eu!
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Lurdiana Araújo
Brasília/DF

VIDA

A vida é uma metáfora tão mágica,
Que confunde até o crepúsculo da aurora.
O segredo está em saber acreditar.
O pingo da chuva quando se lança
Do firmamento ao chão,
Não é um suicida,
É um aventureiro
Em busca do mar.
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Márcia Maia
(Márcia de Souza Leão Maia)
Recife/PE

(BARR)OCO

um oco mais oco que o oco
do coco esquecido da água
que escorre do oco do coco
e um oco mais oco que o oco
no corpo do coco destrava.

um oco mais oco que o oco
um oco sem corpo e sem coco
um oco mais copo que corpo
repleto do oco mais oco
que o oco do oco — no nada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Marcos Assumpção
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

GIRASSÓIS E CORTESÃS

Eu não sei como domar a fera
que insiste em habitar em mim.
Fera fere à faca a carne fraca
e essa vontade de ir embora.

Um milhão de pensamentos luz.
Solidão que bate e desespera
e nas entre linhas do poeta
toda dor transformará canção.

Eu carrego um gosto de sal
e a chuva das manhãs.
Nas minhas mãos, girassóis
pra enfeitar as cortesãs.
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Nemésio Prata 
Fortaleza/CE

GLOSA: SONHO

Mote:
Um sonho lindo que eu tive
onde tudo era harmonia
acordei... não me contive...
Era um sonho!... Que agonia!
José Feldman (Campo Mourão/PR)

Glosa:
Um sonho lindo que eu tive
trouxe-me doces lembranças
quando jovem, em aclive,
via na vida esperanças!

Fora uma bela visão
onde tudo era harmonia
dando-me viva impressão
do quão feliz eu seria!

Hoje em infausto declive
na vida, sem me por freio,
acordei... não me contive...
foi só mais um devaneio!

Que o sonho fosse verdade
era tudo o que eu queria,
mas quedei-me à realidade:
Era um sonho!... Que agonia!
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Vânia Moreira Diniz
Brasília/DF

TERNURA

O olhar era intenso,
Como brilhantes faiscantes,
Admiráveis,
Imutáveis.

Havia neles,
Mais do que o brilho,
O regozijo pela vida,
E o fulgor da esperança.

Fixavam um ponto distante,
Como perdidos no sonho,
Quimeras incandescentes,
De longa duração.

Nada parecia irreal,
Na intensidade do momento,
Refletido em soberbas pupilas.

Sinônimo era ternura,
Da expressão a mais linda,
Que enxerguei um dia...

Coelho Neto (O pescador e as sereias)

Reunidas em conselho sobre as sirtes
(recifes), onde o mar quebrava desfeito em branca e fervente espuma, comentavam as sereias a indiferença do pescador. E dizia a mais velha, uma das que cantaram a Ulisses:

— Sem dúvida algum Deus o protege. Outros mais atilados, navegadores dos mares largos, que têm visto as grandes belezas do mundo e têm gozado os seus múltiplos encantos, esquecendo o governo dos navios pelas canções com que os atraímos, aqui têm vindo naufragar. Quantas galeras jazem no fundo do pélago e naus de alto bordo e veleiros de guerra! Para que o pescador, que diariamente cruza estes mares, passe sem voltar o rosto ao nosso apelo é preciso que um poderoso Deus o guie e o aconselhe contra nós. Sendo assim é melhor desistirmos de perdê-lo.

Concordaram todas com a mais Velha e já se dispunham a afundar, esquecendo o pescador, quando a mais nova, erguendo-se das espumas, nua e deslumbrante na refulgência dos cabelos que a iluminavam, disse:

— Sou capaz de atrair o pescador e aposto tantas pérolas quantos são os fios dos meus cabelos.

— Envelheceremos e contá-los, se perderes; disse uma das filhas do mar.

Foi aceita a proposta e ficou decidido que a encantadora esperasse sozinha nas sirtes, dando-se-lhe a harpa de coral mais sonora do abismo.

Assim foi.

Caía a tarde em desmaio, estrelava-se o céu pálido, o mar começava a lampejar em fagulhas. Um barco — a vela bojada, o pescador ao leme, — aparecem roçando a vaga.

Travou a sereia da harpa e, ao som das cordas, desferiu a voz. Alciones que esvoaçavam bateram lestas (ágeis) as asas largas e vieram pousar nas sirtes, as ondas calavam o seu marulho, o mar cobriu-se de estrelas, a lua, redonda e branca como um escudo de prata, boiou nas águas. Dir-se-ia que os próprios astros haviam baixado do céu seduzidos pela voz deliciosa.

Entretanto o barco singrava com o favor do vento e o pescador, ao leme, derreado sobre os cotovelos, de olhos perdidos, lá ia. Passou e rastreando tão de perto o perigo que a raareta* do seu barco rolou e desfez-se nas sirtes. Revoltou-se a sereia e, vendo-o longe, despeitada, rebentou, frenética, as cordas da harpa arrojando-a ao mar.

Afluíram à tona todas as sereias e, rindo em galhofa, logo reclamaram o preço da aposta.

— Tens que trabalhar! disseram.

— Levarás toda a vida a procurar tantas pérolas quantos são os fios dos teus cabelos.

— E talvez não bastem as pérolas todas do mar.

Riam quando um feio tritão, emergindo das águas, coroado de limo, coberto de escamas de prata, disse:

— Revoltai-vos contra a indiferença do pescador que não veio pelo vosso canto. Os que perecem nos abrolhos chegam trazidos pela sedução dos vossos cantares. Aquele, porém, não cairá em ciladas.

— Será, porventura, surdo!? gracejou uma das cavaleiras da vaga.

— Por enquanto... é como se fosse.

Logo, lançando mão do búzio que trazia à bandoleira, encheu-o no mar até as bordas e, oferecendo-o a uma das sereias, disse:

— Toma nas tuas pequeninas mãos algumas gotas d'agua e põe-nas aqui.

Obedeceu a intimada, mas toda a água transbordou:

— Nem uma gota ficou, tudo que era demais esvaiu-se. Assim como se deu com a água e o búzio, dá-se com o vosso canto, sereias, e o moço pescador. Naquele coração, cheio do amor da noiva, não cabem outros encantos. Cantai! E cantareis em vão. Haveis de vê-lo passar, como hoje passou — sentado ao leme, os olhos ao longe, vendo, através da névoa da distância, a ilha em que vive aquela que o seduz. Não desanimeis, porém; tende paciência e fiai-vos no tempo. Assim como, se deixardes este búzio exposto ao sol, em breve toda esta água que o enche terá desaparecido evaporada, podendo vós enchê-lo, porque o achareis vazio, assim também, um mês depois das bodas do pescador, cantai e vê-lo-eis dirigir o barco rumo às sirtes.

Com tais palavras despediu-se o tritão mergulhando de chofre. E as sereias ficaram trebelhando e rindo sobre as espumas vivas que o luar prateava.
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* Raareta = não encontrei o significado em nenhum lugar. 

Fonte> Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão Ltda, 1924. Disponível no Portal de Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Mogi Guaçu/SP)


Letra: Ademir Sebastião Bernardi  
Música: Wildes Antônio Bruscato  
     
Despertando pra aurora da vida,  
Este povo de grande valor  
Levantou chaminé, que erguida,  
É a bandeira da raça e labor.  
     
A fumaça desenha no céu,  
Braço forte desta brava gente,  
Que recebe a quem aqui chega,  
Pra plantar uma fértil semente.  
     
Neste nobre berço,  
Terra sagrada por Bandeirante,  
O seu povo forma  
Elos de uma paz gigante.  
     
Rio que corta seu pródigo seio,  
É a artéria do seu coração.  
Caudaloso, fecundo desliza,  
Dando fé a este povo em ação.  
     
Este celebre chão se orgulha  
De colher cada dia um sucesso.  
Da estrada de bois, ao asfalto,  
Há notícia do nosso progresso.  
     
Esta é Mogi Guaçu,  
Alegre terra e dadivosa.  
Em seu seio encerra  
Tradição laboriosa.

O nosso português de cada dia (Erros de português que você não pode mais cometer) = 1

por Universidade Veiga de Almeida

Como qualquer outra disciplina, o português pode ser fácil para uns e difícil para outros. Além disso, a língua é viva, se altera com o passar dos anos, recebe influências do meio e, claro, conta com um amplo conjunto de regras que inegavelmente podem confundir.

— É certo dizer que o tempo presente, o grau de escolaridade e a classe social impactam em como produzo meu texto. Mas também é fato que o domínio da língua é diretamente proporcional ao volume de leitura. A dica é ler jornais, livros de bons autores e não ter vergonha de procurar o significado de uma palavra que não conhece —, recomenda o professor Caco Penna , do CPV Educacional.

Segundo Caco, as mudanças dos últimos anos no Enem resultaram em provas mais focadas no caráter sociolinguístico do que propriamente na gramática. Mesmo assim, essas são questões ainda relevantes na redação e muito presentes nos vestibulares. Indo muito além dos testes, vale lembrar que em toda a vida você vai lidar com as artimanhas do português. Nada mais queima o filme do que falar errado em uma entrevista de emprego ou enviar um e-mail profissional cheio de deslizes, por exemplo.

Para evitar essas derrapadas, listamos as 50 dúvidas gramaticais que mais costumam gerar erros. A lista foi elaborada com ajuda dos professores Simone Motta, coordenadora de Português do Grupo Etapa, Eduardo Calbucci, supervisor de Português do Anglo, e do próprio Caco.

50 DÚVIDAS DO PORTUGUÊS ESCLARECIDAS

1. POR QUE / PORQUE

Para começar, uma confusão que acompanha gerações:

Usa-se "por que" para perguntas, mesmo que implícitas. Exemplos: "Por que ela ainda não chegou?" e "Ele não sabe por que está aqui".

Usa-se "porque" para respostas. Se consegue substituir por "pois", essa é a forma correta: "Não foi trabalhar porque estava doente".

2. POR QUÊ / PORQUÊ

No final de uma frase, seguido de pontuação (exclamação, interrogação, reticências), o correto é "por quê", como em: "Estou chateado. Sabe por quê?".

Já o "porquê" tem exatamente o mesmo sentido de motivo ou razão, por exemplo: "Não sabia o porquê de tanta pressa".

3. DE SEGUNDA A SEXTA (CERTO) / DE SEGUNDA À SEXTA (ERRADO)

Outro elemento de confusão frequente, a crase pode ser explicada como a junção de duas letras em uma só: a preposição "a" e o artigo feminino "a". Então, se você tenta ler uma sentença com "a a" e não faz sentido, provavelmente não há crase. Logo, o correto é "de segunda a sexta".

4. A PRAZO (CERTO) / À PRAZO (ERRADO)

Como no caso anterior, a leitura com "a" duplicado não faz sentido. Além disso, não se aplica a crase antes de substantivos masculinos, como é o caso de "prazo".

5. A VOCÊ (CERTO) / À VOCÊ (ERRADO)

Não há crase antes de pronomes pessoais (eu, você, ele, ela, nós, vocês, eles, elas).

6. DAS 9H ÀS 18H (CERTO) / DAS 9H AS 18H (ERRADO)

No caso de horas expressas, há crase quando a preposição "de" aparece combinada com artigo (de + as), mesmo que implícito como em "horário da prova: 8h às 11h". Sendo assim, o correto é "das 9h às 18h".

7. MAL / MAU

"Mal" é substantivo quando precedido de artigo, como em "o mal do mundo", e advérbio quando acompanha verbo ou adjetivo. Resumidamente, é o contrário de "bem".

"Mau" é adjetivo quando vem antes de substantivos, com os quais concorda. É o oposto de "bom".

8. MAS / MAIS

"Mas" é conjunção adversativa e tem o mesmo valor de "porém", "contudo" ou "entretanto".

"Mais" é advérbio de intensidade ou conjunção aditiva, indicando adição ou acréscimo. É também o oposto de "menos".

9. HAVER / A VER

"A confusão entre as expressões se dá porque a pronúncia é a mesma", explica o professor Eduardo Calbucci. 

"Haver" é verbo e significa "existir". "Ter a ver" é "ter ligação".

10. TRAZ / TRÁS / ATRÁS

Segundo a professora Simone Motta, é bem comum se deparar com trocas de letra entre as palavras - erroneamente 'tras' e 'atráz' - por conta da sonoridade semelhante entre elas. 

Apesar disso, é fácil diferenciar: 
"traz" vem do verbo "trazer" (com Z, portanto); 
"trás" e "atrás" são advérbios e indicam posição ("ficará para trás", "atrás da porta").

11. HAJA / AJA

Novamente a semelhança sonora induzindo ao erro. Para esclarecer: 

"haja" é conjugação do verbo "haver", de existir. 

"Aja" vem do verbo "agir": "Aja com cuidado".

12. INTERVEIO (CERTO) / INTERVIU (ERRADO)

Esse é um verbo que se conjuga como "vir", de que é derivado, sendo "interveio" a forma correta: "A polícia interveio na briga".

13. VÊM / TÊM

Os verbos "ter" e "vir" devem ser acentuados quando estiverem na 3ª pessoa do plural: "Eles sempre vêm de táxi, porque eles não têm carro".
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continua…

Fonte: Universidade Veiga de Almeida, 03  dezembro 2019  in O Globo.