terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Silmar Bohrer (Antologia Poética)


(OUTROS) VERSOS MARINHOS

Estes ventos friozinhos
que gemem ali nos beirais
são coitados, coitadinhos
dos diabinhos hibernais.

Em lentárgica agonia
pela intempérie urdidas
andam gaivotas perdidas
nestas tardes de invernia.

Tem tido sido inesgotável
essa fonte dos meus versos,
são petitas dos universos
e u'a companhia saudável.

Devia ser cá na praia
perante o meu céu anil,
receber a trova sete mil
louvando a essência gaia.

Ventos, oh dóceis ventinhos,
ventilai o meu pensar,
céus, oh céus azuladinhos,
inspirai meu versejar.

E converso com as musas
varando as madrugadas,
rimas tantas, profusas,
rimas tantas, orvalhadas.

Anda uma paz de éden
cá na beira dos meus mares,
e os ventos, bons ventares
em sonares se medem.

Uma trova varonil
se não fosse singular,
é que estou a registrar
a filhotinha sete mil.

Caem as noites cá na praia,
sopram ventos desgarrados,
anoiteceres alumiados,
tanta estrela na tocaia.

Ando ao sabor dos ventinhos
pelo látego dos mares
e vejo tantos avatares
por estes velhos caminhos.

PRISIONEIRO

Em nosso mundo cheio de aguilhões
onde os seres aspiram a liberdade,
e com toda força em seus corações
lutam por ela, lutam com ansiedade,

Em nosso mundo eivado de reclamos
onde muitos vivem com a incerteza
de horas felizes e sem desenganos,
embora encontrem neles sua defesa,

Em nosso mundo nocivo que molesta
os corações humanos com embaraços
estóicos aos anelos em cada gesta,

Eu quero ser mesmo um prisioneiro
que goza na peia dos teus abraços
as delícias do nosso amor fagueiro.

CANTILENAS

Na rude sina de escrever
não tenho o brilho de versejar,
sem o estro como me atrever
a alguma rima iluminar.

Lendo Confúcio e os sonetos
de Bilac reverberando,
nos parnasianos, nos analetos
a rabiscar vou bem lutando.

São cantigas mãos-atadas,
sem vigor e sem brilho, dezenas
de estrofes versalhadas,

São carmes sem nenhum matiz,
tantos versos cantilenas
e garatujas do bardo aprendiz.

RIQUEZAS

Tirem-me tudo na vida,
mesmo os brilhantes ouropéis,
mas me deixem na guarida
da caneta e dos papéis.

Companhias singulares
que trago na algibeira,
repositório dos pensares
que revolvo a vida inteira.

E assim neste mundo material
vou cultivando perenidades
que fazem bem ao meu astral,

Quais delícias inefáveis
os meus versos raridades
são riquezas inalienáveis.

MENSAGEM

Amados versos que faço nesta hora
todo satisfeito a relembrar o dia
que encarnei no íntimo essa magia
e o sentimento que me ocupa agora.

Não esqueço do seu gracioso olhar
eivando o amor a nossas primícias,
a voz ternura e as maçãs puníceas
são detalhes que não pude olvidar.

Meus olhos leram no seu doce olhar
a mensagem sublime do nosso porvir,
e embevecido, sem poder falar,

Imerso na candura do seu esplendor,
abri o véu da alvorada e vi surgir
a manhã radiosa do nosso amor.
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