domingo, 13 de maio de 2012

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 3


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente estão sendo postados 4 Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.



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Wellington Ricardo Fioruci
Ana Maria Carlos
LITERATURA, CINEMA E TELEVISÃO: CONFLUÊNCIAS INTERSEMIÓTICAS


Este simpósio insere-se na vertente de estudos próprios da intersemiótica, já que busca estabelecer pontos de convergência entre as linguagens da literatura, do cinema e da televisão. Ao pensarmos no caráter literário, na inter-relação sígnica e nas possibilidades tradutórias do texto, notamos que, desde os primórdios, o texto literário mantém uma intensa relação com a imagem. Se nos reportamos às inscrições rupestres, encontradas nas cavernas, podemos verificar que os desenhos já se encontravam organizados numa estrutura narrativa linear, constituindo um sistema de linguagem, que objetivava contar uma história.

A imagem tem possibilidades de construção narrativa, de caráter sintético, enquanto a escrita, analítico. Neste sentido, serão aceitos trabalhos para este simpósio que promovam o diálogo comparativo entre obras destas diferentes formas de expressão artística, desde que fundamentados no princípio da adaptação ou tradução semiótica. Assim sendo, obras literárias de qualquer natureza no que tange ao gênero, incluindo-se nesta ampla categoria contos, romances, poemas, novelas, HQs, roteiros, adaptadas para o cinema ou televisão, em formas de filmes ou minisséries, ou vice-versa, isto é, obras de natureza sonoro-visual que foram transformadas em textos literários.

O presente simpósio parte dos estudos comparativos entre as diferentes modalidades de expressão artística, cujas raízes encontram-se nos princípios teóricos da Semiótica Moderna fundada por Pierce, compreendida como “a doutrina formal dos signos”, ou, na opinião de Nöth, vista como a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. Assim sendo, com base na Semiótica e, mais precisamente, em sua variação, denominada Intersemiótica, a qual, segundo Julio Plaza, deve ser vista a partir de um “pensamento com signos, como trânsito dos sentidos, como transcriação de formas na historicidade”, abre-se caminho para uma diversidade de estudos que aproximam diferentes códigos estéticos, com vistas a compreender os processos de simbiose e dissidência entre eles, os quais tendem a redimensionar significativamente as diferentes áreas de estudo implicadas nestas abordagens interdisciplinares.

Colocar-se-á em debate temas pertinentes à Intersemiótica, tais como, os valores e a função social das obras artísticas, o conceito de fidelidade, a tradução de sistemas sígnicos e o processo de transcriação ou transculturação, a relação entre objeto artístico e mercado e a participação do leitor/espectador na construção dos sentidos.

Tendo em vista amplo arcabouço teórico inerente a esta linha de pesquisa, considera-se, com efeito, em consonância às observações de Lúcia Santaella, que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só se comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constitui-se como prática significante, isto é, como prática de produção de linguagem e sentido.

10
Edison Bariani Junior
Márcio Scheel
LITERATURA E CIÊNCIAS HUMANAS: LIMITES, APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS


As relações entre literatura e ciências humanas sempre foram mais estreitas, complexas e profícuas do que parte considerável dos cientistas e dos críticos literários gostaria de admitir. Platão, por exemplo, que por julgar os poetas imitadores afastados em três graus da verdade do mundo, dos seres e das coisas, acaba por lançar mão dos mitos, elemento essencial ao discurso poético, como forma alegórica de expressão do conhecimento filosófico. Aristóteles, por sua vez, defende, na Poética, a ideia de que a diferença fundamental entre o poeta e o historiador não está na forma de expressão de suas obras, mas naquilo que expressam: o historiador remete-se aos acontecimentos tais como foram, ao passo que o poeta concebe os fatos como poderiam ter sido. É possível perceber, nas afirmações de Aristóteles, uma certa supremacia do poeta diante do historiador, já que, para ele, a Poesia concentra em si mais filosofia e elevação ao enunciar verdades gerais, do que a História e seus fatos particulares.

Em fins do século XVIII, os românticos alemães, na esteira da influência que Kant e Fichte exerceram sobre suas reflexões, tornam-se representantes fundamentais do pensamento idealista da época, solicitando que poesia e filosofia se aproximassem novamente, exigindo uma criação literária cada vez mais aberta à reflexão crítica, ao exercício do pensamento. A literatura realista-naturalista da segunda metade do século XIX adere fortemente aos princípios cientificistas do período, dando origem, inclusive, à noção de romance experimental de tese, sendo que o conceito de experimental não está de nenhum modo associado aos ideais modernos de experimentalismo formal, mas sim aos princípios científicos estabelecidos pelo médico e fisiologista francês Claude Bernard. Experimental como parte de um processo empírico de recolher fatos, estabelecer uma hipótese, isolar um ambiente, experimentar, observar, analisar, verificar, explicar e descrever. Nesse sentido, o século XX viu desenvolver-se, no campo dos estudos literários, um amplo conjunto de métodos críticos que pressupunham, desde seus fundamentos teóricos, a utilização de um arsenal conceitual e metodológico estreitamente articulado com a ciência.

Também a literatura, a partir da modernidade, preocupa-se não somente em narrar, mas, sobretudo, em interpretar o mundo que narra, mormente as relações entre os homens, já tão distantes da natureza, e sua existência num mundo que já é eminentemente social, ‘puramente social’, segundo Ferenc Fehér. Também as ciências sociais, desde seu nascimento no séc. XIX, lançaram mão do texto e da visão literários para recolher informações e mesmo explicar a vida social; Marx, por exemplo, recorre a Balzac para entender e exercitar sua crítica à vida e atitudes burguesas, a Shakespeare para discutir aspectos humanos da transformação do capitalismo, etc. Mais ainda, as ciências sociais (e a sociologia em particular) – a despeito de posições naturalistas, positivistas e cientificistas – tomadas como formas de geração de conhecimento por meio da criação, da originalidade, da invenção, da renovação e da interpretação específica, também aproximam-se da forma estética, especificamente, literária, como já o afirmaram Robert Nisbet, ao asseverar a sociologia como uma forma de arte, e Richard Brown, ao mencionar uma “poética da sociologia”.

Assim, a criação estética e literária permeia o fazer científico seja como fato, elemento de informação/descrição, documento, interpretação, criação e mesmo estilo. Em obras como as de Marx, Weber, Mannheim, Wright Mills na sociologia já clássica; como as de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, no Brasil; e, atualmente, escritos de Mafesoli, Elias, Bauman, configuram a proximidade e distanciamento, o diálogo rico e crítico entre ciência (social) e estética (literária). Sendo assim, nosso interesse é pensar de que modo se dão essas aproximações entre literatura e ciências, bem como os limites que elas insistem em romper.

11
Emerson da Cruz Inacio
Jorge Vicente Valentim
LITERATURA E HOMOEROTISMO


Tentar definir as formas com que as manifestações de Eros se apresentam constitui tarefa ingrata e praticamente impossível, dada as múltiplas possibilidades de suas representações. A diversidade dos caminhos adotados para a constatação dos impulsos, dos desejos e das reações tem gerado uma gama significativa de veios metodológicos para a pesquisa e a leitura de tal temática.

Sem querer fechar num único caminho esquemático para a sua reflexão, a proposta do presente Grupo Temático é abrir um amplo espaço de discussão e debate sobre as múltiplas rotas eróticas, presentes nas literaturas de língua portuguesa, abrangendo a produção literária de Portugal, Brasil e África, assim como as perspectivas teóricas que atendam às especificidades destes povos. Se entendermos tais rotas eróticas como manifestações da ordem daquela “sexualidade plástica”, de que nos fala Anthony Guiddens, ou seja, de uma “sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”, então, poderemos caminhar tanto por uma via de liberdade entre os gêneros e as escolas literárias a que os textos propostos para leitura pertencem, quanto pelas vias de sua representação temática, entendendo-a nas linhas do hetero e/ou do homoerótico, da escrita de lésbicas, transexuais, queer ou das textualidades que tematizem aspectos das sexualidades não-normativas.

Nesse sentido, pretende-se ainda procurar estabelecer um balanço dos Estudos Homoeróticos e da Diversidade Sexual no Brasil, tomando como marco a realização dos três encontros \"Literatura e Homoerotismo\", promovidos na Universidade Federal Fluminense entre os anos de 1999 e 2001, momento em que pesquisadores e pesquisadoras visaram a visibilidade crítica, estética e literária daqueles estudos. Nos anos que separam a última realização do evento e a atualidade, muitas perguntas se impuseram aos pesquisadores e interessados na área: pode-se pensar em uma estética homoerótica em Língua Portuguesa? Há um cânone paralelo, representativo da produção de temática e autoria homossexual em nossas literaturas? As premissas teóricas, muitas delas importadas da Europa e dos EUA atendem com destreza às especifidades dos discursos literários que tangenciam ou tematizam as experiências homoeróticas? Os avanços políticos têm contribuído para uma oxigenação dos cânones em Língua Portuguesa, no que se aplica à tematização dos (homo)erotismos?

Na relação entre sujeito e objeto, como fica a produção e autoria: gays e lésbicas são ainda apenas objetos ou já constituem uma subjetividade no campo literário? A partir de tal premissa, respeitando, porém, os pressupostos teóricos propostos pelos seus leitores, o Grupo Temático expande a possibilidade de um encontro também entre os pensamentos de Freud, Bataille, Guiddens, Alberoni e Foucault, a Teoria Queer, David Halperin, Eve Kosofsky Sedgwick, dentre outros, e suas possíveis aplicações nas literaturas de língua portuguesa, bem como de teóricos e estudiosos de tais questões nos territórios abrangidos por este GT.

12
Jaison Luís Crestani
Daniela Mantarro Callipo
LITERATURA E IMPRENSA


A implantação e o desenvolvimento da imprensa promoveram a comercialização da literatura e deram início ao processo de profissionalização do escritor, que passaria a alcançar, assim, uma relativa autonomia na sua produção, deixando de se submeter à tutela de um mecenas. Consequentemente, a instauração de um mercado livre e anônimo para as manifestações artísticas e culturais teria um efeito duplo sobre o trabalho do escritor, instituindo o que se poderia denominar como dialética da liberdade e da alienação.

Com a abertura de um mercado dos bens simbólicos, aciona-se todo um “sistema de condicionamentos” com os quais o escritor deverá defrontar-se obrigatoriamente no decurso de sua produção artística. A introdução de novos meios de produção e de transmissão da cultura não só estimulam formas de escrita igualmente renovadas, como também contribuem decisivamente para a formação de um novo modo de raciocínio e, por conseguinte, de maneiras inovadoras de se relacionar com os produtos artísticos a serem assimilados.

Desse modo, este simpósio propõe-se a fomentar a interação de estudos e pesquisas empenhados em promover a compreensão das confluências dinâmicas entre as operações criativas e os mecanismos de produção e difusão cultural. Dispensando dicotomias simplistas, esta proposta prioriza abordagens dialéticas das contradições inerentes à simbiose entre literatura e imprensa, fundamentadas na combinação da apreciação de soluções estético-literárias com a análise da materialidade das obras e com a historicidade das práticas de escrita e de leitura.

Assim, o exame crítico das produções culturais deve considerar a complexidade inerente à sua composição material que, embora usualmente negligenciada, também se constitui em formas de expressão. Os meios de divulgação não são simples instrumento de difusão da virtualidade do texto literário, mas participam determinantemente da construção da identidade e do universo de sentido das obras publicadas. Portanto, o conhecimento das condições de enunciação vinculadas a cada contexto de produção define consideravelmente o percurso da leitura, indicando as normas que presidem ao consumo da obra.

Da confluência entre a constituição material e a componente textual resultam maneiras particulares de fruição do objeto escrito, determinadas pelos protocolos de leitura, categorias de leitores e horizontes de expectativas próprios de cada contexto. Com base nesses pressupostos, este simpósio pretende promover a interlocução entre estudos críticos sobre as interações dinâmicas que se articulam entre a criação artística e os fatores de produção (instituições culturais, meios de comunicação, concepções ideológicas, práticas mercadológicas etc.).

Com o intuito de propiciar a reflexão teórica e metodológica sobre a pesquisa em periódicos, planeja-se ressaltar a importância de jornais e revistas como fontes primárias fundamentais para o estudo da história literária e como agentes da atividade intelectual e da renovação estética, política e cultural do país.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

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