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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Maria Nascimento Santos Carvalho (Romance Inacabado)

      Romance Inacabado é uma história triste, como tantas outras que já escrevi, retratando não só o meu drama pessoal, mas, também, o de muitos seres humanos cujo romantismo, despreparo psicológico ou a carência afetiva os levam a acreditar nas mais absurdas utopias do Destino, como continuo, ingenuamente, acreditando.

      Um dia, que poderia ser qualquer um do mês de agosto, Maria, como fazia há algum tempo, saiu para fazer uma caminhada de fim de tarde, que lhe fora imposta pelo excesso de peso gerado pela vida sedentária que ultimamente levava.

      Mal chegou ao destino avistou, a meia distância, um cavalheiro que, em princípio, lhe pareceu muito familiar, mas depois de observar atentamente percebeu que era um estranho, uma daquelas pessoas que, à primeira vista, encantam e deixam uma impressão tranqüilizadora.

      O seu mais novo conhecido, anônimo, parecia um artista. Sua beleza negra era de tirar o fôlego de qualquer mulher desacompanhada ou encostada num "estaleiro". Estava num papo animado com um amigo, simpático, com jeito brejeiro, rindo como se estivessem fazendo comentários maliciosos a respeito de alguma coisa ou de alguém.

      Estavam andando em posições opostas e Maria percebeu, ao passar olhando para o "artista", que sua presença parecia fazer parte da paisagem das pedras do Calçadão, que ele estivesse acostumado a pisar todos os dias, sem se dar conta, sequer, de que ela poderia ser uma pedra com formato diferente.

      Ao voltarem, novamente se encontraram e Maria teve a sensação de ser a mesma pedra do calçadão que ele havia ignorado e pisado há menos de uma hora e por mais que ela olhasse em sua direção não foi nem notada, porque os dois amigos só tinham sorrisos um para o outro, o que reforçou a sua certeza de que andavam o tempo todo debochando de colegas ou de quem quer que por eles passasse.

      Mais uma vez, mesmo nunca tendo avançado um sinal em sua vida afetiva, olhou com admiração para o "artista" e o achou a "paisagem" mais interessante que já havia passado diante dos seus olhos e, instintivamente, desafiando a sua timidez e esquecendo todos os Mandamentos da Lei de Deus, pela primeira vez na vida se via transgredindo todas as normas de boa conduta e como se os seus olhos despertassem a sua mente, sua alma e o seu coração, como uma louca que perdeu a noção do raciocínio, pensou alto, pronunciando, imaginariamente : "- eu quero este artista para mim".

      Maria era solteira e não pensava em se prender a ninguém, mas aquele "atleta" havia mexido com sua cabeça e por um momento pensou em tentar conquistá-lo, esquecendo sua meta principal : a liberdade ... E, fugindo daquele pensamento brusco, pensou: como queria conquistar um homem que nem havia olhado para ela, que não sabia seu nome, que nada sabia a seu respeito, a não ser que a ignorara como se ela fosse mais um pedaço do calçamento embaixo da sola dos seus tênis?

      Maria, mesmo sem perceber, passou a observá-lo, e, por incrível que pareça, tinha sempre a mesma impressão do dia em que o conheceu. Seu colega parecia mais falante e ele mais observador, mas, no fundo, dava para notar que tinham sempre um bom repertório de coisas engraçadas para comentar enquanto malhavam e nada que considerassem errado ou ridículo passava despercebido por seus olhos críticos.

      O tempo foi passando e cada dia mais crescia a vontade de Maria ouvir a voz do ilustre "desconhecido", de saber se era gentil, atencioso, se era romântico... essas coisas que mulher, geralmente, tem curiosidade de saber. Mas, mesmo quando uma vez ou outra estava sozinho, não lhe dava a menor chance de se sentir mais visível do que aquela pedra à qual já se reportou.

      Maria se sentia a pessoa mais insignificante da face da terra, mas jurava que, um dia, nem que tentasse o resto de sua vida, derreteria aquela pedra de gelo e falaria com o "dito cujo", nem que fosse para ficar mais decepcionada do que já estava com a sua indiferença, ou seu preconceito inconcebível.

      Depois de poucos meses de tê-lo visto, Maria já estava tão escravizada à presença daquele ilustre desconhecido que nem sabia como andar, quando passava por ele. Tinha medo de parecer que estava rebolando para chamar a sua atenção, de que ele a interpretasse mal... mas como iria interpretar isso ou aquilo se não se dava conta da sua existência ?

      Maria, na ânsia de perder peso mais depressa, caminhava usando meias compridas, roupas grossas etc. o que, para eles, poderia dar a impressão de que estava com as pernas mais riscadas de varizes do que o Mapa do Brasil, uma vez que pareciam observar o que viam e o que imaginavam ver para aumentar o rol de assuntos engraçados para as longas caminhadas.

      Por isso, para não alimentar a má impressão, com o tempo Maria foi se desvencilhando dos excessos do vestuário, descobriu as pernas, passou a usar camisetas, como quase todos os "atletas" com excesso de peso, e só faltou pendurar uma melancia no pescoço para que aquele homem lhe dirigisse a palavra.

      Apesar de saber que estava agindo errado, ela não abria mão do seu desejo de ser notada, e comeu o pão que o Diabo amassou por conta dessa maluquice que se havia apoderado dela. Ela reconhecia o "seu artista" a uma distância incrível e seu coração começava a bater desordenadamente. Pouco tempo depois, passou a pensar nele vinte e quatro horas por dia e quase toda noite chorava e se desesperava pela sua incapacidade de falar com uma pessoa que via quatro ou cinco vezes por semana e não era vista por ele hora nenhuma.

      Às vezes, ele sumia uma, duas semanas, para o seu maior desespero e quando o revia era como se o céu se abrisse aos seus pés e ela pudesse entrar nele com o seu "admirador imaginário" que, magicamente, a tornava invisível, como se nunca tivesse passado por ele. Era como se Deus se lembrasse de lhe devolver uma felicidade que nem lhe pertencia e talvez nunca fosse pertencer. Seu coração disparava e ela já não tinha mais controle da situação.

      Em síntese, já estava com os nervos à flor da pele e só faltava agarrá-lo a força e dizer : — eu estou aqui, eu o amo, eu sou louca por você... só falta eu me pendurar no seu pescoço e você finge que nunca me viu ? Será que sou uma porcaria tão sem valor que você não inclina seu rosto nem para rir de mim ?

      Mas, felizmente, sua loucura, por milagre, não chegou a tanto, embora tenha faltado muito pouco para ter um ataque histérico e se jogar nos braços dele.

      Um dia, quase três anos já passados, após tanto sofrimento, Maria viu, de longe, que "seu artista" estava sozinho e, quase como um desafio, prometeu a si mesma: é hoje que vou fazer este homem falar comigo, custe o que custar ... e ficou maquinando o que poderia fazer. De repente, quando ele se aproximou, fingiu que estava se sentindo mal, mas, nem assim ele parou para lhe perguntar se estava com algum problema de saúde, se precisava de ajuda.

      Foi a pior idéia que ela poderia ter, pois nunca pensou que mesmo fingindo que nunca havia cruzado com ela, ele fosse passar como um cometa, sem lhe dirigir uma palavra, nem perguntar se ela estava precisando de alguma ajuda. Parece até que sabia que a única coisa que ela estava precisando era ouvir sua voz e receber um gesto de carinho, por menor que fosse.

      Como não estava sentindo nada além da vontade de tê-lo mais perto, quando percebeu que nem olhou para trás para ver se alguém havia se importado com ela, recomeçou a caminhada e na volta, com voz trêmula, fingindo uma ousadia que não tinha, se atravessou na frente dele, quase o atropelando e foi logo perguntando, num fôlego só. — Porque você não deixa de ser metido a importante demais e não fala comigo? Só falta eu engolir você com os olhos e você finge sempre que não me vê ? Fingi que estava passando mal e você nem quis saber se eu precisava de auxílio... — Você já me viu algum dia aqui, por acaso ?

      Ele, surpreso, com voz pausada disse, com um ligeiro sorriso, não sei se de nervosismo pela reação de Maria ou de deboche pelo inusitado : — Eu conheço você, sim, e quando você usava aquelas meias grossas eu comentava com o meu amigo : — esta mulher, coitada, deve ter as pernas cheias de varizes, por isso, só anda com elas cobertas com estas meias ridículas. — Adorei quando você tirou as meias e passou a caminhar com roupas mais joviais. Aí, disse ele : — percebi como é uma mulher charmosa, interessante e sensual. Nesse momento ela se esqueceu de que era apenas uma pedra do calçadão e começou a se sentir uma pedra bruta, mas visível aos olhos do novo "amigo".

      Seguiram batendo papo, embora ela estivesse morrendo de medo que alguém a visse com um estranho e a interpretasse mal. Mas estava tão feliz com o rumo que a conversa estava tomando que queria que o mundo parasse naquela noite.

      Depois desse dia, "seu príncipe", o José, como se identificara, volta-e- meia aparecia sozinho e saíam conversando amenidades, separados como dois estranhos, com receio das línguas maldosas, uma vez que ele se revelara comprometido.

      Das amenidades passaram para conversas mais arrojadas, até que, um dia, chegaram ao ponto que ela queria : Ficar a sós com aquele deus negro, há tanto tempo dono dos seus sonhos, das saudades,de sua alma, dos maus pensamentos; enfim, do seu todo.

      Foi o que de mais bonito aconteceu em toda a sua vida. Ela se sentiu mulher de verdade, pela primeira vez, e abandonou aquela sensação de estar errada por amar tanto aquele adorável desconhecido.

      Em seus encontros e desencontros esporádicos foram descobrindo as suas afinidades... E quantas !

      Maria pensava que suas afinidades fossem capazes de aproximá-los cada vez mais, mas lhes faltava um fator em comum : ele a queria como amiga que aceitasse apenas uma "amizade colorida"; ela o queria como amigo, como homem e como o pai dos filhos que ela tanto sonhava ter, o que levava suas afinidades a um grande distanciamento, a um imenso abismo. O quase tudo em comum parecia muito pouco para um relacionamento mais sólido e, dia a dia, se perdeu na diversidade dos seus sentimentos, como nesses versos :

Coincidências

     Agora que conheço a tua infância,
      eu vejo que foi quase igual à minha :
      a falta de recursos, com constância,
      e tudo o que não tinhas ... eu não tinha !
         
      Nós tínhamos irmãos em abundância,
      pais honrados que, às vezes, à noitinha,
      percorriam a pé longa distância
      para vermos um circo, na pracinha.
            
      Lutando, já formados, progredimos,
      mas os nossos destinos não unimos
      porque em teu peito não me dás guarida ...
     
      Noventa e nove por cento há em comum ...
      e eu não sei como apenas " menos um "
      pode matar os sonhos de uma vida ! ...


     Meses depois, José se desvencilhou de Maria como se tivesse se desvencilhado de um par de tênis desgastado pelo uso, sem um desentendimento, sem uma explicação ... Apenas sumiu como havia aparecido, sem se importar com o que poderia estar acontecendo com ela, como se percebesse que ela estava precisando do seu apoio, de cuidados especiais para enfrentar uma gravidez de risco, uma vez que estava na primeira gestação, com quase quarenta anos de idade.
      José, que se dizia caixeiro viajante, durante muitos anos não foi visto por Maria, que criara seus dois filhos, Leonardo e Lena, os gêmeos gerados num relacionamento proibido e sem importância para José. Foi num momento de desânimo e decepção que expressou mentalmente as suas

Marcas na Alma

     Partiste sem aviso, às escondidas,
      sem promessa de um dia regressar..
      e, embora com saudades incontidas,
      eu me recusaria a te esperar.
   
      Se eu tivesse o milagre de outras vidas,
      e motivos de sobra para amar,
      com receio de novas despedidas
      eu jamais voltaria a te aceitar ...
     
      Foram tantos projetos que ruíram,
      tantos sonhos de amor que se evadiram,
      tanto estrago em minha alma a vida fez
      
      que, farta de tristeza e desengano,
      queria que o destino desumano
      acabasse comigo de uma vez.


     Quando passou para a faculdade, num "trote de calouros", Leonardo se feriu gravemente e sua colega de cursinho, Andressa, que estava com ele, ajudou a socorrê-lo e passou a noite no hospital aguardando notícias.

      Maria, avisada da tragédia, chegou pouco tempo depois e conversava com a coleguinha de seu filho quando José chegou preocupado, tentando levar a filha para casa, sem perceber que era a mãe de Léo que se encontrava de costas. Foi um choque muito grande para os dois.

      Léo estava sendo operado e José logo se ofereceu para doar sangue, se fosse preciso e para ficar com Maria, enquanto o pai do garoto não chegasse. Maria agradeceu, dizendo que não era preciso, mas José levou Andressa para casa e voltou para lhe fazer companhia, confessando que sua esposa estava doente, há muitos anos, e que ele era quem cuidava dos dois filhos : Andressa e Anderson, já quase adultos.

      Foi no hospital que José teve certeza de que Leonardo era seu filho, depois de se submeter a exames para descobrir se havia compatibilidade para doação de um rim, uma vez que o acidente havia comprometido os rins do novo universitário.

      Leonardo, depois de muito tempo hospitalizado, voltou à vida normal, mas, ainda muito magoado por não ter conhecido seu pai, leu uma poesia que havia encontrado num "livro de bolso", e parecia a sua história :

Desilusão

     Ao ver um pai chegar na minha escola
      trazendo a mão do filho em sua mão,
      carregando, feliz, sua sacola,
      sinto uma enorme dor no coração...
      
      Penso em mais tarde os dois jogando bola
      e sinto até inveja da emoção
      daquele pai que, às vezes, se controla
      para não dar no filho uma " lição " ...
      
      Agora, quase adulto como estou,
      nem ligo para o pai que me gerou
      e não dirige a mim um simples ai ...
      
      Se esse pai não me deu nenhum conforto,
      não sabe se estou vivo, ou se estou morto,
      não quero nem saber se tenho um pai !...

    
      Hoje, com os filhos ultrapassando os vinte e um anos de idade, Maria olha para trás, revive todo o sofrimento porque passou e ainda encontra forças para agradecer a Deus por seus filhos, fruto de um amor proibido e inconseqüente, e reza para que seu "artista preferido" encontre o amor que teve e jogou fora, sem sequer tomar conhecimento da existência de seus filhos, que, inteligentemente, talvez pouco estão se importando se em suas certidões de nascimento existe apenas um pai ignorado, como costumam dizer nos momentos mais angustiantes, embora Maria tenha certeza de que dizem isto para não entristecê-la mais ainda.

      Leonardo e Lena freqüentam a mesma sala de aula, e num trabalho escolar, falando sobre o Dia do Papai, Lena resolveu apresentar seu

Sonho Adormecido ...

     Sonhei com o meu pai a vida inteira,
      embora um pai que nem me viu crescer ...
      pois encontrei, no sonho, uma maneira
      de encarar meu problema sem sofrer ...
      
      E, filha de um ausente e mãe solteira,
      eu me humilhei demais para entender
      que o preconceito é a mais triste barreira
      que o mundo inteiro, um dia, há de vencer.
      
      Meu pai, que era caixeiro viajante,
      mudava de lugar a cada instante,
      deixou o seu " produto " e foi embora ...
      
      mas mesmo sendo um pai desconhecido,
      se acordasses meu sonho adormecido
      eu seria, meu pai, feliz agora.

     Maria foi quase todos os gêneros de pedras no caminho de José, o seu príncipe, mas embora tenha rolado nas tempestades que o destino lhe impôs, continua com a mesma certeza do primeiro dia em que o viu, porque seu coração, seus olhos, sua mente, sua alma e todo o seu ser o escolheram para ser o homem de sua vida e, mesmo depois de tudo que já passou, mesmo com o coração sangrando por não havê-lo conquistado, ainda não perdeu a esperança de reencontrar a felicidade ao lado do homem que, um dia, sem conhecê-lo, sem nada saber da sua vida, pensou como quem reza em silêncio : — " Eu quero este homem para mim". Por enquanto, enquanto vive de esperança, faz de Contradição a sua prece de cada dia.    

Hoje, mais uma vez, desesperada
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada
a amar sem nunca ser correspondida ...
     
       Mas o que mais me dói, na despedida,
      é saber que fui sempre desprezada
      porque foste o anjo bom da minha vida
      e eu da tua jamais pude ser nada.
      
      Se me pudesse ver da eternidade,
      chorando de tristeza e de saudade
      pelo amor que no tempo se perdeu,
     
       Carlos Drummond de Andrade me diria :
      " E agora ", como vais viver, Maria,
      sem o José que achavas que era teu ? !


     Como a esperança é a última que morre, Maria espera, um dia, poder dizer :

      – E serão felizes para sempre…

Fonte:
http://www.marianascimento.net/contos/003.htm

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Maria Nascimento Santos Carvalho (Sonetos Escolhidos)

DESABAFO

No meu semblante há traços de cansaço,
 e, em minha voz, vestígios de tristeza,
 porque jungida às rédeas do fracasso,
 não conservei a luz da glória, acesa.

 E sempre pela vida em descompasso,
 lutando contra o vírus da incerteza,
 faço, da tênue força, força de aço,
 e do ataque, minha arma de defesa.

 Este cansaço que em meu rosto aflora,
 não é moléstia que surgiu agora,
 vem desde os magros tempos de criança.

 E a tristeza que a minha voz embarga,
 foi me tornando, aos poucos, mais amarga,
 e cada dia mais sem esperança.

E-MAIL

Deletei muitas coisas que me disse,
 digitadas em seu computador;
 assim que descobri que era tolice
 guardar frases bonitas, sem amor.

 Temendo que a memória me traísse,
 deixei à vista as que me causam dor
 para que, nunca mais eu me iludisse
 e, em vão, corresse o risco de me expor...

 Deletei muita coisa e, na verdade,
 não pude deletar toda a saudade
 que salvei num arquivo do meu peito...

 Pois quanto mais tentava deletar,
 mais vinha uma mensagem me avisar
 que deletar saudades... não tem jeito…

CARÊNCIA

Pensei fosse te amar sem pedir nada,
 sem te causar qualquer constrangimento,
 mas a cruz deste amor é tão pesada,
 que desestruturou meu pensamento...
 
 Tentei até domar meu sentimento,
 para não me sentir sempre culpada ;
 porém o que excedeu em sofrimento,
 não me deixou te amar sem pedir nada...
 
 Talvez me falte orgulho e até juízo,
 mas, de tudo o que tens e que eu preciso
 para viver feliz, é bem pouquinho :
   
bastará que me fales de saudade,
 que me dês uma prova de amizade,
 e um milésimo só do teu carinho!…

CONTRADIÇÃO
Hoje, mais uma vez, desesperada
 por ser injustamente preterida,
 vejo que já nasci predestinada
 a amar sem nunca ser correspondida...

 Mas o que me dói mais, na despedida,
 é saber que fui sempre desprezada
 porque foste o anjo bom da minha vida
 e eu, da tua, jamais pude ser nada.

 Se me pudesse ver da eternidade,
 chorando de tristeza e de saudade
 pelo amor que no tempo se perdeu,

 Carlos Drummond de Andrade me diria:
 "E agora", como vais viver Maria
 sem o José que achavas que era teu?!

FANTASIA
Meu sonho era fazer versos um dia...
 E, quando, às vezes, triste me encontrava,
 fingia que chorava de alegria,
 quando era de tristeza que eu chorava!

 E percebi que até numa poesia,
 que entre lágrimas tristes me brotava,
 como um divino toque de magia,
 mesmo sofrendo, assim me reanimava!

 Foi tudo em vão, porque, fazendo versos,
 eu nem notei que os meus sonhos dispersos
 transcendiam meu mundo pequenino.

 E, na angústia de quem sempre sofreu,
 então, pergunto a Deus por que me deu
 um sonho bem maior que o meu Destino...

SÚPLICA
Jurei não lhe falar mais de ternura,
 nem dar sinais de angústia nem de dor,
 mas sinto as cicatrizes da censura
 bem menos doloridas que as do amor...

 Assim, movida pela desventura,
 vivendo um sentimento embriagador,
 tento afogar meu sonho na amargura,
 e volto a lhe falar do meu amor.

 Deixe que eu ame intensa e livremente,
 sem censurar o meu comportamento,
 sem ter pena das penas que padeço.

 que eu sofro, por você, conscientemente,
 e, por maior que seja o meu tormento,
 estou sofrendo menos que mereço…

NUNCA MAIS
Não sei de onde é que vem tanta ansiedade
 e essa angústia que me comprime o peito,
 torturando, porque, na realidade,
 nem de pensar em ti, tenho o direito.

 E, como todo o ser mais que imperfeito,
 que não doma os caprichos da vontade,
 eu luto, mas sequer encontro um jeito
 de me livrar das garras da saudade...

 Bem sei que não entrei na tua vida,
 e, mesmo tendo sido preterida,
 meu amor floresceu, criou raiz...

 Mas fui punida com severidade,
 porque deixaste em mim tanta saudade
 que nunca mais eu pude ser feliz!

SEMENTE DA VIDA
 
Tento sondar as leis da Natureza
 e vejo, sob as luzes da razão,
 que os genes da virtude ou da vileza
 são nossos, desde a nossa formação.
   
 Malgrado eu tenha uns gestos de grandeza,
 sou só um ser a mais na multidão;
 grão de areia enfrentando a correnteza:
 - semente do pecado e do perdão ...

  Mas minha formação embrionária
 proporcionou – me a força necessária
 para desafiar o que vier ...
 
 E eu agradeço a Deus, enternecida,
 e à semente do amor que se fez vida
 e trouxe ao mundo mais uma mulher !

LIÇÕES DA VIDA 

Tenho aprendido todas as lições
 que a vida, mestra justa, tem me dado,
 e encontro a cada dia mais razões
 para ver com orgulho o meu passado...

 O que era de melhor foi decorado
 e esquecidos os traumas das paixões ...
 e a cada novo amigo conquistado
 reforço o meu celeiro de emoções.

 Sei medir a extensão dos meus defeitos,
 e não incluo ter nos meus direitos
 amigos que só tenham qualidades...

 Com isto tenho justas recompensas,
 porque sei respeitar as diferenças,
 aceitando as benesses e as maldades.

Fontes:
http://www.sardenbergpoesias.com.br/poesias_amigos.htm
http://www.marianascimento.net/pages/sonetos.htm

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Edinar Corradini / RJ (Meu Poeta)


Edinar é de Teresópolis/RJ
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Da coletânea Declame para Drummond 2012
110º aniversário do poeta e vários poemas no meio do caminho pelo Brasil

Me debruço sobre teus poemas, sinto-me viva.
E mansamente minha alma Cresce
Cada verso teu acorda meus sonhos
Por sentir teu cantante em meus ouvidos
Passear pelos versos num florir de das palavras
Em minha mente aquela essência
Como um perfume de uma flor que o vento trás
Vejo teus versos conversar comigo 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Adriana Kairos (Eu Conto Carneirinhos)


Gosto de sonhar. Penso que os sonhos são passeios da alma. Sabe,quando queremos espairecer. Sair por aí. Distrair.

 Só que os sonhos fazem viagens bem mais empolgantes. Viajam pelas lembranças, exploram o desconhecido, visitam até o que tememos e nos assustam com terríveis pesadelos. Mas são só pesadelos.

 Revemos amigos, outros bem mais queridos e encontramos até gente nova. Sim!!! Acredito nisso. Sabe quando vemos alguém pela primeira vez e dizemos: "Eu não te conheço de algum lugar?" Sei lá, mas eu acho que é lá das voltinhas dos sonhos, que já o vimos antes.

 Por isso é que gosto quando a noite chega. E espero ansiosa a hora de dormir, só pra saber a surpresa que terei. Que passeio farei, embalada em canções antigas de ninar. Quem sabe hajam caminhos de jujubas e rios de refrigerantes, laguinhos de chocolate com patinhos de bombom. Sei lá... As vezes a grande viajem é refugiar-se apenas no inimaginável.

 Não sou mística ou qualquer outra coisa. Nem gosto de religião. Só quero compartilhar os meus humildes pensamentos. E convidar a sua alma a pôr o pé na estrada te lembrando o quanto é bom sonhar.

Fonte:
http://www.releituras.com/ne_asantos_conto.asp

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Victor Giudice (O Arquivo)


(1934-1997) 

Já no seu livro de estréia, O Necrológio (1971), o carioca Victor Giudice nos revelava esta pequena obra-prima que é O Arquivo, na qual o imaginário do autor consegue fundir tão bem o fantástico com o humor, como um bom discípulo de Kafka, Dino Buzzati ou Cortázar. Giudice escreveu outros livros de contos, além do romance Bolero. 

Foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Morreu antes de consolidar sua obra.
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No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

João era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora, João acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

João preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

- Seu João. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

João baixou a cabeça em sinal de modéstia.

- Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

- Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

- De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, João gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, João não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.

A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

- Seu João. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou 
sorrir:

- Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

- Mas seu João, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

João afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana e Campos (Cinco em Um)

Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira,
Mário Quintana e Paulo Mendes Campos
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
PAPAI NOEL ÀS AVESSAS


Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

-
VINICIUS DE MORAES
O HAVER


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

--MANUEL BANDEIRA
RONDÓ DOS CAVALINHOS


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

Consta que o poema acima, feito durante a "II Grande Guerra", foi escrito enquanto o autor almoçava no Jóquei-Clube do Rio de Janeiro, assistindo às corridas.

--MÁRIO QUINTANA
O MAPA


Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

--PAULO MENDES CAMPOS
POEMA DIDÁTICO


Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo
Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa.
Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos,
Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco.
No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me,
Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me,
Morto do meu próprio pensamento, destruí-me,
Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me,
Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo,
Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria
Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica,
E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais.
Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz,
Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio
E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar ?

Meu instante agora é uma supressão de saudades. instante
Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio
Que me confundiu outrora. Já deixei de amar os desencontros.
Cansei-me de ser visão, agora sei que sou real em um mundo real.
Então, desprezando o outrora, impedi que a rosa me perturbasse.
E não olhei a ferrovia - mas o homem que sangrou na ferrovia -
E não olhei a fábrica - mas o homem que se consumiu na fábrica -
E não olhei mais a estrela - mas o rosto que refletiu o seu fulgor.
Quem agora estará absorto? Quem agora estará morto ?
O mundo, companheiro, decerto não é um desenho
De metafísicas magnificas (como imaginei outrora)
Mas um desencontro de frustrações em combate.
nele, como causa primeira, existe o corpo do homem
– cabeça, tronco, membros, as pirações e bem estar...

E só depois consolações, jogos e amarguras do espírito.
Não é um vago hálito de inefável ansiedade poética
Ou vaga adivinhação de poderes ocultos, rosa
Que se sustentasse sem haste, imaginada, como o fiz outrora.
O mundo nasceu das necessidades. O caos, ou o Senhor,
Não filtraria no escuro um homem inconsequente,
Que apenas palpitasse no sopro da imaginação. O homem
É um gesto que se faz ou não se faz. Seu absurdo -
Se podemos admiti-lo - não se redime em injustiça.
Doou-nos a terra um fruto. Força é reparti-lo
Entre os filhos da terra. Força - aos que o herdaram -
É fazer esse gesto, disputar esse fruto. Outrora,
Quando ainda sofria sobre as armações metálicas do mundo,
Acuado como um cão metafísico, eu gania para a eternidade,
sem compreender que, pelo simples teorema do egoísmo,
A vida enganou a vida, o homem enganou o homem.
Por isso, agora, organizei meu sofrimento ao sofrimento
De todos: se multipliquei a minha dor,
Também multipliquei a minha esperança.

domingo, 16 de setembro de 2012

Elane Rangel / RJ (Trovas: O Pinheiro e a Gralha Azul)

Trovas enviadas pela trovadora carioca, homenageando os símbolos do Paraná.

O que mais me contagia
nos meus passeios no sul,
é ver  a  graça  e a magia
do  vôo  da  gralha-azul.

Para perpetuar a vida
da araucária na região,
voa a gralha, destemida,
carregando o seu pinhão.

O  pinheiro  simboliza
o   Estado do  Paraná;
a gralha-azul,eterniza
sua  permanência  lá.

Os pinheiros – que beleza !
quanta graça neles há ...
dão mais vida à natureza,
enriquecem  o  Paraná !

Pra conservar o pinheiro
como  um símbolo do sul,
temos que zelar, primeiro,
pela  nossa  gralha-azul.

Diz a gralha: homem, reparte
com a  terra  o  teu  pinhão !
eu  já  fiz  a  minha  parte,
eu  já  dei  o  meu  quinhão !

Com  as  reservas, precárias,
de  terras  livres  no  sul,
pra plantar, hoje, araucárias,
só  se  for  a  gralha azul !

A gralha-azul  perpetua
a vida das araucárias;
com habilidade, atua,
cultivando aquelas áreas.

Semeia a gralha, sensata,
a floresta de pinheiro,
e o homem vem e a desmata
por ambição do dinheiro!

Vem a gralha-azul e enterra
o  pinhão  no  seu  celeiro,
o  que  faz brotar  da  terra
as  florestas  de  pinheiro.

Fonte:
Trovas enviadas pela autora         
                 

Marina Colasanti (Achadas e Perdidas?)

Uma bala perdida alcançou o ator Older Cazarré no sono, e o matou. No dia 1.2 do mês, uma menina de nove anos tinha sido ferida por uma bala perdida, quando brincava em sua casa, em Vila Isabel (sua casa estava sendo atingida pela terceira vez). E no dia seguinte, em Costa Barros, cinco crianças foram feridas pelas sobras de um tiroteio entre PMs e,traficantes. O mês em nada se diferencia dos meses anteriores. E, como todos os meses no Rio de Janeiro, tempo de safra das balas perdidas.

 Pergunto-me por que continuamos usando essa expressão "bala perdida". Afinal, perdido é aquilo que sumiu, que não mais conseguimos encontrar. E as balas perdidas sabemos muito bem onde vão parar. Só no prédio de Cazarré a polícia recolheu cinco delas, sendo que uma estava encravada na cabeceira da cama do subsíndico José Carlos Freire, a um palmo da sua cabeça.

 Perdido é também aquilo que foi destruído, que é irrecuperável. Mas as balas perdidas são recuperabilíssimas; para reavê-las, basta afundar o canivete na parede de uma casa pacífica ou na cabeceira de uma cama, e mergulhar o bisturi na carne. E certamente não foram destruídas. Destruídos são a pele, o osso, o órgão. Destruídos são a segurança. E a vida.

 Usa-se a palavra "perdida" também no sentido de distante, longínqua. Mas bem gostaríamos que as balas perdidas estivessem distantes. Antes aparentemente longínquas porque limitadas às áreas de banditagem, estão se aproximando a cada dia, varando nossas vidraças e nossa serenidade. Bala perdida, hoje, é justamente aquela mais próxima do que todas as outras, a que nos atinge.

 Perdida significa ainda prostituta, a que, por dinheiro se concede. E mais uma vez a palavra não encaixa nessas balas que, como pipas negras, cruzam nossos ares. Bala prostituta não é aquela que atinge quase ao acaso pessoas de bem, pessoas que nada têm a ver com as transações nefandas em cujo nome a bala é disparada. Bala prostituta é aquela que cumpre sua tarefa, que mata por dinheiro, e que só por dinheiro se "concede".

 E, ainda dentro do mesmo sentido, perdida quer dizer aquela que "sai do bom caminho". Mas como aceitar que o percurso de uma bala, visando a morte, seja considerado um bom caminho? Ainda que saia da arma de um traficante para o peito de outro traficante ou mesmo da arma de um policial para o peito de um meliante, a bala traça sempre o pior de todos os caminhos. E repugna considerar bom um caminho da morte, apenas porque obedece à mira. Não existe bom caminho para as balas. Nem na guerra, nem na caça. E muito menos no cotidiano de uma cidade.

 Assim também a consciência hesita em aceitar seu sentido como "errada". Não apenas porque não podemos concordar com a existência da bala certa, mas porque, se é verdade que a bala perdida errou o alvo, é igualmente verdade que acertou sua função. Pois quem fabrica o projétil e o enche de pólvora não está lhe incutindo um alvo, mas apenas dando-lhe a capacidade de penetrar, rasgar e explodir, que são sua razåo de ser. Bala errada, e portanto bala perdida, é para seu fabricante a que se perde n~ grama, sem condições de ferir ninguém, nem hoje nem nunca. E a bala que desperdiça seu poder mortífero.

 Nem lhe cabe o sentido de "aflita" ou "ansiosa", que o dicionário registra. Uma bala nunca está ansiosa. Uma bala não hesita, não treme. Uma vez disparada, é objetiva e direta. Ansioso pode estar aquele que aperta o gatilho. E aflito fica quem recebe o tiro, ou quem vê o próprio filho atingido enquanto brinca no quintal de casa.

 Há sentidos, porém, que se lhe aplicam. É certo, sim, dizer que a bala é perdida, porquanto "pervertida". A bala que fere ou mata aquele que apenas cruzou seu percurso, como se cruza uma linha de trem, é certamente mais pervertida do que a pervertida bala que mata a vítima visada.

 E é "amoral" essa bala. É amoral porque mata pessoas inocentes — embora as culpadas também não devessem ser mortas. É amoral porque não obedece sequer à questionável moral do submundo, porque escapa à moral da guerra que a dispara. E é amoral porque dela ninguém pode se defender. Quem parte para um duelo sabe o que busca, quem parte para a guerra sabe ao que vai de encontro, mas quem dorme em sua cama não sabe o risco que corre.

 Perdida quer dizer ainda "sem esperança ou salvação". Uma cidade cruzada por balas perdidas é uma cidade sem esperança ou salvação. Mas as balas perdidas podem tomar-se uma espécie em extinção, quando a sociedade põe um basta nas balas achadas.

Fonte: 
Marina Colasanti. Eu sei, mas não devia. RJ: Editora Rocco, 1996.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Marina Colasanti (A Moça Tecelã)

Ilustração de Ana Peluso
 Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

 Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.  Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Fonte:
Marina Colsasanti. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. RJ: Global Editora , 2000.

domingo, 9 de setembro de 2012

José Cândido de Carvalho (Três Histórias do Interior)

ANÃO NO VENTO DAS QUATRO HORAS DA TARDE

E por causa de uma discussão sobre coisas de zepelim e assentador de moça, o anão Azevedinho Codó levou, de um certo Chico Pereira, pescoção de tal modo peçonhento que atravessou de foguete toda a cidade de Guarus e sumiu para o lado do Piauí numa poeirinha de não ser mais visto. No meio da semana, o delegado Xexé Barroso, encarregado de desvendar o paradeiro de Azevedinho, recebeu do seu colega do Palmeiral do Livramento o seguinte telegrama:
PASSOU PELA RUA DO COMÉRCIO UM NANICO VOANDO DE PASSARINHO, QUE SÓ PODE SER O PROCURADO AZEVEDINHO CODÓ. NO MEU FRACO PENSAR, O PESCOÇÃO MINISTRADO AINDA TEM CARVÃO PARA MAIS DOIS DIAS, PELO QUE TELEGRAFEI PARA LAGOINHAS DE MODO QUE A AUTORIDADE COMPETENTE ESPERE O INDIGITADO ANÃO NO CAMPO DE POUSO, ONDE DEVE CHEGAR NO VENTO DAS QUATRO HORAS DA TARDE SE NÃO SOFRER ATRASO NO PESCOÇÃO. SÓ QUERO SABER SE A GENTE DEVOLVE AZEVEDINHO CODÓ POR VIA MANUAL OU PELA ESTRADA DE RODAGEM.

-
DE COMO O TABELIÃO SÃ BARBALHO LAVROU A ATA DO DESCOBRIMENTO DAS AMÉRICAS

E de repente, na sala do Cartório Raul Pimenta, o tabelião Ludovico de Sá Barbalho estancou a pena no meio de uma lavratura e disse com voz de mar alto:

- Comunico e participo que de hoje em diante não sou mais o tabelião juramentado de Crubixais do Rio Novo. Sou Cristóvão Colombo pela vontade de deus e do rei. Amanhã lavrarei a competente ata do descobrimento das Américas.

Estava maluco. E no dia seguinte, que era domingo, toda Crubixais do Rio Novo viu o tabelião Barbalho sair em passo de 12 de Outubro e ganhar a Rua das Flores. Levava embaixo do braço uma luneta e na cabeça um chapéu de almirante. Quando chegou na Praça da Matriz, gritou em feitio de escritura pública:

- Ao mar!

Como não havia mar em Crubixais, Barbalho navegou mesmo em seco e em seco ancorou a caravela na porta da Barbearia Central. Os filhos, com seu compadre Juquinha Azambuja na frente, correram para desencalhar o barco do velho Ludovico de Sá Barbalho. E mansamente bordejaram pelo fundo da Praça da Matriz de modo a colocar o tabelião em águas de casa. Na soleira da porta, antes de entrar, Barbalho voltou a gritar:

- Sou Cristóvão Colombo vitalício do que não abro mão nem faço acordo!

Loucura pega de galho. E tanto pega que houve um derramamento de doido em Crubixais. Um era pajem do rei, outro nobre da corte e outro ouvidor-geral. Quando o Dr. Sabugosa Leitão, circunspecto juiz da comarca, que não ria nem brincava com ninguém, veio de Rui Barbosa, careca e de pincenê, o tabelião Barbalho deixou no mesmo instante de ser Cristóvão Colombo. Reuniu o pessoal graúdo e avisou:

- Deu tanto maluco em Crubixais que alguém, meus senhores, deve ser o juiz. Comunico e participo que de agora em diante sou o Doutor Sabugosa Leitão.

E desandou a despachar os processos em pauta. Com muito acerto e competência.

-

TATÃO, O ESQUARTEJADOR

Era domingo que pita cachimbo e Tatão Chaves aproveitou para pedir Lili Mercedes, mestra de letras, em casamento. A cidadezinha de Monte Alegre, sabedora da novidade, botou a cabeça de fora para presenciar Tatão em cima das botinas de lustro e por baixo das panos engomados. Para avivar a coragem, Tatão bebeu, no Bar da Ponte, meio dedo de licor, coisinha de aligeirar a língua e aromar a boca. Como achasse o licor educado demais, mandou cruzar a bebidinha com cachaça de fundo de garrafa.

E recomendativo:

- Daquele parati mimoso que até parece flor de jardim.

De talagada em talagada Tatão perdeu a mira da cabeça. Embaralhou o pedido de casamento com negócio de disco-voador, imposto de renda e busto de moça. A essa altura, gravata desabada e camisa fora da calça, Tatão preveniu:

- Sou o maior dedilhador dos desabotoados das meninas já aparecido em Monte Alegre. Sou Tatão Chupeta!

Gritava que era monarquista, que era a favor da escravidão e que o prefeito de Monte Alegre não passava de uma perfeita e acabada mula-sem-cabeça. E para arrematar, ganhando a porta do Bar da Ponte, garantiu:

- Só queria que aparecesse neste justo instante um boi cornudo para Tatão esfarinhar o chifre do sem-vergonha a bofetada!

Nisso, um boizinho desgarrado apontou na esquina da Rua do Comércio. Tatão cumprindo a promessa, armou o maior soco do mundo. E atrás do soco saiu Tatão, atravessou a Praça 13 de Maio, entrou no Mercado Municipal, desmontou duas barracas, esfarelou um comício de tomates e só parou no Açougue Primavera. E meio adernado sobre um quarto de boi que sangrava em cima do balcão: .

- Soco de Tatão é pior que canhão de guerra. Mata e esquarteja!
–––––––––––-
José Cândido de Carvalho
(1914-1989)
Fluminense de Campos, e autor de um romance já na nossa história literária, O Coronel e o Lobisomem, José Cândido de Carvalho manteve durante anos uma coluna em jornais dos Diários Associados. Ali publicou centenas de casos "contados, astuciados, sucedidos e acontecidos do povinho do Brasil", muitos deles reunidos em dois volumes publicados pela antiga José Olympio Editora: Porque Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicon e Um Ninho de Mafagafes Cheio de Mafagafinhos. São minicontos
de humor e neles o que se destaca é a linguagem.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.