terça-feira, 29 de julho de 2008

Thiago de Mello (1926)

Thiago de Mello é o nome literário de Amadeu Thiago de Mello, nascido a 30 de março de 1926, na pequenina cidade de Barreirinha, fincada à margem direita do Paraná do Ramos, braço mais comprido do Rio Amazonas, no meio do pedaço mais verde do planeta: a Amazônia.

O poeta, ainda criança, mudou-se para capital, Manaus, onde iniciou seus primeiros estudos no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o segundo grau no então Gyminásio Pedro II.

Concluído os estudos preliminares mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade Nacional de Medicina. Por lídima vocação, ou por tara compulsiva, como ele prefere, abraçou o ofício de poeta abandonando o curso de medicina para se entregar, por inteiro, ao difícil e duvidoso (em termos profissionais) caminho da arte poética.

Vivia-se o glamour dos anos 50, num Rio de Janeiro capital do país, ditando para todo Brasil não só as questões de cunho político, mas sobretudo, os eventos artísticos e acontecimentos da produção literária. Hegemonia mantida até hoje mas compartilhada com a cidade de São Paulo e seu efervescente ambiente cultural.


Em 1951, com o livro Silêncio e Palavra, irrompe vigorosamente no cenário cultural brasileiro e de pronto recebe a melhor acolhida da crítica.

Álvaro Lins, Tristão de Ataíde, Manuel Bandeira, Sérgio Milliet e José Lins do Rego, para citar alguns nomes ilustres, viram nele e em sua obra poética duas presenças que, substanciosas e duradouras, enriqueceram a literatura nacional.

"... Thiago de Mello é um poeta de verdade e, coisa rara no momento, tem o que dizer", escreveu Sérgio Milliet.

O correr dos anos só fez confirmar suas qualidades e justificar os elogios com que fora recebido pela intelligentsia brasileira. O amadurecimento permitiu ao poeta mergulhar profundamente as raízes da sensibilidade e da consciência crítica na rica seiva humana de um povo ao mesmo tempo tão explorado, tão sofrido e tão generoso como o nosso, e sua poesia, sem perder o sóbrio lirismo que a inflamava, ganhou densidade e concentração, pondo-se por inteiro a serviço de relevantes causas sociais.

Faz Escuro, mas eu Canto; A Canção do Amor Armado; Horóscopo para os que estão vivos, Poesia Comprometida com a minha e a tua Vida; Mormaço na Floresta; Num Campo de Margaridas realizam, por isso, a bela síntese do poeta e do homem que jamais se deixou ficar indeciso em cima do muro de confortável neutralidade. O poeta e o partisan eram uma só pessoa, dedicada sem medir esforços ou riscos à luta pela emancipação do homem, tanto dos grilhões que injustas estruturas do poder econômico-político lhe impõem quanto das limitações com que individualismo, ignorância ou timidez lhe tolhem os passos.

A biografia de um poeta assim concebido e a tanto cometido não poderia jamais desenvolver-se num plano de tranqüila rotina. A de Thiago de Mello teve, por isso mesmo, suas fases sombrias e borrascosas, realçada por arbitrária prisão e longo e doloroso exílio da pátria a que tanto ama e serve.

Essas provações, que enfrentou com a serena firmeza de quem as sabe inevitáveis e delas não foge, enriqueceram-no ainda mais como poeta e ser humano. Alargando sua weltanschauung, permitiram-lhe comprovar o acerto de sua intuição de que o geral passa pelo particular e de que, como dizia seu grande colega Fernando Pessoa, tudo vale a pena/ se a alma não é pequena.

No livro mais recentemente publicado, De Uma Vez Por Todas, todas as linhas marcantes de sua poesia, o lirismo, a sensibilidade humana, a alegria de viver, a luta contra a opressão, o amor constante à Amazônia natal se reúnem harmonicamente, num tecido de rara força e beleza. O poeta não escreve seus poemas apenas em busca de elegância formal: neles se joga por inteiro, coração, cabeça e sentimento, e isso lhes dá autenticidade e força interior.

Bibliografia

Livros de Poemas de Thiago de Melo:
- Silêncio e Palavra, Edições Hipocampo, Rio de Janeiro, 1951.
- Narciso Cego, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1952.
- A Lenda da Rosa, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1956.
- Vento Geral(reunião dos livros anteriores e mais dois inéditos: Tenebrosa Acqua e Ponderações que faz o defunto aos que lhe fazem o velório), Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1960.
- Faz Escuro mas eu Canto, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1965. 14a edição, 1993.
- A Canção do Amor Armado, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1966. 7a edição, 1993.
- Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1975. 7a edição, 1991.
- Os Estatutos do Homem(com desenhos de Aldemir Martins), Editora Martins Fontes, São Paulo, 1977. 6a edição, 1991.
- Horóscopo para os que estão Vivos, Edição de luxo, ilustrada e editada por Ciro Fernandes, Rio de Janeiro, 1982.
- Mormaço na Floresta, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1984. 3a edição, 1993.
- Vento Geral, Poesia 1951-1981, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1981. 3a edição, 1990.
- Num Campo de Margaridas, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
- De uma vez por todas, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1996.

Prosa:
- Notícia da Visitação que fiz no Verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos,
- Ministério da Educação, 1957. 2a edição, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1989.
- A Estrela da Manhã, Estudo de um poema de Manuel Bandeira, Ministério da Educação, Rio de Janeiro, 1968.
- Arte e Ciência de Empinar Papagaio, BEA, Manaus, 1984, edição de luxo. 2a edição, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1985.
- Manaus, Amor e Memória, Suframa, Manaus, 1984, edição de luxo. 2a edição,
- Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 4a edição, 1989.
- Amazonas, Pátria das Águas, Edição de luxo, bilingue (português e inglês), com fotografias de Luiz Cláudio Marigo. Sverner-Bocatto, São Paulo, 1991.
- Amazônia, a Menina dos Olhos do Mundo, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1992.
- O Povo Sabe o Que Diz, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2a edição, 1993.
- Borges na Luz de Borges, Pontes Editores, São Paulo, 1993.

Discos:
- Poesias de Thiago de Mello, Discos Festa, Rio de Janeiro, 1963.
- Die Statuten des Menschhen, Cantata para orquestra e coro, música de Peters Jansen, RFA, 1976.
- Thiago de Mello, Palabra de esta América, Casa de las Américas, La Habana, 1985.
- Mormaço na Floresta, locução do autor, Som Livre, Rio de Janeiro, 1986.
- Os Estatutos do Homem e Poemas Inéditos, Edições Paulinas, Rio de Janeiro, 1992.

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/tmello.html#bio

Thiago de Mello (Filho da floresta, água e madeira - Poema perto do fim - Sugestão - Canto do meu Canto)

Filho da floresta, água e madeira

Filho da floresta,
água e madeira
vão na luz dos meus olhos,
e explicam este jeito meu de amar as estrelas
e de carregar nos ombros a esperança.

Um lanho injusto, lama na madeira,
a água forte de infância chega e lava.

Me fiz gente no meio de madeira,
as achas encharcadas, lenha verde,
minha mãe reclamava da fumaça.

Na verdade abri os olhos vendo madeira,
o belo madeirame de itaúba
da casa do meu avô no Bom Socorro,
onde meu pai nasceu
e onde eu também nasci.

Fui o último a ver a casa erguida ainda,
íntegros os esteios se inclinavam,
morada de morcegos e cupins.

Até que desabada pelas águas de muitas cheias,
a casa se afogou
num silêncio de limo, folhas, telhas.

Mas a casa só morreu definitivamente
quando ruíram os esteios da memória
de meu pai,
neste verão dos seus noventa anos.

Durante mais de meio século,
sem voltar ao lugar onde nasceu,
a casa permaneceu erguida em sua lembrança,
as janelas abertas para as manhãs
do Paraná do Ramos,
a escada de pau-d’arco
que ele continuava a descer
para pisar o capim orvalhado
e caminhar correndo
pelo campo geral coberto de mungubeiras
até a beira florida do Lago Grande
onde as mãos adolescentes aprendiam
os segredos dos úberes das vacas.

Para onde ia, meu pai levava a casa
e levava a rede armada entre acariquaras,
onde, embalados pela surdina dos carapanãs,
ele e minha mãe se abraçavam,
cobertos por um céu insuportavelmente
estrelado.

Uma noite, nós dois sozinhos,
num silêncio hoje quase impossível
nos modernos frangalhos de Manaus,
meu pai me perguntou se eu me lembrava
de um barulho no mato que ele ouviu
de manhãzinha clara ele chegando
no Bom Socorro aceso na memória,
depois de muito remo e tantas águas.

Nada lhe respondi. Fiquei ouvindo
meu pai avançar entre as mangueiras
na direção daquele baque, aquele
baque seco de ferro, aquele canto
de ferro na madeira — era a tua mãe,
os cabelos no sol, era a Maria,
o machado brandindo e abrindo em achas
um pau mulato azul, duro de bronze,
batida pelo vento, ela sozinha
no meio da floresta.

Todas essas coisas ressurgiam
e de repente lhe sumiam na memória,
enquanto a casa ruína se fazia
no abandono voraz, capim-agulha,
e o antigo cacaual desenganado
dava seu fruto ao grito dos macacos
e aos papagaios pândegas de sol.

Enquanto minha avó Safira, solitária,
última habitante real da casa,
acordava de madrugada para esperar
uma canoa que não chegaria nunca mais.

Safira pedra das águas,
que me dava a bênção como
quem joga o anzol pra puxar
um jaraqui na poronga,
sempre vestida de escuro
a voz rouca disfarçando
uma ternura de estrelas
no amanhecer do Andirá.

Filho da floresta, água e madeira,
voltei para ajudar na construção
do morada futura. Raça de âmagos,
um dia chegarão as proas claras
para os verdes livrar da servidão.

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Poema perto do fim

A morte é indolor.
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.

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Sugestão


Antes que venham ventos e te levem
do peito o amor — este tão belo amor,
que deu grandeza e graça à tua vida —,
faze dele, agora, enquanto é tempo,
uma cidade eterna — e nela habita.

Uma cidade, sim. Edificada
nas nuvens, não — no chão por onde vais,
e alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito assim que dentro dela caiba
o mundo inteiro: as árvores, as crianças,
o mar e o sol, a noite e os passarinhos,
e sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te suja, o que te transfigura,
teus pecados mortais, tuas bravuras,
tudo afinal o que te faz viver
e mais o tudo que, vivendo, fazes.

Ventos do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão varrendo, vão, vão carregando
e desfazendo tudo o que de humano
existe erguido e porventura grande,
mas frágil, mas finito como as dores,
porque ainda não ficando — qual bandeira
feita de sangue, sonho, barro e cântico —
no próprio coração da eternidade.
Pois de cântico e barro, sonho e sangue,
faze de teu amor uma cidade,
agora, enquanto é tempo.

Uma cidade
onde possas cantar quando o teu peito
parecer, a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde posssas brincar sempre que as praças
que percorrias, dono de inocências,
já se mostrarem murchas, de gangorras
recobertas de musgo, ou quando as relvas
da vida, outrora suaves a teus pés,
brandas e verdes já não se vergarem
à brisa das manhãs.

Uma cidade
onde possas achar, rútila e doce,
a aurora que na treva dissipaste;
onde possas andar como uma criança
indiferente a rumos: os caminhos,
gêmeos todos ali, te levarão
a uma aventura só — macia, mansa —
e hás de ser sempre um homem caminhando
ao encontro da amada, a já bem-vinda
mas, porque amada, segue a cada instante
chegando — como noiva para as bodas.

Dono do amor, és servo. Pois é dele
que o teu destino flui, doce de mando:
A menos que este amor, conquanto grande,
seja incompleto. Falte-lhe talvez
um espaço, em teu chão, para cravar
os fundos alicerces da cidade.

Ai de um amor assim, vergado ao vínculo
de tão amargo fado: o de albatroz
nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do céu e que, entretanto,
no momento de alçar-se para a viagem,
descobre, com terror, que não tem asas.

Ai de um pássaro assim, tão malfadado
a dissipar no campo exíguo e escuro
onde residem répteis: o que trouxe
no bico e na alma — para dar ao céu.

É tempo. Faze
tua cidade eterna, e nela habita:
antes que venham ventos, e te levem
do peito o amor — este tão belo amor
que dá grandeza e graça à tua vida.
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Canto do meu canto

Escrevi no chão do outrora
e agora me reconheço:
pelas minhas cercanias
passeio, mal me freqüento.
Mas pelo pouco que sei
de mim, de tudo que fiz,
posso me ter por contente,
cheguei a servir à vida,
me valendo das palavras.
Mas dito seja, de uma vez por todas,
que nada faço por literatura,
que nada tenho a ver com a história,
mesmo concisa, das letras brasileiras.
Meu compromisso é com a vida do homem,
a quem trato de servir
com a arte do poema. Sei que a poesia
é um dom, nasceu comigo.
Assim trabalho o meu verso,
com buril, plaina, sintaxe.
Não basta ser bom de ofício.
Sem amor não se faz arte.

Trabalho que nem um mouro,
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.
(O barco vai no banzeiro,
meu destino no porão.)

Nada criei de novo.
Nada acrescentei às forma
tradicionais do verso.
Quem sou eu para criar coisas novas,
pôr no meu verso, Deus me livre, uma
invenção.

Pedro Kilkerry (1885-1917)

Sendo o mais jovem desta grandiosa geração de poetas, nasceu Pedro Kilkerry em Salvador (BA), no distrito da Penha a 10 de março de 1885, batizado em 5 de janeiro do ano seguinte, tendo como madrinha D. Maria Inês Teixeira, era descendente de inglês da parte do pai, o engenheiro John Kilkerry, superintendente da Bahia Gás Company Limited e da mestiça alforriada baiana, Salustiana do Sacramento Lima, com quem teve três filhos: João, o mais velho, Pedro, o poeta e Maria da Purificação. Em Salvador, mora com a mãe, avó e irmã na Rua do Cabeça nº 13, onde vivem, por muitos anos, num pequeno quarto, entregue às leituras de Homero, Dante, Shakespeare, Poe, Verlaine, Baudelaire, Rimbaud e outros.

Matriculado no Colégio Sete de Setembro, passou pelo Ginásio da Bahia para estudos preparatórios, época em que trava os primeiros contatos com o grupo da Nova Cruzada, onde estréia em 1906 e colabora por muito tempo. Sobre o poeta, diz Jackson de Figueiredo: “Alto. Magro, feio, feíssimo mesmo, mas de uma feiúra distinta, singular, quase bonita, às vezes, em que como que se distinguia uma luta entre o tipo norte europeu, de que descendia, e o mestiço brasileiro, que ele era”. Já Carlos Chiacchio, ao se referir sobre o homem, o vê como: “Cabeça enorme. Cabelos ruivaços. Implantados em represálias do penteado acima. Branco na pele. Mestiço no pelo. Testa larga, ampla, em arremesos de chapa batida em riste para trás. Orelhas, que se humilham, pequenas e ávidas, como conchas marinhas. Olhos minúsculos, inquietos, rolando entre pálpebras, levemente empapuçadas. Nariz à feitura de seta invertida, direito, firme, descendo a pique, num conflito de raças, entre o aquilino anglo-celta da Irlanda e o emplastrado índio-luso-negróide da áfrica. Boca escancarada de demônio faunesco, rindo um riso largo de marfim sinistro, com serrilha roaz, entre os agudos recuos fortes das comissuras satânicas. Pescoço longo, num deglutido de contínuo engasgo do pômulo de Adão, ainda refeito da última dentada paradisíaca do Éden”.

Tendo ingressado na Faculdade de Direito da Bahia em 1909, recebeu ele o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 9 de dezembro de 1913. O convívio de novas amizades o leva à boêmia e em suas andanças pela província destacava-se pelo seu improviso, pela textura de declamar seus próprios versos. Conforme depoimentos da época, Kilkerry passava noites em claro lendo e escrevendo, possuía uma capacidade inigualável e um interesse diversificado pelos assuntos e uma ânsia de saber cada vez mais, incontrolável. Traduzia do grego, latim, inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e começava a aprender o árabe.
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Após a formatura, Kilkerry vai advogar na cidade de Santo Antonio de Jesus, localizada no Recôncavo baiano, onde mora por algum tempo e divide escritório de advocacia com seu irmão mais velho, João Francisco Kilkerry. Lá, o poeta passa a colaborar em jornais locais.

A presença de Kilkerry no quadro histórico-cultural brasileiro é nítida, e nenhum crítico literário poderá omitir esta sensualidade íntima, não encontrada em nenhum outro poeta desta fase, algo inteiramente novo. Este jovem poeta baiano é o mais simples do grupo, mas excede as previsões, é a criação mais lúcida, a mais celebrada ressonância da época, porque seus contemporâneos estavam imersos em seu clima estético e moral.

O poeta foi o único capaz de abandonar a constelação terrestre, no sombrio elenco poético da época, para viajar e elevar seus movimentos à celebração. Sua lírica é essencialmente metafísica e hermeticamente contundente, representada pela hipérbole do cogito, em busca das ilusões perdidas, seguridade na perfeição e na forma, nascida sob o signo da desconfiança própria, devido aos grandes modelos da literatura francesa vigente. Pedro Kilkerry é um poeta moderno, atual e atuante na nova concepção da poesia, possui uma poética brilhante, rica de inovações e ritmos, estranhamente musical, tão sóbria na sua própria opulência vocabular, onde o poeta é seu próprio limite.

Seus significados se fazem múltiplos, ambicioso na máxima claridade dos novos horizontes, numa espécie de jogo transcendental, vividos dentro de um universo fantasmagórico, transmitindo algo de mistério e de magia verbal. Mas sua ascensão era vista por muitos como horror: boêmio, irresponsável, degenerado, louco,vicioso e decadente; era uma literatura excitadamente enfebrecida, um divórcio entre a arte e o restrito público.

Portador de tuberculose pulmonar, fora o poeta internado no Hospital Santa Isabel, onde se submeteu a uma cirurgia de traqueotomia, realizada pelo cirurgião Heraclio Menezes, acompanhado pelo interno doutorando Francisco Prata, não resistindo, veio a falecer em 25 de março de 1917, às 12 h 30 min, em decorrência de asfixia pulmonar. Seu enterro foi feito por Gustavo Ramos de Cerqueira Lima, amigo da família, saindo o féretro às 10 horas do dia seguinte de sua residência à Rua do Sodré, nº 21 –(2 de Julho), para o cemitério do Campo Santo, tendo seu corpo descansado na carneira nº1020, quadra nº09.

O Hospital Santa Isabel, pertencente à Santa Casa de Misericórdia vivia de doações, estava destinado a atender à população de renda mais baixa e seus funcionários, era de “indigência”. Este quadro mostra-nos em que situação financeira se encontrava o poeta, apesar de trabalhar como 1º escriturário no Tribunal de Contas do estado e possuir escritório de advocacia. O poeta Pedro Kilkerry, morreu aos 32 anos de idade, solteiro, solitário e esquecido.

Há poetas que concitam em vida admiração e os fervores do público, outros, porém, só depois de mortos atraem a atenção para a sua obra. E a este grupo pertence Pedro Kilkerry, que não deixou nenhuma obra editada, mas publicou poemas, prosas, traduções e artigos em jornais (Jornal da Manhã, Jornal de Notícias, A Tarde, Gazeta do Povo, Diário da Manhã (SE) e Jornal Moderno), onde publicou a maior parte de sua prosa, além das revistas da época editadas em Salvador, órgãos simbolistas da segunda fase do movimento existentes na Bahia: (A Voz do Povo, Nova Cruzada – 1901/1911 e Os Annaes – 1911/1914, tendo como precursor o poeta Pethion de Villar (1870-1924), seguidos de Durval de Morais (1882-1948), Francisco Mangabeira (1879-1904), Antonio Viana (1884-1952), Artur de Salles (1879-1952), Pereira Caldas (1884-1922), José Leoni (1882-1959) e Carlos Chiacchio (1884-1947), os quais mais se destacaram nas letras e nas artes da Bahia.

O pouco que se conhece sobre a obra e o poeta “maldito”, já algum tempo revelado, foi escrito pelos dois primeiros biógrafos do poeta. Jackson de Figueiredo, amigo e colega de faculdade, que publicou Humilhados e Luminosos, e Carlos Chiacchio, crítico e poeta modernista que viveu na Bahia, e publicou, primeiramente na seção Homens e Obras do jornal A Tarde, quatro artigos intitulados Pedro Kilkerry, em 1931 e na Revista da Academia de Letras da Bahia nºs 2/3 (1931), 4/5 (1932) e 6/7 (1933). Tais trabalhos ficariam na obscuridade se não fosse a descoberta do crítico Andrade Muricy, que publicou parte dos textos e poemas de Kilkerry in Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro em 1952. E mais tarde (1970), sua redescoberta pela vanguarda concretista na pessoa de um dos seus melhores críticos, pelo espantoso levantamento crítico feito por Augusto de Campos, in ReVisão de Kilkerry.

Ao que se sabe, Pedro Kilkerry deixou pouco mais de trinta poesias e pouco mais de vinte textos em prosa, não muito extensos. Nenhum livro. Foram necessários 100 anos para que o poeta Pedro Kilkerry merecesse o reconhecimento de sua importância literária e tivesse sua obra finalmente resgatada do esquecimento em que se encontrava.

Fonte:
http://www.se.senac.br/ECAFE/materias/fev05/pedrokilkerry.htm

Pedro Kilkerry (O Verme e a Estrela - Ad Veneris Lacrimas - Noturnos - Cetáceo)

O Verme e a Estrela

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz,
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! Ceguei da tua luz?
*********************
Ad Veneris Lacrimas

Em meus nervos, a arder, a alma é volúpia... Sinto
Que Amor embriaga a Íon e a pele de ouro. Estua,
Deita-se Íon: enrodilha a cauda o meu Instinto
Aos seus rosados pés... Nyx se arrasta, na rua...

Canta a alâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto
Acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua.
O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto
Aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.

Ìon treme, estremece. Adora o ritmo louro
Da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava
Finas frechas de luz na cúpula aquecida...

Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...
Mas sua alma – por Zeus! – na água azul doutra Vida
Lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.
*******************
Noturnos

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa...
Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas... Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima...
E a câmara muda. E a sala muda, muda...
Afonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima...

........................................................
E abro a janela. Ainda a lua esfia
Últimas notas trêmulas... O dia
Tarde florescerá pela montanha.

E oh! Minha amada, o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.

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Cetáceo

Fuma. E cobre o zênite. E, chagosos do flanco,
Fuga e pó, são corcéis de anca na atropelada.
E tesos no horizonte, a muda cavalgada.
Coalha bebendo o azul um largo vôo branco.

Quando e quando esbagoa ao longe uma enfiada
De barcos em betume indo as proas de arranco.
Perto uma janga embala um marujo no banco
Brunindo ao sol brunida a pele atijolada.

Tine em cobre o zênite e o vento arqueja e o oceano
Longo enforca-se a vez e vez e arrufa,
Como se a asa que o roce ao côncavo de um pano.

E na verde ironia ondulosa de espelho
Úmida raiva iriando a pedraria. Bufa
O cetáceo a escorrer d’água ou do sol vermelho.

domingo, 27 de julho de 2008

I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará


O Grupo Chocalho promoveu a partir de 25 de julho, Dia do Escritor, às 19 horas, na Academia Ceará de Letras, o I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará

Auriberto Vidal: "Com a cooperativa, o novo processo de produção vai baratear o preço do livro"

Durante o evento - que encerra hoje, domingo - foram debatidos os vários aspectos da literatura cearense. Dois temas mobilizarão o Congresso: a questão do momento literário no Ceará e aspectos da Literatura Feminina no Estado. Os painéis passarão ainda por questões envolvendo a participação do escritor cearense na próxima do Bienal do Livro de Fortaleza e discussões sobre as Leis de Incentivo à Cultura. O Grupo Chocalho lança também a pedra fundamental da futura cooperativa dos escritores do Ceará.

A Comenda Mérito Chocalheiro entregue a vários escritores, poetas e jornalistas. Além disso, o grupo homenageia o jornal Correio da Semana, de Sobral, um dos mais antigos periódicos do Ceará. Na ocasião anunciados, ainda, os vencedores do prêmio Jáder de Carvalho, patrocinado pelo poeta Ary Albuquerque e a IBAP (Empresa Brasileira de Artefatos de Plásticos).

O Grupo Chocalho foi criado em agosto, de 1984 com o objetivo de defender a literatura cearense. No momento de sua criação, os membros do grupo já eram veteranos. Vinham de muitas lutas. Não só literárias, mas também políticas, como a consolidação da Democracia no Brasil. No entanto, o foco maior dos membros da agremiação foi a literatura cearense e seus problemas. Seu estatuto prega, principalmente, a luta contra o colonialismo cultural e a divulgação de uma literatura regional. O Chocalho defende também a democratização do acesso às políticas públicas culturais e luta sempre para o incentivo da leitura e a escrita no nosso Estado.

O coordenador geral do Chocalho, Auriberto Vidal Cavalcante, assinala que o Congresso reunirá vários grupos, entidades e academias dentro de um objetivo único: promover a cultura cearense através da fundação de uma cooperativa de distribuição da rica produção literária cearense. "Temos livrarias - diz - que cobram até 40 porcento sobre a venda de nossos livros". "Com a cooperativa, o novo processo de produção, segundo ele, vai baratear o preço do livro, melhorar a circulação, aumentar a publicação de novos escritores, o que contribuirá, no final, para o aumento de leitores".

Auriberto assinala que atualmente o que existe ainda é muito precário. "Temos os editais, cuja burocracia torna o processo muito difícil para os escritores. E, quando o projeto é selecionado, o escritor ainda tem que buscar, de pires na mão, patrocínio para a publicação do seu livro. São poucos empresário que são sensíveis a questão cultural no Ceará", afirma o coordenador.

O Chocalho é formado atualmente por 22 membros. Além de Auriberto, o grupo tem vários coordenadores em áreas específicas: Alaécio Flor (secretário geral); Carlos Alberto Cavalcante (coordenador de fotografia); Stênio Freitas (coordenador literário) e Lyma Netto (coordenador financeiro. Em São Paulo, o grupo conta ainda com o apoio do poeta Costa Senna e Capristano Cabral. Ambos são membros fundadores do chocalho.


25 de julho, Sexta Feira

Abertura, às 19 horas, Entrega de prêmios aos vencedores do Concurso Jáder de Carvalho. Entrega de Comenda Mérito Chocalheiro.

26 de julho, Sábado

8h30 - A realidade da literatura cearense. Professor Batista de Lima, da Academia Cearense de Letras
10h30 - Aspectos da Literatura Feminina. Beatriz Alcântara, da Academia Cearense de Letras
14h - Frente Parlamentar em Defesa da Cultura no Ceará. Deputado estadual Adial Barreto
15h30 - A Política dos Editais. Membros da Secult.
16h - Edição, Publicação e Distribuição da Literatura Cearense. Auriberto Cavalcante, coordenador do Grupo Chocalho

27 de julho, Domingo

8h30 - Internet e Produção Literária. Membros do Grupo Chocalho
9h45 - Debate sobre os temas apresentados. Elaboração do documento ´Carta de Fortaleza´

Mais informações:

I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará. Palácio da Luz (Rua do Rosário, 1, Centro). De hoje a domingo. Entrada franca.

Fonte:
Colaboração da Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima

19º Concurso de Contos Paulo Leminski

O Concurso de Contos Paulo Leminski, cuja inscrição e participação é gratuita, faz parte do Calendário de Eventos Culturais de Toledo e Unioeste, com repercussão na área cultural e literária da cidade e região; tem como objetivo maior incentivar e estimular o exercício da linguagem escrita e, sobretudo, divulgar a produção literária "conto". A realização do evento é uma atividade conjunta entre a Unioeste - Campus de Toledo - e Prefeitura Municipal de Toledo - ao encargo da Secretaria Municipal de Toledo, através da Biblioteca Pública Municipal. Esse evento tem sido realizado anualmente há mais de dezoito anos, e neste ano ocorre a 19ª edição.

Durante esse período algumas empresas colaboraram e contribuíram para sua realização, mas o investimento quase que total tem sido de ambas as instituições públicas. Do concurso anualmente participam contistas toledanos e paranaenses; outros provêm da grande parte dos estados do país e também escritores do exterior. Além dos três melhores contos, os quais recebem prêmios em dinheiro, não figurando entre os três melhores contos, ao Melhor Conto Toledano é também anualmente dado um prêmio, como forma de incentivar a participação local. Uma banca julgadora, composta por professores, escritores e jornalistas se reúne durante uma semana para a leitura escolha e julgamento dos contos inscritos. A cada ano alguns contos recebem menções honrosas, cujos autores recebem certificados que documentam essa menção. Após a decisão da banca, os contos premiados são divulgados nos Portais da Unioeste e Prefeitura Municipal, na mídia local e mais tarde são reunidos, a cada período de quatro ou cinco anos, numa coletânea. Assim, os escritores de contos premiados, e também aqueles que tenham recebido menção honrosa, têm seus trabalhos publicados num volume.

A realização do concurso de contos há dezoito anos também tem sido uma forma de divulgação da universidade e do Município de Toledo não apenas em nível regional, senão que também nacional e internacionalmente. A iniciativa de criar um concurso de contos surgiu a partir da constatação de que não havia, em Toledo e região, oportunidade para a divulgação de trabalhos literários. Desta forma, em reunião de 08/05/89, Ata nº 03/89, o então Departamento de Letras da UNIOESTE/FACITOL aprovou a criação do Concurso de Contos Paulo Leminski. Já na sua 1ª edição o concurso extrapolou os limites do Município e região atingindo 10 municípios do Estado do Paraná. Na 5ª edição não só ganhou repercussão nacional como também internacional. E na última década são recebidos contos de países da América do Norte, Europa e Ásia. Julga-se de grande importância para a comunidade acadêmica e também para a comunidade de Toledo sua continuidade.

Inscrição: de 09 de maio a 30 de setembro de 2008
Premiação: 22 de novembro de 2008

Informações:
Unioeste - Campus de Toledo - PR - Brasil
Biblioteca Pública Municipal de Toledo - PR
Fone/Fax: (045) 3252-6225
E-mail: biblioteca@toledo.pr.gov.br
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Regulamento para a participação no Concurso

O Concurso destina-se a todas as pessoas interessadas e cada concorrente poderá participar com apenas um trabalho, que ainda não tenha sido premiado em outro concurso. O tema é livre e a inscrição é gratuita.

Consideram-se inscritas as obras entregues sob protocolo ou enviadas pelos correios (com registro A.R.), endereçadas à Unioeste/Campus de Toledo ou à Biblioteca Pública Municipal de Toledo, Paraná.

Unioeste/Campus de Toledo/PR.
R. da Faculdade, 645 CEP 85903-000
Caixa Postal 250 - Toledo - PR

Biblioteca Pública Municipal de Toledo
Av. Tiradentes, 1165 CEP 85900-230
Toledo - PR

O conto deverá ser apresentado em 02 (duas) vias, escrito em língua portuguesa ou espanhola, digitado em espaço 1,5 (um e meio), com fonte Arial, tamanho 12 (doze), de um só lado do papel, e obedecer um limite máximo de 20 (vinte) páginas.

Deverá constar, no interior do envelope que contém o trabalho, um outro envelope menor, contendo em seu interior uma folha na qual constem o título do conto, pseudônimo, nome completo do autor, seu endereço, telefone, R.G., e-mail e grau de instrução. E, na parte externa desse pequeno envelope, deverão constar apenas o pseudônimo do autor e o título do conto.

A comissão julgadora será composta de seis membros de reconhecido nível intelectual, sendo sua decisão soberana e irrecorrível.

Premiação:
Primeiro prêmio
R$ 1.500,00 - (Hum mil e quinhentos reais)

Segundo prêmio
R$ 1.100,00 - (Hum mil e cem reais)

Terceiro prêmio
R$ 850,00 - (Oitocentos e cinqüenta reais)

Quarto prêmio - (Melhor Conto Toledano)
R$ 700,00 - (Setecentos Reais)

NOTA: A eventual premiação de trabalho que já tenha sido premiado em outro concurso implicará na obrigatoriedade de devolução do prêmio pelo respectivo candidato.

A relação dos contos classificados será publicada nos órgãos de imprensa da região. Posteriormente, os contos serão publicados sob forma de coletânea, reunindo os contos premiados e os que tenham recebido menção honrosa. Por ocasião de seu lançamento, os respectivos autores continuarão recebendo um determinado número de volumes em seus endereços residenciais.

Os contos premiados consideram-se propriedade da Unioeste e Prefeitura Municipal de Toledo - Biblioteca Pública Municipal, entidades realizadoras do Concurso de Contos Paulo Leminski para finalidade de publicação da Coletânea de Contos; e aqueles que tenham recebido menções honrosas serão incluídos nessa coletânea mediante cessão de direitos por seus respectivos autores, através de documento legal.

O produto da potencial venda das coletâneas será depositado na conta da Fundação Universitária - Unioeste ou da conta da Associação dos Amigos da Biblioteca Pública Municipal de Toledo e participará integralmente no orçamento dos custos de divulgação e premiação das subseqüentes edições deste mesmo concurso.

O resultado será divulgado na imprensa e na Internet, endereço: http://www.unioeste.br/leminski/ e http://www.toledo.pr.gov.br/ .

O encaminhamento dos trabalhos na forma prevista neste regulamento implica na concordância com as disposições nele consignadas.

Para a devolução dos contos, as despesas de postagem serão de responsabilidade do solicitante, devendo para tanto enviar envelope já selado, constando nele os dados do destinatário. Os contos estarão à disposição de seu autor após a divulgação do resultado do concurso por um período de 30 (trinta) dias. Após este prazo, serão incinerados.

Os casos omissos no presente regulamento serão resolvidos pela Comissão Julgadora.
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Sobre O Concurso
O Concurso de Contos Paulo Leminski, cuja inscrição e participação é gratuita, faz parte do Calendário de Eventos Culturais de Toledo e Unioeste, com repercussão na área cultural e literária da cidade e região; tem como objetivo maior incentivar e estimular o exercício da linguagem escrita e, sobretudo, divulgar a produção literária "conto". A realização do evento é uma atividade conjunta entre a Unioeste - Campus de Toledo - e Prefeitura Municipal de Toledo - ao encargo da Secretaria Municipal de Toledo, através da Biblioteca Pública Municipal. Esse evento tem sido realizado anualmente há mais de dezoito anos, e neste ano ocorre a 19ª edição. Durante esse período algumas empresas colaboraram e contribuíram para sua realização, mas o investimento quase que total tem sido de ambas as instituições públicas. Do concurso anualmente participam contistas toledanos e paranaenses; outros provêm da grande parte dos estados do país e também escritores do exterior. Além dos três melhores contos, os quais recebem prêmios em dinheiro, não figurando entre os três melhores contos, ao Melhor Conto Toledano é também anualmente dado um prêmio, como forma de incentivar a participação local. Uma banca julgadora, composta por professores, escritores e jornalistas se reúne durante uma semana para a leitura escolha e julgamento dos contos inscritos. A cada ano alguns contos recebem menções honrosas, cujos autores recebem certificados que documentam essa menção. Após a decisão da banca, os contos premiados são divulgados nos Portais da Unioeste e Prefeitura Municipal, na mídia local e mais tarde são reunidos, a cada período de quatro ou cinco anos, numa coletânea. Assim, os escritores de contos premiados, e também aqueles que tenham recebido menção honrosa, têm seus trabalhos publicados num volume.

A realização do concurso de contos há dezoito anos também tem sido uma forma de divulgação da universidade e do Município de Toledo não apenas em nível regional, senão que também nacional e internacionalmente. A iniciativa de criar um concurso de contos surgiu a partir da constatação de que não havia, em Toledo e região, oportunidade para a divulgação de trabalhos literários. Desta forma, em reunião de 08/05/89, Ata nº 03/89, o então Departamento de Letras da UNIOESTE/FACITOL aprovou a criação do Concurso de Contos Paulo Leminski. Já na sua 1ª edição o concurso extrapolou os limites do Município e região atingindo 10 municípios do Estado do Paraná. Na 5ª edição não só ganhou repercussão nacional como também internacional. E na última década são recebidos contos de países da América do Norte, Europa e Ásia. Julga-se de grande importância para a comunidade acadêmica e também para a comunidade de Toledo sua continuidade.

Fontes:
http://www.unioeste.br/leminski/
http://www.concursosliterarios.com.br/

Concurso Literário de Crônicas Astra

O Concurso Literário de Crônicas Astra está com inscrições abertas até o dia 22 de agosto. Qualquer brasileiro maior de 21 anos pode participar da seleção, cujo tema escolhido para a produção das crônicas foi o meio ambiente. Os interessados devem se cadastrar pelo site do concurso.

Cada um dos quatro primeiros colocados ganharão um laptop e uma impressora, além de prêmios em dinheiro no valor de R$ 5 mil (1º lugar), R$ 3 mil (2º lugar), R$ 1 mil (3º lugar) e R$ 500 (4º lugar). O quinto colocado receberá um laptop e uma impressora. Os 20 primeiros classificados terão suas obras editadas em um livro com tiragem de 500 exemplares. Cada classificado receberá dez livros.

O concurso tem incentivo do PAC (Programa de Ação Cultural), em parceria com a Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí, Academia Jundiaiense de Letras e Editora In House. O resultado será divulgado a partir do dia 3 de novembro. A premiação acontecerá no dia 21 de novembro, na sede da Astra, em Jundiaí, São Paulo.

Inscrições: de 2 de julho a 22 de agosto de 2008
Premiação: 21 de novembro de 2008
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Regulamento do Concurso Literário de Crônicas Astra

Tema: Meio Ambiente

Das Condições para Participação no Concurso

Art. 1° - Do concurso poderá participar qualquer brasileiro, residente em qualquer estado da federação, desde que com idade igual ou superior a 21 anos, na data da inscrição. A participação implicará a concordância expressa do concorrente com todas as cláusulas desse regulamento.

Art. 2° - Cada participante poderá concorrer com apenas 1(um) trabalho. Não serão aceitos trabalhos em grupo nem textos que já tenham sido premiados em outros concursos.

Art. 3° - Ficam impossibilitados de participar do concurso membros da Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí e Academia Jundiaiense de Letras, bem como a comissão julgadora e seus familiares.

Art. 4° - As crônicas deverão ser inéditas e escritas em língua portuguesa.

Da Premiação

Art. 6° - Serão premiados os 5 (cinco) primeiros classificados.

§ 1º - Dos prêmios:

Os 5 (cinco) primeiros classificados serão premiados da seguinte forma:

1º lugar: R$ 5.000,00 (cinco mil reais) + laptop e impressora.
2º lugar: R$ 3.000,00 (três mil reais) + laptop e impressora.
3º lugar: R$ 1.000,00 (mil reais) + laptop e impressora.
4º lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais) + laptop e impressora.
5º lugar: 01 laptop e impressora.

§ 2º - Edição de livros:

Os 20 (vinte) primeiros classificados terão suas obras editadas em um livro com tiragem de 500 (quinhentos) exemplares e cada classificado receberá 10 (dez) livros, sendo os demais livros distribuídos a critério da Astra.

Parágrafo Único - A tiragem e o formato gráfico e editorial do livro serão estipulados por esta empresa e por se tratar de edição destinada exclusivamente à divulgação das crônicas, os organizadores exoneram-se do pagamento de direitos autorais ou de qualquer outra forma de remuneração dos autores, exceto os valores correspondentes aos prêmios que os cincos primeiros classificados receberão.

§ 3º - O prêmio é pessoal e intransferível, não dando direito a ressarcimento pecuniário e deverá ser retirado, na Astra, dentro de um prazo máximo de 1 mês a contar da data de divulgação dos premiados.

Art. 7 º - A divulgação dos 20 classificados será feita no site da Astra, no endereço eletrônico www.concursodecronicasastra.com.br e em jornais de circulação na cidade de Jundiaí. Os 05 primeiros classificados serão comunicados via e-mail, no endereço eletrônico fornecido no ato da inscrição. Porém a posição dos classificados só será divulgada no evento de premiação.

Da Inscrição e Entrega dos Trabalhos

Art. 8° - A inscrição, de caráter individual, deverá ser completamente preenchida, com endereço válido de e-mail. O e-mail será a única forma que a empresa utilizará para entrar em contato com os vencedores.

Art. 9º - Os textos deverão ser enviados exclusivamente via Internet, no endereço eletrônico www.concursodecronicasastra.com.br, não podendo o mesmo ser alterado, emendado ou substituído.

§ 1º - A crônica não poderá ser assinada nem possuir qualquer marca que possa eventualmente identificar o autor, exceto o número de inscrição, que só será revelado para a comissão julgadora após a eleição das obras.

§ 2º - O limite máximo de cada texto é de 5.000 (cinco mil) caracteres (toques), inclusive com espaço. No campo disponível para a inserção da crônica no site há um contador de caracteres, ou seja, se a crônica estiver maior do que o permitido, a mesma não será aceita.

Do Calendário

Art. 10º - As atividades do concurso obedecerão ao seguinte calendário:

§ 1º – O lançamento será no dia 02/07/2008.

§ 2º - As inscrições serão realizadas no período de 02/07/2008 a 22/08/2008.

§ 3º – Os trabalhos deverão ser entregues no período de 02/07/2008 a 29/08/2008, não sendo aceitos após essa data.

§ 4º - A seleção dos trabalhos será realizada no período de 01/09 a 31/10/2008.

§ 5º - A divulgação de trabalhos classificados será realizada a partir de
03/11/2008, por meio do endereço eletrônico www.concursodecronicasastra.com.br e em jornais. A solenidade de premiação será realizada no dia 21/11/2008, no auditório da Astra.

Art. 11º - A apresentação da inscrição implica a concordância e aceitação de todas as cláusulas e condições do presente Regulamento por parte do candidato.

Art. 12º - As inscrições incompletas não serão aceitas.

Da Comissão Julgadora

Art. 13º - A Comissão julgadora será composta por 08 membros, indicados pela Academia Jundiaiense de Letras (AJL) e Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí (AFLAJ), tendo como critério de escolha pessoas de notório conhecimento e, preferencialmente, mas não excludente, que desenvolvam alguma atividade ligada à literatura, ao jornalismo ou a atividades de cunho cultural.

Art. 15º - Os critérios de julgamento avaliarão a adequação ao tema, criatividade, correção ortográfica e respeito às normas do concurso.

Art. 16º - Não caberá recurso de qualquer espécie em relação às decisões e julgamentos da Comissão Julgadora.

Das Considerações Finais

Art. 17º - Ao entregar a crônica, os concorrentes renunciarão aos direitos autorais da mesma em favor da Astra S/A Indústria e Comércio.

Art. 18º - Os autores dos 20 trabalhos selecionados declararão pelo simples ato de inscrição que seus trabalhos não constituem plágio de espécie alguma devendo conceder à Astra S/A Indústria e Comércio o direito exclusivo de uso de seus trabalhos, sob qualquer forma e modalidade, publicação e/ou reprodução por qualquer meio ou técnica, sem limite de prazo, tiragem e/ou território.

Art. 19º - Os 05 (cinco) primeiros colocados deverão comparecer pessoalmente à premiação, sem ônus de qualquer espécie para esta empresa, arcando com eventuais despesas de deslocamento, hospedagem ou qualquer outro custo.

Art. 20º - Não haverá, em nenhuma hipótese, devolução das crônicas concorrentes.

Art. 21º - Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos pelos organizadores deste concurso, sendo essas decisões soberanas e irrecorríveis.
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O Que é uma Crônica?

A crônica é uma “historinha” baseada no cotidiano. No caso do Concurso Literário de Crônicas da Astra esse cotidiano deverá estar relacionado ao meio ambiente. Para participar do concurso, você deverá escrever um texto de, no máximo, cinco mil caracteres, com uma “historinha” que poderá ser narrada em primeira ou terceira pessoa. Você deve promover um diálogo com o leitor ou entre os personagens da sua história.

O importante é que o estilo da escrita da crônica faça com que você apresente uma visão totalmente pessoal da situação atual do meio ambiente, de forma simples e espontânea.

Exemplo de crônica

A outra noite
Rubem Braga

Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.

Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim:

-O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?

Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.

-Mas, que coisa...

Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.

-Ora, sim senhor...

E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.

Fontes:
http://www.concursosliterarios.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=249

Casa das Américas (XLVIII edição do seu Prêmio Literário 2009)

A Casa das Américas convoca para o ano 2009 à XLVIII edição do seu Prêmio Literário. Nesta ocasião poderão concorrer autores do Brasil com livros publicados em português nos anos 2007 e 2008 (primeira edição), nos gêneros de ficção. Os autores brasileiros que concorram este ano deverão reger-se pelas seguintes:

BASES

1. Poderão ser enviados livros nos gêneros de romance, conto e poesia, escritos em português, publicados nessa língua, em primeira edição, durante os dois últimos anos (2007-2008).

2. Poderão participar autores brasileiros, naturais ou naturalizados.

3. Os autores deverão enviar um exemplar do livro concursante. Não poderão enviar mais de um livro por gênero, nem participar em um gênero no qual tenham obtido o Prêmio Casa das Américas depois de 2000.

4. Se outorgará um prêmio único e indivisível, que consistirá em 3000 dólares ou seu equivalente na moeda nacional, e a publicação da obra pela Casa das Américas, se não estiver comprometida com outra editora de língua espanhola. Serão concedidas menções se o jurado as considerar necessárias, sem que isso implique recompensa ou comprometimento editorial por parte da Casa das Américas.

5. A Casa das Américas se reserva o direito de publicação daquela que será considerada a primeira edição em espanhol da obra premiada, até um máximo de 10 000 exemplares, ainda que se trate de uma co-edição. Tal direito compreende não apenas evidentes aspectos econômicos, mas também todas as características gráficas e outros aspectos da mencionada primeira edição.

6. As obras deverão ser enviadas à Casa das Américas (3ra. y G, El Vedado, La Habana 10400, Cuba), ou a qualquer das Embaixadas de Cuba, até 31 de outubro de 2008.

7. Os jurados se reunirão em Havana em fevereiro de 2009.

8. A Casa das Américas não devolverá os originais concursantes. A Casa das Américas anuncia, uma vez mais, a convocatória para seus prêmios de caráter honorífico. Os referidos prêmios (José Lezama Lima, de poesia; José María Arguedas, de narrativa; e Ezequiel Martínez Estrada, de ensaio) serão outorgados a uma obra relevante nos referidos gêneros, publicada em espanhol, por um autor de nossa América, nos anos 2007 e 2008. As obras concursantes, em lugar de serem enviadas pelos autores, serão indicadas por um Comitê de nomeação criado para essa finalidade.

Prêmios Casa de las Américas (literatura brasileira)

2001- Walter Galvani: Nau Capitania. Pedro Álvares Cabral, como e com quem
começamos (biografia)

2003- João Almino: As cinco estações do amor (romance)
Fabio Weintraub: Novo endereço (poesia) Prêmio Casa de las
Américas-Embaixada do Brasil

2004- José Murilo de Carvalho: Cidadania no Brasil: O longo caminho (ensaio)

2005- Alberto Mussa: O enigma de Qaf (romance)

2006- Ricardo Rezende Figueira: Pisando fora da própria sombra. A escravidão por dívida no Brasil contemporâneo (ensaio)

2007- Ana Maria Gonçalves: Um defeito de cor (romance)

2008- Carlos Walter Porto-Gonçalves: A globalização da natureza e a natureza da globalização (ensaio)

Mais informações pelo e-mail: cil@casa.cult.cu

Fonte:
http://www.concursosliterarios.com.br/

Jorge de Lima (1893 - 1953)

Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.

Era filho de um comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.

Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.

Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos da América.

Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Para Ivan Junqueira, a Academia cometeu uma imperdoável injustiça com o autor, cujo trabalho literário foi excepcionalmente bem recebido pela crítica e pelo público. O acadêmico não acredita que o poeta tenha transitado à margem da literatura de seu tempo e, afirma, quando se refere ao maior poema do autor - Invenção de Orfeu, "...até hoje, transcorridos mais de 50 anos de sua publicação, não há poeta brasileiro que dele não se lembre."

Os textos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou estilos diversos como o parnasiano, o o regional o barroco, o religioso. Na sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se reportando a um tema ou uma situação específica, ao tocar em injustiças sociais que mudaram pouco desde o início da civilização e quando escreve sobre as grandes dúvidas de todos nós, "...da miséria humana, da tentativa de superação de nossas amarras e de nossas limitações.", explica o poeta e jornalista Claufe Rodrigues, leitor voraz de Jorge de Lima.

Ítalo Moriconi, poeta e professor de literatura brasileira na Uerj, autor, entre outros, de Como e por que ler a poesia brasileira do século XX, ao analisar a obra de Jorge de Lima (contrariamente à Ivan Junqueira quanto a questão de o poeta não ter alcançado fama por conta de sua obra ser, em parte, muitas vezes hermética e comprometida com o catolicismo), não acredita na hipótese de que a questão religiosa tenha atrapalhado a carreira do poeta: "Como poeta religioso Jorge de Lima nunca produziu nada com a qualidade de um Murilo Mendes em "Poesia liberdade". O lugar canônico de Lima vem dos sonetos, da sua primeira poesia modernista e, sobretudo de Invenção de Orfeu.".

Moriconi afirma que a maioria dos professores de letras não conhece bem nem Murilo Mendes nem Jorge de Lima e toca num ponto fundamental para a pouca visibilidade do poeta: "...como levar um poeta tão complexo a um currículo básico de graduação? "(...)Quem os conhece, mesmo quando os amam, como é o meu caso, hesitam em substituir um daqueles quatro por esses dois.", referindo-se aos poetas Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e João Cabral de Melo Neto.

A obra de Jorge de Lima apresenta múltiplas facetas. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:

a) XIV alexandrinos apresenta versos ainda ligados ao Parnasianismo. Nesse livro aparece o poema "O acendedor de Lampiões", de grande aceitação popular.

b) O mundo do menino impossível e Poemas registram recordações da infância ao lado de poemas de cunho regionalista.

c) Novos poemas tem o negro e o folclore como assuntos principais. O poema analisado - "Essa negra Fulô" - está neste livro.

d) Tempo e eternidade, obra em que Jorge de Lima contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista.

e) Poemas negros, de 1947, reúne dezesseis poemas já editados em livros anteriores e 23 novos poemas, estes apresentando, através de deuses africanos, uma espécie de história do negro no Brasil.

f) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo. Nessa obra o poeta utiliza fragmentos de epopéias clássicas, como a Divina comédia, a Eneida e Os Lusíadas, ou ainda O paraíso perdido e a própria Bíblia. Ligando trechos dessas obras através do processo da colagem, Jorge de Lima produziu um poema de linguagem extremamente complexa, de compreensão difícil para quem não conhece as obras de onde foram extraídos os fragmentos que compõem o poema.

A carreira poética de Jorge de Lima apresenta uma evolução contínua, fazendo que se possa dividi-la em três momentos ou fases. A primeira – e a de menor importância – se estabelece a partir de rígidos princípios parnasianos. A segunda é a fase nordestina por se vincular ao universo regional alagoano. E a terceira é a fase religiosa, já que o autor impregna seus poemas de conteúdos místicos e metafísicos.
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A FASE NORDESTINA
Esta fase resulta, no plano formal, da aproximação de Jorge de Lima das conquistas técnicas dos modernistas paulistas, em especial da adoção do verso livre, o que ocorreu em meados da década de 1920. No plano temático, o poeta entre em sintonia com as proposições do Manifesto regionalista, elaboradas por Gilberto Freyre, que defendia uma arte mais localista, voltada para expressão da velha realidade rural do Nordeste. Assim, os poemas que escreve nesta época tem como assunto nuclear a realidade existencial, cultural e histórica das camadas populares do Nordeste.

O universo popular aparece envolto em certo tom nostálgico, identificado de alguma maneira com o mundo dos engenhos decadentes ao qual o poeta historicamente pertencia. Algo similar ao que ocorreria, alguns anos depois, na ficção memorialista de José Lins do Rego. Em geral, Jorge de Lima registra liricamente o saber, as crenças e os aspectos pitorescos de um universo ainda não homogeneizado pelo avanço da modernização capitalista. Um universo onde ainda há lugar para entidades míticas como se vê no poema Diabo brasileiro:
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro, dente-de-ouro, botija, onde está?
Credo, capeta, pé-de-pato!
Diabo brasileiro quero saber quando dá

a dezena do carneiro?
Enxofre, botija, galinha preta!
Credo em cruz, capeta, pé-de-pato!
Capeta, dente-de-ouro, tome galinha preta,
quero dormir com a Zefa!
Capeta, bode preto, quero dormir com a Zefa! (...)
....
Dentro desta fase nordestina pode-se inserir ainda um conjunto de poemas afro-brasileiros em que o poeta celebra a cultura negra, seus ritmos, sua religiosidade, seus costumes e até mesmo sua história através da evocação, por exemplo, de Zumbi dos Palmares: “Aqui não há cangas, nem troncos, nem banzos! / Aqui é Zumbi! / Barriga da África.” Estes motivos associados à poderosa musicalidade e à capacidade de criação de imagens de Jorge de Lima fazem com que tais criações tenham um significativo encanto, ainda que a ótica que embasa os referidos poemas seja sempre a de um homem branco.

Entre todos os textos do autor alagoano há um que se tornou antológico: Essa negra fulô. Mesclando a lembrança dos engenhos com a violência do escravismo e com a sensualidade de algumas escravas, Jorge de Lima produz o retrato (ao mesmo tempo cruel e erótico) de uma época.

Poesias
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)

Romances
O anjo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.culturatura.com.br/
http://educaterra.terra.com.br
/

Jorge de Lima (Anjo Daltônico - O Acendedor de Lampiões - Caminhos de Minha Terra - Essa Negra Fulô - Invenção de Orfeu XXIX)

Anjo daltônico

Tempo da infância, cinza de borralho,
tempo esfumado sobre vila e rio
e tumba e cal e coisas que eu não valho,
cobre isso tudo em que me denuncio.


Há também essa face que sumiu
e o espelho triste e o rei desse baralho.
Ponho as cartas na mesa. Jogo frio.
Veste esse rei um manto de espantalho.


Era daltônico o anjo que o coseu,
e se era anjo, senhores, não se sabe,
que muita coisa a um anjo se assemelha.


Esses trapos azuis, olhai, sou eu.
Se vós não os vedes, culpa não me cabe
de andar vestido em túnica vermelha.
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O Acendedor de Lampiões

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: —
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!
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Caminhos de Minha Terra

Caminhos inventados por quem não tem pressa de ir-se embora,
Pelos que vão à escola.
Pelos que vão à vila trabalhar.
Pelos que vão ao erto.
Pelos que deixam a terra como eu deixei um...
Pelos que levam quem se despede da vida que é tão bela...
À minha terra ninguém chega: ela é tão pobre...
Dizem que tem bons ares para os tísicos —
mas os tísicos não vão lá: é tão difícil de ir-se lá...
Caminhos de minha terra onde perdi
os olhos e os passos da meditação...
Caminhos em que os ceguinhos e aleijados podem
ir sem os olhos e sem pernas: eles não atropelam
os pobrezinhos.
Alguém quer partir e eles dizem:
uma pitanga, uma ingá e dão tudo,
cajus, pitombas araças a todos os meninos do lugar.
Caminhos que ainda têm orvalhos e sonâmbulos bacuraus,
e tem ninhos suspensos nas ramadas.
Ali perto, na Curva do Encantado
onde mataram de emboscada um cangaceiro,
há uma cruz de pitombeira...
Quem passa joga uma pedra,
reza baixinho: "Padre nosso que estais no céu
santificado seja o vosso nome
venha a nós...
Aquela cruz do cangaceiro é milagrosa
já me curou dum puxado que
eu peguei na escola da professora —
minha tia Bárbara de Olivedo Cunha Lima —
Mundaú ! — soube depois
que quer dizer rio torto.
Quem te inventou Mundaú, das minhas lavadeiras seminuas,
dos meus pescadores de traíras? —
Mundaú! — rio torto — caminho de curvas,
por onde eu vim para a cidade
onde ninguém sabe o que é caminho.
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Essa Negra Fulô
.
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô
ficou loco pra mucama,
para vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô
Ó Fulô! Ó Fulô !
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou."
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?
— Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô
Ó Fulô ? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou.
Ah! foi você que roubou.
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
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Invenção de Orfeu XXIX

Não há atividade mais fiel
Que a de pintar em cores a ilha.
Como os efeitos não persistem
Devo chorar muito depressa.
A espátula corre sobre a tela,
Nascem raízes sobre a terra,
Os corpos ficam cor-de-barro,
Vou enterrá-los sem pincel.
Composição desordenada
Fica ao crepúsculo colossal;
E tudo agora se encorpora
Ao horizonte vegetal.
Há todavia luz nas cores
Para que as veja saturadas
Nesse crepúsculo verde-negro.
Musgos nascendo de repente,
Eras passando nesse espaço.
A proporção é desmedida,
Enche as distâncias desoladas
Cobre as estrelas nunca fixas,
Muda a paisagem cada tarde,
A luz informa fósseis vivos,
Vulcões mastigam rochas neutras
Pondo lacunas nas criaturas.
Meu crescimento é sem limites,
Há conseqüências tenebrosas
Mas já não bastam nostalgias
Pois sobem asas assombradas,
Predecessores exilados
Jazem de borco em marés baixas.
Essa maneira é mais contínua,
Mais luxuriante e mais devassa;
Novos rigores instalados,
Climas diversos sublevados,
Outros tetardos massacrados,
Vários "cromagnons" enforcados,
Particularmente danados.
Ó dura legenda incendiada,
Ó palimpsestos humanados!
Esse o imensíssimo poema
Onde os outros se entrelaçaram,
Datas, números, leis dantescas,
Início, início, início, início,
Poema unânime abrange os seres
E quantas pátrias. Quantas vezes.
Poema-Queda jamais finado
Eu seu herói matei um Deus
Genitum non factum Memento.
Não sou a Luz mas fui mandado
Para testemunhar a Luz
Que flui deste poema alheio. Amen.
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Fontes:
COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I.
BECKER, Idel (org.). "Humor e Humorismo", Editora Brasiliense - São Paulo, 1961.

http://www.nilc.icmc.usp.br/
http://www.releituras.com

Antonio Carlos Secchin (1952)

Sétimo ocupante da Cadeira nº 19 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 3 de junho de 2004, na sucessão de Marcos Almir Madeira e recebido em 6 de agosto de 2004 pelo acadêmico Ivan Junqueira.

Antonio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro em 10 de junho de 1952. Filho de Sives Secchin e de Victoria Regia Fuzeira Secchin. Até os 6 anos morou em Cachoeiro de Itapemirim. Desde 1959 reside no Rio de Janeiro.

É Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982). Professor de Literatura Brasileira das Universidades de Bordeaux, (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999) e da Faculdade de Letras da UFRJ, onde foi aprovado (1993), por unanimidade, com nota máxima, em concurso público para professor titular.

Orientou 19 dissertações de mestrado, 12 teses de doutorado e 2 pesquisas de pós-doutorado. Participou de 115 bancas de pós-graduação, no país e no exterior.

Conferências, palestras, mesas-redondas e comunicações: Total de 234, em 16 estados brasileiros e nos seguintes países: Argentina, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Israel, Itália, México, Portugal e Venezuela.

Membro de 33 editorias ou conselhos, no Brasil e no exterior, sobretudo de periódicos de investigação literária.

Total de 15 prêmios nacionais, destacando-se:
1.o lugar, categoria “ensaio”, do Instituto Nacional do Livro (1983);
Prêmio Sílvio Romero, da Academia Brasileira de Letras, 1985, ambos para João Cabral: a Poesia do Menos;
Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional (2002);
Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (2003);
Prêmio Nacional do PEN Clube do Brasil (2003), atribuídos a Todos os Ventos como melhor livro de poesia.
Membro titular de PEN Clube do Brasil, eleito em 1995:
Medalha Cruz e Sousa, do Governo de Santa Catarina (1998);
Medalha João Ribeiro, da União Brasileira de Escritores (1999);
Medalha Carlos Drummond de Andrade, da União Brasileira de Escritores (2002);
Membro Honorário da Academia Cachoeirense de Letras, Cachoeiro de Itapemirim (2004);
Medalha do Mérito da Imprensa de Pernambuco, da Associação da Imprensa de Pernambuco (2005).
Na ABL foi eleito Diretor Tesoureiro (8.12.2005) para a Diretoria de 2006 e nomeado Diretor da Comissão de Publicações (sessão de 4.5.2006).

Bibliografia

Crítica e Ensaio

- João Cabral: a Poesia do Menos. São Paulo: Duas Cidades, 1987. 2.a ed. rev. ampliada. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
- Poesia e Desordem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
- Cruz e Sousa, o Desterro do Corpo. Florianópolis: Assembléia Legislativa, 1998.
- Um Mar à Margem: o Motivo Marinho na Poesia Brasileira do Romantismo. Florianópolis: Museu/Arquivo da Poesia Manuscrita, 2000.
- Escritos sobre Poesia & Alguma Ficção. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.
- Memórias de um Leitor de Poesia. Rio de Janeiro: Setor Cultural/Faculdade de Letras da UFRJ, 2004.
- A Interminável Música. Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: Setor Cultural / Faculdade de Letras da UFRJ, 2004.

Poesia

- A Ilha. Rio de Janeiro: edição do autor, 1971 (plaquete fora do comércio).
- Ária de Estação. Rio de Janeiro: São José, 1973.
- Elementos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
- Diga-se de Passagem. Rio de Janeiro: Ladrões do Fogo, 1988.
- Poema para 2002. Rio de Janeiro: Cacto Arte e Ciência, 2002 (livro-objeto fora do comércio, tiragem de 50 exemplares).
- Todos os Ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
- Movimento (novela). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, 1975.

Divulgação cultural
- Guia dos Sebos. 4.a ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/SABIN/FBN, 2003.

Participação em antologias

- 26 Poetas Hoje. Rio de Janeiro: Labor, 1976, pp. 101-105. 2.a ed. 1998, Aeroplano.
- A Poesia Fluminense no Século XX. Rio de Janeiro: FBN/Imago; Mogi das Cruzes: UMC, 1998, pp. 252-255.
- 41 Poetas do Rio. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998, pp. 103-114.
- 100 Anos de Poesia. Rio de Janeiro: O Verso Edições, 2001, vol. II, pp. 194-195.
- Seleção de Meus Poemas Líricos Favoritos, org. K. Tadokoro. Osaka: Kinjydo, 2004, pp. 37-8.
- Poesia Portoghese e Brasiliana, org. Luciana Stegagno Picchio. Roma: La Biblioteca di Repubblica, 2004, p. 777-9.
- Poesía Brasileira Hoxe. Santiago de Compostella: Danú Editorial, 2004, pp. 257-264.
- Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 29.

Artigos, ensaios, resenhas, prefácios, crônicas, contos e poemas
Mais de 322 publicações, em livros e nos principais periódicos do país (O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) e do exterior (Colóquio Letras e IberoRomania).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras
http://www.academia.org.br

Antonio Carlos Secchin (A ainda pouco lida poesia de Jorge de Lima)

Quando duas pessoas falam do escritor Jorge de Lima, é certo que estejam se referindo à mesma pessoa, mas dificilmente estarão falando do mesmo poeta. Com efeito, o artista alagoano, cujo centenário de nascimento passou quase despercebido em 1995, representa, na literatura brasileira, a imagem do poeta em contínua mutação. Parnasiano medíocre e bem-comportado nos XIV alexandrinos (1914), regionalista na primeira onda do modernismo com Poemas (1927), Novos poemas (1929) e Poemas escolhidos (1932), místico-universal a partir de Tempo e eternidade (1935, co-autoria de Murilo Mendes), cosmogônico e barroco em Invenção de Orfeu (1952), Jorge de Lima - falecido em novembro de 1953 - sobreviveu a todas as transformações a que submeteu a própria obra e permanece hoje como um dos poucos poetas fundamentais da literatura brasileira do século 20.

Seu valor, no entanto, esteve longe de constituir consenso. Quatro vezes bateu à porta da Academia Brasileira de Letras e quatro vezes saiu de lá como simples mortal. Só no ano de 1937 tentou duas vezes: na primeira, perdeu de Barbosa Lima Sobrinho. Na segunda, por acabrunhantes 18 x 5, o vencedor foi outro poeta de constantes metamorfoses, o paulista Cassiano Ricardo. Àquela altura, Jorge de Lima há muito (desde 1930) deixara Alagoas, de onde viera ungido pelo epíteto de ''príncipe dos poetas'', e se estabelecera no Rio com fama de bom médico e de bom escritor. Já contabilizava dez títulos publicados, de poemas, ensaios e romances - dentre esses a tentativa surrealista de O anjo (1934) e a incursão engajada de Calunga (1935), texto que Otto Maria Carpeaux definiu como ''neonaturalista'' e que representou o namoro de Jorge de Lima com os princípios estéticos e ideológicos do ''romance de 30'', merecendo o livro, et por cause, intensos elogios de Jorge Amado.

Academia à parte, não foram poucos os louvores ao vate alagoano, provindos de nomes da expressão de um Mário de Andrade, de um Gilberto Freyre, de um Roger Bastide. Em 1939 veio a lume A poesia de Jorge de Lima, do crítico português Manuel Anselmo, entusiasmada leitura de Jorge com ênfase no arcabouço cristão que atravessava sua obra desde Tempo e eternidade. A partir daí, sucedeu um fenômeno curioso: avolumou-se a fortuna crítica do poeta, mas continuou rarefeita a circulação de sua poesia, confinada em edições quase clandestinas (algo análogo ocorreria com o grande ''amigo em Cristo'' Murilo Mendes).

Somente em 1949 foi publicada sua Obra poética (editora Getúlio Costa), organizada por Otto Maria Carpeaux e englobando dez livros em alentadas 659 páginas. Outra compilação de tal porte surgiria apenas em 1958, através da Obra completa (editora Aguilar), anunciada em dois volumes, dos quais apenas o primeiro, contendo a poesia e alguns ensaios, foi efetivamente impresso. Contos, teatro e romance continuam à espera de quem os reúna.

Aquilo que, para alguns, poderia soar como oportunismo - as metamorfoses do poeta, de acordo com o ar dos tempos - parece corresponder, em Jorge, a efetivas mutações de foro existencial, a partir de contínuas reflexões acerca do papel da arte e do artista. Isso, evidentemente, não isenta o poeta de certos equívocos, como bem assinalou Antônio Rangel Bandeira no arguto Jorge de Lima - o roteiro de uma contradição (São José, 1959). O ensaio, fugindo do tom laudatório, assinala como determinadas ambigüidades surgem não pelo confronto das fases do poeta, mas no interior de cada uma das etapas. Assim a representação do negro: intensíssima no período regionalista, oscilaria, no entanto, entre pólos de atração e repulsa, entre o endosso da miscigenação e o registro de certas reservas mais ou menos veladas a esse mesmo processo.

Num outro plano, também poderíamos apontar a discrepância entre o hermetismo de seu testamento poético, a Invenção de Orfeu, e o juízo condenatório da incomunicabilidade artística proferido por Jorge meses antes de publicar o poema. Mas, para além dessas incoerências (e será a coerência o melhor critério para avaliar a poesia?), importa ressaltar a contribuição radical de Jorge de Lima para a formação e a consolidação da linguagem poética de nossa modernidade. Minimizemos a fase parnasiana, cuja luz só nos chega, esmaecida, através dos versos do famoso soneto O acendedor de lampiões; detenhamo-nos na deliciosa exuberância rítmica de Essa negra Fulô; apreciemos, na guinada do plano telúrico para o místico, a inventividade lírica de peças como Distribuição da poesia e Amada, vem, de Tempo e eternidade; admiremos o exemplar domínio e a revitalização da forma fixa no Livro de sonetos (1949), antes de nos abeirarmos desse turbilhão de altíssimos e baixíssimos que é Invenção de Orfeu - texto de mais de 11 mil versos com enorme dispêndio verbal para, às vezes, alcançar culminâncias de expressão poética, a exemplo de navios que, como disse em outro contexto o próprio Jorge de Lima, gastam uma tonelada de carvão para recolher dois ramos de orquídeas.

Deve o leitor, portanto, preparar-se para uma árdua travessia, caso se disponha a percorrer toda Invenção de Orfeu, obra recém-reeditada com excelente prefácio do escritor Cláudio Murilo. Mas, se de um lado, o poeta adverte ''Não procureis qualquer nexo naquilo/ que os poetas pronunciam acordados'', de outro - o lado de quem embarca na aventura da poesia - sua voz ressoa em suave comunhão: ''Irmão que vindes, se sois também poeta/ eu tenho para vós inda uma rosa''.

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 03/08/2005

Fontes:
Academia Brasileira de Letras.
http://www.academia.org.br
http://www.bmsr.com.br (foto)

Antonio Carlos Secchin (Poesia Completa, de Cecília Meireles: a edição do centenário)

Quando, em 2002, comecei a organizar a edição de poesia comemorativa do centenário de nascimento de Cecília Meireles, julgava que seria uma boa oportunidade para enfrentar certos problemas que há bastante tempo persistiam nas diversas reuniões de sua obra poética já a partir da primeira delas, de 1958, da José Aguilar, a única publicada em vida de Cecília, e provavelmente supervisionada pela própria escritora.

Reza a boa norma que a melhor lição textual é a da última publicação em vida do autor; por esse critério, bastaria reimprimir a obra de 1958, a ela acrescentando algum material inédito, postumamente localizado. Mas já neste primeiro passo nos defrontamos com várias dificuldades: Cecília excluiu da coletânea seus três primeiros livros (voltaremos ao assunto mais tarde), incluiu um (Giroflê Giroflá) escrito em prosa e, muito provavelmente, não fez a revisão do texto, que, embora em geral correto, em alguns casos introduz erros inexistentes nas edições princeps.

Esclareço, de início, que não tive acesso a originais manuscritos ou datiloescritos de Cecília; de acordo com depoimento de familiares, a escritora costumava bater a maquina seus poemas e não se preocupava em conservar o registro deles em arquivo pessoal. Assim, fui levado a valer-me unicamente de material impresso, a saber, as edições originais, suas reedições, e uma série de textos esparsos em periódicos. Por outro lado, em auxílio de minha tarefa, logo percebi que, diversamente do que ocorre com boa parte dos poetas, Cecília não modificava seus textos: uma vez publicados, ela já os considerava em versão definitiva. Por isso as discrepâncias textuais podem, sem grande risco, ser atribuídas a erros de impressão, alguns evidentes, como a presença de uma “quadra” de três versos, outros mais sutis, como a troca de um vocábulo por um substituto que também faz sentido. Mas, uma vez que várias alterações se deram somente nas edições post-mortem, apenas uma intervenção mediúnica poderia respaldá-las, e preferi permanecer na esfera terrena, não obstante Cecília definir-se como uma “pastora de nuvens”…

Retornemos à edição de 1958. Era composta de 12 livros de poesia, de Viagem (1939) ao Romance de Santa Cecília (1957), um livro de prosa (o citado Giroflê Giroflá) e de uns poucos inéditos, vários dos quais viriam a integrar, pouco depois, obras avulsas lançadas ainda em vida da autora. Abria o volume um alentado ensaio de Darcy Damasceno, que foi dos mais devotados estudiosos da poeta. Uma sucinta fortuna crítica, além de bibliografia ativa e passiva da autora, também integrava a edição. Apesar da colaboração de Cecília, patente, por exemplo, no fato de lhe haver sido atribuída a seleção de inéditos, a coletânea, como dissemos, registrava erros, que se foram tornando mais graves e numerosos nas edições subseqüentes, quando então, após a morte da escritora, no melhor dos casos as novas compilações apenas repetiriam os equívocos pregressos, e no pior, conforme acabou ocorrendo, elas aumentariam o rosário de equívocos.

Em 1967, vem a público a segunda edição da Obra poética, em formato menor, com a eliminação do texto em prosa e o acréscimo dos títulos que a autora publicara entre 1958 e o ano de seu falecimento, 1964. Em meio a esses títulos foi inserido um conjunto de dispersos e, na seção final, abrigaram-se 21 poemas inéditos. É de se indagar por que, na organização do volume, o bloco de dispersos se intrometeu entre as obras editadas autonomamente em livro.

A terceira edição, de 1972, repete a estrutura da anterior, suprimindo, todavia, a seção de inéditos, que fora sensivelmente ampliada em 1967.

O maior acréscimo de textos deu-se a partir de 1973, quando, pela Civilização Brasileira, Darcy Damasceno começa a editar em 9 volumes as Poesias completas de Cecília, num notável esforço de pesquisa, sem que, todavia, houvesse ganho análogo na qualidade textual ou no critério de organização. Os 5 primeiros volumes seguiram uma seqüência cronológica que se inicia em 1939, com Viagem, e finda em 1964, com a Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam do Rio de Janeiro. O número 6, porém, retrocede aos anos 20, misturando material nunca publicado (Morena, pena de amor) a 2 livros lançados, respectivamente, em 1923, Nunca mais, e 1925, Baladas para El-Rei, e nessa edição de 1973 pela primeira vez reeditados. Nos volumes 7 e (parcialmente) 8, desfila, sem informação de procedência, uma longa série de poemas não incluídos em livro. Tais textos se agrupam em tripartição cronológica algo arbitrária: I) bloco de 1942/1949; II) de 1950/1959; III) de 1960/1964. Ora, o único marco temporal explicitamente consignado por Cecília refere-se ao ano de 1939, tendo como baliza a publicação de Viagem: o período anterior seria, digamos, de textos “preparatórios” à sua maturidade artística. Ainda no volume 8, após o bloco 1960/1964, surge um livro em esboço, Sonhos, com poemas datados desde 1950, espraiando-se até 1963. O volume 9 congrega outros projetos que não receberam os retoques finais da poeta, a exemplo dos Poemas de viagem, que se abrem com texto de 1940. Portanto, assistimos nesta edição a um substancial crescimento do corpus poético de Cecília, mas não suficientemente valorizado pelos critérios (ou, et pour cause, pela ausência deles) no modo de ordená-lo. Igualmente a registrar a supressão do ensaio crítico e da informação bibliográfica que acompanhavam as coletâneas precedentes.

Em 1994, surge, sob responsabilidade de Walmir Ayala, a quarta edição da Aguilar, incorporando todo o material coligido por Damasceno. Walmir optou por uma divisão em duas partes: na primeira ficaram os livros publicados a partir de Viagem; na segunda entraram os textos enfeixados nos volumes finais da série de Darcy, ou seja, os poemas avulsos, os primeiros livros e os não concluídos, com o acréscimo de Cânticos, que, escrito nos anos 20, só veio a lume tardiamente, em 1982.

Por fim, em 1997, a Nova Fronteira lança, em 4 volumes, a Poesia completa de Cecília Meireles, valendo-se basicamente da lição textual de Damasceno, endossada por Ayala.

Passo, agora, a expor, de modo sintético, algumas das características da nova edição, a do centenário.

O texto foi minuciosamente revisto. Detectei nas compilações anteriores mais de 300 erros, desde os mais simples, como os ortográficos, até os menos óbvios, como a inversão de estrofes, além de certas “atualizações” que mascaravam a historicidade dos poemas; por exemplo: a utilização de maiúsculas no início de verso era a prática de Cecília nos anos 20, e não há registro dela nas reedições desses primeiros livros. A voz límpida da poeta vez por outra era turvada pela intervenção de revisores e tipógrafos distraídos.

No que tange ao aparato crítico, a nova edição vem enriquecida de três excelentes contribuições: o longo estudo introdutório de Miguel Sanches Neto, o resumo biográfico a cargo de Eliane Zagury e a seleta fortuna crítica comentada por Ana Maria Domingues de Oliveira. No denso e inédito ensaio de abertura, “Cecília Meireles e o tempo inteiriço”, Miguel analisa toda a produção poética da autora, demonstrando como lhe foi possível ser moderna sem necessariamente ser “modernista”. Eliane tece um quadro preciso e abrangente da vida de Cecília. Ana Maria, meticulosa e competente pesquisadora da bibliografia crítica ceciliana, fornece um precioso roteiro do que de melhor se escreveu sobre a poeta.

Resta abordar uma questão, talvez a mais polêmica: que tratamento dispensar aos livros iniciais, excluídos por Cecília da edição de 1958? E como lidar com as obras planejadas, mas que não chegaram à estampa durante a vida da autora? Vimos que, até aqui, esse material era enfeixado no segmento final dos volumes que passaram a abrigá-lo, desde 1973. Optamos por outra solução: na parte 1 da nova edição, comparecem todas as coletâneas – publicadas ou esboçadas – na seqüência tanto quanto possível rigorosa da cronologia de sua escrita, o que não corresponde necessariamente à cronologia de publicação: basta que se recorde o citado Cânticos, produzido na década de 20 e lançado mais de 50 anos depois...Assim, o leitor poderá acompanhar, com clareza, o início e o desdobramento do processo criador de Cecília, sem que sejam suprimidos ou aninhados numa espécie de apêndice-limbo os primeiros passos dessa longa caminhada através de 26 obras. Na parte 2, entrou apenas, ordenada temporalmente, a matéria dispersa, de natureza assistemática, não concebida pela autora como peça integrante de livro. Em suma: parte 1, Cecília em livros (editados ou projetados); parte 2, Cecília fora de livros; em ambos os casos, a poeta em sua historicidade de escrita.

Quanto a Espectros, sua obra de estréia em 1919, há mais de 80 anos dela não se tinha notícia. Publicada (provavelmente às custas da autora e em diminuta tiragem) após Cecília formar-se pela Escola Normal do Rio de Janeiro, trazia um prefácio de Alfredo Gomes, professor de português da instituição e à época prestigioso gramático. Fazendo jus ao nome, a obra tornou-se fantasmagórica: nunca reeditada ou sequer localizada, sobre ela correu a lenda de que, afinal, nem teria existido. Contra essa suposição depõe um breve artigo de João Ribeiro, bastante simpático ao livro, e publicado em O Imparcial, de 18 de novembro de 1919, em que vaticina um belo futuro para a jovem estreante. Mas o fato é que já em Nunca mais, de 1923, inexiste qualquer menção a Espectros, e em nenhum outro momento, ao que se saiba, Cecília voltou a referir-se a seu primeiro livro, diversamente do tratamento reservado às obras de 23 e 25, que, mesmo excluídas da coletânea de 1958, sempre figuraram como itens “autorizados” da bibliografia da autora. Nunca mais e Baladas para El-Rei revelam uma poeta de qualidade, mas ainda sem timbre individualizado, e bastante afeita à ortodoxia do simbolismo – uma artista, sem dúvida, aquém do salto qualitativo que se materializaria em Viagem (1939) , a ponto de a autora, em 1958, abrir com esse livro sua Obra poética. Mas, se a história “oficial” e “ideal” de Cecília começa em Viagem, o pesquisador e o leitor curioso hão também de indagar por sua “pré-história”. Desses primórdios, duas peças (Nunca mais e Baladas) já estavam disponíveis, com a vantagem adicional, na edição do centenário, de se estamparem com a reprodução das capas originais desenhadas por Fernando Correia Dias, primeiro marido da escritora. Talentoso e requisitado artista plástico de origem portuguesa, foi o responsável pelas ilustrações de vários livros da primeira fase de Cecília, e sua importante parceria com a esposa e com outros autores do período ainda não foi suficientemente enfatizada pelos historiadores.

Ainda faltava, todavia, o elo perdido, o texto primordial, verdadeiro espectro a povoar a insônia dos bibliófilos e dos arqueólogos literários. Finalmente, após numerosas buscas nos sebos e em bibliotecas públicas e particulares, tanto no Brasil quanto em Portugal, consegui, graças à generosa colaboração de um bibliófilo, localizar um exemplar do livro, que a nova edição restituirá à memória da poesia brasileira, décadas após seu – supostamente irreversível - desaparecimento. Com Espectros, será revelada uma nova e insuspeitada face de Cecília, de acentuada fatura parnasiana. A obra é formada por um conjunto de 17 sonetos rimados, em decassílabos ou alexandrinos, e que, em sua maioria, evocam celebridades da história universal e da religião católica. Vejam, a seguir, como a estreante Cecília elaborou sua versão da figura mítica de Joana d’Arc:

Firme na sela do ginete arfante,
Da coorte na vanguarda, ei-la às hostis
Trincheiras que galopa, delirante,
Fronte serena e coração feliz.

Sob os anéis metálicos do guante,
Os dedos adivinham-se viris,
Que sustêm o estandarte palpitante,
Onde esplende a dourada flor-de-lis.

Rica de sonhos, crença e mocidade,
A donzela de Orléans, no seu tresvário,
De mística, na indômita carreira

Sorri. Nenhum tremor a alma lhe invade!
E, entanto, o olhar audaz e visionário
Já tem clarões sinistros de fogueira!...

Eis um poema bem construído, em nada inferior à média do que produziam os nossos neoparnasianos no ambiente cultural pré-1922. Os demais sonetos de Espectros mantêm esse nível. Porém, a satisfação com a descoberta do livro fez-se acompanhar de uma dúvida: seria lícito reeditar uma obra que a autora, segundo tudo leva a crer, preferiu omitir de seu trajeto? A solução, quem sabe, poderia ser sua inclusão em apêndice, mas tanto a editora quanto os descendentes de Cecília foram favoráveis a que Espectros, ao contrário, abrisse a edição do centenário, não apenas pela importância da redescoberta de um livro dado como perdido de um de nossos maiores poetas, mas para que se mantivesse o critério de ordenação cronológica do material. Além disso, não se tratava de versos refugados em fundo de gaveta, mas de uma coletânea efetivamente publicada – e que em algum momento, portanto, correspondeu à “verdade literária” de Cecília, mesmo que essa verdade tenha mudado, e para melhor. Assim, a opção foi, de um lado, não sonegar a obra ao conhecimento público, e, de outro, enfatizar que Espectros deve ser lido em seu devido contexto e com as ressalvas aqui expostas – obra de juventude, sob vários aspectos ante(ou anti)ceciliana, mas de extraordinário valor documental.

Essas foram as linhas gerais do trabalho. Agora, é esperar que o esforço despendido tenha sido capaz de restituir do modo menos imperfeito possível a grandeza poética de Cecília Meireles.
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Fonte:
Revista Agulha. Revista de Cultura # 37 - Fortaleza, São Paulo - janeiro de 2004. Disponível em http://www.secrel.com.br/