domingo, 22 de fevereiro de 2009

José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue (1946)



Tudo começou há 55 anos, exatamente no dia 22 de julho de 1946, em São Paulo, quando Ryoki nasceu de mãe portuguesa e pai japonês. Formou-se em medicina em 1970 e largou-a em 1986 para tornar-se escritor, editando seus pocket-books, sob nada mais, nada menos, que 39 pseudônimos, por exigência de seus editores. Sua grande especialidade na época foi o estilo policial, onde as tramas apresentavam muita ação, espionagem e traições. Porém, jamais deixou de escrever sobre um tema que sempre o apaixonou: o faroeste. Suas novelas de banguebangue são verdadeiros filmes que prendem o leitor da primeira página à última, de tal forma que algumas montadoras de automóveis proibiam seus empregados de entrarem na fábrica com esses livros pois eram capazes de abandonar a linha de produção enquanto não terminassem completamente a leitura.

Foi também editor e redator dos periódicos Farol do Sul Capixaba (Piúma/ES), Notícias do Japão (1992-93/SP), International Press (1993-94/SP - Tóquio), O Riso do Corujão (1996-97/Campos do Jordão); das revistas Amazônia (1992/Giparaná - RO), Letra Verde (1997-98/Campos do Jordão) e Vertente (1997/São José dos Campos - SP) e cronista de diversos jornais e publicações, por seis anos.

Quando chegou à marca dos mil livros, com a obra E Agora, Presidente? (prefaciado pelo jornalista Alexandre Garcia), Ryoki decidiu-se por uma mudança em sua carreira literária, abandonando os livros de bolso e passando a escrever romances maiores, publicados com seu próprio nome. Seus temas são simplesmente tudo, a vida, o cotidiano, os debates sociais, histórias de gente comum e de gente não tão comum.

Em 1992, fez o lançamento de seu livro A Bruxa na Bienal Internacional do Livro (SP). Um outro marco na vida do autor foi a publicação, em 1993, no Japão, de seus livros Conexão Perigo: São Paulo-Tóquio, O Preço do Tráfico, Operação Amazônia e Sempre há Esperança, voltados para o público nipobrasileiro residente naquele país. Já no ano seguinte, implantou o Pólo Editorial de Pocket Books para a América Latina, em Piúma (ES).

Seu nome já foi objeto de matérias em importantes publicações e programas de TV, como a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Valeparaibano, Gazeta de Vitória, A Tribuna, revistas Veja, IstoÉ e Manchete, no Brasil; Portugal Diário, revista Lire e Culture, na França; Der Spiegel, na Alemanha; Wall Street Journal (matéria de capa), nos USA; e várias outras publicações ao redor do mundo; programas Jô Soares - Onze e Meia (SBT) Globo Repórter e Fantástico (Rede Globo), e foi entrevistado pela Radio Culture de Paris e pela Nippon Televison Network, de Tóquio, entre outros.

Ao ver Ryoki no Guinness Book, Matt Moffett, jornalista americano do Wall Street Journal, teve sua curiosidade despertada para o processo de criação do escritor, querendo ver pessoalmente para crer, como alguém poderia produzir histórias de sucesso em tão pouco tempo. Assim, lançou um desafio ao escritor e aportou em São José dos Campos (onde Ryoki morava na época), no final de janeiro de 1996. Uma semana depois, Moffett contou como nasceu o livro de Ryoki Inoue - Seqüestro Fast Food, elaborado em uma noite, mais precisamente das 23h30 às 4h - num dos jornais mais famosos do mundo.

Com 1.060 livros, de seu próprio punho, publicados, sua produção compulsiva não parava nunca. Chegou a escrever três romances por dia, trabalhando madrugadas a dentro. Hoje a marca é de 1076.

Para ele, o segredo do processo criativo está em noventa e oito por cento de suor, um por cento de talento e um por cento de sorte. Além disso, disciplina e aplicação é o que faz com que ele consiga ficar sentado diante de seu computador e daí não saia antes do the end de sua nova obra.

Ryoki continua a escrever: está produzindo vários romances, faz trabalhos como ghost writer para pessoas famosas e para empresas, escreve roteiros e, com o objetivo de aperfeiçoar seus conhecimentos no campo da espionagem — obviamente para melhor criar seus romances — dedica-se à pesquisa e ao estudo da Inteligência Competitiva, fazendo inúmeras traduções de livros, artigos e teses para empresas desse ramo. Atualmente, o objetivo de Ryoki é produzir um romance por ano, no máximo dois.

Formado médico pela USP, especialista em Cirurgia do Tórax, Ryoki deixou a medicina em 1986 para se tornar escritor.

Em pouco tempo, dominava 95% dos pocket books publicados no Brasil: escreveu 999 novelas em seis anos, entre estórias de faroeste, guerra, policiais, espionagem, amor e ficção científica.

Quando, em 1992, sugeriu aos seus editores uma melhora na apresentação gráfica dos livros de bolso brasileiros, espantou-se com o pouco caso que eles todos manifestaram quanto ao seu projeto. Não interessava a nenhum editor melhorar a qualidade gráfica e literária dos livros que produziam e muito menos de competir em nível internacional.

Abandonou, então os pockets para se dedicar a livros maiores, mais elaborados e com maior qualidade gráfica.

Só que Ryoki se deparou com um outro problema: nenhuma editora brasileira tinha fôlego para publicar e distribuir sua fenomenal produção: uma média de seis novos títulos por mês. Ninguém é de ferro e, por fim, Ryoki cansou-se desse ritmo alucinante. Ele, então, decidiu reformular seus objetivos e durante esse intervalo de tempo, Ryoki não deixou de escrever: produziu vários romances, trabalhou como ghost writer para pessoas famosas e para empresas, escreveu roteiros e, com o objetivo de aperfeiçoar seus conhecimentos no campo da espionagem — obviamente para melhor criar seus romances — dedicou-se durante três anos à pesquisa e ao estudo da Inteligência Competitiva e fez inúmeras traduções de livros, artigos e teses para empresas desse ramo. Atualmente, o objetivo de Ryoki é produzir um romance por ano, no máximo dois.

Devido à sua intensa e extensa produção literária, desde 1993, Ryoki Inoue figura no International Guinness Book of Records, como o homem que mais escreveu e publicou livros em todo o planeta.

Fonte:
http://www.ryoki.com.br/biografia.htm

José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue (O Sebo )



Pouco maior que uma quitanda e quase tão sujo quanto uma peixaria malcuidada, este estabelecimento comercial não deixa de ter seu encantamento, sua poesia.

Todo o mobiliário se resume a uma escrivaninha em que o proprietário faz suas anotações, duas cadeiras ordinárias e montanhas de livros espalhadas pelo meio da loja, empilhadas pelos cantos, que sobem pelas paredes formando uma decoração caótica e complicada. Em todos os montes são desrespeitados os princípios mais elementares do equilíbrio e vê-se claramente que não há a menor preocupação com a estética. Aliás, não é mesmo possível adotar qualquer ordem de arrumação, pois os volumes, cada um diferente do outro em tamanho, cor e forma, não permitem tal luxo.

E há um certo aroma no ar! Sim, pois assim como uma quitanda ou uma peixaria tem seus cheiros característicos, esta loja também tem o seu: é um cheiro de mofo, de poeira misturada com nicotina e papel velho. Pode ser que seja o inferno para os asmáticos, mas conheço muitas pessoas que adoram essa mescla de estranhos perfumes... Entre elas há até as que dizem que esse é o cheiro da verdadeira intelectualidade.

Estamos num sebo, numa loja de livros usados, de segunda ou mesmo de enésima mão.

Já pela simples disposição das mercadorias, vemos que é absolutamente impraticável toda e qualquer operação de limpeza.

Faxina, então, nem pensar! Imaginem ter de levar tudo aquilo parra algum lugar para se poder passar um pano no chão! Varrer, apenas varrer, já é uma tarefa complicada e arriscada, pois seria muito fácil misturar com o lixo diversos opúsculos e livretos que jazem pelo assoalho em completa intimidade com pontas de cigarro, papéis de bala, palitos de fósforos queimados e muitas outras coisas ainda bem menos nobres e poéticas. Isso, é claro, sem falar do perigo de se esbarrar numa avultada pilha de enciclopédias, mal equilibrada sobre um dicionário, e causar um monumental desastre... Há até o risco de morte. A morte sob o peso do conhecimento!

Encontrar, especificamente, uma obra ali? Tarefa totalmente impossível. Nessa loja, compra-se aquilo que o acaso faz cair nas mãos. Lobato está ao lado de Eça que, por suas vez, está por cima de Montaigne, que, inexplicavelmente, está apoiado em Rousseau — que se encontra frente a frente com Byron. O positivismo se avizinha do tomismo e Kant se deixa montar por Sartre e por Baudelaire. James Joyce disputa um instável lugar com Hemingway, enquanto Jorge Amado e Simone de Beauvoir empurram Thomas Mann para uma posição perigosa.

Sorrindo, vemos que inimigos mortais em vida se encontram agora lado a lado, deitados juntos, placidamente instalados. Talvez em seus túmulos, eles estejam remexendo, cheios de revolta...

Fontes
http://www.ryoki.com.br/sebo.htm
Imagem = http://www.overmundo.com.br/

Paulo Afonso Ramos (Velhice)

Velho com cachimbo (Rodrigo Quaresma)
Parei à porta do destino, por tantas ruas que andei e com tantas pessoas me cruzei em gestos impensados e com palavras agridoces, que nem dei pelo tempo passar...

Sempre acreditei que um dia, longínquo dia, eu te encontraria. Sempre te vi como um destino para lá de Marte e nem sequer questionei a minha loucura ...

Oh! Louco de emoção, por estar à tua porta, por estar contigo, num tempo quase parado e em que me sobra quase tudo ... apenas me falta a agilidade do meu corpo torneado de outros tempos ...

Nem sei se foi o destino que se cruzou com a minha velhice ou se foi ao contrário, nem sei se posso almejar o futuro.

Hoje interiorizei a tua imagem de sapiência e de cautela disfarçada, agarrei o teu silêncio na bravura desse espaço suave ... hoje comecei um novo ciclo.

Agora, deixa-me desfrutar os momentos. Deixa-me mesmo que não queiras ...

Fontes:
In Programa Lugar Aos Outros. http://www.truca.pt/raposa_textos/
Pintura = http://blog.oxys.com.br/

Natália Bonito (Poemas Avulsos)



Natália Bonito, uma jovem com 21 anos, natural de Canhas, uma povoação da freguesia da Ponta do Sol, na Madeira. É, atualmente, finalista do curso de Economia, na Universidade da Madeira. Escreve desde os 12 anos, sendo em 2005, com 18 anos, apoiada pela Câmara Municipal da Ponta do Sol, na edição do seu primeiro trabalho de poesia, intitulado “Amor do meu Viver”.

No passado dia 27 de Setembro foi lançado o seu segundo livro, intitulado “A Janela deste Mar”, com a chancela da Corpus Editora. Está já a preparar outro livro de poemas que terá como título “Quatro Dimensões”.

É desta obra o primeiro poema intitulado “Inspiração”..
Inspiração

Vejo-te na sombra de um abraço,
Procuras a relatividade perdida
Na noite infinda de cansaço
Noite de entrega jamais esquecida.

Vejo-te presa no meu regaço
Sequiosa, floras a excitação prometida
Em beijos tocados no compasso
Da sinfonia foragida.
Vejo-te na dimensão deste espaço
Onde te rasgas despida
Para gáudio do aplauso
Desta miragem suicida.

Vejo-te nua, poética passo a passo
Por entre a penumbra desta descida
Que ampara cada pedaço
Desta visão entorpecida.
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Apaixonantes sensações

Arde em mim a sensação
Dos minutos sem fim
Como se tudo fosse inspiração
Doce, com sabor a jasmim,
Como se eu fosse alma e coração
E tu pedaço de mim.

Clamo a evidência perfeita
Dos abraços ancorados
Na submissão desfeita
Pelo poder dos corpos suados
Que em cada palavra eleita
Oferecem poemas amados.

Olho o infinito da escuridão
Nesta noite de calmaria,
E sonho com a tua mão
Estendida na periferia
Do meu latente coração
Num gesto de sintonia.

Por instantes, sinto o teu respirar
Bem perto da liberdade
Que a minha mente teima em traçar
Com purpurina e vaidade
Na esperança de ver chegar
O momento da feliz verdade.

E vejo-te, ao longe, a sorrir…
Aproximas-te com lentos passos
Regateando as flores por abrir
Com gestos delicados e rasos
Que fazem lembrar notas a cair
Na pauta musical dos abraços.

És tu, apaixonante,
A vida do meu respirar;
És tu, meu amante,
Alma límpida por amar,
Rosto marcante
Que teima em ficar.
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Ingrata submissão

Regresso à existência
Inexistente deste abraço
Como se a clemência
De cada passo
Não fosse mais que veemência
Inculto cansaço
Vil desobediência.

Sigo as pinceladas
Do quadro pintado à beira mar
Onde as ondas apaixonadas
Quiseram beijar
As pedras encharcadas
Das palavras por poetizar
Rudes ausências demoradas.

E mais uma vez regresso ao seguimento
Da curvatura lembrada
Nos céus do firmamento
Onde a lua ancorada
Dançou ao sabor do vento
Uma dança recusada
Sem desculpa ou argumento.

Sigo com o espírito calado,
A alma cede e é só escuridão
No resquício rasgado
Do meu coração
Despedaçado
Pela ingrata submissão
De ser apaixonado.
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Estrofes solitárias

O silêncio derruba a sensação
De ser verso descoberto
Na estrófica dimensão
Deste poema aberto.

Sinto as alvíssaras prometedoras
A derrubar
As pontes ameaçadoras
Do verbo criar.

Sozinha,
Choro a angústia do tormento
Grito o desalinho da frieza
Espero encontrar o alento
Desejo libertar a tristeza.

Sozinha,
Creio na sepultura dos incrédulos
Anseio um céu bem maior
Invento a loucura dos belos
Finjo ser primavera do amor.
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Não engano meu coração

Entra em mim uma imprópria vontade...
Somente um grito por gritar
Engana minha triste saudade;
Somente uma noite por chegar
Acalma o fulgor da idade.
Sempre acreditei na luz da vida,
Brinquei às paixões fulminantes
E na brincadeira, esquecida,
Deixei à nora meus amantes...
Agora meu castigo é chorar,
Chorar uma inocência perdida,
Uma pureza que não mais quer voltar:
Fugiu sem alma, nem vida,
Juntamente com aquele amar...
E não engano meu coração,
Porque sou eu quem mais ama:
Sou eu amor e paixão,
Fogo que queima a própria chama...

in A Janela deste Mar
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Fugaz eternidade de viver

Cerca-me uma fugaz eternidade!
A aura celeste perde-se
Em ritos de bela vaidade
Que ofuscam o interior
Da mais singela cidade
Construída com amor
E muito pesar da idade...
Eu também teria nesta procura
Um insensato querer,
Uma réstia de loucura,
Um fogo que teima em arder
Mas que muito não dura,
Pois morrer é viver
Uma manhã mais escura...

Adriana Falcão (O homem que só tinha certezas)

Nem o homem feliz de Maiakovsky nem o homem liberto de Paulo Mendes Campos, resolvi imaginar outra improbabilidade. Digamos que aparecesse agora, justo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, mais exatamente, bem aí na sua frente, um homem que só tivesse certezas.

O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito "Consultor de tudo" e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.

Fonte:
FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. SP: Ed. Planeta do Brasil, 2003.

Adriana Falcão (1960)



Solidão é uma ilha com saudade de barco
(Adriana Falcão)

Roteirista e escritora brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro, e mudou-se para Recife aos 11 anos de idade. Teve uma história de vida trágica: o pai suicidou e a mãe, um tempo depois, tomou uma dose fatal de comprimidos para dormir.

Formada em Arquitetura, logo após formar-se voltou para o Rio de Janeiro junto com João Falcão, seu marido, que se mudou para lá a fim de fazer teatro. Lá começou a escrever os diálogos, e os atores começaram a gostar de seus diálogos e a usá-los nas peças. Nunca exerceu a profissão de arquiteta, pois logo descobriu sua vocação para a literatura.

Seu primeiro livro, voltado para o público infantil, "Mania de Explicação", teve duas indicações para o Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio Ofélia Fontes — "O Melhor para a Criança"/2001, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 2002, publicou "Luna Clara & Apolo Onze", seu primeiro romance juvenil. Seu romance "A Máquina" foi levado aos palcos por João Falcão. Na televisão, Adriana colaborou em vários episódios de "A Comédia da Vida Privada", "Brasil Legal" e "A grande família", todos da Rede Globo. Adaptou, com Guel Arraes, "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, para a TV, posteriormente levado ao cinema.

Outros livros da escritora:“Pequeno dicionário de palavras ao vento” (2003); “A tampa do céu” (2005)-ilustrações de Ivan Zigg e, em conjunto com outros escritores,”Histórias dos tempos de escola: Memória e aprendizado” (2002); “Contos de estimação” (2003); “A comédia dos anjos” (2004); “PS Beijei” (2004); “Contos de escola” (2005); “O Zodíaco – Doze signos, doze histórias” (2005); “Tarja preta” (2005); "Sonho de uma noite de verão" (2007) e "Sete histórias para contar" (2008).

Fontes:
http://www.releituras.com.br/
http://pt.wikipedia.org/
http://www.pensador.info/

Entrevista com Adriana Falcão


Por: Gabriela Cuzzuol em 25 de julho de 2007.

Os detalhes da trajetória de Adriana Falcão, são tão diferentes que poderiam ter sido extraídos de um de seus livros de ficção. Carioca, criou-se em Recife e voltou para o Rio, quando, depois de se formar em arquitetura resolveu passar a vida fazendo algo de que gostasse, ou seja, escrever. Embrenhou-se pelo universo da publicidade, até que Guel Arraes, diretor humorístico, pegou um de seus textos e resolveu utilizá-lo em teatro. Tempos depois, os dois adaptariam para TV e cinema, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que acabaria sendo um divisor de águas do cinema nacional.

Mais uma vez, fez o “caminho inverso” , tendo se firmado primeiro como roteirista, cronista e então embarcando para literatura. .Em 15 anos de carreira são 13 livros, 2 adaptações para cinema, uma peça de teatro e três séries para TV, entre as quais A Grande Família no ar há 7 anos e quarta maior audiência da emissora .

Nesta entrevista Adriana fala de sua trajetória, planos futuros e de “Sonhos de Uma Noite de Verão”, adaptação de Shakespeare “bem abrasileirada” assinada por ela:

Gabriela Cuzzuol: Você é arquiteta. Como enveredou pela literatura?

Adriana : Bem, para começar eu detestava muito arquitetura, não tinha nada a ver. Aí conheci o João, que largou o curso e foi fazer teatro. Fui com ele, mudamos para o Rio e eu comecei a escrever diálogos. Os atores de teatro gostavam e começaram a usar em peças.

Gabriela Cuzzuol: Já imaginava poder viver de arte?

Adriana Falcão: De forma nenhuma. Para qualquer menina brasileira era inimaginável viver qualquer forma de arte, imagine para uma que vivia em Recife! Eu sou carioca, mas fui criada lá! Então, trabalhava como redatora publicitária e me considerava bem feliz por poder ao menos, viver de escrever! O João (Falcão- esposo e sócio de Adriana),começou a trabalhar com isso profissionalmente encarando, inclusive as dificuldades da profissão. Eu,
colaborava, mas vivia de publicidade.

Gabriela Cuzzuol: Sim. E da redatora a roteirista...

Adriana: Pois é. Fui convidada a escrever umas crônicas para a “Veja São Paulo”, entre 1994 e 95. O Guel (Arraes) gostou e pediu para usar. Paralelamente, o João trabalhava com teatro e os atores gostavam dos diálogos que eu escrevia. Então foi assim. Até hoje sou especialista em diálogos, Na “Grande família” por exemplo, é essa a minha maior função e quando tenho que fazer adaptação para roteiro trabalho com um roteirista do lado.

Gabriela Cuzzuol: E com o Guel Arraes você adaptou “O Auto da Compadecida” ?

Adriana: Sim, foi. O Guel é um grande amigo e fizemos boas coisas juntas. Acho inclusive que um texto meu ter caído nas mãos dele, foi uma grande sorte minha.

Gabriela Cuzzuol: E o desenvolvimento da sua carreira passa pela do João Falcão, seu marido?

Adriana: Sim, sem dúvida. Fizemos e ainda fazemos muitas coisas juntas. A adaptação da “A Máquina” para teatro é dele a para cinema foi a parceria, a “Comédia da Vida Privada” e “A Grande Família” também No momento estamos adaptando o meu livro “A Comédia dos Anjos” para cinema . Somos casados há 19 anos e muito próximos.

G.C: Adriana, ainda falando de cinema, em sua opinião se fazem poucos filmes no Brasil?

Adriana: Pouquíssimos. Acho que nós estamos vindo de um período negro no cinema nacional, anos e anos sem produção nenhuma, estamos recomeçando todo um trabalho. João e eu sempre estivemos muito próximos a todo o processo de produção de filmes, no ‘A Máquina” por exemplo acompanhamos tudo bem de perto, e acho inclusive que o processo se parece bastante com o de Tv.

G.C: E isso é ruim?

Adriana: Não necessariamente. Existe esse preconceito de que diretor de TV não pode fazer cinema porque fica com cara de TV e isso não tem nada a ver. O cara que está ali fazendo TV há 20 anos tem todo um conhecimento técnico que pode e deve ser aproveitado. O Jorge Furtado, tem como elemento básico no currículo a experiência em Tv. O Guel também agrega as duas coisas e tal...acho isso muito válido. São inclusive dois grandes diretores, que juntam as experiências em veículos diferentes.

G.C:Ainda tratando de cinema, você acha que faltam roteiristas?

Adriana: Faltam , sobretudo bons . Acho que como passamos muitos anos sem produzir cinema, só agora as pessoas estão se interessando em estudar roteiro, aprender a fazer , se interessando mais aprimorar , investindo nisso. Eu acho que falta um pouco de formação, ou melhor que a formação é algo recente. O Guel costuma dizer que difícil no cinema brasileiro não é diretor, mas roteirista. Não é todo dia que eu olhe um roteiro e ache realmente surpreendente. É difícil de encontrar.

G.C: você as chances para estes novos roteiristas? Está mais difícil começar?

Adriana: Nossa, muito. É muito complicado porque você tem que dar sorte. Eu sinto as vezes que as pessoas têm até certa má vontade em ler um roteiro de alguém que está começando, sabe? Você tem que contar com a sorte de fazer um bom contato, de o roteiro cair nas mãos certas,e aí vai... Eu costumo dizer que tive muita sorte na vida, conhecer o Guel inclusive foi uma delas...
Eu não estaria aqui hoje se não fosse por sorte.

G.C:Então você acha que era o seu caminho?

Adriana: Tenho certeza de que em todo o caminho o importante é a persistência.Se você quer, se acredita, batalha porque um dia vai.
Como eu coloquei, há a necessidade de novos roteiristas.Na “Grande Família” trabalhamos com uma equipe de 7 pessoas que vieram da Oficina da Globo e tem dado muito certo.

G.C: O mercado de cinema necessita de maior produção?

O mercado precisa de mais produção, o país tem que filmar mais. Eu acho um prazer ler roteiro de iniciante porque é bom você ver algo novo, diferente, então leio tudo o que cai na minha mão e acho que não é favor.E tem ainda a ver com minha filosofia de “devolver a vida o que ela me deu”. Acho que tenho muita sorte não apenas no profissional, mas também no pessoal, tenho duas filhas lindas, um casamento bacana, uma profissão que amo. Então tenho mais é que me sentir honrada em poder ser gentil com as pessoas, ... não acho que seja favor não. Acho que o nosso cinema precisa de novidade, o nosso país precisa de gente nova , preparada e boa fazendo cinema.

G.C: E falando de literatura Adriana, você acaba de lançar uma releitura de Shakespeare. Como surgiu a idéia?

Adriana: A Editora Objetiva me ligou e falou que tinha o projeto “Devorando Shakespeare”,pelo qual eu, Veríssimo e Jorge Furtado adaptássemos as obras que preferíssemos do autor. Aí, fiquei nervosa duas vezes: primeiro por ser tratar de Shakespeare, segundo por estar ao lado do Veríssimo e do Furtado, que são dois ídolos para mim!
Eu pensei: Nossa, olha a responsabilidade! Vão digitar Veríssimo, Furtado e Shakespeare na Internet e lá estarei eu, ao lado deles! E para piorar, eu não sou profunda conhecedora da obra dele, há outros autores que conheço bem, mas ele não!
Gosto e tudo, mas sei o básico.

G.C:E como foi a opção pelo “Sonhos de uma Noite de Verão”?

Adriana: Pois é, eu gosto muito de realismo fantástico, aquela coisa meio Gabriel García Marques, Vargas Llosa e tal...
Então, pensei em fazer o “Sonhos” por ter essa coisa meio mágica, meio surreal, de quatro noites que parecem uma e no fim é tudo um sonho.

G.C:E a idéia da estória se passar no Carnaval da Bahia, foi simples?

Adriana: Não, foi bem complicado. A idéia da Objetiva era de adaptar o roteiro para uma realidade bem brasileira , então eu pensava, pensava, até que achei que esse negócio de quatro noites que parecem uma poderia acontecer no Carnaval da Bahia.

G.C: Já esteve lá?

Adriana: Sabe que nunca! Ouço falar, os artistas vão e me contam e acho até que nós vemos tanto pela TV que nem precisa ir para saber como é (risos)...

G.C: O “Sonhos...” ironiza essa cultura de celebridades. Coincidentemente, você e João Falcão não são comumente vistos na mídia. É temperamento ou opção?

Adriana: Acho que os dois. Eu sou mais caseira, até porque ando trabalhando demais e quando tenho um tempinho, prefiro curtir a família, reunir os amigos em casa e tal...
João é mais de tocar um violão, confraternizar aqui mesmo. É mais a nossa...

G.C: No Comédia dos Anjos (seu best seller) , você trata das relações familiares. Acha que isso manifesta um traço cultural latino?

Adriana: Totalmente. Eu e João estivemos na França, enquanto fazíamos a adaptação do livro para cinema, e reparamos em como essa relação é diferente lá. Essa coisa do filho em casa aos 30 anos chega a incomodar os pais...Aqui nós choramos quando eles vão embora.

G.C:Ainda falando sobre o “Comédia...”, você diz que ele foi inspirado na sua mãe. São pessoas que te inspiram ou vem mais de situações diversas?

Adriana: Olha tem umas pessoas bem engraçadas que acabam por ser referência.
Tenho um cunhado por exemplo, de quem me lembro quanto estou escrevendo o Agostinho da “Grande Família”. Tipo, ele não tem aquele estilo malandrão, meio irresponsável...mas o jeito “figura” do Agostinho é todo dele. Algo que vi na rua, algo que me contaram...na hora de escrever, vai tudo!

G.C: Você tem livros publicados para o público infantil e infanto-juvenil. Resolveu escrever para este filão por achar que há carência de mercado ou sua forma de narrativa tem elementos que facilitam o contato com esse público?

Adriana: Olha, eu acho que o mercado infanto-juvenil tem uma produção muito pequena. Há muitas coisas para crianças e adultos, mas poucas para aquele período entre uma fase e outra. Mas também acho que meu estilo de escrever tem essa característica de reinventar as coisas, repensar...isto facilita tudo, as coisas mais simples.

G.C: E os próximos projetos, quais são?

Adriana: Bem, João e eu adaptamos para cinema o “Comédia dos Anjos”, que está em fase de produção e terá a Marieta (Severo) como protagonista . Se tudo der certo será lançado em 2008. Estou terminado uma oficina de diálogo, no Teatro Poeira no Rio, que me demandou bastante energia. No fim do mês, quero tirar uns 10 dias para me concentrar apenas na “Grande Família” e depois pensar em futuro com calma.

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/overblog/entrevista-com-adriana-falcao

IV Coletânea de Poesia, Conto e Crônica de Canoas (RS), prorroga inscrição até 20 de Março.


A CASA DO POETA DE CANOAS realizará a 4ª edição de sua coletânea de trabalhos literários, com a finalidade de incentivar e promover o talento de seus associados e simpatizantes. A obra abrangerá os gêneros Poesia, Crônica e Conto. A seguir o Regulamento e a Ficha de Inscrição

REGULAMENTO

1. Poderão participar autores do Brasil e de outros países, desde que as obras sejam em Língua Portuguesa.

2. A Casa do Poeta de Canoas receberá os textos da coletânea impreterivelmente até o dia 20 (vinte) de dezembro de 2008 (prorrogado até 20/3/2009), enviados para o e-mail coletanea@casadospoetas.com.br ou via postal para IV Coletânea Casa do Poeta de Canoas - Rua Araújo Lima, 150 - Canoas/RS - CEP: 992010-110.

3. Cada autor poderá participar com número ilimitado de cotas (páginas), ao valor unitário de R$50,00 (cinqüenta reais) para os associados da Casa do Poeta de Canoas e R$60,00 (sessenta reais) para os não associados. Os associados da Casa do Poeta de Canoas que não estiverem com a contribuição mensal em dia, pagarão a cota de não associado.

4. O material enviado por e-mail (textos, ficha de Inscrição e breve currículo) deverá ser digitado em fonte Times New Roman, corpo 12, entrelinhas 1,5, em formato .doc (Word), acompanhado da cópia do comprovante de depósito com a identificação do depositante.

5. Se enviados via postal, os textos, a Ficha de Inscrição e o breve currículo devem também estar gravados em CD (conforme o item 4) e acompanhados da cópia do comprovante de depósito com identificação do depositante.

6. A Ficha de Inscrição (para preenchimento e envio) e o Regulamento estão disponíveis no endereço www.casadospoetas.com.br

7. Os textos deverão ter no máximo a seguinte configuração por página:para cada conto ou crônica: 1ª página - 1.450 caracteres com espaço (toques); a continuação nas demais páginas - 1.650 caracteres com espaço (toques); Cada poesia: 1ª página - 28 linhas com um máximo de 45 caracteres com espaço (toques) por linha; excedendo este número as demais páginas poderão conter 34 linhas com um máximo de 45 caracteres com espaço (toques) por linha. Linhas de espaçamento entre versos são consideradas. Título não contabiliza caracteres nem linhas.

8. Para verificar o número de páginas que o texto ocupará na coletânea, o autor poderá utilizar o e-mail simulador no sítio da Casa do Poeta de Canoas: http://www.casadospoetas.com.br/

9. Por cada cota de R$ 50,00 (sócios) ou R$ 60,00 (não sócios) o autor receberá 3 (três) exemplares da coletânea. O valor da participação deverá ser depositado no Banco Real - Agência 0578 - conta nº 7719931/2, nominado à Casa do Poeta de Canoas - CNPJ 06.284.274/0001-36.

10. Para a participação com 3 (três) páginas ou mais, o pagamento poderá ser feito com até 3 (três) cheques nominais à Casa do Poeta de Canoas descontados até a data limite de 28 de fevereiro de 2009.

11. Os trabalhos serão revisados com autorização dos autores que poderão rever seus textos antes da publicação (através de provão), em reunião a ser marcada especificamente para este fim.

12. Os autores assumem inteira responsabilidade pelos textos e a Casa do Poeta de Canoas reserva-se o direito de recusar textos que configurem plágio, que sejam preconceituosos, de caráter político, étnico, pornográfico ou religioso.

13. Os originais não serão devolvidos.

14. O lançamento da coletânea realizar-se-á em data a ser fixada.

15. A participação dos autores na coletânea dependerá do integral cumprimento do presente Regulamento, cabendo à Comissão Organizadora julgar os casos omissos no mesmo.

E-mail para envio dos trabalhos, Ficha de Inscrição, currículo e comprovante de pagamento
coletanea@casadospoetas.com.br

Saiba quantas páginas ocuparão seus trabalhos!

Para saber com exatidão quantas páginas seu(s) trabalho(s) ocuparão na Coletânea, envie os arquivos (formato .doc - do Word) para o e-mail abaixo. Como cada texto sofre variantes em decorrência de parágrafos e quebra de linhas, a equipe responsável pela formatação da Coletânea fará uma simulação com seu(s) texto(s) e lhe informará o número exato de páginas.
simulador@casadospoetas.com.br

ATENÇÃO - Os textos, depois de realizadas as simulações, serão deletados, não caracterizando o envio oficial para participação na Coletânea. Os textos juntamente com a Ficha de Inscrição, o breve currículo e o comprovante de pagamento devem ser enviados para o e-mail: coletanea@casadospoetas.com.br

Fonte:
Casa do Poeta de Canoas.
www.casadospoetas.com.br

Wagner Ferreira (A Pedra Prole)

A pedra não se rompe nem se arrasta
É sólida, nossa última arma secreta.
Somos peregrinos nas mãos de todos
Sempre excitados para sermos atirados.
A vida: fardo caminho de pedregulhos.
O amor: a mais bela drusa, pepita mais rara.
Sentimo-nos empedrados, orgulhosos.
O mundo: penedo maior, cósmica pedreira.
Em cada sonho, o palpitar do átomo da pedra.
Enfileirando nossas casas, nossas lápides.
Cristalizando em gloriosas estátuas de lepra
Com seixos inférteis, dormentes, impunes.
Pérolas que não se divorciam nem se abortam.
Espreitam tácitas pelos nossos fracassos.
Na iminência elas esperam, se lapidam...
Proliferam pra vencer também nossos filhos.
Se elas falassem e calassem os homens...
Dinamitando a falésia da nossa paralisia,
Que nos transformou em vermes infames...
Ouro de tolo, poeira, veio da própria hipocrisia
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Sobre o Autor
Wagner Ferreira nasceu em Sorocaba, é poeta, romancista, cronista, contista, co-autor das antologias Sorocult e Rodamundo em 2008, também colunista do site Sorocult.com, cursou Direito na Fadi e Letras na Unicoc, é autodidata, acumulando várias atividades no comércio e exercendo várias profissões.
Autor do romance místico, “O caçador de milagres”. Um romance de auto conhecimento, que traz sabedorias milenares para a realidade brasileira.

Fonte:
Cenário Cultural. In http://www.cintianmoraes.com.br

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Neida Rocha (Caderno de Poesias)


PORQUE ESCREVO

Quando as palavras
vem à minha mente,
sinto necessidade
de colocá-las no papel.
Enquanto nascem,
sinto como se eu
as estivessem parindo,
pois doem muito,
mas o resultado
é maravilhoso.
Cada poema
é como um parto dolorido,
mas o fruto destes sentimentos
é um resultado
sem igual,
somente semelhante
ao nascimento
de um filho.
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MEDITAÇÃO

Quando
a tarde
vai embora,
o sol se esconde
e a noite
vem chegando,
surge no céu
a Lua
e as Estrelas.
Então olho
o firmamento,
e meus pensamentos
voam.
Penso
em algo distante
e indefinido.
Não sei
me expressar,
só sinto vontade
de chorar
e agradecer
por viver
e ser
tão
Feliz.
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ESPELHO

Olho no espelho
e percebo rugas
em minha alma.
Ouço minha alma
e percebo que estou só.
Meus fantasmas me visitam
para revelar-me
segredos esquecidos.
Quero gritar,
mas a voz cala,
fragmentada de soluços.
Toco minha pele
e busco a emoção adormecida.
Sinto a brisa do perfume ausente
e então volto à realidade,
pois a vida passou
e somente meus sentimentos
permaneceram.
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ESCREVER

Não escrevo
para me exibir.
Não escrevo
para te agradar.
Escrevo
apenas
e tão
somente
para me olhar.
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APENAS...VIVER

Penso
em pintar,
desenhar,
escrever,
filosofar,
cantar,
desejar,
amar,
sonhar.
E às vezes,
eu penso
se não seria
melhor,
apenas,
viver.
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GESTOS E OLHARES

Quando eu te conheci
não me prometeste nada,
mas teus olhos diziam
o que não falavas.
Teus carinhos demonstravam
o que não dizias.
Hoje teus olhos estão mudos
e teus braços ocupados.
Dá-me tua mão
para que eu te guie
em direção ao meu amor.
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